O astronauta Marcos Pontes, primeiro brasileiro a ir ao espaço, proferiu uma palestra de incentivo para cerca de 400 jovens estudantes ontem, 27 de junho de 2011, no auditório do ITA – Instituto Tecnológico de Aeronáutica, em São José dos Campos, SP. O evento foi promovido pelo CASD – Curso Alberto Santos Dumont, que proporciona instrução pré-vestibular gratuita para jovens que, por razões financeiras, não podem arcar com os custos de um curso preparatório comercial.
Pontes estruturou sua palestra em tópicos que abrangeram sua vida, as atividades empresariais e a vida no espaço. “Tudo começa com um sonho”, disse para uma platéia atenta e curiosa. E então falou da sua vida modesta em Bauru, interior de São Paulo, como filho de um servente do Instituto Brasileiro do Café, Vergílio, e de dona Zuleika, a quem, emocionado, creditou a diretriz de estudar e perseverar em busca da realização de um sonho. “Os sonhos - assegurou - são essenciais para a vida inteira. Eles fazem com que nós superemos os desafios. É necessário manter o sonho aceso porque ele vai levá-lo para frente.” Noutro momento de emoção, reverenciou a memória de seu tio Marcílio falecido no dia anterior, e que foi um incentivador para que ingressasse na AFA, a Academia da Força Aérea.
Ainda no início da palestra, apresentou um filme enfocando a instrução proporcionada por uma escola do SESI - Serviço Social da Indústria, organização da qual foi aluno. Num trecho do filme uma garota conclui que se ele, Marcos Pontes, tendo sido aluno do SESI chegou ao espaço, também ela, por ser aluna do SESI, tem essa possibilidade.
O astronauta disse aos jovens que nunca devem se esquecer das raízes; relembrou sua infância em Bauru e justificou seu sotaque do interior, recitando com a pronúncia carregada “porta, portão, porteira”. E emendou que por conta de seu sonho de voar, fazia, na parte da tarde, manutenções nas locomotivas da Rede Ferroviária Federal, como aprendiz de eletricista recebendo meio salário mínimo, para pagar um curso noturno, além do estudo técnico no SENAI nas manhãs.
Para estimular a audiência, aconselhou que quando aparecer o medo, deve–se empregar um método comportamental ensinado na NASA: Pensar sempre na próxima linha do procedimento. E isto pode ser aplicado na resolução de uma prova. Ao invés de pensar no medo, na ansiedade, concentre-se na resolução da questão.
ESPAÇO
Marcos Pontes informou que depois da Missão Centenário - que o levou ao espaço no dia 29 de março de 2006 - continua à disposição do Programa Espacial Brasileiro, em Houston, sendo elo entre a AEB – Agência Espacial Brasileira e a NASA, embora não receba salário para isto, o fazendo por amor à Pátria. Por outro lado, suas atuais atividades empresariais permitem a ele trabalhar como consultor nos segmentos de gerenciamento de riscos, segurança operacional (safety) e treinamento.
Sobre a vida no espaço, comentou que é preciso treinar exaustivamente, com determinação e disciplina, para vencer esses momentos. Esclareceu os motivos que o levaram a ser lançado ao espaço, como especialista de missão, por uma nave russa, depois da interrupção temporária das viagens com os ônibus espaciais americanos. Treinou por cinco meses na Rússia os procedimentos operacionais para a viagem espacial. Isto incluiu o aprendizado da língua russa em três meses.
A respeito dos resultados obtidos com a missão, assegurou que foram importantes para o Brasil, embora parcela da imprensa tenha dado destaque para apenas um projeto educacional, ignorando outros dois grupos de experimentos vitais em microgravidade relacionados a equipamentos de tecnologia e a instrumentos científicos, gerados por universidades brasileiras. Assegurou que com ele estava uma Nação inteira. Materializando este sentimento, na transmissão da decolagem, de frente para a câmera, apontou com dois dedos unidos a Bandeira do Brasil em seu macacão, e em seguida fez o sinal de subida. E assim foi para a Estação Espacial Internacional - ISS, estabilizada a 400 quilômetros de altura, dando volta ao redor da Terra a cada 90 minutos. Após o acoplamento da nave à plataforma orbital ISS, recebeu a gentileza do comandante, de ser o primeiro a entrar na estação, ostentando a bandeira do Brasil.
Ainda sobre o espaço, Marcos Pontes falou da rotina de 18 horas diárias de trabalho na Estação. Nos horários de descanso encontrou tempo para tirar duas mil fotografias e iniciar o livro “Missão Cumprida”. Satisfez a curiosidade dos estudantes ao explicar os procedimentos para coisas simples, que se tornam complicadas na ausência da gravidade, como o uso de sanitários.
Ao final da palestra orientou os estudantes a não terem medo de ter medo. “Pensem na próxima linha da questão, do procedimento”, sugeriu. Marcos Pontes arrematou: “Não espero que vocês apenas passem no vestibular. Espero que vocês modifiquem o Brasil”.