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domingo, 1 de maio de 2011

Especial de Domingo

Aeronáutica: 70 Anos de História (Anos 2000–Parte 1)

A década do futuro e da solidariedade brasileira

Nos anos 2000, a Força Aérea Brasileira realizou as maiores operações de busca e de ajuda humanitária de sua história; a instituição prepara “salto” tecnológico.

A aeronave decola sem piloto, foguetes são lançados com regularidade, aviões estratégicos são produzidos e desenvolvidos pelo Brasil, mísseis de última geração estão em pesquisa e já se testa a possibilidade do avião hipersônico, aquele que voa seis vezes a velocidade do som, dentre outras novidades. Quem poderia imaginar, lá no início desta história, em 1941, que a Aeronáutica brasileira iria voar tão alto? Alguns cenários que edificam essa primeira década pareceriam, há alguns anos, filmes de ficção científica. Mas são em sua totalidade, sobretudo, emocionantes roteiros de ação. Uma nova família de foguetes - “Cruzeiro do Sul” -, movidos à combustível líquido está nascendo no Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA).
O Centro de Lançamento de Alcântara, no Maranhão, passou por profundas transformações para a retomada do projeto do Veículo Lançador de Satélites (VLS).
A Força Aérea Brasileira estuda e faz sair do papel com testes em túneis de vento uma aeronave hipersônica, projeto para que o equipamento voe com uma velocidade seis vezes maior que a do som. O nome da aeronave é 14X, numa referência imediata ao primeiro mais pesado que o ar que efetivamente decolou em 1906 pela genialidade e persistência de Alberto Santos Dumont.
Em 2007, o Instituto de Estudos Avançados (IEAv) deu início aos testes com um modelo experimental reduzido do 14X, com 80 cm de comprimento, construído em aço inoxidável, que é equipado com sensores de pressão, fluxo de calor e força. De fato, a primeira década deste século tem sido próspera em cenas que fascinam os apaixonados pelas coisas do espaço.
Outro estudo importante envolve o desenvolvimento do primeiro Veículo Aéreo Não-Tripulado (VANT) brasileiro, capaz de apoiar missões militares e civis, principalmente na área de segurança pública e de defesa civil. O projeto reúne as Forças Armadas e a indústria nacional e tem como objetivo domínio de tecnologias sensíveis utilizadas e que representariam para o país, na prática, um ganho imensurável.

Horizonte
O processo de reaparelhamento caminha com a aquisição de novos caças para a defesa do país (Projeto F-X2), de aeronaves A-29 Super Tucano, de aviões de patrulha (P-3AM), de transporte (C-99, C-105 Amazonas), de helicópteros (AH-2 Sabre, H-60 BlackHawk e H-36), além da modernização dos F-5 E e dos A-1. Uma importante parceria está em curso com a indústria brasileira (EMBRAER) para o desenvolvimento de uma aeronave de transporte de grande porte, o KC 390, projeto que já reúne diversos países como parceiros.O Brasil integra o seleto grupo de nações que está à frente do sistema que irá revolucionar o controle de tráfego aéreo no mundo, com a criação do espaço aéreo contínuo (CNS-ATM) gerenciado com o apoio de satélites. Esse sistema, em inglês, reunirá Comunicação (C), Navegação (N), Vigilância (S) e Gerenciamento de Tráfego Aéreo (ATM). Em auditoria da Organização de Aviação Civil Internacional (OACI), o serviço prestado pelo Departamento de Controle do Espaço Aéreo Brasileiro (DECEA) foi avaliado como um dos cinco melhores do mundo.
Os anos 2000, de fato, sinalizam a alta tecnologia como essencial para o futuro. Nesse filme tão real, tão brasileiro, são as iniciativas das pessoas as grandes heroínas. O protagonista chama-se profissionalismo. A defesa do país exige cada vez mais tecnologia, como demonstrado pelas aeronaves R-99 durante as buscas dos destroços do voo AF-447: com sensores de última geração, a Força
Aérea pôde prosseguir com as buscas, no meio do Atlântico, até mesmo durante a noite, auxiliando na operação de resgate. O avião em questão é brasileiro, criado em parceria com a indústria nacional.

Espaço
Nesse cenário futurista, tanto o Centro de Lançamento de Alcântara, no Maranhão, como o Centro de Lançamento da Barreira do Inferno (CLBI) são tidos como referencias no mundo não só para propiciar o voo de foguetes, mas também para rastrear equipamentos do mundo inteiro que passam pelo espaço brasileiro. As organizações atuam em cooperação para o desenvolvimento da pesquisa aeroespacial. Rastrear, por exemplo, significa acompanhar com equipamentos extremamente modernos para que os voos aconteçam dentro do previsto.
Os lançamentos de foguetes brasileiros VSB-30 foram realizados em 2004 com o objetivo de realizar experimentos diversos em ambientes com menos força da gravidade. Chega a seis vezes a velocidade do som. A cada lançamento, militares e cientistas brasileiros são beneficiados com os conhecimentos adquiridos.

Futuro
Nos últimos anos, a instituição também concluiu seu Plano Estratégico Militar da Aeronáutica (PEMAER), de forma a traçar, metodicamente, como será a Força Aérea Brasileira até 2031 e o que a instituição terá de fazer pelos próximos 20 anos para chegar a esse objetivo.
“A FAB será reconhecida, nacional e internacionalmente, pela sua prontidão e capacidade operacional para defender os interesses brasileiros em qualquer cenário de emprego, em estreita cooperação com as demais forças”, afirma o documento.

Missão Centenário: O 1º brasileiro chega ao espaço
O ano de 2006 foi histórico. O então Tenente-Coronel-Aviador Marcos Cesar Pontes tornou-se o primeiro astronauta brasileiro a chegar ao espaço. A Missão Centenário, que recebeu o nome em homenagem aos 100 anos do voo do primeiro avião, o 14-Bis de Alberto Santos Dumont, começou em 29 de março daquele ano, no Cosmódromo de Baikonur, no Cazaquistão. A bordo da Soyuz russa, o militar brasileiro, o russo Pavel Vinogradov e o americano Jeffrey Williams, foram enviados para a Estação Espacial Internacional (ISS). Na bagagem do primeiro astronauta do Brasil, seguiram para o espaço experimentos selecionados pela Agência Espacial Brasileira. Quando voltou ao Brasil, foi recebido como herói. “Foi na FAB que aprendi a voar e a querer cooperar com esse tipo de trabalho. Ser astronauta foi uma consequência da minha trajetória”, disse.

Exercício Cruzeiro do Sul (CRUZEX) ajudou a revolucionar o emprego da FAB“Em menos de dez anos a Força Aérea Brasileira modificou totalmente a sua forma de empregar o poder aeroespacial. Até então, operávamos de forma semelhante ao que foi empregado no Vietnã e em outros conflitos das décadas de 70 e 80”, afirma o Tenente-Brigadeiro-do-Ar Gilberto Antonio Saboya Burnier, hoje à frente do Comando-geral de Operações Aéreas (COMGAR), ao falar da importância dos conhecimentos adquiridos com a realização das cinco edições do Exercício Cruzeiro do Sul (CRUZEX). A primeira edição do treinamento aconteceu em 2002.

Fonte: Revista Aerovisão – edição especial – janeiro de 2011