NINJA - Saiba mais:

domingo, 25 de maio de 2014

Especial de Domingo

Do AeroEntusiasta, editado pelo Luca Simioni, selecionamos uma postagem do colaborador Paulo Bueno, facilitando a compreensão de nossos NINJAS.
Boa leitura.
Bom domingo!

Iniciando na Escuta Aérea
Recebemos um email de um leitor do AeroEntusiata que falava um pouco sobre as dificuldades de iniciar na escuta aérea. Pois bem, percebo que os entusiastas muitas vezes ficam confusos com a vastidão de informações que encontram, e que invariavelmente exigem conhecimentos de radio amador. Eu vejo a escuta aérea como um hobby meio apartado do radio-amadorismo. Tudo bem que o equipamento utilizado muitas vezes faz parte do que um radio amador usaria, mas o objetivo é outro e bem específico. Na escuta aérea, como o próprio nome diz, vamos escutar apenas. E em um range de frequências, inicialmente, bem restrito. Mas vamos ao que interessa.

Equipamento
Eu divido os equipamentos em três tipos: os rádios básicos, os scanners e os rádios avançados. Os rádios básicos funcionam como uma extensão daqueles radinhos que nossos avós levavam no estádio para acompanhar o jogo. Estes rádios são um pouco mais completos que os dos nossos avós e sintonizam algumas frequências a mais, por serem bem próximas. No caso, o escopo do rádio “FM” que conhecemos vai de 87MHz até 108MHz, e o de aviação vai de 118MHz até 136MHz. Frequências bem próximas, né? Mas estes rádios não possuem qualquer preocupação com a qualidade do sinal recebido. No próximo patamar temos os scanners. Para quem não possui pretensões além da escuta aérea, acho que este é o equipamento ideal, com excelente custo/benefício. Scanners de boa qualidade possuem componentes bem produzidos e todos os ajustes necessários para fornecer a melhor recepção do sinal possível. Conheço um radio-amador com mais de 30 anos no hobby (no caso dele, radio-amadorismo) que já fez várias experiências comparando scanners e transceivers. Os scanners sempre obtiveram resposta muito superior à rádios transceivers. Faz sentido. Transceivers tem de trabalhar em conjunto a recepção + emissão de sinais. Os scanners focam em apenas uma função: receber. Esta é a minha escolha para a escuta aérea, e recomendo os equipamentos da RadioShack. Simples, funcionais, baratos, e de excelente qualidade. Por último, os rádios avançados. Aqui neste grupo, o que você irá encontrar são equipamentos mais completos, que muitas vezes cobrem um range de frequências maior (o que não muda nada para a escuta aérea) e, principalmente, gerenciamento de memória mais abrangente. O grande lance é poder armazenar e gerenciar a memória de frequências pelo seu computador e navegar entre elas de forma muito mais rápida. Além disso alguns modelos permitem monitorar duas frequências ao mesmo tempo. Eu utilizo um iCom IC-92AD. Se preferir Yaesu, os equipamentos bacanas deles são o VX-8D e o VX-8DR. Para quem tem intenção de evoluir no radio-amadorismo, vale investir. Para escuta aérea, só se tiver uma folga no orçamento.

