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Voar é um desejo que começa em criança!

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Ozires Silva

A DECOLAGEM DE UM SONHO
Em 1998, comemorando os 30 anos do primeiro voo do protótipo do avião Bandeirante, pude escrever um livro com o título acima, representando sonhos que nutríamos, com grande confiança, imaginando que, um dia, poderíamos tornar vivos os sonhos do nosso grande pioneiro, Alberto Santos Dumont. Mesmo com recursos produtivos e financeiros bem limitados, desejávamos dar partida para começar a fabricar aviões de transporte aéreo, algo considerado muito presunçoso na época, aviões que fossem capazes de cobrir todo o território deste Brasil imenso, que clamava por integração nacional. E, se isso não fosse suficiente, que deveriam ser exportados para o mundo. Sempre encontrávamos bons brasileiros que acreditavam na possibilidade de se chegar a um país melhor, mais desenvolvido e mais presente no mercado mundial. Brasileiros pioneiros, ainda vivos e que olham agora e dizem com surpresa que a realidade superou os sonhos. Começamos com alguns primeiros passos. Nosso argumento para justificar a iniciativa lembrava que as cidades menores estavam progressivamente perdendo seus voos regulares, pois os novos jatos, então entrando no mercado mundial, requeriam infraestruturas melhores do que as disponíveis. Colocamos enormes crenças naquele projeto e imaginávamos que estávamos criando uma prova de um conceito novo, procurando materializar e mostrar que era possível haver empresas de Transporte Aéreo Regional, não somente no Brasil, mas também em todo o mundo. Desde então, muito foi mudado. Demos aqueles passos iniciais e não deixa de ser surpreendente constatar que as operações do Transporte Aéreo Regional estejam agora vivas em todo o mundo, nas cores de centenas empresas de variadas nacionalidades. Um passo pequeno naqueles tempos, mas sem dúvida vital, foi a criação da Embraer, uma empresa entre as melhores do mundo no campo do transporte aéreo. Poucos acreditaram naquele avião, naqueles sonhos e naquela decolagem da manhã de 22 de outubro de 1968, em São José dos Campos-SP. Não se tinha em alta a conta do que se iniciava naquele trabalho emocionante, que nos contagiava, numa verdadeira torcida para que o nosso avião pudesse ser ponto de partida para o que temos hoje. Aviões brasileiros, aqui criados, projetados e fabricados voando em quase 90 países, vendidos diretamente ou não, levando as asas do nosso país, da nossa São José dos Campos, transportando passageiros das mais diferentes nacionalidades de países dos cinco continentes. Na atualidade, vivemos o período de maior velocidade de transformações das sociedades e das nações que a humanidade já enfrentou. Podemos dizer que estamos desafiados a viver sob realizações permanentemente novas, sob condições que preenchem nossas vidas, ampliando nossa capacidade para sermos mais eficientes e mais presentes, com realizações jamais esperadas até o passado recente. Tudo vindo da competência, do conhecimento, da capacidade de pessoas e organizações, crescentemente capazes e criativas. Vivemos num novo mundo que não mais nos satisfaz com o que se vê, ao contrário, que pensa avante, acima de horizontes, ou seja, em ideias visionárias que buscam caminhos desconhecidos e, os encontrando, trabalham com a crença do sucesso. Infelizmente, as contribuições do nosso Brasil para abrir espaços para novas tecnologias têm sido pequenas, mas podem ser ampliadas, por força de ousadia, crenças como aquelas que animou aqueles pequenos grupos do final da década dos 1960, que trabalhando com afinco, abriu uma imensa rota para o progresso futuro. Sim, o Brasil agora fabrica aviões, e a cidade de São José dos Campos tornou-se a grande protagonista do que aconteceu. Olhando para isso, podemos desejar, de formas amplas e seguras, que todas as cidades, por força da criatividade do seu povo e de seus governantes, possam seguir o mesmo exemplo, trabalhando intensamente, e que, empreendendo para o futuro, possam encontrar os caminhos do progresso e do desenvolvimento!

Texto: Ozires Silva (Engenheiro aeronáutico e fundador da Embraer)

Fonte: O Vale