Conheça a vida dos cadetes da Academia da Força Aérea
Início de ano é tempo de expectativa para os cadetes aviadores que começam a instrução de voo
“Desde o primeiro ano da Escola Preparatória de Cadetes do Ar (EPCAR) eu sonhava com esse momento e ele finalmente chegou”, diz o Cadete Renan Gambassi, do segundo ano da Academia da Força Aérea (AFA). Ele e mais 135 colegas da turma Jaguar iniciam a formação prática de voo nas aeronaves T-25 Universal no mês de março. Embora as aulas tenham começado em 18 de janeiro, a movimentação na AFA iniciou antes.
Segundo o cadete, grande parte dos alunos volta das férias pelo menos com uma semana de antecedência para recomeçar a rotina e se preparar para os próximos desafios. Ele conta que está focando seus estudos no manual técnico e no de procedimentos, chamados de MAITE e MAPRO, respectivamente. Também está aprendendo como fazer o check list e quais as formas de resolver as principais panes da aeronave durante o voo.
O Cadete Gambassi também conta, nessa fase preparatória, com a ajuda do irmão, que está no terceiro ano. “Estou um pouco ansioso, pois nunca tive contato com a atividade aérea. É uma grande responsabilidade que nos é dada, mas espero que, com dedicação, conquiste meu tão sonhado cachecol [símbolo do primeiro voo solo]”, afirma.
Na turma que inicia seu voo em 2016, há apenas duas mulheres. Uma delas é a Cadete Karoline Ribeiro, 22 anos, que também se diz ansiosa pelo início das atividades aéreas. Embora sempre tenha sonhado em ser aviadora, quando estava prestando concurso para a Aeronáutica, em 2011, foi aprovada na Escola de Especialistas de Aeronáutica (EEAR), mas não na AFA. Como não tinha condições financeiras de continuar fazendo cursinho, optou pela carreira e formou-se sargento especialista em Eletricidade e Instrumentos (BEI). Após um ano servindo na Base Aérea de Brasília (BABR), ela prestou novamente a prova da AFA e foi aprovada. Era a última chance que ela tinha, devido ao limite de idade – que é ter menos de 23 anos até o dia 31 de dezembro do ano da matrícula.
Para complementar os estudos, a Cadete Karoline pretende utilizar os jogos online Flight Simulator e IL2, que simulam um voo virtual. “Acredito que meu maior desafio será me localizar nas áreas de instrução, porque o voo é todo visual e talvez, de início, eu tenha dificuldade em manter o avião nivelado durante as manobras”, afirma.
A cadete, carioca de São Gonçalo, diz que os sentimentos são um misto de ansiedade, tensão e alegria. “Vestir o oitavo uniforme [macacão de voo] é um orgulho enorme”.
Instrutores também precisam se preparar
Enquanto os cadetes retomam os estudos, após as férias, os instrutores já estão sendo treinados para recebê-los. Durante aproximadamente um mês, os novos aviadores que chegaram à AFA, selecionados para atuar como instrutores, passam por cursos teóricos e práticos que envolvem os termos de avaliação dos cadetes, aspectos didáticos, readaptação à aeronave e adaptação ao posto de instrutor.
É o caso do Tenente Yuri Palota, recém-chegado do Esquadrão Flecha (3º/3º GAV), sediado em Campo Grande (MS), onde serviu por dois anos. Ele conta que voltar à unidade de formação, agora como instrutor da aeronave T-27, e poder contribuir com a formação operacional das novas gerações era um sonho desde a época de cadete. O aviador acredita que a nova função traz muitas responsabilidades, já que a formação, o aprendizado e a segurança dos futuros pilotos dependem, em grande parte, do seu trabalho.
“Acho que ser um bom instrutor depende de percebermos o mais rapidamente quais são os erros do aluno, entender por que ele está cometendo aquela falha, e da forma como vamos agir, didaticamente, para ajudá-lo na correção. Tive um instrutor muito importante na caça e uso ele como referência para o meu trabalho daqui para frente. Ele é muito preocupado com o processo de aprendizado e tenta passar muita calma”, afirma o militar.
Enquanto o Tenente Palota será instrutor de T-27, aeronave voada, geralmente, pelos cadetes do 4º ano da AFA, o Tenente Lucas Barbacovi vai dar asas aos cadetes Gambassi, Karoline e seus mais de cem colegas. O oficial recém-chegado à AFA servia no Sétimo Esquadrão de Transporte Aéreo (7º ETA), em Manaus (AM). “Dar instrução para aqueles que nunca voaram antes é uma possibilidade que só a AFA pode oferecer, no âmbito da FAB, sem falar que é uma instituição de excelência. Ensinar bem é, com certeza, um desafio, e quem ensina tem a obrigação de dar sempre o melhor de si”, diz ele.
Leia esta e outras reportagens na edição de fevereiro do Notaer