Do excelente acervo do INCAER - Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica, reproduzimos conteúdo sobre o Padre Bartolomeu de Gusmão, brasileiro precursor da aeronáutica, escrito pelo Cel Av R1 Manuel Bezerra Barreto Reale.
Uma magnífica história que sempre revisitamos com os integrantes do Núcleo Infantojuvenil de Aviação.
Boa leitura.
Bom domingo!
Padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão
O Sacerdote que sonhava voar
Na coleção de vultos que se destacam na
História Universal das Ciências e das glórias
nacionais, um nome assume um primacial
relevo: Bartolomeu Lourenço de Gusmão.
Bartolomeu viveu numa época em que as
novas idéias eram muito incompreendidas e
o mundo estava mergulhado nas trevas da
Inquisição.
Seria Bartolomeu de Gusmão, como é
mais conhecido, somente um sacerdote ou um
inventor?
Hoje temos certeza de que foi muito mais
que isso. Foi, antes de tudo, um visionário,
um homem que, apesar de todas as pressões
sofridas, foi um transgressor dos limites de seu
tempo, indo muito mais além da imaginação
dominante na época.
Dedicado aos estudos, tanto o de natureza
humana quanto o das necessidades físicas do
momento, foi um sonhador. Via nos céus, ao
mesmo tempo, a liberdade da sua imaginação
visionária e aquela do homem que, despegado
de suas raízes terrenas, poderia ascender, por
meio de um engenho, ao firmamento, para
vislumbrar o horizonte infinito.
Possuidor de uma vasta cultura para o
ambiente que reinava em Portugal na época
era também poliglota, pois como fala Diogo
Barbosa Machado:
“Foi versado nas línguas principais,
sabendo com pureza a Latina, falando com
promptidão a Francesa, e a Italiana, e tinha
grande inteligência da Grega, e Hebraica”.
Incompreendido no seu tempo, ele foi
acusado várias vezes de feiticeiro por alguns
e satirizado por poetaços de valor duvidoso.
Nesse mar de incompreensão, de crendices e de
ignorância viveu até ao fim de seus dias
Assim, por intermédio dessa sintética visão
de sua vida poderemos exaltar e engrandecer
os feitos desse brasileiro, pouco conhecido por
nós, e apadrinhado pelos portugueses, como o
homem que vislumbrou os ares como um meio
de navegação e de observação da Terra e que
deu aos homens o “insite” do domínio do ar.
Sua Infância
Bartolomeu nasceu na Vila de Santos, em dia ignoto do ano de 1685, tendo sido batizado numa Igreja Paroquial numa segunda-feira, 19 de dezembro de 1685.
Como naquela época havia uma profundíssima
fé, era comum que os recém-nascidos fossem
logo batizados.
Portanto, ele deve ter nascido,
porventura, nesse mesmo dia, ou na véspera,
ou, quando muito, na semana anterior,
permanecendo até hoje essa indefinição.
Nasceu num prédio que existiu na antiga
Rua Santo Antonio, hoje Rua do Comércio,
sendo o quarto de 12 filhos de Francisco
Lourenço ou Francisco Lourenço Rodrigues,
cirurgião-mor do presídio da então Vila de
Santos, e de Dona Maria Álvares.
Possuidor de profundas raízes brasileiras,
conforme revela Pedro Taques, em sua
“Nobiliarchia Paulistana”, descendia, por linha
materna, de uma tetravó paulista, sendo também
paulistas sua mãe, a avó, a bisavó e a trisavó, e,
quanto à linha paterna, não se alcançou mais de
duas gerações radicadas no Brasil.
Torna-se, assim, o primeiro filho das
terras do Novo Mundo cujo nome é cercado
do mais alto realce, e inserido nas tábuas da
História das Ciências.
Muito se discutiu sobre o verdadeiro
nome do Padre voador, pois ele utilizou e
assinou várias vezes com nomes diferentes,
embora todos convergissem para o utilizado
nos últimos anos de sua vida.
Bartolomeu assim se subscrevia: o
nome de batismo Bertholameu Lourenço,
com que assina os “Autos de Greve et
Morisus”, conservados no Arquivo da Cúria
Metropolitana de São Paulo; em seguida, o
de Bartolomeu Lourenço, como está na sua
famosa “Petição”; e, provavelmente, nos
últimos anos de sua existência, em homenagem
ao seu amigo e protetor Alexandre de
Gusmão, aditou o nome de Gusmão.
