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quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Cultura Aeronáutica

A origem do Hino dos Aviadores
O Hino dos Aviadores ou Hino da Força Aérea Brasileira foi apresentado, pela primeira vez, em 15 de novembro de 1935, no Rio de Janeiro. A música é do Tenente Músico João Nascimento e a letra do Capitão Aviador Armando Serra de Menezes, ambos da Aviação Militar, mais tarde, em janeiro de 1941, aglutinada à Aviação Naval, dando origem à Força Aérea Brasileira, com a criação do Ministério da Aeronáutica, atualmente Comando da Aeronáutica. Os aspectos acerca da origem do hino podem ser conferidos em artigo do professor Hermes de Andrade, publicado originalmente na Revista Aeronáutica, editada pelo Clube da Aeronáutica, em setembro de 2000.

O Campo dos Afonsos e a Música Militar

“Do astro-rei desafiamos nos cimos, Bandeirantes audazes do azul.”
Hermes de Andrade, Professor

Antecedentes
Em novembro de 1933, chegou ao 1º Regimento de Aviação, hoje Base Aérea dos Afonsos, o 2º Ten. Mestre de Música João Nascimento, transferido de São Paulo (4º RI) após envolvimento com a Revolução Constitucionalista de 1932. No ano seguinte, o primeiro mestre da Aeronáutica foi transferido para a Escola de Aviação Militar, onde organizou a banda de música da escola, cuja primeira apresentação pública oficial foi no dia 15 de novembro de 1935, juntamente com a estreia do Hino dos Aviadores, cantado por um coral de 300 pessoas. Este evento ocorreu na Feira Internacional de Amostras daquele ano, no local onde, hoje, está construído o Aeroporto Santos-Dumont.

O Hino dos Aviadores
Embora João Nascimento tenha começado seu curso de Composição, na então Escola Nacional de Música, neste ano de 1935, na verdade ele já era um compositor de marchas militares muito conhecido entre seus pares. Isto, certamente, levou-o a escrever a música do Hino dos Aviadores, após dramático convite feito pelo Cap. Av. Armando Serra de Menezes, uma vez que não menos dramática havia sido a experiência de alguns oficiais da comitiva de Getúlio Vargas, que haviam regressado da Argentina, onde, além de não termos um Hino dos Aviadores, constatara-se ainda não sabermos cantar o Hino Nacional, disse o Cap. Serra de Menezes ao Maestro Nascimento, segundo este último me relatou.

Poema
A partir de então, o belo poema de Serra de Menezes recebeu uma não menos bela e empolgante música, o que é exemplo de excelente criação musical corretamente realizada, pois o músico partiu de um poema, o que não aconteceu com o Hino do Exército e o da Marinha, pois ambos foram objeto de arranjos e não de composição original. Assim, a prosódia do Hino dos Aviadores é impecável: um belo casamento da letra com a música. Mas não se pense que a música do Hino da FAB fica só nisso. Sua concepção marcial em compasso binário composto (6/8) resulta em pujante marcialidade, no mesmo nível das grandes marchas do repertório internacional. Dificilmente uma tropa não se emociona ao toque do Hino dos Aviadores. Em minha experiência como mestre, sempre que eu constatava alguma fadiga em treinamentos e desfiles, ordenava que a banda tocasse o Hino dos Aviadores e a receita era infalível: um bom desfile. No ano 2000 nosso Hino completa (completava) 65 anos e a Sinfonieta João Nascimento poderá lhe dar uma maior dimensão da que teve até aqui, ou seja, uma dimensão internacional, com a divulgação da letra em inglês, já que o conteúdo do poema não trata de temas somente brasileiros e o aviador, como sabemos, é um profissional extremamente globalizante e mais, ainda: a invenção do avião é nossa, o que, certamente, levará o Hino da FAB a ser conhecido ampla e merecidamente.

O Hino da FAB
O Hino dos Aviadores teve este nome à época em que a Aviação era uma Arma do Exército, a chamada 5ª Arma, ao lado da Infantaria, da Artilharia, da Cavalaria e da Engenharia. Com a criação do Ministério da Aeronáutica, e a ampliação do nosso efetivo, foram surgindo outros Hinos (do Especialista, da Intendência, da Infantaria, etc.) e o Hino dos Aviadores foi sendo “contestado” pelos não aviadores, o que hoje, não tem mais sentido, já que por Portaria Ministerial é o Hino da Força Aérea Brasileira. E não se diga que isto foi uma imposição, pois o poema tem substância para atender aos anseios de todas as especialidades, já que o objetivo final delas é o “lancemos o roncar da hélice a girar”, ou seja, sem esse roncar de todas as hélices ou turbinas ou lá o que vier no futuro, não haverá outros hinos que possam ser cantados. E, ao contrário, ao cantarmos o Hino da FAB, estamos assinalando a existência dos outros belos Hinos do Cancioneiro da Aeronáutica. Talvez, devêssemos, agora, abandonar a denominação “Hino dos Aviadores”, já que não somos mais apenas uma Arma do Exército, o que justificava o título. Eis uma questão delicada, mas não menos cheia de significação para a existência de Hino que representa toda uma corporação...

Marchas militares
Nascimento trabalhou no Campo dos Afonsos durante 17 anos, à frente da Banda da Escola de Aeronáutica (1933/1950) e é dessa época a maioria de suas composições. Dentre elas destacam-se: Asas de Prata, Asas de Ouro, FAB em Desfile Terrestre, Capitão Paulielo, Cel. Ivo Borges. Mesmo na reserva Nascimento continuou compondo, sendo sua última composição um Dobrado em Homenagem a seu velho mestre, Jorge Fonseca, da banda da cidade de Cravinhos, onde Nascimento começou a estudar música. Uma bela obra, cuja estreia foi no dia 1º de maio de 1980, em apresentação regida pelo velho mestre, com quem tive a honra de participar, já, então, na direção da Banda Sinfônica da Academia da Força Aérea, “minha banda”, como dizia Nascimento. É certo que muitos bons músicos e mestres passaram pelo Campo dos Afonsos e deixaram marchas militares e arranjos de alta qualidade. Entretanto, as composições de João Nascimento continuam a pontificar nossos desfiles militares, o que nos leva à conclusão de que sua contribuição à música militar foi da mais alta significação e a Sinfonieta que levará seu nome poderá dar maior amplitude a este trabalho, ainda, por ser impresso e divulgado. Tudo isto constitui um patrimônio da música militar originária do Campo dos Afonsos.

Fonte: ANDRADE, Hermes de. O Campo dos Afonsos e a Música Militar. In: Revista Aeronáutica. Edição nº 226, Set/Out 2000, pp. 35 e 36. Rio de Janeiro: Clube da Aeronáutica, 2000.