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domingo, 2 de junho de 2013

Especial de Domingo

2º Tenente Aviador João Milton Prates
“Seus feitos permanecerão vivos enquanto os homens viverem. Suas vitórias, no campo de batalha, estarão em nossos corações enquanto os homens honrarem o heroísmo e a coragem”
E. Aldridge Jr. Secr. da USAF 

Em 08 de maio de 1945 a rendição alemã foi assinada. A guerra na Europa estava finda. Na manhã deste dia, uma esquadrilha de aviões P-47 D Thunderbolt da FAB estava sobre os céus da Itália para uma missão, quando nos cockpits o rádio de comunicação anunciou: Não ataquem. Repito, não ataquem. A guerra terminou. O conflito que levara aqueles jovens pilotos em janeiro de 1944 ao treinamento nos USA e no Panamá, ceifaria a vida de muitos, mas finalmente expirava de seus horrores .Porém nos céus italianos, a recém formada FAB, criada pelo Decreto 6.123, de 18-12-43, sob o comando de Nero Moura que recrutara 32 voluntários e fizeram seus treinamentos na Escola Tática em Orlando-Flórida e na base área de Aguadulce - Panamá, foram enviados a Itália em 19-09-44 e integrada ao 350º Flight Group- USAF na base aérea de Tarquinia, deixara a sua epopéia e a sua história. O emblema “Senta a Pua!” pintado na carenagem dos aviões, idealizado pelo capitão Aviador Fortunato Câmara de Oliveira, a insígnia do cruzeiro do sul e a palavra “ jambock” que significa “chicote”, foram os distintivos do 1º Brazilian Fighter Squadron em suas operações de guerra. Dentre aqueles destemidos jovens que ousaram se apresentar para servir ao seu país estava um diamantinense: João Milton Prates. Nascido em Diamantina em 14 de julho de 1922 e tendo mudado para o Rio de Janeiro ainda criança, Prates apresentara para servir a FAB antes da convocação oficial e fizera seus treinamentos no EUA, em Baton Rouge - Lousiana, junto com Fernando Pereyron Mocellin, que descreveria com um emocionante relato as suas peripécias pelas bases aéreas na América e as aventuras amorosas, os aprendizados na aviação de caça, os acidentes e as primeiras baixas, o fascínio pelo “americam way of life” e toda a campanha italiana, narrando com simplicidade os momentos de alegria e tristeza daqueles jovens pilotos e em especial ao Prates, que registra em seu livro “A missão 60” – Biblioteca do Exercito – , na página 32, quando iam para Miami: Ao meu lado, olhando o mar enorme, o Prates cantava o folclore mineiro: “como pode o peixe vivo, viver fora da água fria”. Todo o caminho do jovem Tenente Aviador Prates e de seus companheiros está descrito neste livro e o autor relata com visível admiração e humor os momentos de camaradagem, boemia, displicência e simpatia deste diamantinense que foi um dos primeiros aprovados para voar em 1-12-43 no Waco Army Field , no Texas, com apenas quatro companheiros: Amaral, Clóvis, Rocha e Fernando. Os outros que foram eliminados se desesperaram: a guerra ainda era uma aventura. Em janeiro de 1944, eles se juntaram ao 1º Grupo de Caça - FAB no Suffolk Army Field, em Nova York. Em 7-10-44, Prates chegaria em Tarquínia com o contingente da FAB e integraria a esquadrilha C BLUE, simbolizada pelo lenço azul que compunha o traje dos pilotos. Revelando um destemor nas missões de combate, Prates completaria 55 raids na frente de batalha com considerável estrago ao aparato militar germânico, muitas vezes enfrentando a artilharia antiaérea e tendo seu Thunderbolt sido atingido por estilhaços de flak 20 mm e traçados de MG 42. “Bom piloto, audacioso no rigor do combate, foi de fato um piloto de caça, um piloto de guerra!”(Senta a Pua - Rui Moreira lima- Biblioteca do Exercito, pág. 300) Em 20 de abril de 1945, a fadiga e o esforço em combate provocaram uma grande debilitação na saúde de Prates e antes de uma missão sobre o Vale do Pó, sofre um grave acidente na pista de pouso em Pisa e é enviado onde estava Pereyron internado no 12th General Hospital sediado em Livorno: O acidente com Prates fora feio e ele se salvara por milagre. Disse que abandonara o avião segundos antes de explodir, afundado numa baixada além da pista. E já havia sido considerado morto, quando apareceu andando, cambaleante: o sangue lhe escorrendo da testa. Mas salvou-se. O mineiro era mesmo da terra onde o “impossível acontece”. João Milton Prates estava no Hospital. Sim, o Damage, como o Rocha o chamava. O peixe vivo da escola de San Antonio, o mineiro complicado e amigo. Também estava no Hospital. (págs. 252 e 253) “O P-47 não deu a potência necessária para sair do chão. Correu toda a pista e foi bater numa vala de drenagem a uns 20 metros adiante. Bateu, capotou no ar e explodiu ao tocar novamente o solo. O piloto era João Milton Prates” (Senta a Pua – idem – pág. 239.) Devido a gravidade de seus ferimentos e o tempo de recuperação, Prates foi afastado do vôo por motivos de saúde apesar de sua insistência em voltar ao combate nos estertores da guerra e deixaria seu nome e sua audácia nos horizontes de coragem e patriotismo que a FAB com seus indômitos pilotos sobrevoou nos céus italianos. O jovem piloto Prates foi honrosamente condecorado com a Cruz da Aviação fita A com duas palmas, Cruz de Sangue, Campanha da Itália, Air Medal com duas palmas, Distinguished Flying Cross e Presidential Unit Citation (EUA) pela bravura e destemor que desempenhou frente ao inimigo com seu Thunderbolt P47D, esquadrilha C BLUE nas 55 missões nos horizontes italianos. Prates casaria com Dona Aldina, seu eterno amor e galante companheira nos vôos eternos da felicidade. Em 1950 foi requisitado pelo Governo de Minas para voar com JK e tornou seu amigo, acompanhando a trajetória política deste ilustre conterrâneo e grande estadista, implantando nos céus do Brasil o horizonte de progresso e nacionalismo que o presidente implantaria no futuro do país. Prates faleceu placidamente em 05-10-73. Se temos um aeroporto, homenagear sua coragem e sua indômita saga seria o mínimo que poderíamos fazer em sua memória. 

William Spangler  - Diamantina MG, em 02 de junho de 2005 

Artigo publicado no jornal “Voz de Diamantina”, pág. 11, edição 200, em 11-06-2005