Pouco se sabe sobre a infância de
Bartolomeu. Provavelmente cursou as
primeiras letras na própria Capitania de
São Vicente, no Colégio São Miguel, então
o único estabelecimento educacional da região.
Prosseguiu seus estudos na Capitania da
Bahia, ingressando no Seminário de Belém,
em Cachoeira, uma pequena povoação no
Recôncavo Baiano, encravada no Vale do
Rio Paraguaçu, onde seu profícuo espírito de
inventor teria aflorado.
No Seminário demonstrou raro talento
para o estudo das Ciências e suas aplicações.
Como manifestação de seu espírito ativo
de transformar suas idéias em aplicações
práticas, atua com rara inteligência numa
deficiência que o Seminário sofria com a
escassez de água para o serviço interno e para
a alimentação. O Seminário, construído sobre
um monte, ressentia-se de ter água para o seu
consumo, tanto na alimentação como para os
afazeres domésticos, tornando a comunidade
totalmente dependente. Bartolomeu estudou o
assunto e por meio de um cano e maquinismo
fez subir ao convento a água de um brejo
que ficava abaixo do nível do seminário 460
palmos, aproximadamente 101,20 metros.
Ao término do curso no Seminário de
Belém, em 1699, Bartolomeu retornou
a Salvador, capital do Brasil à época, e
ingressou na Companhia de Jesus, de onde
saiu antes de se formar jesuíta, em 1701.
A Primeira Saída do Brasil
Viajou para Lisboa, onde chegou já
famoso por sua memória extraordinária,
ficando hospedado na casa do 3º Marquês
de Fontes, que se impressionara com os dotes
intelectuais do jovem. Contava ele então
apenas 16 anos.
Desde cedo evidenciou seu raro talento,
uma cultura incontestável e uma portentosa
capacidade de memorização.
Nessa sua primeira ida a Portugal
causou formidável impressão nos meios
culturais lusitanos, por seu vasto leque de
conhecimentos, e por sua personalidade, assim
explicitada por Diogo Barbosa Machado,
patriarca da bibliografia portuguesa:
“Sendo tão douto em várias ciências,
nunca se lhe descobriu o menor sinal de
vanglória; antes, sem afetação, era tão modesto
no semblante como afável no gênio, parecendo
muitas vezes a quem não o conhecia que não
era depósito de tantos tesouros científicos.”
Em 1702, Bartolomeu retornou ao
Brasil, dando início ao processo de sua
ordenação sacerdotal. Mais tarde, quando
deixou o noviçado, ele pediu patente à
Câmara da Bahia para o seu aparelho de
anos atrás, o “invento para fazer subir água a
toda a distância e altura que se quiser levar”.
A Câmara concedeu o privilégio em 12 de
dezembro de 1705. Em seguida, solicitou que
o mesmo fosse estendido a todo o Estado do
Brasil, o que foi concedido em 18 de novembro
de 1706. Após esse processo, em 23 de março
de 1707, ao requerimento foi dado despacho
favorável pelo Rei D. João V.
Foi essa a primeira patente de invenção
outorgada a um brasileiro.
A constatação da prodigiosa memória
de Bartolomeu de Gusmão encontra-se num
opúsculo inédito do Padre João Baptista de
Castro, datado de 1766, e faz parte do Cod.
CXII 12-14 da Biblioteca Pública de Évora:
“Aprendendo eu filosofia no ano de 1715
com o rev. pe. Filippe Neri, da Congregação
do Oratório, i fazer na casa da aula ao
dr. Bartholomeu Lourenço de Gusmão,
chamado o Voador, notáveis ostentações
de memória local que pareciam exceder
as forças humanas. Abria-se um livro de
folha que ele nunca tinha lido; punha-se a
ler duas ou quatro páginas de uma só vez,
e as tornava a repetir fielmente; o que mais
admirava era também repeti-las de baixo
para cima. Foi um homem de grande esfera
e que mereceu grandes aplausos nesta corte,
mas malogrado.”
A Segunda Saída do Brasil
e a Famosa “Petição”
Bartolomeu retorna a Portugal no fim de
1708 ou em 1709, data ainda imprecisa.
Há relatos que afirmam sua matricula na
Faculdade de Cânones da Universidade de
Coimbra em dezembro de 1708. Como seu
objetivo e sua pesquisa estavam voltados
para a confecção do aeróstato, interrompe
seus estudos e falta à última matrícula.
