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quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Ozires Silva

A ESCOLHA DOS CAÇAS SUECOS


Texto: Ozires Silva

Fonte: O Vale

Como disse o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito, foi um alívio… e terminou a novela! Refere-se ele à discussão da compra dos caças para a FAB, que durou muitos anos. Entre os contendores, o que parece ter afastado os franceses teria sido preço - o Rafale é muito mais caro - e o desagrado da Aeronáutica, que sempre preferiu modelo sueco. A Boeing fez movimentos fortes, abrindo escritório no Brasil e assinando contrato de participação no Parque Tecnológico de São José dos Campos-SP, mas episódio da espionagem parece ter influído para afastá-la da disputa. E também posições ambíguas nos Estados Unidos sobre uso das tecnologias militares. Durante todo o tempo, a FAB sempre insistiu nas necessidades da Defesa Nacional e quanto à importância de salientar aspectos relativos à “Transferência de Tecnologias” nas negociações para aquisição ou criação doméstica de qualquer equipamento de ponta, julgado essencial. Isso não tem sido comum no Brasil, desde a política de industrialização da década dos 1960, que culminou na implantação da fabricação de automóveis, caminhões e tratores. Com isso, não temos veículo de marca e propriedade intelectual nacional, nem computadores ou equipamentos de comunicações, mas temos aviões brasileiros voando em dezenas de países dos cinco continentes. Não diminuindo os esforços de pioneiros notáveis, que não podem ser esquecidos, essa atitude da FAB tornou possível a criação da Embraer, com seus produtos de marcas nacionais, conseguindo conquistar a notável marca de maior terceira produtora mundial de jatos comerciais! É importante aplaudir a nossa Força Aérea que, agora tendo conseguido escolher o avião Gripen, a ser produzido pela Saab sueca em conjunto com a Embraer, entra numa fase crítica das negociações, a da contratação. E esta deve assegurar produção local, mas também garantir conquistas na propriedade intelectual dos produtos fabricados, que permitirão exportação de unidades adicionais dos aviões supridos à FAB, retornando pesados investimentos a serem realizados nos próximos anos. Não sou grande admirador da expressão “transferência de tecnologia”. Prefiro falar em parcerias de tecnologia, pois não mais estamos nos referindo à Embraer como principiante na produção de material de voo e que precisa de transferências unilaterais de conhecimento para chegar à produção de avião militar, com sistemas de armas adequados e capaz de voar a velocidades superiores à do som. A Saab projetou em dezembro de 1988 o SAAB 2000, avião de transporte de passageiros, turboélice de alta velocidade no momento, podendo chegar a velocidades de aeronaves a jato. O SAAB 2000 fez primeiro voo em março de 1992, mas foi descontinuado em 99 em face do seu fraco êxito comercial. Naquele mesmo período de tempo, a Embraer criou e passou a triunfar no mesmo mercado do avião sueco, com seu EMB-145, jato de 50 passageiros hoje voando em cerca de 40 países. Assim, vemos que nossa empresa de São José dos Campos realmente não é noviça no mercado aeronáutico mundial. O contrato de aquisição e produção dos aviões Gripen deveria ser firmado pela FAB com a Embraer. Ao mesmo tempo, a nossa empresa, trabalhando com a FAB, firmaria outro contrato, no mesmo nível, com a Saab sueca. Ambos os documentos oficiais sob a chancela da Força Aérea levariam à produção e entrega dos produtos demandados. Dotada dos poderes contratuais adequados, a Embraer passaria a ser a contratante, portanto, dotada de todos poderes para garantir cumprimento das especificações baixadas pela FAB e, ao mesmo tempo, ser dotada do poder de negociação junto à empresa sueca, item essencial para assegurar todo elenco de problemas para uso das tecnologias aplicáveis nos produtos contratados e nos outros, ainda em produção e nos ainda por serem produzidos. Em última análise, depois de tantos anos de espera da decisão do governo a FAB e o povo brasileiro têm direito de exigir respeito aos quesitos discutidos intensamente na última década! E, importante, termos a satisfação de que a luta pelos mais significativos objetivos pode e deve trazer resultados positivos e duradouros!

Ozires Silva é engenheiro aeronáutico e fundador da Embraer