Visualizações:

Voar é um desejo que começa em criança!

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Pioneiros

GODOFREDO VIDAL
No dia 28 de abril de 1938, o Major Aviador Godofredo Vidal, o Tenente Coronel Aviador Vasco Alves Secco e o Primeiro Sargento Telegrafista Jayme Janeiro Rodrigues, na época servindo no 5º Regimento de Aviação, atual CINDACTA II, em Curitiba, oficializaram à União dos Escoteiros do Brasil a criação do primeiro grupo de escoteiros do ar, o Grupo Escoteiro do Ar Tenente Ricardo Kirk.
Alguns anos depois, em 19 de abril de 1944, foi criada a Federação Brasileira de Escoteiros do Ar, a qual congregava todos os grupos que desenvolviam a modalidade que, na época eram muito poucos, retringindo-se aos Estados do Paraná, Rio de Janeiro e São Paulo.
Foi tamanha a expansão registrada por essa nova modalidade que, em 26 de julho de 1951, o Brigadeiro Nero Moura, então Ministro da Aeronáutica, reconhecendo seus valiosos objetivos entre eles o de incentivar o interesse dos jovens pela aeronáutica, determinou que todas as unidades da Força Aérea Brasileira dessem total apoio aos Grupos Escoteiros do Ar, o que acontece até os dias presentes.
O fundador do Escotismo do Ar, Major Aviador Godofredo Vidal, nasceu em 3 de outubro de 1895 em Bagé no Rio Grande do Sul. Seu avô, Engenheiro José Maria Vidal, combateu na Guerra do Paraguai e seu pai, o General Alfredo Vidal, foi o fundador do Serviço Geográfico do Exército, tendo sido ainda o introdutor do processo estereo-fotogramétrico no Brasil.
Após cursar o Colégio Militar do Rio de Janeiro, foi mandado pelos pais para estudar Engenharia na Suíça, onde se dedicou por dois anos a estudos e estágios em fábricas européias. Retornando ao Brasil durante a Primeira Guerra Mundial, matriculou-se na velha Escola do Realengo, da qual saiu em 1921 como Aspirante da Arma da Cavalaria. Com o entusiasmo da mocidade, dedicou-se ao pólo nos primeiros ensaios do Órgão Desportivo do Exército, integrando inclusive, a equipe brasileira desse nobre esporte quando em visita ao Chile.
Nos devaneios dos sonhos de novas conquistas, matriculou-se na segunda turma do Curso de Pilotos Observadores da antiga Aviação Militar, então recém criada. Em 1928, foi nomeado instrutor da Escola de Aviação Militar por indicação da Missão Militar Francesa.
Em 1931, juntamente com o então Capitão Archimedes Cordeiro e o Primeiro Tenente Francisco de Assis Corrêa de Mello, partiu em voo de confraternização pelas Américas, em um monomotor bombardeiro Amiot, de fabricação francesa, batizado como "Duque de Caxias". Este avião era um enorme biplano com entelagem de lona e carlinga descoberta, constituindo-se um desafio à coragem de seus tripulantes. A fatalidade fez com que um defeito mecânico obrigasse a realização de uma aterrissagem forçada entre as cidades de Guaiaquil e Quito, em plena Cordilheira dos Andes. Os tripulantes permaneceram sem contato com a civilização durante três dias até serem socorridos pelos nativos. O Primeiro Tenente Francisco de Assis Corrêa de Mello foi o mais ferido, tendo sofrido extensas fraturas e queimaduras.
Em quanto se convalescia dos ferimentos do acidente com o "Duque de Caxias", o Coronel Aviador Godofredo Vidal matriculou-se no curso livre de pintura da Escola de Belas Artes, tendo pintado na época vários quadros. Incapaz para o voo durante o seu longo tratamento, dedicou-se ao magistério secundário, sendo professor do Instituto Lafayette e do Colégio anglo-americano, ambos no Rio de Janeiro. Dominava com perfeição vários idiomas, falando corretamente alemão, francês, espanhol e inglês, e por isso tinha situação privilegiada entre os seus pares.