Nesse ínterim concluiu seus estudos
sobre sua grande invenção, que iria marcar
essa época incontestavelmente e mostraria ao
mundo a utilização do ar para benefício da
Humanidade.
Dirige a D. João V uma famosa petição,
tendo Freire de Carvalho como primeiro a
transcrever e que tem diversos apógrafos com
variantes solicitando o privilégio para sua
investigação, nos termos que se segue:
“Senhor.
Diz o licenciado Bartholomeu
Lourenço, que elle tem descoberto hum
instrumento para andar pello ar, da
mesma Sorte que pella terra, e pello mar,
e com muito mais brevidade, fazendo
se muitas Vezes duzentas, e mais legoas
por dia no qual instrumento se poderão
levar os avizos de mais importancia aos
exercitos, e as terras muito remotas, quasi
no mesmo tempo em que se resolverem,
em que enteressa a Vossa Magestade
muito mais do que nenhum dos outros
Principes, pella Mayor distancia dos
Seus dominios, evitandosse desta Sorte,
os disgovernos das Conquistas, que
procedam em grande parte de chegar
muito mais tarde as noticias dellas a
Vossa Magestade. Além do que poderá
Vossa Magestade mandar vir o precioso
dellas, muito mais brevemente e mais
Seguro poderão os homens de negocio
passar letra, e Cabedaes com a mesma
brevidade, e todas as praças Citiadas
poderão ser Socorridas, tanto de
Gente, como de munições, e viveres a
todo tempo e retirarem se dellas, todas
as pessoas que quizerem. Sem que o
inimigo o possa impedir; Discubrir
se hão as Regiões que ficarão mais
vizinhas aos Pollos do Mundo, sendo
da Nação Portuguesa a gloria deste
descobrimento que tantas vezes tem
intentado inutilmente os estrangeiros;
Saber se hão as Verdadeiras
Longitudes de todo o Mundo, que por
estarem erradas nos Mapas causão
muitos Naufragios; Além de infinitas
Conviniências que mostrará o tempo,
e outras que por si são Notorias, que
todas merecem a Real atenção de
Vossa Magestade, porque deste invento
tão Util Se podem Seguir Muytas
discórdias, e facilitandosse e muito
mais na confiança de Se poder passar
Logo a outro Reyno, estando reduzido
o dito Vso a huma só pessoa, a quem
se mandem a todo o tempo as ordens
que forem Convinientes, a Respeito do
dito transporte, e prohibindosse a todas
as mais, sob graves penas e he bem se
Remunere ao Supplicante um invento
de tanta importancia.
Pede a Vossa Magestade Seja
Servido Conceder ao Supplicante o
privilegio de que pondo por obra o dito
inventivo, nenhuma pessoa de qualquer
qualidade possa Usar delle em nenhum
tempo neste Reyno, e Suas Conquistas
com quais quer pretextos, Sem licença
do Supplicante ou de seus Herdeiros
Sob pena de perdimento de todos seus
bens (...).”
Como despacho à Resolução, segue o
texto:
“Como parecer à Mesa: e além
das penas, acrescento a de morte
aos transgressores e para com mais
vontade o Supplicante se aplicar ao
novo instrumento, obrando os effeitos,
que relata, lhe faço mercê da primeira
Dignidade, que vagar em minhas
Collegiadas de Barcelos, ou Santare,
e de Lente de Prima de Mathematica
na Minha Universidade de Coimbra,
com seiscentos mil réis de renda, que
crio de novo em vista do Supplicante
somente. Lisboa, 17 de abril de 1709.
Com rubrica de Sua Magestade.”
As Experiências com Balões
Com o deferimento da sua Petição de
Privilégio, e sempre protegido por D. João V,
que reconhecia seu invulgar talento, resolve
Bartolomeu realizar e tornar público seus
experimentos.
A leitura de documentos da época
nos conduz a uma pequena síntese de que
Bartolomeu construiu um aeróstato sem
cubagem para criar força ascensional capaz
de elevar um homem a luz do princípio de
Arquimedes.
