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Voar é um desejo que começa em criança!

domingo, 18 de agosto de 2013

Especial de Domingo

Hoje é aniversário de um brasileiro muito querido pelos integrantes do Núcleo Infantojuvenil de Aviação-NINJA. Falamos de Gustavo Adolfo Franco Ferreira, Coronel Aviador da Reserva da FAB, especialista em segurança de voo. Como singela homenagem aos 72 anos completados, reproduzimos um texto que dedicou a seu pai, Flávio Franco Ferreira. Um bom exemplo aos nossos Ninjas no mês em que também brindamos aos que nos garantiram a manutenção da vida. 
Parabéns Mestre Franco e vamos em frente! 
Bom domingo a todos!

O FIM DO GUERREIRO

Texto de Gustavo Adolfo Franco Ferreira dedicado a seu pai, Flávio Franco Ferreira

Eu servia na Academia da Força Aérea, Pirassununga. Naquele tempo havia a subespecialidade Q AT TS – Quadro de Artífices – Treinamento Simulado, no Corpo de Graduados da FAB. Eu chefiava o setor. Morava na vila dos “pica-fumos”, Rua D, casa 12. Por um motivo qualquer amanheci o dia injuriado.

                                         Flávio Franco Ferreira em 1924

-Chefe, não tenho nenhuma justificativa, mas quero ir ao Rio ver os meus.

Pedi ao comandante do Esquadrão.

-Pega um T-37; leva um dos teus Sargentos mostrando os procedimentos de instrumentos; passa no Ministério e traz…

Um papel de algum lugar que eu não me lembro mais. Assim agiu Ajax Augusto Mendes Corrêa. O convidado foi o Sérgio, 3S Q AT TS. Na chegada, o Sérgio foi para Ministério pegar a obrigação e eu fui para casa. Era meio-dia. Encontrei meu Velho bastante enfraquecido. Já vinha de alguns infartos contornados e tinha saído do hospital poucos dias antes, depois de se recuperar de outro destes. Só havia conviver com a Mãe e as irmãs. Acompanhei meu Pai ao banheiro e estendi-lhe a mão em apoio. Voltou ao quarto. Deitou-se. A Mãe chegou e se pôs ao seu lado. Eu fui para a sala. Não demorou cinco minutos! O grito denunciou… Era o fim. Às 12:00 horas de 25 de novembro de 1970, terminou a vida do Militar, Marido e Pai dedicado, subordinado respeitoso, instrutor eficaz, Guerreiro e Combatente, Soldado obediente, além de Chefe rigoroso e justo. Eu tive a honra de fechar-lhe os olhos. Havia se apagado uma fonte inesgotável de caráter, de fidalguia, de hombridade, de respeito e de consideração, sempre acompanhados de indispensável firmeza e clara definição dos princípios seguidos e dos objetivos colimados. Mas não terminaram por ai as instruções claras! Havia um envelope na segunda gaveta da pequena escrivaninha. Isto já se tinha ouvido antes… Quando o socorro médico se retirou, fui à gaveta. Não foi surpresa. Lá havia um envelope pardo, grande e polpudo que anunciava no seu anverso: Para ser aberto na hora em que eu morrer. Abri. Dois envelopes ligeiramente menores, um para a hipótese de a Mãe estar viva, outro para a hipótese de haverem passado juntos. Abri o primeiro. Havia uma página de instruções datilografada com espaços nos nomes, endereços e telefones; estes inscritos a lápis e muitas vezes atualizados. Acompanhavam os necessários requerimentos sem a indispensável assinatura. Fiz os telefonemas determinados; preenchi os requerimentos prontos. Avisei ao Sérgio e ao Esquadrão. À noite, chegou a minha Sandra. Companheira, trazida pelos colegas de trabalho.

                                                  Meu Pai e meus Filhos

No dia seguinte, já no velório, fui surpreendido com a presença de Oficiais do meu Esquadrão. O já mencionado então Major Ajax, acompanhado de mais três aviadores que completariam o meu voo e retornariam com o Sargento Sérgio e com o T-37 0887, que eu abandonara. Muitos anos depois, de fato só depois da morte de minha Mãe em 1996, foi que eu soube ter havido, naquele dia uma tristeza irremovível: O 1º Esquadrão de Reconhecimento Mecanizado da FEB não se abalou em mandar nem ao menos um cabo para representá-lo, no funeral de seu primeiro Comandante. Afinal de contas, o morto não passava de um simples oficial da reserva! Orgulhosamente, eu tive a presença, a companhia e o respeito dos meus companheiros e chefes! A energia que o compunha, certamente, não se dissipou. Se couber, tomara que se materialize de novo. Índigo ou cristal, não importa… Servia a ambos!

Texto: Gustavo Adolfo Franco Ferreira