Para proteção ao voo, especialistas do DECEA vivem no ponto mais alto e gelado do Sul
Sob condições meteorológicas extremas - e às vezes até com neve - especialistas de aeronáutica integrantes do DECEA – Departamento de Controle do Espaço Aéreo vivem no Destacamento de Controle do Espaço Aéreo do Morro da Igreja, na localidade de Bom Jardim da Serra, nas proximidades de Urubici, na serra de Santa Catarina. A missão: manter a operacionalidade de uma parte da rede de radares do Sistema de Controle do Espaço Aéreo Brasileiro (SISCEAB), que proporciona proteção ao voo no sul do país. O destacamento - comandando pelo tenente Sérgio Paulo Rocha - fica a 1,8 mil metros de altitude e conta com dois radares de rota e um meteorológico,além de antenas de rádio. A rotina da equipe que mantém o funcionamento dos equipamentos foi contado em matéria do jornalista Danilo Duarte do Diário Catarinense, com fotos de Alvarélio Kurossu, publicado no dia 21 de julho de 2012, que adaptamos e reproduzimos neste Especial de Domingo. Uma pequena homenagem do Núcleo Infantojuvenil de Aviação -NINJA - ao nobre trabalho destes cidadãos brasileiros.
Boa leitura.
Bom domingo!
Conheça a rotina dos militares que vivem no ponto mais alto e gelado do Sul do Brasil
Um cenário belíssimo, de encher os olhos, com chance de neve ou ao menos de congelamento da água, principalmente no inverno, é onde trabalha o sargento Wellington dos Santos Theodoro, de 24 anos. O Morro da Igreja, em Bom Jardim da Serra, na Serra catarinense, a 1.822 metros de altitude, é o ponto mais alto e gelado habitado no Sul do Brasil. No local, trabalham 43 militares em um destacamento da Aeronáutica, subordinado ao CINDACTA II e ao DECEA – Departamento de Controle do Espaço Aéreo, que mantém dois radares monitorando a rota dos aviões e outro registrando as condições meteorológicas no Estado de Santa Catarina. A rotina deles inclui manter e monitorar os equipamentos e ainda aprender a conviver com o tempo adverso, sobretudo o frio. Militar que atua como técnico de manutenção, Theodoro é um paulista que começou a servir no Morro da Igreja em dezembro de 2008. Desde então, ele é um dos responsáveis por prestar atenção nas rotas de aviões que cruzam o espaço áereo do Sul do Brasil. Quando entra para o serviço do dia, ele faz a vistoria de sete equipamentos, incluindo um radar meteorólogico que está entre os mais modernos do Brasil. Theodoro também assegura a transmissão do sinal de rádio para que pilotos e controladores de tráfego aéreo possam se comunicar graças às antenas instaladas no alto do morro. A localização das aeronaves é transmitida para o Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (Cindacta II), sediado em Curitiba, PR. E em meio a estas tarefas, o militar tem de suportar a meteorologia no local. — A gente procura amenizar a sensação usando roupas especiais, calçados térmicos e aquecedores nas instalações, mas ninguém consegue se habituar muito com o frio que faz aqui — confidencia ele, entre uma olhada e outra nas telas de computadores instalados no terceiro andar do prédio principal do destacamento. A convivência com as temperaturas sempre perto ou até abaixo de 0ºC durante o outono e o inverno, o vento que parece querer cortar a pele e o quase completo isolamento fazem do Morro da Igreja um lugar pitoresco. Embora contemplar a natureza e poder ver a neve sejam dois motivos fortes para trabalhar na instalação militar, aprender a suportar as condições meteorológicas é uma luta diária para os únicos seres humanos a frequentar o topo do Morro da Igreja diariamente.
Até 12ºC mais frio
A batalha de enfrentar a adversidade térmica no Morro da Igreja também é travada por gente como o soldado Robson Stange, 22 anos, que presta serviço militar há três anos no destacamento como motorista. Apesar de ter nascido na cidade de Urubici, onde fica o acesso ao Morro da Igreja, ele conta que a diferença de temperatura em relação aos pés da montanha é muito grande. — Principalmente quando está ventando muito. Lá embaixo até é gelado, mas nem tem como comparar. De fato, os ventos são um problema para habitar o cume do morro. De acordo com o tenente Sérgio Paulo Rocha, comandante do destacamento, todos os dias há ventos de pelo menos 50 Km/h, mas que chegaram a 100 Km/h há poucas semanas. Junte a isso a altitude em que fica a instalação e prepare-se para sentir as pontas dos dedos de pés e mãos mais geladas, assim como o nariz e os lábios. A altitude do Morro da Igreja corresponde a cerca de 5 mil pés. A estimativa é que a temperatura diminui 2ºC a cada 1 mil. pés. Ou seja: a temperatura no alto é de pelo menos 12ºC a menos em relação ao nível do mar.
À noite, o frio aperta mais
Durante o dia e em períodos com poucas nuvens, aumenta a sensação de calor e as temperaturas ficam agradáveis, mesmo durante o inverno. Mas basta o fim de tarde se aproximar para que tudo mude. O horizonte ganha tons alaranjados por onde o sol se põe e acinzentados no lado oposto. A pele começa a arrepiar, as extremidades do corpo reclamam por estarem desprotegidas e o rosto assume um tom de vermelhidão. À noite, tudo ganha um novo contorno: quem presta serviço administrativo se prepara para descer e ir para casa; as lebres e os graxains — espécie de mamífero parecido com a raposa — se sentem à vontade para circular no pátio e farejar o rastro de comida. O destacamento funciona no alto do Morro da Igreja há 25 anos e o acesso é uma estrada construída pela Aeronáutica para garantir o acesso de militares. Ao longo do percurso, feito de muitas curvas e uma subida não muito íngreme de 900 metros, a vista vai variando de mata fechada até o platô de formações rochosas vizinhas. Dentro do terreno há um marco que mostra o ponto de encontro entre Bom Jardim da Serra, Urubici e Orleans.