Comprovadamente realizou quatro
experimentos:
1º – Em 3 de agosto de 1709, quis
fazer exame ou experiência, do invento de
voar – para isso foi à casa que fica debaixo
das embaixadas, na Sala de Audiências
– que não surtiu efeito, sem que o balão se
elevasse;
2º – Em 5 de agosto de 1709, na Sala
das Embaixadas, com um meio globo de
madeira delgado, e dentro trazia um globo
de papel grosso, mantendo-lhe no fundo uma
tigela com fogo material; o qual subiu 20
palmos e como o fogo ia bem aceso, começou
a arder o papel subindo, sendo destruído
pelos criados da Casa Real, receosos da
propagação de um incêndio, assistindo a
tudo Sua Majestade com toda a Casa Real
e várias pessoas;
3º – Em 8 de agosto de 1709, no pátio
da Casa da Índia diante de Sua Majestade
e com muita fidalguia seu balão subiu
suavemente à altura da sala das embaixadas
e, do mesmo modo, desceu suavemente, caindo
no Terreiro do Paço;
4º – Em 3 de outubro de 1709, no pátio
da Casa da Índia, com o instrumento de voar
que tendo, subido a bastante altura, desceu
em seguida sem problema.
A “Passarola”
Os princípios físicos utilizados por
Gusmão eram verdadeiros e o são até hoje. O
ar, quando aquecido, perde densidade e torna-se mais leve do que o ar ambiente e tem como consequência dessa diferença de temperatura e densidade, sua elevação.
Essa primazia de
utilizar o ar quente nos balões para erguer
um objeto às alturas é de Bartolomeu.
Com a divulgação da sua “Petição”,
aceita pelo Rei em 17 de abril de 1709, a
qual notificava a cessão da patente de um
“instrumento para se andar pelo ar”, que mais
tarde seria conhecido por aeróstato ou balão,
muito reboliço causou nos meios acadêmicos e
no seio da população de Lisboa.
Essa divulgação pública se ramificou em
vários reinos europeus, que geraram uma
divulgação maior com publicações contendo
estampas fantasiosas que retratavam o
invento como uma barca com um formato
parecido com um pássaro que ficou conhecido
vulgarmente como “Passarola”.
As primeiras ilustrações da “Passarola”
são de autoria do primogênito do 3º Marquês
de Fontes, D. Joaquim Francisco de Sá
Almeida e Menezes, com a conivência de
Bartolomeu, pois o mesmo era seu aluno.
Esperava, dessa maneira, melhor proteger
o segredo confiado à sua guarda e, ainda,
ludibriar os bisbilhoteiros.
Atualmente, temos conhecimento de que a
forma dos balões, utilizadas por Bartolomeu,
nunca ficou bem determinada, sendo que
a série de documentos e estampas apócrifos
divulgados por seus adversários (inclusive por
ele), muito contribuíram para a confusão e
perfeita concepção do modelo.
Como visto acima, é bem provável que
Bartolomeu tenha divulgado a estampa da
“Passarola” e outras falsas informações
para camuflar suas observações, como fazia
regularmente.
A Morte de
Bartolomeu de Gusmão
Foi mergulhado num ambiente repleto
de detratores, de superstições e ignorância,
onde o Santo Ofício dominava por completo
a consciência do Rei, que resultou a sua
perseguição pelo Tribunal de Inquisição.
Ciente de que seria declarado culpado em
processo de calúnia e intrigas movido por seus
opositores, e sua prisão decretada em 26 de
setembro de 1724, antecipou-se a esse evento
e fugiu com seu jovem irmão, João de Santa
Maria, religioso carmelita de 24 anos.
A intenção de Bartolomeu era refugiar-se
em Paris, seguindo viagem via Madri. Sua
saúde nesse período estava muito abalada e,
quando se encontrava na cidade de Toledo,
não resistiu e, debilitado, interrompeu sua
viagem, vindo a falecer no Hospital de
Misericórdia. Era dia 19 de novembro de
1724, uma data que não devemos esquecer.
Bartolomeu retirava-se para sempre desse
viver terreno, esse brasileiro notabilíssimo,
que dera ao Brasil e a Portugal a primazia,
na História, de serem os precursores da busca
pelo domínio do ar e da Navegação Aérea. O momento em que
Bartolomeu alçou seu voo mais alto e se
despegou desse mundo está registrado na transcrição da Certidão de Óbito desse ilustre homem da Ciência, precioso
documento que o Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro recebeu em doação, acompanhando um certificado de Francisco
Adolpho Varnhagen, encarregado de negócios
do Brasil em Madri, e copiado por Dom
Joaquim Martinez, cura colado da Igreja
Paroquial de Santa Leocádia e São Romão,
na cidade de Toledo, que o extraiu das folhas
115 do livro dos falecidos, que começou no
ano de 1705 e terminou no ano de 1739.
