Mais um texto selecionado do AEROMAGIA, site que merece sempre ser visitado, com excelentes artigos sobre "aviões, aviadores e a arte de voar".
O conteúdo de hoje brinda-nos com o depoimento de um grande piloto que aponta o caminho para tornar real os nossos sonhos.
Boa leitura.
Bom domingo!
O conteúdo de hoje brinda-nos com o depoimento de um grande piloto que aponta o caminho para tornar real os nossos sonhos.
Boa leitura.
Bom domingo!
Sobre acrobacias e competições:
depoimento do piloto Marcio Oliveira
Nos últimos dois anos, o piloto Marcio Oliveira tem sido um ativo participante das competições aéreas – aquela parte da acrobacia que, segundo o conhecido campeão Xavier de Lapparent, “seleciona naturalmente os que possuem mais disciplina e perfeccionismo, e que é reservada para os melhores, mas também os mais humildes, dispostos a passar por fases de aprendizado difíceis, de constante auto-questionamento”. Neste ano, Marcio participou de dois campeonatos de acrobacia: o Nacional do CBA, na Academia da Força Aérea, e o Mundial de Avançada da FAI, na Polônia. Aqui ele nos presenteia com um depoimento acerca dessa odisseia que tem vivido ao se tornar um piloto de competição:
Comecei a voar em Piracicaba, no interior de São Paulo. Eu trabalhava como ajudante de mecânico e lavador de aviões (a fim de conseguir dinheiro para pagar meus cursos), e um dia pousou um Bucker, no qual os pilotos estavam treinando para o campeonato de acrobacias, que aconteceria em Ribeirão Preto. Fiquei maravilhado! Nessa mesma época, também vi o Pitts do Lidio de Rio Claro e do Gunar, a Esquadrilha da Fumaça, T-6s e etc, e esses aviões sempre estiveram vivos em meu imaginário. As cores dessas máquinas sempre coloriram meus sonhos.
Minha primeira experiência acrobática foi quando eu tinha 16 anos, quando o “Marcão do Bucker” me levou para um voo panorâmico. Depois, só tive oportunidade de voar novamente 13 anos mais tarde, quando já estava na aviação comercial, ocasião em que eu podia pagar meus voos acrobáticos. Então tive o prazer de aprender acro com meu grande amigo Aviador Juliano Wolski (Cabelo) no Eagle.
Como é normal, passei por várias dificuldades na prática da acrobacia. Primeiro o custo financeiro. E também enjoos, pois sempre sentia náuseas após 15 minutos de acrobacia. Além disso, outra dificuldade foi naquela época antes de surgir o CBA, quando houve umas panelas de pilotos que colocaram um monte de obstáculos burocráticos ao meu ingresso na atividade…Tive também a falta de aviões para dar continuidade ao aprendizado. E claro, mesmo driblando todas essas dificuldades, tive ainda meus compromissos pessoais, que precisei conciliar com a atividade.
Mas houve também muitos benefícios, que não se resumem apenas à técnica de pilotagem, e sim em aprendizado para a vida. Além de te fazer conhecer e experimentar o voo em atitudes diversas, a acrobacia te faz levar seus próprios limites ao extremo.
Devemos lembrar que isso nos ajuda a doutrinar melhor nós mesmos, tendo disciplina, dedicação, foco nos objetivos, perseverança e humildade, pois a busca pela perfeição é o que te traz satisfação.
A melhor forma de treinar para um campeonato, em minha opinião, é focar nas manobras de precisão, e trabalhar em grupo. Estando junto com outros pilotos focados no mesmo objetivo você aprende com os erros dos outros, e aprende a reconhecer suas próprias falhas, “baixando a bola”, aprendendo. Assim você consegue evoluir.
Já participei de três campeonatos organizados pelo CBA, onde fiquei em segundo lugar geral na Avançada em 2015 e em terceiro na Ilimitada em 2016 (em todos eles obtive medalhas de ouro: no programa Unknown de 2014, no Free de 2015 e no Freeknown de 2016). Também fui no Campeonato Mundial da Intermediária de 2014, na África do Sul, onde fiquei em 19º lugar geral voando um Pitts S-1S. Estive também como visitante no Mundial de Ilimitada (WAC – World Aerobatic Championship) do ano passado na França (onde encontrei o colega competidor Francis Barros e o Plínio Lins).
E agora dei mais um importante passo ao competir no Mundial de Avançada, na Polônia.
O ambiente desse mundial foi muito bom, terminei a prova com muito mais amigos que eu imaginava! Fui muito bem tratado, e posso dizer que houve até uma certa simpatia da parte deles ao saberem que um brasileiro estava na competição. Mas por diversas vezes ouvi: “Cara você vem de um país tão grande e com uma aviação tão grande! E apenas você aqui?”