Frequências
Uma vez que você já possui algum tipo de equipamento que sintonize as frequências de aviação, o próximo e último passo é sintonizar as frequências. O range da aviação vai de 118MHz a 136MHz. Não é um range extenso, mas os steps são de 25KHz, ou seja, a cada 25KHz temos um canal de comunicação. Eu tive alguma dificuldade no começo devido ao imenso número de frequências que você encontra nos sites internet afora. Depois de um tempo tentando entender tudo isso (eu não sou piloto), achei por bem começar por uma frequência bem específica. E essa é a minha dica para os iniciantes: comece pela frequência da torre (TWR)! Sou de São Paulo e por muitos anos morei ao lado do aeroporto de Congonhas.
Iniciando pela escuta da TWR, você começa a entender a dinâmica das comunicações. Outra frequência interessante é a do ground (GND). Estando próximo ao aeroporto, esta frequência é por onde pilotos e controladores do espaço físico (solo) do aeroporto se comunicam, até que o avião parta para a decolagem, ou ao livrar a pista após o pouso. É por aqui que eles se entendem sobre como será a caminhada do avião dentro do aeroporto. Uma vez que o avião decolou, a TWR informa a próxima frequência a sintonizar, geralmente a frequência do primeiro controle. Durante o trajeto de um voo, a aeronave passa por diversas áreas de controle, cada uma operando em uma frequência diferente. Não se espante com isso, até mesmo porque percebo que estas frequências são as que mais mudam no decorrer do tempo. Aqui, o único jeito é acompanhar a comunicação e ficar atento à transferência de controle, que normalmente vem acompanhada de nova frequência a sintonizar. E claro, o alcance do VHF (designação que inclui as frequências da aviação) não é grande. Frequências VHF não acompanham a curvatura de terra. Isso significa que, em algum momento, você não terá mais como acompanhar determinado voo, a menos que esteja dentro dele. Mas como descobrir as frequências de TWR e GND dos aeroportos? Isso é muito fácil! Aqui no brasil o Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA) disponibiliza estas informações na internet de maneira simples e acessível. Basta acessar o site do AISWEB (http://www.aisweb.aer.mil.br/) e fazer a busca pela sigla do aeroporto desejado. Vou utilizar como exemplo o aeroporto de Congonhas. No campo de busca, você entra com o código ICAO do aeroporto, no caso de Congonhas é o SBSP. Na tela que se abre, role a página para baixo e você irá encontrar o campo “Cartas”. Aqui estão as 3 mais interessantes para a escuta aérea: ADC, IAC e SID. ADC é a carta que possui as especificações do aeródromo e, logo no início, as frequências utilizadas por lá. As mais interessantes são: ATIS, GNDC (ground) e TWR (torre). Aqui a TWR aparece com duas frequências. Aeroporto importante, tem que ter plano B. E infelizmente rádio pirata gerando interferência é o que não falta no Brasil. Sobre o ATIS, é um serviço automatizado que fica informando as condições meteorológicas constantemente, além de possíveis intervenções no espaço aéreo daquela localização. Para nosso hobby, o que mais interessa é o topo da carta, chamado de “Briefing Strip”. Possui este nome, pois contém informações básicas e rápidas para o piloto.

Agora vem as cartas IAC e SID. Não posso deixar de mencionar a ajuda do Luca Simioni neste ponto, pois ele as utiliza cada vez que entra em um avião. A IAC é a carta que dita as regras para aproximação e pouso. E se você notar, as frequências vem na ordem de uso: ATIS (quero saber como está o tempo), controle de aproximação (estou me aproximando e alinhando à pista), TWR (autorização para o pouso) e GND (preciso saber qual caminho percorrer dentro do aeroporto, pelas suas taxiways, até chegar ao portão para desembarque). No caso da IAC eu acho que o mais importante é a instrução de aproximação perdida (arremetida). Afinal de contas estamos falando de Congonhas, e eu já perdi a conta de quantas arremetidas acompanhei por lá. É sempre interessante. Recomendo aqueles dias de inverno com garoa fina e teto muito baixo… Diversão garantida!

Por último, as cartas SID, que orientam as decolagens. Note que a sequência agora é ao contrário, iniciando pela TWR e depois as frequências de controle que serão passadas aos pilotos. Logo após a decolagem, a TWR informa primeira frequência de controle a sintonizar. Elas estão listadas na carta, assim como na IAC, mas para saber qual está em uso, só conseguindo ouvir a passagem.

Você irá notar que existem diversas cartas SID e IAC. Isto ocorre devido ao aeroporto possuir 4 cabeceiras e cada avião decolar para e chegar de um destino diferente, então os caminhos a seguir também são diferentes. E para finalizar, a escuta aérea fica ainda mais divertida acompanhada de um ADS-B receiver e/ou o aplicativo do flightradar24.com, na versão PRO. Boa diversão!

Texto: Paulo Bueno