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domingo, 19 de junho de 2016

Especial de Domingo

Das Histórias de Aeromodelistas, da Confederação Brasileira de Aeromodelismo, selecionamos o texto de hoje.
Boa leitura.
Bom domingo!

CARLOS EDUARDO PORTO
70 ANOS DE AEROMODELISMO
Hoje aos 78 anos, me perguntaram quantos anos pratico aeromodelismo. Recordei que o meu primeiro aeromodelo fiz com 8 anos de idade, e foi em 1945. Fui ontem a casa do meu amigo Mauro Sousa, que está com 80 anos para recordar tópicos interessantes, e confirmar as datas. Pergunta, como foi como aconteceu e o que fizemos. Tudo depende dos fatos que ocorrem ao nosso redor, e nos chama a atenção. Primeiro minha mãe sempre me dizia que eu com 2 anos não comia porque ficava brincando com a colher como se fosse um avião “fissurado e compenetrado” nas evoluções. Mais tarde eu exigi uma fantasia de aviador num carnaval, que ainda tenho a foto. Outro fato importante é que o pai deste meu amigo, o seu Agripino Sousa, construía grandes planadores e nos fundos da casa e em cima de uma plataforma e ao sabor do vento norte, fazia os testes necessário. Estava ele imbuído de concorrer a um grande prêmio, não sei valor, que existia para quem fizesse voar um avião somente com esforço humano, decolasse voasse e atravessasse o Canal da Mancha.

Eu com 17 anos de idade já era solo do Aero Clube de Santa Catarina, e fui um dos pilotos de teste de um dos primeiros planadores!
Voltando aos 8 anos, como o seu Agripino recebia revistas principalmente Americanas, e em uma delas tinha uma planta de um aeromodelo. Meu amigo começou a fazer e eu também me entusiasmei, as varetas eram de bambu e as nervuras e peças eram de cartolina, coladas com goma arábica, concluímos e entelamos com papel de seda com grude de farinha araruta. A revista falava em cola rápida “ciment” que começamos a descobrir que era de acetona e acetato de amila, mas não funcionava, descobrimos depois que faltava celuloide, que se dissolvia na acetona e fazia a massa necessária. Importante relembrar que na época não havia plásticos, só peças e brinquedos de celuloide. Tínhamos então descoberto o segredo da cola “ciment”. Creio que passados alguns anos numa das revistas brasileiras, descobrimos a Casa Aerobrás, escrevemos para ela, recebemos catálogos e fizemos uma encomenda, nos mandaram um Kit Inglês de um avião a elástico, como foi com o nosso dinheiro, construímos e ficou um tempo com o meu amigo Mauro, mas sem usar apenas estático, perguntei pelo avião e ele disse que eu podia levar porque não queria mais. Meu pai tinha um comércio no centro de Florianópolis, e eu fui com o avião no centro e passei pela praça principal, Praça XV, os motoristas de táxis ficaram curiosos com o avião, e a pedidos deles dei corda no elástico com a hélice e o soltei, o mesmo subiu deu uma volta e posou, repeti a façanha várias vezes, e fui embora realizado, nem imaginem como, isso em 1947 e eu com 12 anos! Passaram-se mais 2 anos e descobrimos que um suíço de nome Willi Boen, tinha um fabriqueta de brinquedos e também tinha sido aeromodelista. Claro, ficamos amigos, principalmente do filho. Ele tinha muitas plantas de aviões e madeira laminadas de garapuvu, (árvore típica da nossa região, usada pelos pescadores para construir as típicas “canoas de um pau só”). Como as plantas eram projetadas para pinho de riga que era muito usado na Europa, enquadrou-se perfeitamente para a nossa madeira de Santa Catarina. Comprei dele um motor Inglês MK 3, diesel, que usei em muitos “U CONTROL”. Eu mesmo fazia as hélices de madeira, modelo de fabricação que aprendi com ele. Construí também um avião voo livre a motor, de asa alta dois diedros e o leme era invertido, coloquei o meu motor MK 3, e soltei no Aero Clube, com o tanque cheio, alguém tirou fotografia dele voando, que é a minha última recordação! Fiz engenharia em São Paulo, e após 1970, reiniciei as atividades no aeromodelismo, Construí um avião de treinamento de rádio o famoso “LIBELULA”, J3, Tucano e tantos outros! No ano 2002 com alguns amigos fomos a West Palm Beach assistir o famoso TOP GUN, Uma coisa que me impressionou, foi que quando os aeromodelistas apresentavam um aeromodelo que tinha feito história, a platéia vibrava e se emocionava. Veio-me a pergunta, porque nós Brasileiros só fazemos avião com emblema de outros países ? Tive a primeira oportunidade, de fazer uma “réplica” relacionada a história da aviação brasileira, quando por ocasião de um evento da empresa Francesa que fazia o nosso correio com o nome de “LATECOÉRÈ” e que veio a sobrinha neta de “SAINT EXUPERRY”, na oportunidade, eu e dois outros aeromodelistas, Gilson Stoider e Renato Mansur apressamos em construir um modelo do avião utilizados pelos franceses.. Eu e o Gilson , fomos ao Rio no MUSAL - www.musal.aer.mil.br - e lá conseguimos todas as informações necessárias como plantas do avião “BREGUET XIV”, inclusive uma fotografia de um no Campeche com várias autoridades Catarinenses da época. Fizemos o avião em tempo e tivemos a oportunidade tirar fotos com a senhora “ÉLÈNE DE SÉZE” sobrinha neta de Saint Exupéry. Depois construí um “late 26”, também utilizado pelos franceses e que caiu na localidade da Armação da Piedade, Município de Governador Celso Ramos em 1928, relato que conta no livro “Os Aviadores Franceses a América do Sul e o Campeche de João Carlos Mosimann, que trata do fascinante mundo dos aviadores franceses que voaram em nossa região.