Comecei a voar em Piracicaba, no interior de São Paulo. Eu trabalhava como ajudante de mecânico e lavador de aviões (a fim de conseguir dinheiro para pagar meus cursos), e um dia pousou um Bucker, no qual os pilotos estavam treinando para o campeonato de acrobacias, que aconteceria em Ribeirão Preto. Fiquei maravilhado! Nessa mesma época, também vi o Pitts do Lidio de Rio Claro e do Gunar, a Esquadrilha da Fumaça, T-6s e etc, e esses aviões sempre estiveram vivos em meu imaginário. As cores dessas máquinas sempre coloriram meus sonhos.
Minha primeira experiência acrobática foi quando eu tinha 16 anos, quando o “Marcão do Bucker” me levou para um voo panorâmico. Depois, só tive oportunidade de voar novamente 13 anos mais tarde, quando já estava na aviação comercial, ocasião em que eu podia pagar meus voos acrobáticos. Então tive o prazer de aprender acro com meu grande amigo Aviador Juliano Wolski (Cabelo) no Eagle.
Como é normal, passei por várias dificuldades na prática da acrobacia. Primeiro o custo financeiro. E também enjoos, pois sempre sentia náuseas após 15 minutos de acrobacia. Além disso, outra dificuldade foi naquela época antes de surgir o CBA, quando houve umas panelas de pilotos que colocaram um monte de obstáculos burocráticos ao meu ingresso na atividade…Tive também a falta de aviões para dar continuidade ao aprendizado. E claro, mesmo driblando todas essas dificuldades, tive ainda meus compromissos pessoais, que precisei conciliar com a atividade.
Mas houve também muitos benefícios, que não se resumem apenas à técnica de pilotagem, e sim em aprendizado para a vida. Além de te fazer conhecer e experimentar o voo em atitudes diversas, a acrobacia te faz levar seus próprios limites ao extremo.
Devemos lembrar que isso nos ajuda a doutrinar melhor nós mesmos, tendo disciplina, dedicação, foco nos objetivos, perseverança e humildade, pois a busca pela perfeição é o que te traz satisfação.
A melhor forma de treinar para um campeonato, em minha opinião, é focar nas manobras de precisão, e trabalhar em grupo. Estando junto com outros pilotos focados no mesmo objetivo você aprende com os erros dos outros, e aprende a reconhecer suas próprias falhas, “baixando a bola”, aprendendo. Assim você consegue evoluir.
Já participei de três campeonatos organizados pelo CBA, onde fiquei em segundo lugar geral na Avançada em 2015 e em terceiro na Ilimitada em 2016 (em todos eles obtive medalhas de ouro: no programa Unknown de 2014, no Free de 2015 e no Freeknown de 2016). Também fui no Campeonato Mundial da Intermediária de 2014, na África do Sul, onde fiquei em 19º lugar geral voando um Pitts S-1S. Estive também como visitante no Mundial de Ilimitada (WAC – World Aerobatic Championship) do ano passado na França (onde encontrei o colega competidor Francis Barros e o Plínio Lins).
E agora dei mais um importante passo ao competir no Mundial de Avançada, na Polônia.
O ambiente desse mundial foi muito bom, terminei a prova com muito mais amigos que eu imaginava! Fui muito bem tratado, e posso dizer que houve até uma certa simpatia da parte deles ao saberem que um brasileiro estava na competição. Mas por diversas vezes ouvi: “Cara você vem de um país tão grande e com uma aviação tão grande! E apenas você aqui?”
Quanto ao fato de consegui voar, não foi fácil! Pois, para começar, o valor da inscrição ficou salgado, sobretudo depois que o nosso governo federal criou um imposto para remessa de dinheiro para o exterior. Pesquisei e descobri que havia uma maneira de ser isento desse imposto, mas era só para casos de competições e eventos culturais, intercâmbios, etc.. Assim, a isenção infelizmente não se adequou à natureza da competição aérea. Com isso decidi comprar os euros e pagar a inscrição com multa, e para isso contei com a ajuda do meu amigo “Francês” da Sierra Bravo. Dessa forma ficaria mais barato que pagar os quase 25% de imposto, mais taxas do banco, mais a cotação astronômica da moeda!
A outra dificuldade foi o avião. Durante o mundial de Intermediária na África, eu conheci e fiz amizade com um piloto lituano, que foi medalha de ouro no europeu de 2015. Eu sabia que ele iria voar o mundial, e pedi para que me alugasse o Sukhoi. A principio estava ok! Fiquei treinando tendo como coach o nosso amigo Gunar Armin e como observador o Andre Chiodi, e procurando o máximo de informação possível! Nesse mesmo tempo, fui escalado para um voo para Madrid, e descobri que o Castor Fantoba, atualmente um dos melhores pilotos de Sukhoi do mundo, estaria treinando por lá. Falei com meu amigo Gilmar Barbosa (de Madrid) e pedi a ele uma carona ate o aeroclube – então pude acompanhar um dia de treino do Castor! Um cara muito legal, e que me deu várias dicas!