O Reconhecimento
Bartolomeu deixou para seus pósteros, por
meio de sua visão imaginativa de sonhador, o
exemplo de persistência, de singular modéstia,
de amável singeleza e candura d’alma, que de
tal sorte acanhado, não parecia um guardião
de tantos conhecimentos e saber.
Dizia o Visconde de São Leopoldo que
Gusmão nunca fez alarde dos seus profundos
conhecimentos de humanidades, porém o
seu saber era admirado por todos os seus
contemporâneos.
Para marcar o feito desse homem ilustre,
a cidade e o povo de Santos homenageiam
Bartolomeu de Gusmão com um monumento
na Praça Rui Barbosa, que teve a pedra
fundamental lançada em 12 de julho de
1922, na presença de convidados de honra,
como a dos aviadores portugueses, Gago
Coutinho e Sacadura Cabral.
Criado pelo escultor italiano Lorenzo
Massa, o monumento foi inaugurado em
7 de setembro de 1922, em meio às festas
oficiais pelo Centenário da Independência
do Brasil.
Não podemos esquecer a magnitude de
sua inteligência e do seu espírito inventor, que por seus diversificados estudos pôde-se destacar nos vários ramos da
inteligência humana,
como podemos citar a seguir:
Na História, foi proeminente membro
ativo da Academia Real de História
Portuguesa.
Preparando a resposta a um trabalho do
conceituado Geógrafo Guilherme de Lisle,
por incumbência do Governo português pôde
destacar-se no campo da Geografia.
Sua atuação destacada na célebre “Questão
da Casa de Aveiro” pode demonstrar seus
conhecimentos jurídicos. Compondo vários
sermões, dissertações e versos, demonstrou seus
dotes na área da Literatura.
Nos estudos da Matemática, em toda
sua extensão, excedeu ao conhecimento dos
estudiosos do seu tempo em Portugal.
Inventou mecanismos de elevar água,
de aumentar o rendimento dos moinhos
hidráulicos e engenhos de açúcar, além de
outros, e enveredou pelo campo da Mecânica
com imenso ardor e destaque.
Culminando com o estudo dos balões,
tornou-se precursor na Ciência Aerostática.
Ainda foi muito além, atuando também nos
campos da Diplomacia e da Criptografia,
por designação de D. João V.
Enfim, podemos afirmar, sem sombra de
dúvida e com imenso orgulho, que Bartolomeu
de Gusmão foi um visionário no seu tempo; foi
um sonhador que procurou transformar seus
sonhos em realidade e tornar-se o primeiro
homem que vislumbrou nos céus o domínio
do ar para a conquista da terra, portanto,
com justa razão, o precursor da Aeronáutica
no mundo.
Por tudo que esse brasileiro nato
realizou, fez-se credor e digno do título
que o coloca numa posição de destaque no
contexto da História Universal, reconhecido
mundialmente e inserido na História da
Aeronáutica brasileira como Patrono do
Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica
(INCAER).
E como homenagem a esse brasileiro que
sonhava voar, terminamos com esse lindo
soneto de Olavo Bilac em sua homenagem:
O Voador
“Padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão,
inventor do aeróstato,
Morreu miseravelmente num
convento, em Toledo, sem
Ter quem lhe velasse a agonia.”
Em Toledo. Lá fora, a vida tumultua
E canta. A multidão em festa se atropela...
E o pobre, que o suor da agonia enregela,
Cuida o seu nome ouvir na aclamação da rua.
Agoniza o Voador. Piedosamente, a lua
Vem velar-lhe a agonia através da janela.
A Febre, o Sonho, a Glória enchem a escura cela,
E entre as névoas da morte uma visão flutua:
“Voar! varrer o céu com asas poderosas,
Sobre as nuvens! correr o mar das nebulosas,
Os continentes de ouro, o fogo da amplidão!...”
E o pranto do luar cai sobre o catre imundo...
E em farrapos, sozinho, arqueja moribundo
Padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão.
Fonte: INCAER
Texto: Cel Av R1 Manuel Bezerra Barreto Reale
Chefe da Divisão de Estudos e Pesquisa
do Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica