No primeiro de Maio, dia do Trabalhador, reproduzimos para reflexão texto de Ozires Silva, engenheiro aeronáutico e fundador da Embraer.
Uma decolagem para o futuro
Na década de 40, Stephan Zweig escreveu o livro “Brasil, o País do Futuro”, de grande repercussão. Esperávamos que o futuro, preconizado pelo autor, estivesse próximo e que conseguiríamos materializá-lo.
Os anos se passaram, em sequência de crises e de dificuldades. Chegamos aos novos século e milênio, com a população brasileira registrando nas últimas décadas quase nada de progresso, desenvolvimento e qualidade de vida. Sob o descompasso entre as demandas sociais e as possibilidades de cobrir seus custos permanecemos atrelados ao estigma do subdesenvolvimento, em que pesem algumas notáveis exceções, justamente para demonstrar que somos um povo capaz.
Vivemos num país com todos os requisitos viáveis para o sucesso. No entanto, nosso desempenho econômico de longe tem estado abaixo do mínimo indispensável para contingente de quase 200 milhões de habitantes. Em 1994, nossas autoridades maiores conceberam uma ideia realmente valiosa: o Plano Real, magistralmente orquestrado e brilhantemente implantado. Foi proclamado que, afastado o iníquo imposto de inflação vergonhosa, pelo menos 30% da população passaria a produzir, ganhar e consumir. Entretanto, a partir do momento em que isto se tornou realidade e os primeiros números do crescimento surgiram, vozes antigas, sob o pretexto do perigo de retorno aos detestados índices de inflação do passado, conseguiram implementar medidas de restrições econômicas que nos trancaram no mar da recessão e da estagnação. E assim, diante de uma extraordinária perspectiva de mudanças, voltamos a um passado não desejado, aonde estamos desde então.
Nasceu novo milênio e novo século que mostraram-se difíceis, com crises mundiais e com algo que jamais se pensou anteriormente: o uso dos pacíficos aviões comerciais como armas do terror, desencadeando crise sem precedentes, atingindo praticamente todos os países e setores econômicos. Tudo isto foi ruim, mas não deveríamos ter sucumbido aos tradicionais maus costumes de buscar nas dificuldades dos outros justificativas para nos afastarmos da trilha do crescimento e do sucesso. Cabe a pergunta: o que fazer? O principal objetivo das nações deve ser o de proporcionar crescentes padrões de vida aos seus cidadãos. A questão fundamental do “por que não crescemos e competimos mundialmente o suficiente e o que nos impede?”, deveria martelar continuamente nossas cabeças.
Olhando para a frente vem a luta, já ganha por outras populações, de colocar como prioridade nacional crescimento econômico e trabalhar duramente para que ele se torne realidade. Parece fundamental afastamento das variáveis econômicas sob ótica única dos interesses financeiros. Taxas de juros, acesso ao crédito, política tributária, leis e regulamentos, muito além de visar o equilíbrio das contas públicas deveriam estar a serviço da política do desenvolvimento da nação. O importante é ter povo rico, produtivo e agora num mundo global, competitivo e vencedor.
Hoje, a competição mundial ocorre entre países e não mais somente entre empresas ou organizações. Assim, a competitividade nacional deve ganhar foros de política permanente, sob ótica de prioridade maior para nos transformar em ganhadores e superavitários permanentes no comércio nacional e internacional.
A cultura e os valores nacionais, incutidos nos programas educacionais desde os primeiros tempos da vida de cada cidadão, deveriam ser os elementos básicos para a consolidação da nacionalidade, do nosso perfil como povo e como cidadãos, todos essencialmente empreendedores, cada qual no seu campo.
Os insucessos do passado nos obrigam a buscar novos paradigmas de comportamento, de decisão, de participação e tentar compreender, com humildade, que o mundo mudou.
Precisamos aceitar mudanças que realmente mudem, de cultura e de atitude, lembrando que não mais é possível manter mesmo quadro de marginalizados da sociedade nacional. Duas décadas de pouco crescimento já afetaram negativamente em demasia a vida de milhões de brasileiros. Uma terceira seria não aceitável.
Texto: OZIRES SILVA
Fonte: O VALE