O AEROCLUBE DO BRASIL
ERA CAMPO DOS AFONSOS
Fundado em 14 de outubro de 1911 por um grupo de idealistas, o "AEROCLUBE BRASILEIRO" foi verdadeiramente o berço da aviação brasileira. Foi o primeiro a ser fundado no Brasil e um dos primeiros no mundo.
A Assembléia de Constituição foi realizada nas dependências do jornal "A NOITE", gentilmente cedidas por seu diretor IRINEU MARINHO, grande incentivador do Aeroclube.Na ata de fundação, constam os nomes de civis e militares ilustres, políticos, professores, homens de negócios, todos irmanados pelo mesmo ideal: "fomentar no Brasil o desenvolvimento da novel e futurosa arte da aviação".
Porém o mais notável é o fato de que sua primeira diretoria teve como presidente de honra o sócio fundador ALBERTO SANTOS DUMONT, sendo o Almirante JOSÉ CARLOS DE CARVALHO(foto abaixo) Diretor Presidente. VICTORINO DE OLIVEIRA, redator do jornal "A NOITE", foi seu primeiro Diretor Secretário. O atual aeródromo militar dos Afonsos nasceu do que foi o primeiro Campo de Aviação do Aeroclube, construído com muito esforço e perseverança pela primeira Diretoria e onde funcionou a "Escola Brasileira de Aviação". Os primeiros aviões adquiridos pelo Aeroclube - com recursos arrecadados em subscrição pública - foram logo em seguida cedidos ao Exército para servirem pela primeira vez no Brasil como instrumento de observação aérea na histórica "GUERRA DO CONTESTADO" em Santa Catarina, onde perdeu a vida o Ten. RICARDO KIRK, engenheiro do Exército e Diretor da Escola de Aviação do Aeroclube.KIRK (em destaque na foto acima) foi a primeira vítima da aviação brasileira em operações militares e é hoje o patrono da Aviação do Exército.
Após a morte de RICARDO KIRK e com a demorada recuperação dos aviões emprestados ao Exército, somente em 1916 pode ser reiniciado o Curso de Pilotagem, agora sob a direção do Tenente BENTO RIBEIRO FILHO.
Infelizmente a primeira turma - composta de sete civis e dois militares - não chegou a brevetar-se, pois às vésperas dos exames os dois únicos componentes da banca examinadora - Tenentes BENTO RIBEIRO e VIRGINIUS DELAMARE, não puderam comparecer por terem sido mobilizados, em virtude da declaração de guerra do Brasil ao Império Alemão em outubro de 1917, pelo afundamento do navio cargueiro brasileiro "Panamá".
Em junho de 1918, EDU CHAVES é designado Diretor Técnico do Aeroclube e sugere a transferência dos aviões dos Afonsos para Guapira, onde funcionaria a "Seção Paulista do Aeroclube Brasileiro".
No ano seguinte foi efetivada a filiação do Aeroclube junto à FAI (Fédération Aéronautique Internationale), cujo processo de filiação fora iniciado em 1913 pelo Tenente RICARDO KIRK e interrompido durante o recesso provocado pela Guerra 1914/18. Como representante da FAI, passou o Aeroclube a exercer basicamente a função oficial examinadora dos pilotos formados no Brasil, concedendo-lhes os respectivos brevês. O brevê Número 1 foi dado ao piloto RAUL VIEIRA DE MELLO, Primeiro Tenente do Exército, em 21/08/1919. Neste ano o Ministro General Caetano de Faria informava ao Presidente do Aeroclube que o Exército iria precisar das instalações do Campo dos Afonsos para instalar sua própria Escola de Aviação Militar. Sem Campo de aviação no Rio de Janeiro, o Aeroclube agora sob a Presidência do Deputado Maurício de Lacerda, dedicou-se a promover, estimular e a colaborar na criação de Escolas de Aviação em todo o Brasil, credenciando Delegados em vários estados.
Em 1931, quando já existiam várias escolas de pilotagem no Brasil e a aviação comercial já era uma realidade, foi criado o Departamento de Aeronáutica Civil no Ministério de Viação e Obras Públicas, que passou a controlar e regulamentar as atividades aéreas civis.
Esvaziava-se assim a função normativa do Aeroclube e reduzia-se a importância da atividade de representação da FAI, já que os brevês concedidos pelo DAC tornavam desnecessários os da FAI, pelo menos para voar dentro do Brasil.
ERA DE MANGUINHOS
A crise financeira inviabilizava a manutenção do Aeroclube Brasileiro. Entregou-se então a direção do Aeroclube a uma Comissão composta dos senhores PAULO VIANNA, CEZAR GRILLO e ANTÔNIO GUEDEZ MUNIZ.
Em 16 de março de 1932, foi realizada uma Assembléia Geral Extraordinária, homologando os poderes para o Triunvirato. Nessa mesma Assembléia foi aprovada a proposta do então Major GUEDEZ MUNIZ mudando o nome da Entidade para AEROCLUBE DO BRASIL.
Instalações em Manguinhos
Os terrenos de Manguinhos foram definitivamente eleitos pela comissão para o preparo do novo campo de aviação do Aeroclube. A ocupação do terreno se deu por consentimento tácito das autoridades federais e municipais, sem documento formal. A causa era justa e contava com a simpatia de todas as autoridades, principalmente do Presidente GETÚLIO VARGAS.
O instituto OSWALDO CRUZ permitiu que fosse desbastado um pequeno relevo em seus terrenos e PAULO VIANNA tomou a si a obra de aterro do manguezal, sempre com a participação de seus companheiros de comissão.
Em 1936 o Triunvirato deu por terminada sua missão. Os primeiros aviões pousaram. Manguinhos era uma realidade. Renascia o Campo de Aviação dos sonhos dos fundadores do Aeroclube Brasileiro, especialmente de RICARDO KIRK.
Lá estava agora como Presidente o Almirante VIRGINIUS DELAMARE, que em 1917, então tenente, tentava com BENTO RIBEIRO fazer voar a Escola Nacional de Aviação, nos Afonsos.
Foi graças à inauguração de Manguinhos com o prestígio da presença do então presidente GETULIO VARGAS, que tomou impulso a "SEMANA DA ASA", criada em 1935 pela comissão de Turismo Aéreo do Touring Club do Brasil.
Foi uma festiva "SEMANA DA ASA" em Manguinhos, que praticamente consolidou a idéia do então Ministro da Aeronáutica SALGADO FILHO de criar a Campanha Nacional de Aviação, contando com o poderoso e entusiástico apoio do grande jornalista ASSIS CHATEAUBRIAND e que resultou na criação de quase três centenas de Aeroclubes por todo o Brasil.
De Manguinhos saiu a grande maioria dos instrutores que viabilizaram a implantação das Escolas de Pilotagem dos novos Aeroclubes, então criados como resultado da Campanha Nacional de Aviação. Primeira turma de instrutores de voo do Aeroclube do Brasil
Paralelamente às atividades de formação dos instrutores, o Aeroclube não descuidou das suas funções institucionais, mantendo a Escola de Piloto de Recreio e Desporto (hoje piloto privado), incentivando as atividades aerodesportivas.
Em Manguinhos foi realizado o primeiro Campeonato Brasileiro de Acrobacia.
Ainda na década de 40 foram criados os Departamentos de Paraquedismo e de Aeromodelismo, que contaram com dezenas de participantes. O Departamento de Paraquedismo foi organizado e dirigido pelo saudoso CHARLES ASTOR. O Departamenro de Aeromodelismo, por MARIO SAMPAIO.
No final da década de 50 surgiram problemas administrativos muito sérios e o aeródromo de Manguinhos foi interditado sob a alegação de interferência com o tráfego aéreo do Aeroporto Internacional do Galeão e do Aeroporto Santos Dumont.