Mas… quando estava tudo certo para combinar um treinamento com ele, descobri que minha carteira não valeria lá! Então comecei o processo para tirar o PP na Europa… mas, por azar, a empresa em que trabalho trocou o modelo de avião na rota para Madrid, e eu não voei mais para lá… Então, pensei em validar minha carteira apenas para competição. Li que seria possível, mas teria que fazer isso no pais em que a aeronave que eu fosse voar estivesse matriculada. Então seria na Lituânia. Mas aí recebi uma mensagem do lituano, dizendo que um dos sócios do avião não queria alugar mais! Isso foi uma bomba para mim, pois já estava tudo certo, inscrição paga, férias programadas, família de acordo e treinamento constante no Sukhoi! Então pensei: desistir a essa altura? Jamais!
Perguntei para esse meu amigo se teria algo parecido para voar, e ele disse que não sabia de nenhum Sukhoi disponível, mas me passou o contato do Cmte. Robert Kowalik, um cara incrível, excelente ser humano e ótimo piloto. Após um mês, ele me respondeu dizendo que seria possível me alugar um Extra 300L – me pediu minha experiência, dados, etc. Agora eu tinha um avião!
Faltava validar a carteira, e ele me passou o telefone da agência polonesa. Chamei uma vez e atenderam de imediato, me passaram tudo que era necessário, preparei a documentação, paguei as taxas e agendei meu voo de check para dias antes da prova. Porém, faltava a nossa ‘nobre’ agência brasileira, que não respondia os emails, não atendia as ligações, etc! Tive que recorrer a um amigo da Sierra Bravo Aviation, o Cmte Paulo Falco, que me preparou um processo “afidavit”, e após pagar uma taxa eles finalmente enviaram para a agência polonesa, que validou de imediato!
Mas eu ainda não havia voado o Extra! Meus amigos do Brasil que eram proprietários de Extra não estavam com suas aeronaves disponíveis, e então aproveitei um voo para Nova York para ir até uma escola de acrobacia (que encontrei no site da IAC), onde tive a oportunidade de fazer um voo no assento dianteiro de um Extra 300. Era um de asa média, mas melhor do que nada!
Depois, finalmente, fui para o mundial. Usei minha passagem de férias, fui até a Alemanha, de onde segui para Varsóvia, e de lá peguei uma carona até Radom. Fiz um voo de 7 minutos no Extra e o instrutor disse: “Não preciso voar mais com você. Amanhã pode treinar solo”.
No dia seguinte, decolei do aeroclube e transladei o Extra na ala do Robert Kowalik ate a Base Aérea de Radom. Lá havia muitas equipes voando, e tive apenas 3 slots de 12 minutos para treinar antes da competição, e foi o que eu fiz!
A outra dificuldade foi o avião. Durante o mundial de Intermediária na África, eu conheci e fiz amizade com um piloto lituano, que foi medalha de ouro no europeu de 2015. Eu sabia que ele iria voar o mundial, e pedi para que me alugasse o Sukhoi. A principio estava ok! Fiquei treinando tendo como coach o nosso amigo Gunar Armin e como observador o Andre Chiodi, e procurando o máximo de informação possível! Nesse mesmo tempo, fui escalado para um voo para Madrid, e descobri que o Castor Fantoba, atualmente um dos melhores pilotos de Sukhoi do mundo, estaria treinando por lá. Falei com meu amigo Gilmar Barbosa (de Madrid) e pedi a ele uma carona ate o aeroclube – então pude acompanhar um dia de treino do Castor! Um cara muito legal, e que me deu várias dicas!
Mas… quando estava tudo certo para combinar um treinamento com ele, descobri que minha carteira não valeria lá! Então comecei o processo para tirar o PP na Europa… mas, por azar, a empresa em que trabalho trocou o modelo de avião na rota para Madrid, e eu não voei mais para lá… Então, pensei em validar minha carteira apenas para competição. Li que seria possível, mas teria que fazer isso no pais em que a aeronave que eu fosse voar estivesse matriculada. Então seria na Lituânia. Mas aí recebi uma mensagem do lituano, dizendo que um dos sócios do avião não queria alugar mais! Isso foi uma bomba para mim, pois já estava tudo certo, inscrição paga, férias programadas, família de acordo e treinamento constante no Sukhoi! Então pensei: desistir a essa altura? Jamais!
