O curso de investigador
Todo curso, mesmo os mais sofisticados, não prescinde de certos tipos
indispensáveis: Alguém que faz questão de demonstrar que já sabe o assunto;
o realmente sagaz; o gozador; o indisciplinado e, mais frequentemente que se
pode imaginar, o tipo humano inteligente e crítico!
No curso de investigador de acidente aeronáutico que eu fiz em 1983,
no CENIPA, lá em Brasília, havia um destes críticos sagazes silenciosos. Não me
lembro mais, com exata certeza, mas parece-me que era um Oficial da Marinha
do Brasil.
A formatura ocorreria no salão existente no térreo (quase sub-solo) do
Ministério da Aeronáutica. Num dos lados um quadro-negro representava o
tipo de atividade que se ia encenar em pouco tempo. Estava escrito, com letra
cuidadosa, e arte verdadeira embutida: “O investigador de acidente aeronáutico
é senhor de um oceano de conhecimentos com duas polegadas de profundidade”.
Esta é a mais verdadeira das definições que se pode dar a um investigador
de acidente aeronáutico. Não será, o investigador, conhecedor de todas
as práticas necessárias conhecer para deslindar um acidente... Saberá quem
faça cada coisa com gosto, e será capaz de reunir-lhes as competências! O anfitrião
da formatura, lamentavelmente, não reconheceu a exatidão da máxima... Ele não era um investigador!
Fonte: Gustavo Adolfo Franco Ferreira
Venturas, Aventuras e Desventuras - Tomo III - Curtas; boas e más