Os antecedentes são curiosos. Os oficiais de turmas mais recentes,
com poucas exceções, desconhecem o assunto que, cada vez mais
distante, apaga-se da memória coletiva.
O INCAER - Instituto Histórico Cultural da Aeronáutica, em 2011, teve a satisfação de receber a visita especial da Sra Anézia dos Campos Paranhos, viúva do 1º Tenente-Aviador Paulo Cezar de Lima Paranhos e, dessa conversa, tivemos acesso a
documentos e imagens referentes a essa curiosidade histórica que se
encerrou na década de 1960.
A saga começa com o primeiro aviador do Exército, Ten KIRK,
que “tomou aulas de aviação” no Aeroclube, em 1912, e que foi,
posteriormente, designado para compor a Comissão que escolheria
o campo adequado para a instrução aérea do Exército Brasileiro.
Começava-se a delinear a ideia de dotar o Exército com a arma da
aviação. Assim, a Fazenda dos Afonsos foi escolhida para futura sede
da Escola Brasileira de Aviação (EAB).
É o primeiro capítulo da história sem par dos Afonsos. Nesse Campo, inicia-se a instrução de voo para os militares do Exército.
Já na Escola de Aviação Militar (EAM), conforme o carimbo em sua
caderneta de voo, o Cabo Aluno Aviador Paranhos teve a oportunidade de
solar com maestria, treinado pelo seu instrutor, Tenente Neiva, em 1939.
Não era propriamente uma novidade, pois tivemos sargentos,
soldados e cabos aviadores em 1920, sob a égide da Missão Militar
Francesa, formados na segunda turma, nos Afonsos. A novidade seria
a brilhante carreira que o Cabo Paranhos viria a construir na Força
Aérea que se delineava.
Em 1941, no governo de Getúlio Vargas, criava-se o Ministério da
Aeronáutica. Em consequência, os militares aviadores da Marinha e do
Exército foram transferidos para a nova arma, assim como todos os especialistas
em aviação e o material aeronáutico. O novo Ministério recebeu, entre tantos
militares, um quadro singular, já em extinção, de apenas 21 componentes de
pilotos aviadores (Q. PL. AV), os militares graduados do Exército! Seus nomes estão
citados na página 110 do 3º Volume da História Geral da Aeronáutica Brasileira. Ali podemos ver o do 3º Sargento Paulo Cezar de Lima Paranhos.
Paranhos nasceu em Belém, no Estado do Pará, em 20/03/1917,
filho de João Agapito da Silva Paranhos e Amélia Pereira Lima Paranhos.
Entrou para servir no Exército e, como 2º Cabo Piloto, iniciou a
instrução de voo, tendo solado na aeronave biplano Muniz-M9, em 14
de junho de 1940, com 11 horas de voo e 70 pousos. Já formado e promovido a
3º Sargento, foi transferido da 8ª Região Militar do Exército, para
o recém-formado Ministério da Aeronáutica, devido à sua especialização como Sargento-Aviador. Inicialmente, foi prestar serviço como instrutor de voo,
nos aeroclubes do Pará e, em seguida, no aeroclube do Piauí,
com o objetivo de acelerar a formação de aviadores civis, por
causa da 2ª Grande Guerra que assolava o planeta.
Em agosto de 1941, Paranhos começa a concorrer aos voos
do CAN e teve o seu requerimento para cursar a escola de oficiais
indeferido por ter idade superior à prevista no regulamento. Serviu na
Base Aérea do Galeão e, em seguida, foi transferido para a Fábrica de
Aeronaves do Galeão e, mais tarde, para a Base Aérea de Santa Cruz.
Retornou ao Galeão, transferido para o 2º Grupo de Transporte, onde
solou o C-47 em 31 de dezembro de 1951, em “boas condições de
treinamento”.
No Esquadrão, trabalhou em todos os setores daquela
Unidade Aérea. Durante sua vida de profissional, voou com diversos tripulantes,
dentre os quais destacamos, a partir de suas cadernetas de voo, os
seguintes oficiais que viriam a ocupar altos cargos na Força Aérea
Brasileira: Cel Serpa, Ten Cel Araripe, Maj Burnier, Cap Magalhães
Mota, Cap Paulo Victor, Cap Lebre, Cap Délio, Cap Montenegro, Cap
Becker, Cap Protázio, Cap Rodopiano, Ten Pavan, Ten Palermo, Ten
Faria Lima e Ten Barata.
Em 1958, Paranhos foi escolhido para realizar curso de aeronave
no exterior e trasladar os SA-16 Albatroz para o Brasil.
A chegada dos aviões, que inauguravam uma nova fase da Busca e Salvamento
para o país, foi noticiada com ênfase nos jornais da época. Segundo
a Sra. Anésia, sua viúva, ele se orgulhava muito de ter recebido essa
missão, juntamente com os demais oficiais aviadores que compunham
as tripulações.
Durante seus voos no CAN, realizou diversas missões para o
exterior, que também foram notícia na imprensa nacional. O repórter
Manoel Villas Boas noticiava a respeito de sua viagem de La Paz para
o Rio, pelo Correio:
“O Correio Aéreo Nacional cobre todo o Brasil e presta relevantes
serviços a países vizinhos...Proveitosos treinos para nossos aviadores,
nas suas travessias sobre os Andes...Dirigido pelos Majores Fausto
Gerpe Wunder... que foram auxiliados pelos Sub-Oficial Aviador
Paulo Paranhos e pelos sargentos Nivaldo da Silva...”
Em reconhecimento por seu desempenho profissional e
contribuição inquestionável aos voos do CAN, foi escolhido para
realizar missão no exterior, com dois anos de duração, na Guiana
Francesa, onde assumiu a Chefia do posto CAN em Caiena, capital
daquele país.
Paranhos casou-se com a Srª Anésia de Campos Paranhos em 1942 e
tiveram dois filhos, o Capitão-de-Mar-e-Guerra Fuzileiro Naval Mauro
Cezar de Campos Paranhos, que, entre suas diversas especialidades,
é observador aéreo da Marinha do Brasil, e Maria Amélia Paranhos
Araujo, casada com o Comandante Helius Ferreira Araújo, piloto da
VARIG, diretor de empresa aérea e major-aviador da Reserva da FAB
(Aspirante de 1962).
Paulo Cezar de Lima Paranhos passou para reserva como 1º Tenente-Aviador e faleceu em 1966,
após vida laboriosa e intensa, desbravando o espaço aéreo brasileiro,
levando as asas do CAN aos remotos campos de pouso. Representou
a FAB em importante missão no exterior e ajudou a construir os laços
de nacionalidade do nosso país. Deixa sua assinatura laboriosa em
capítulo único, na história da aeronáutica brasileira.
Autor: Marco Aurélio de Mattos, Coronel-Aviador da Reserva, chefe da
Divisão de Comunicação Social do INCAER
Fonte: INCAER