O Coronel Aviador Godofredo Vidal foi também um dos pioneiros do Correio Aéreo Militar, voando com todos os abnegados precursores pelo sistema "Arco e Flexa", na devassa patriótica dos nossos rincões, com os olhos presos às curvas dos rios, aos acidentes planimétricos e, até mesmo, aos dísticos dos telhados das estações das estradas de ferro, como pontos de orientação das rotas de voo.
Em 1934 fundou e organizou o Serviço Metereológico Militar, instalando-o no Campo dos Afonsos, no Rio de Janeiro. Por seus dotes de cultura e sociabilidade foi indicado para representar o Brasil nos seguintes conclaves internacionais: III Conferência Sul Americana de Meteorologia em 1936 no Rio de Janeiro; Conferência Sul Americana de Radiocomunicações também em 1936 no Rio de Janeiro; e a Conferência Interamericana de Aviação em Lima, no Peru, em 1937.
Em 1941 sofreu um grave acidente aviatório escapando milagrosamente com os demais tripulantes. Foi durante um voo noturno juntamente com o então Tenente Coronel Carlos P. Brasil e o Capitão Rosemiro Menezes. Ao se aproximar do Campo dos Afonsos, na altura de Honório Gurgel, o avião perdeu a hélice mas conseguiu chegar à cabeceira da pista, que estava às escuras. Com incrível perícia, o piloto, o Capitão Rosemiro Menezes fez a aterrissagem onde todos os tripulantes sobreviveram apesar do avião ficar praticamente destruído. As estatísticas diziam que as chances de sobreviver a um acidente desses era de uma em mil. Por ironia do destino, três meses depois o Capitão Rosemiro morreu de malária, da qual falece um em cada mil doentes...
Em 1942, o Coronel Aviador Godofredo Vidal cursou a Escola do Estado-Maior do Exército, dela saindo para integrar o quadro de instrutores da Escola de Guerra Naval, vindo posteriormente a colaborar para a criação da Escola de Comando e Estado-Maior da Aeronáutica, da qual foi o primeiro Subdiretor de Ensino. Nos Estados Unidos cursou a Escola Superior de Tática Aérea, em Orlando, na Flórida, realizando estágios de instrução na Aviação Naval Americana e na Força Aérea dos Fuzileiros Navais.
Ainda durante a II Guerra Mundial participou do patrulhamento aéreo do Atlântico Sul; visitou as principais bases aéreas dos Estados Unidos na Comitiva do Chefe do Estado-Maior da Aeronáutica, o Brigadeiro Trompowski; e dirigiu o Curso de Defesa Passiva da Legião Brasileira de Assistência, realizando memoráveis conferências.
Em 1948, no posto de Coronel, Godofredo Vidal transferiu-se para a reserva, sendo posteriormente promovido à Brigadeiro e Major-Brigadeiro.
Foi ele também o criador da Semana da Asa através da Comissão de Turismo Aéreo do Touring Clube do Brasil, a qual presidiu por muitos anos. Dedicou-se às radiocomunicações como amador com o indicativo PY-1-AT e participou da direção da entidade Nacional que rege o radioamadorismo, a LABRE.
Na reserva não parou a sua incansável atividade, dedicando-se aos estudos de Geografia e História, escrevendo artigos e monografias e realizando conferências no Rio de Janeiro, São Paulo e Salvador. Entre seus trabalhos destacam-se os seguintes: "Próceres da Independência da América", "Estudos de Geopolítica", "Batalhas Aero-Navais da Última Guerra", e a tradução do original italiano da obra clássica de Douhet, "O Domínio do Ar".
Exerceu a Vice-Presidência do Instituto de Geografia e História Militar, onde ocupou a cadeira 13, patrocinada por Bartolomeu Lourenço de Gusmão, de quem fez interessante estudo biográfico, ainda inédito. Integrou também os quadros dirigentes do Instituto Brasileiro de Geopolítica. Foi membro correspondente da Sociedade de Geografia de Lima (Peru) e do Instituto Geográfico Histórico da Bahia. Pertenceu também à Academia Valenciana de Letras. Dirigiu o Museu Santos Dumont de Petrópolis, instalando-o na casa onde Santos Dumont residira e dera mostras do seu genial talento, inclusive como arquiteto e construtor.
Faleceu após curta doença, no dia 8 de dezembro de 1958.