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Voar é um desejo que começa em criança!

domingo, 1 de dezembro de 2013

Especial de Domingo

Selecionamos hoje um texto de Luca Simioni que é Piloto Comercial (multi-engine rated e IFR) pela FAA e ANAC. Em seu blog aeroentusiasta.com procura ajudar os futuros Pilotos com informações e dicas.
Boa leitura.
Bom domingo!

Pouso curto – Procedimentos detalhados
Todo piloto vai se deparar algum dia com uma pista curta ou com uma situação que requer uma frenagem eficiente e rápida, porém nem sempre estamos preparados para lidar com estas situações. Existem algumas técnicas que tornam as operações mais seguras e reduzem alguns custos também, a frenagem aerodinâmica, o uso dos flaps e freios são algumas das ferramentas que, se utilizadas de maneira adequada e coordenada, podem trazer muitos benefícios ao operador. Para entender essas técnicas e visualizar melhor a situação, vamos nos imaginar no comando de uma aeronave monomotora simples (PA28, Cessna 150, etc.). Faremos um procedimento completo de pouso em pista curta. O procedimento deve ser iniciado antes de ingressarmos na perna do vento da pista em que faremos o pouso, primeiro temos de determinar um ponto na pista para o toque (marca dos 1000 pés, números de identificação, você escolhe!), fazer um briefing de pouso e depois executar nossas checklists de descida e aproximação. Ao ingressar na perna do vento, vamos aplicar o primeiro dente de flaps, velocidade de Vref+30 KT e manter a altitude do circuito de tráfego até atingirmos um ângulo de 45 graus entre o ponto de toque que escolhemos e o avião. Ao atingir os 45º iniciaremos uma descida com Vref+30 KT. Assim que a aeronave estiver a um ângulo de 60 graus com o ponto escolhido para o toque, vamos iniciar uma curva para a perna base. Na perna base faremos uma redução da velocidade para Vref+20 KT e aplicaremos o segundo dente de flaps. Após a curva para a final, vamos reduzir a velocidade para Vref e selecionaremos o último dente de flaps. Vamos executar a final checklist acima de 100 pés do solo e manter a Vref até cruzarmos a cabeceira da pista, onde iremos reduzir a potência para idle e tocaremos o ponto selecionado na pista. Veja o procedimento desenhado:
O ângulo de ataque da aeronave será um pouco mais “negativo” do que o comum, pois a descida na perna do vento será iniciada com atraso, forçando o piloto a utilizar uma rampa com ângulo mais acentuado. Tudo depende da situação e dos eventuais obstáculos que temos na aproximação final. Nesse tipo de procedimento é essencial manter as velocidades com precisão, pois isso eliminará a flutuação na hora do toque e da frenagem. Lembre-se de que o objetivo aqui é utilizar a menor distância possível para pousar e livrar a pista. Até aqui tudo bem? O procedimento é bem simples, agora é que as coisas ficam interessantes. Após o toque firme e quase em stall, vamos recolher os flaps totalmente e aplicar os freios com firmeza, sem deixar que as rodas travem. Enquanto isso, vamos tentar manter o trem do nariz fora do chão pelo maior tempo possível. Mantenha o profundor em posição máxima de subida, ou seja, puxe os controles na sua direção, até o final. Os flaps recolhidos e controle de comando na posição de subida tornam a frenagem muito mais eficiente, pois o peso da aeronave fica concentrado nas duas rodas principais (onde estão instalados os freios), um arrasto adicional é criado e a sustentação gerada pelos flaps é eliminada. Assim até que o procedimento parece ser simples, mas na hora tudo deve acontecer muito rápido, quase que simultaneamente. Só assim a frenagem máxima será obtida. Com um pouco de prática esses procedimentos se tornam rotina e no final das contas vale muito a pena aprender isso. Esse tipo de procedimento pode ser utilizado em operações comuns também, para poupar os freios (que são bem caros!) e, em alguns casos, reduzir o consumo de combustível durante o deslocamento até o gate ou pátio de estacionamento do aeroporto. Avalie as condições, distâncias e a situação da aeronave e elabore um plano de chegada completo, desde a aproximação até o taxi e desligamento dos motores. É claro que nem sempre vale a pena fazer isso tudo, o planejamento e bom senso fazem parte do processo de decisão. Veja só o que o fabricante, após muitos testes, determinou como boa prática:
Outro ponto importante será a manutenção da reta da pista após o pouso. Principalmente durante a execução desse tipo de procedimento em que temos de recolher os flaps e controlar o avião ao mesmo tempo é que precisamos redobrar a atenção. Manter o eixo central da pista é dever do piloto, assim temos tempo e espaço suficiente para desviar de um eventual obstáculo e até mesmo para controlar a aeronave caso um pneu estoure ou um motor falhe. Note o vento presente e faça correções adequadas com seus ailerons e profundor. Não é recomendado que se execute a after landing checklist com a aeronave ainda em movimento e em curva, não tenha pressa, pare o avião após o livramento da pista e execute seus itens com calma. São nesses segundos olhando para dentro do flight deck que os erros acontecem! Lembre-se também de que não existe só a opção de pousar, arremeter sempre será uma alternativa. Avalie bem as condições e faça a escolha adequada. Para ilustrar bem os conceitos, recomendo esses dois vídeos:  Nesse primeiro vídeo um instrutor americano nos ensina, passo a passo, como fazer o procedimento de pouso curto e depois nos leva para uma demonstração em seu avião!  Aqui vemos uma demonstração de performance máxima.

Texto: Luca Simioni

Fonte: Aeroentusiasta