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Voar é um desejo que começa em criança!

domingo, 8 de maio de 2016

Especial de Domingo

Não é a primeira vez que publicamos o texto a seguir.
Ele é sempre atual e merece ser revisitado.
Ainda mais hoje, Dia das Mães!!
Confira!
Boa leitura e bom domingo.
Com um especial abraço para todas as mamães!

Mãe de piloto
Juro que não queria ter um filho piloto.
Tantas profissões legais, onde as pessoas vivem com o pé na terra, voltam para casa quando termina o expediente lá pelo entardecer, até conseguem pegar um cineminha depois do jantar, descansam nos fins de semana – ou ficam exaustos quando têm filhos pequenos – vão a todos os jantares de aniversário da família...
E meu filho cismou de ser piloto! 
Acho até que está no DNA do moço. Afinal, nunca tivemos contato com profissionais da aviação que pudessem influenciá-lo para esta carreira ‘tão perigosa e cheia de riscos’.
É.
Está no sangue.
E estava no sangue quando ele, já aos 12 anos, colecionava tudo sobre aviões, desde guardanapos, saleiros e tickets com os logos das diversas companhias que desembarcavam por aqui e até miniaturas de aviões que ele dependurava no teto.
Fora os quadros e posters que enchiam as paredes do seu quarto.
Na época, não me preocupei com aquela ideia fixa.
Vai que ele se imaginava com um quepe na cabeça e com aqueles uniformes cheios de galões dourados (cujo nome certo é divisas, hoje eu sei) enfrentando tempestades e turbulências. 
Que herói!
Crianças são mesmo fantasiosas e, quando crescem aposentam os sonhos e entram na real.
Meu filho, certamente, estudaria para ser engenheiro ou advogado ou médico, ideais de toda mãe naqueles anos.
Teria uma profissão com o pé na terra.
Doce engano.
Depois de uma curtíssima fase ligado em cavalos e equitação (ai meu Deus, de piloto para jockey... sei lá), meu filho voltou a dizer – e agora com mais determinação – que gostava mesmo era da aviação.
E se estava no sangue, o remédio era apoiá-lo.
Nada de ver perigo em cada voo, nada de considerar cada aeronave uma arma mortífera e cada ventinho um inimigo cruel.
Até que me tornei aquela mãe legal.
Como ele não tinha idade para dirigir, eu levava meu filho ao Campo de Marte para as aulas teóricas e práticas e sempre que podia dava um dinheiro para uma hora de voo; um passo a mais em direção ao seu sonho.
Enfrentei com galhardia as saudades quando ele foi estudar na EVAER em Porto Alegre, sabendo que era mais um filho saindo de casa para a vida.
Ficava feliz cada vez que ele passava de um estágio para outro em seu trabalho.
Copiloto, piloto, comandante, ponte aérea, voos para todo o Brasil, voos para a Europa...
Quando a Varig começou a entrar em colapso, fiquei angustiada vendo a preocupação e ansiedade em seu olhar, em seu dia a dia.
Não é que me angustiei a toa?
Meu piloto seguiu em frente, partiu para uma nova companhia e continuou voando.
Estava no sangue.
Hoje, sou uma orgulhosa mãe de um piloto e, como minha nora é comissária de bordo e também vive no ar, tenho até uma escala para ajudar com os netos: fico de plantão, de sobreaviso e passo noites fora da minha casa.
Tenho o privilégio de um convívio muito próximo com os netos, a possibilidade de viagens com meu filho e tenho o sentimento raro de saber que ele faz – e faz bem – o que ele sempre quis fazer na vida:  Voar.