Hoje, o registro de uma notícia difícil, mas que carrega a semente de um amanhã promissor. A recente carta de João Francisco Amaro foi selecionada para este Especial de Domingo, na esperança de que, em alguns anos, possamos brindar um espaço definitivo para o magnífico acervo consolidado pelo museu TAM - ASAS DE UM SONHO, que oficialmente encerrou suas atividades em São Carlos-SP.
Vamos em frente, com a certeza de dias melhores!
Bom domingo!
Carta do presidente do
Museu TAM - Asas de um Sonho,
João Francisco Amaro
Meus amigos:
O nosso sonho foi interrompido, mas não acabou! Trata-se de uma pausa para elaboração de um projeto mais amplo, de modernização, adaptação a novas tecnologias, abertura a parcerias e o ressurgimento em um novo local.
O museu TAM – ASAS DE UM SONHO, Estrela da América Latina, como disse o amigo José Pardo, diretor do Museu Fenix da Colômbia, permanecerá em nossas lembranças, na época do seu funcionamento em São Carlos. Mas, agora, faremos com que ele renasça unicamente como o museu Asas de um Sonho, contando com o apoio da TAM e o patrocínio de outras companhias do setor aéreo e empresas dos mais variados segmentos.
O recesso do museu já estava anteriormente previsto, tendo em vista os nossos planos de mudança estrutural. Quis o destino que uma conjuntura de receita em queda e custos em alta em todo o setor aéreo precipitasse a suspensão das atividades do museu e a discussão estratégica sobre sua modernização e sua mudança de local.
Este período de materialização do nosso sonho foi e será para sempre uma grata experiência e uma doce lembrança para todos nós. Vi muitas vezes no seu interior velhos pilotos chorando de emoção e animados casais dançando as alegres músicas que ali eram tocadas, herança honrosa que tive, quando crescia ouvindo meu pai tocá-las em seu acordeon.
E o que dizer das crianças, estudantes, amantes da aviação, curiosos e pessoas comuns, que, ao primeiro contato com o museu, ficavam estarrecidas ante a tamanha surpresa em encontrar ali, ao toque de suas mãos, o mundo mágico da aviação em tão valioso e impecável acervo, restaurado nos seus mínimos detalhes por verdadeiros artesãos, um misto de relojoeiros, mecânicos, pintores, marceneiros e ferreiros, que conosco compartilhavam inúmeras alegrias, e que por ora se interrompem.
Nunca, jamais registramos nenhuma manifestação sequer de contrariedade ou desacordo com o acervo ou a sua própria museografia. Ao contrário, foram milhares de manifestações de elogios, e centenas delas oriundas do exterior. Às vezes, no silêncio do museu, não acreditava que pudemos montar tão significativo instituto de preservação.
Já há tempo, contudo, achava que seria necessária a repaginação de todo o projeto, incluindo a parte arquitetônica, uma atualização tecnológica que permitiria instalar modernos simuladores de voo, a maior integração com a internet tendo em vista a importância da democratização do museu através da rede e uma definição das fontes de custeio.
Em um ambiente de recessão nossa companhia aérea não podia manter o patrocínio nos mesmos termos anteriores. E nem poderia ser de outro modo, porque tirar dinheiro do seu caixa para subsidiar o museu seria mesmo uma afronta aos seus credores e/ou acionistas!
O museu é o décimo do país em importância segundo o TripAdvisor, e todos nós sabemos que a maioria esmagadora dos mais importantes museus do mundo somente sobrevive através de doações, sejam particulares, de empresas ou do governo. Nós tivemos, sim, auxílio do Governo Federal através destes programas de fomento à cultura para a sua montagem inicial, para sua subsistência e por ele agradecemos. Contudo, tempos depois nós não conseguimos mais captar estes recursos de renúncia fiscal do governo federal, mais conhecido como Lei Rouanet.
A exemplo do meu irmão, que já não está mais entre nós há quase 15 anos, nunca suportei ver uma aeronave abandonada e para mim, que desde o início dos anos 90 corro atrás delas para devolver-lhe a sua dignidade e exibi-las no museu, suportar este momento de paralisação é extremamente difícil.
No entanto, o nosso museu renascerá mais forte, com uma nova localização e totalmente modernizado. "Infelizmente, a nossa cidade ficou pequena para o museu", como disse o amigo e prefeito de São Carlos, Paulo Otomano.
A sua transferência é um grande desafio, um trabalho enorme e dispendioso, uma operação de logística gigantesca prevista para até cinco anos. Nesse ínterim, o museu ficará fechado com suas aeronaves protegidas, e seus motores inibidos no mesmo local onde se encontram.
Juntos com nossos inúmeros mecenas que com suas ações aumentaram significativamente o nosso acervo (aeronaves, planadores, uma quantidade enorme de documentos, manuais de aeronaves, revistas e objetos e que ainda não estão expostos) reafirmamos a nossa confiança no sucesso do projeto.
Agradecemos aos amigos que participaram das atividades do museu; a todos aqueles que nos honraram com suas manifestações de carinho e especialmente aos nossos colaboradores que ao longo do tempo se transformaram em uma grande família. Tenho certeza que brevemente estaremos convocando-os a retornarem às suas antigas funções.
Com a força dos mesmos amigos que nos ajudaram a montar o museu há mais de 10 anos e com outros que se juntarão a este grupo, reabriremos o museu na grande São Paulo, que é a cidade da sua verdadeira vocação.
São Paulo, 2 de fevereiro de 2016
João Francisco Amaro