Perguntei para esse meu amigo se teria algo parecido para voar, e ele disse que não sabia de nenhum Sukhoi disponível, mas me passou o contato do Cmte. Robert Kowalik, um cara incrível, excelente ser humano e ótimo piloto. Após um mês, ele me respondeu dizendo que seria possível me alugar um Extra 300L – me pediu minha experiência, dados, etc. Agora eu tinha um avião!
Faltava validar a carteira, e ele me passou o telefone da agência polonesa. Chamei uma vez e atenderam de imediato, me passaram tudo que era necessário, preparei a documentação, paguei as taxas e agendei meu voo de check para dias antes da prova. Porém, faltava a nossa ‘nobre’ agência brasileira, que não respondia os emails, não atendia as ligações, etc! Tive que recorrer a um amigo da Sierra Bravo Aviation, o Cmte Paulo Falco, que me preparou um processo “afidavit”, e após pagar uma taxa eles finalmente enviaram para a agência polonesa, que validou de imediato!
Mas eu ainda não havia voado o Extra! Meus amigos do Brasil que eram proprietários de Extra não estavam com suas aeronaves disponíveis, e então aproveitei um voo para Nova York para ir até uma escola de acrobacia (que encontrei no site da IAC), onde tive a oportunidade de fazer um voo no assento dianteiro de um Extra 300. Era um de asa média, mas melhor do que nada!
Depois, finalmente, fui para o mundial. Usei minha passagem de férias, fui até a Alemanha, de onde segui para Varsóvia, e de lá peguei uma carona até Radom. Fiz um voo de 7 minutos no Extra e o instrutor disse: “Não preciso voar mais com você. Amanhã pode treinar solo”.
No dia seguinte, decolei do aeroclube e transladei o Extra na ala do Robert Kowalik ate a Base Aérea de Radom. Lá havia muitas equipes voando, e tive apenas 3 slots de 12 minutos para treinar antes da competição, e foi o que eu fiz!
No primeiro dia (freeknown) fiz um voo legal, recebi os parabéns de vários pilotos, mas vi o resultado: 42 entre 55 competidores! Pensei: amanhã será melhor! No voo seguinte, 44 de 55! O vento estava forte, e virava durante o dia, o que era um fator que dificultava. Por exemplo, o voo da manhã era alinhado com a pista, e à da tarde o box era orientado de través com a pista! E a pista era o centro do box!
Fora isso, também cheguei a esperar 3 dias de um voo para o outro, e aproveitei para preparar as sequências unknown. Quando voei a 2ª unknown, fiquei em 29 de 55! E os pilotos me disseram: “se você voar assim na 3ª unknown, tem chance de ficar entre os 20 primeiros”. Fiquei animado, porém o tempo fechou de novo, e acabei encerrando em 37 dentre 55! Eu gostei, pois tinha pouco mais de uma hora de experiência total no Extra.
Após a cerimônia de encerramento, houve um jantar onde eles me fizeram uma festa surpresa, com bolo e tudo, pois era meu aniversario! Fui entrevistado algumas vezes, e fiquei feliz em perceber que nosso país foi reconhecido naquele campeonato!
Agora para ser mais competitivo, não tem outra: temos que ter um time, patrocínio, e, claro, incentivo e ajuda dos campeões anteriores, de maneira a difundir o conhecimento e espírito de equipe. Eu vi muito isso lá nas outras equipes, os veteranos sempre estão presentes acompanhando e dando força para os pilotos novatos! Eles não vão sozinhos, e é algo que precisamos ter no Brasil! Penso que tive sorte de ter o Gúnar por perto, para me ensinar muita coisa, e esse espírito tem que ser passado adiante. Outra coisa necessária é competir usando o mesmo avião no qual você treina, e é bom que este seja uma máquina competitiva!
Pretendo continuar treinando e evoluindo, continuar a voar ilimitada para no futuro próximo estar num mundial dessa categoria! E torço para daqui uns 5 ou 10 anos o Brasil ter uma equipe campeã! Pois é acreditando e trabalhando hoje que vamos construir um futuro vitorioso! E não devemos ficar o tempo todo glorificando só os feitos estrangeiros e menosprezando os nossos! Temos que valorizar nossa história, e ajudar a construir essa historia! Não foi fácil, não é fácil, e não será fácil! Porém é possível!!
Fonte: AEROMAGIA
Pretendo continuar treinando e evoluindo, continuar a voar ilimitada para no futuro próximo estar num mundial dessa categoria! E torço para daqui uns 5 ou 10 anos o Brasil ter uma equipe campeã! Pois é acreditando e trabalhando hoje que vamos construir um futuro vitorioso! E não devemos ficar o tempo todo glorificando só os feitos estrangeiros e menosprezando os nossos! Temos que valorizar nossa história, e ajudar a construir essa historia! Não foi fácil, não é fácil, e não será fácil! Porém é possível!!
Fonte: AEROMAGIA