Abaixo, Breguet XIV
Estes dois aviões foram muito solicitados em vários eventos, inclusive com a presença de um sobrinho neto de Saint Exupéry “FRANÇOIS D’AGAY”, que também tive a oportunidade de ser fotografado com ele Uma artista plástica Dona Elenice muito conhecida em nossa cidade, apaixonada pelo “PEQUENO PRINCIPE” a meu pedido elaborou um boneco do príncipe que ficou a meu ver o mais perfeito de todos. Tenho foto feito com montagem de tamanho com avião eu e o boneco. Fiz também a réplica do SVA 5 avião italiano pilotado por um aviador famoso da Itália “ANTONIO LOCATELLI” que fez um pouso forçado na cidade de Tijucas. Em 1917 tentava ele fazer o primeiro Raid aéreo de Buenos Aires ao Rio de Janeiro. A foto deste modelo encontra-se em um site nos Estados Unidos, sobre aviadores famosos do mundo.  Em 1920, um Inglês e um Brasileiro, também tentaram em um hidroavião “MACCHI M9” fazer o Raid aéreo Rio Buenos Aires, mas morreram afogados na Lagoa dos Esteves perto de Criciúma. Este avião, não tenho mais porque também caiu durante um voo na Lagoa da Conceição em Florianópolis, mas pode ser visto voando neste link: https://www.youtube.com/watch?v=f1Ztrk3e8pY. Mais tarde descobri que foi defeito da bateria de bordo, pois apresentou o mesmo problema em outro avião em que a usei. Para não me estender em detalhes, despeço-me agradecido por esta oportunidade que muito me lisonjeou. 
Um, abraço a todos.
Carlos Eduardo Porto

Nota: Este é o Sr “Porto”, nas palavras da sua filha Gizelle: “Ele se apaixona, pesquisa, busca as peças, constrói, faz voar e quando pode expõem para dividir a história e a paixão por aviões antigos.”

Por todo o serviço prestado ao aeromodelismo do Brasil, Santa Catarina e Grande Florianópolis, o senhor Carlos Eduardo Porto, nosso querido “Porto”, recebeu uma homenagem, no dia 18 de outubro de 2015, das mãos do Presidente da COBRA, Rogerio Lorizola e do presidentete do CAAB – Clube de Aeromodelismo Asas de Biguaçu, Antônio Carlos de Azevedo e do Secretário, João Augusto Ribeiro da qual o Porto é sócio!

Fonte: www.cobra.org.br