Alunos da rede pública do Ceará são motivados à educação científica
Aos 16 anos, Hítalo de Lima Mendonça afirma ter perdido o medo dos cálculos, da física, das ciências naturais. “Peguei gosto e me interessei”, resume. Assim, foi perdendo de vista barreiras simbólicas impostas pelos outros por ser aluno da rede pública. Sonha em estudar engenharia espacial em São Paulo. Ou ser aprovado no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). Estas descobertas de Hitalo ocorreram na Escola Francisca Moreira de Souza, em Beberibe, a 83 quilômetros de Fortaleza. No 1° ano do ensino médio, o talento dele foi identificado pelo professor de física. Aí o jovem foi chamado a participar das aulas de preparação para olimpíadas científicas, à noite. “Somos nove ou dez no grupo. É um momento que ajuda a aprimorar a matemática, o raciocínio lógico. Vemos questões de competições passadas”, explica Hitalo, agora no 2° ano. Em 2015, ele colaborou para as estatísticas do Ceará ao ganhar duas medalhas: ouro na Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica (OBA) e bronze na Olimpíada Brasileira de Física das Escolas Públicas (OBFEP). Passou a apostar em um futuro na ciência, mesmo com dificuldades de infraestrutura na escola. A participação em olimpíadas é parte de uma diretriz de educação científica na rede pública, conforme Daniel Rocha, assessor técnico da Coordenadoria de Aperfeiçoamento Pedagógico da Secretaria da Educação do Ceará (Seduc). Desde 2007, a pasta adotou linha de financiamento e incentivo à participação de alunos e promoção de eventos científicos, como a Feira Estadual de Ciência e Cultura. Segundo Daniel, as diretrizes incluem ainda permitir aos professores atividades de pesquisa para o estímulo dos alunos. Nos eventos internacionais, os alunos da rede pública cearense também têm conseguido destaque. Como na Feira Internacional de Ciência e Tecnologia (Intel ISEF), que deu o prêmio de 3° lugar na área de medicina e ciências da saúde a João Batista de Castro, aluno do Liceu de Maracanaú. Antes espaço quase prioritário da escola particular, o pódio das olimpíadas de conhecimento se abre à rede pública graças ao empenho de professores, gestores e dos próprios alunos, analisa Josete Castelo Branco, professora-adjunta do curso de Pedagogia da UECE (Universidade Estadual do Ceará). Nos últimos anos, ela nota um maior incentivo aos estudantes dos ensinos fundamental e médio no Estado. “A primeira coisa que muda é na autoestima do aluno. Alguém está dizendo a ele que ele é capaz. Ele passa a saber que não está destinado a concluir o ensino médio e se sujeitar a qualquer tipo de emprego. Ele vê oportunidades”, acredita Josete.
Texto: Thaís Brito, Jornal O Povo (CE).