Sem poder utilizar as instalações de Manguinhos, por 10 anos o Aeroclube funcionou numa pequena sala cedida por um dos sócios e se dedicou a pugnar pelas novas instalações previstas para o mesmo local em que no final da década de 20 existia o Campo de Latecoere, em Jacarepaguá, e que deveriam compensar a tomada do campo de Manguinhos.
Em 1967, lutando contra o tempo para conseguir o novo Campo de Aviação, evitou-se que o Aeroclube do Brasil fosse transformado em "Aeroclube da Guanabara" por força do DL número 205, de 27/02/1967, obtendo aprovação no Congresso Nacional da Lei 5.404, de março de 1968, alterando o artigo 5 e criando o parágrafo 2 para reconhecer o pioneirismo histórico do Aeroclube do Brasil:
"O Aeroclube do Brasil, fundado em 14 de outubro de 1911, a primeira entidade da aviação brasileira com existência local, por seu pioneirismo e pela implantação da mentalidade aeronáutica a que deu curso, é considerada integrante das tradições nacionais na área da aeronáutica".
REABERTURA EM JACAREPAGUÁ
Finalmente em 1972 - dez anos sem voar - o Aeroclube reiniciou suas atividades no Aeródromo de Jacarepaguá, administrado então pela ARSA, contando apenas com um velho "Aeronca Sedan" (PP-DZW), comprado pelo Aeroclube em 1950, e mais três "FOKKER" (T21 e T22), desativados pela Academia da Força Aérea e cedidos pelo DAC para a formação de pilotos.
PAULO VIANNA, um dos principais responsáveis pela construção de Manguinhos, agora aos 80 anos, novamente enfrenta o desafio de recomeçar tudo de novo em Jacarepaguá. Acostumado a duras lutas, lá estava ele voando novamente os velhos FOKKER e formando novos pilotos. Morreu poucos meses depois acreditando nas promessas das novas instalações que seriam construídas para repor as de Manguinhos.
Após o fechamento de Manguinhos nos anos 60, o Aeroclube praticamente sem receita financeira suficiente, teve sua filiação à Fédération Aéronautique Internationale suspensa. Porém, em 1978, o então Presidente do Aeroclube, hoje sócio Benemérito, CLÁUDIO VIANNA, contando com a ajuda do antigo sócio PIERRE GLOSTERMANN, piloto francês, ás da RAF durante a Segunda Guerra e também formado no AeCB em Manguinhos, conseguiu a aprovação da FAI para restabelecer de imediato a filiação do Aeroclube como "membro ativo", dando assim cobertura a todas as modalidades de desporto aéreo praticados no Brasil.
NOVOS TEMPOS
Presentemente, o Aeroclube dispõe em Jacarepaguá de uma sede social e administrativa, inaugurada em 1982, denominada "Mal. IVO BORGES" como homenagem ao segundo Presidente da era Manguinhos, responsável pela compra do conjunto de salas na rua Álvaro Alvim, na Cinelândia, cuja receira de aluguel permitiu a sobrevivência do Aeroclube nos dez anos sem as rendas de Manguinhos.
Dispõe também de dois Hangares: "PAULO VIANNA", inaugurado em 1989, e "RICARDO KIRK", inaugurado em 1993. Todos estes imóveis pertencem a INFRAERO, entregues ao Aeroclube em regime de comodato.A atual Diretoria do AEROCLUBE DO BRASIL está priorizando, como um dos mais importantes projetos, a intenção de resgatar a memória histórica do Aeroclube. Trabalha também para dinamizar e modernizar suas atividades.
Compilado do trabalho RESUMO HISTÓRICO DO AEROCLUBE DO BRASIL do Sócio Benemérito J. BONIFÁCIO, economista, "Piloto de Recreio e Desporto", brevetado em Manguinhos em 1947.
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