Fim do mistério:
Gases da Amazônia na alta atmosfera contribuem para abundância de chuva
A abundância de chuvas na região amazônica era um mistério para os cientistas, até os dias atuais. Isto porque as gotículas de água produzidas pela floresta são insuficientes para produzir as tempestades e o alto volume de chuva na Amazônia. De onde viria o complemento de água para causar o rico regime hidrológico? Depois de 25 anos de estudos sobre a formação de nuvens no norte do Brasil, cientistas descobriram a razão. As águas complementares vêm da altitude de 15 mil metros, cujas gotículas se aglutinam em torno de nanopartículas de gases expelidos pela própria floresta. Esses gases embarcados nas massas de ar ascendentes chegam à alta atmosfera. O encontro das partículas de gases com as gotículas de água, na faixa de temperatura de -55°C, provoca a condensação da água e formação dos aerossóis.
Medições com aviões
Em movimento descendente, os aerossóis superiores se encontram com as partículas de água vindas das árvores (evapotranspiração) e dos rios e incrementam o volume de nuvens sobre a região. A principal descoberta do estudo – publicado na revista Nature de outubro de 2016 - foi saber de onde vêm partículas que se unem às gotículas de água na alta atmosfera para formação dos aerossóis: da própria floresta. A conclusão veio com a análise de medições de partículas feitas por dois aviões voando até 15 mil metros, cujos resultados foram idênticos aos verificados em coletas próximas ao solo. No caso, numa plataforma de 320 metros de altura no centro da Amazônia, chamada de Torre Alta de Observação da Amazônia.
Até então, se sabia que a inversão de temperatura que há acima de 2500 metros inibe o transporte vertical das partículas. No entanto, na Amazônia, as massas de ar ascendentes e as nuvens convectivas proporcionam a elevação das partículas de gases. Isto leva a inferir que este mecanismo funciona em regiões tropicais. "O conjunto dos gases emitidos pela floresta e as nuvens fazem uma dinâmica muito peculiar e produzem enormes quantidades de partículas em altas altitudes, onde se acreditava que elas não existiriam", diz o físico da USP Paulo Artaxo, um dos autores do estudo. "São mecanismos biológicos da floresta atuando junto com as nuvens para manter o ecossistema Amazônico em funcionamento." Para Luiz Augusto Machado, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), outro participante do estudo, "é um conhecimento que terá de ser incluído em modelos numéricos de previsão, pois ajudará a tornar as simulações de chuva na Amazônia mais precisas". Outra observação oriunda do estudo é que os aerossóis da alta atmosfera são fundamentais também para o controle da radiação solar que atinge a superfície, equilibrando a fotossíntese e a temperatura do ecossistema amazônico.
Enviado por: Roberto Tadeu de Araujo
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