Exército Brasileiro acha, na selva amazônica, avião americano da Segunda Guerra
Uma patrulha do Exército Brasileiro encontrou, na selva amazônica, as partes de um avião bombardeiro dos Estados Unidos desaparecido, em 1945, com cinco tripulantes. O achado na floresta ocorreu nas imediações da Aldeia Santa Isabel, próxima a Oiapoque, no Estado do Amapá, por uma patrulha rotineira de marcos de fronteira, um trabalho da Companhia Especial de Fronteira de Clevelândia do Norte. A unidade é subordinada ao 34º Batalhão de Infantaria de Selva, chamado Batalhão Veiga Cabral. Na rota desse patrulhamento, já se ouvia dos moradores da região rumores, segundo os quais poderia haver um avião em algum ponto da mata, mas nunca se conseguiu encontrar. Até que guerreiros de selva em patrulha, recentemente, avistaram algo incomum, foram chegando mais perto, limpando e chegaram ao aparelho.
As partes da aeronave estão em local de difícil acesso num socavão, estrutura geomorfológica caracterizada como uma grota profunda em terreno ondulado. Entre os dias 27 e 31 de janeiro de 2022, um grupamento - composto por um tenente, três voluntários brasileiros indígenas da região, três sargentos, quatro cabos e três soldados - fez uma incursão na selva e documentou com fotografias o achado. A logística da missão envolveu barco do Exército, até a Aldeia Santa Isabel, e canoas para se aproximar do local, pois a região é alagada e é necessário navegar entre árvores com pequenas embarcações.
A aeronave B-26
O avião é um Martin B-26G-25-MA Marauder, matrícula 44-68105, pertencente à USAAF (United States Army Air Force – Força Aérea do Exército dos Estados Unidos). Operado pelo Air Transport Command, no dia 25 de janeiro de 1945, o bombardeiro fazia um deslocamento entre o Campo de Atkinson, na Guiana Inglesa, e Belém do Pará, no corredor aéreo do Atlântico Sul, quando sofreu pane e caiu na floresta. As pás das hélices encontradas retorcidas nos destroços denotam que os motores estavam em funcionamento no momento do impacto, há 77 anos.
Devido ao difícil acesso e à irregularidade do terreno, o resgate das peças do avião demandará um esforço muito grande, caso seja decidida a retirada. As partes mais proeminentes nessa descoberta são a cauda, com a inscrição 468, parte da matrícula da aeronave, uma metralhadora e os motores.
O bombardeiro médio Marauder, na versão B-26G, possuía 17,8 metros de comprimento, 21,65 m de envergadura e altura de 6,55 m; decolava com até 17 toneladas, cobrindo um raio de 1850 quilômetros, na velocidade máxima de 460 Km/h; sua carga bélica era de 1.800 Kg de bomba e tinha como armamento defensivo metralhadora Browning de 12,7 mm. Era equipado com dois motores Pratt & Whitney R-2800-43.
Corredor aéreo Atlântico Sul
O corredor aéreo do Atlântico Sul foi estabelecido entre Atkinson e a Ilha de Ascensão, passando por Amapá, Belém, São Luís, Fortaleza, Natal, Recife e Fernando de Noronha. A rota foi definida em julho de 1941 e utilizada pelas subsidiárias da companhia Pan American Airways. E depois, com a entrada dos Estados Unidos na Guerra, pelo Army Air Corps Ferrying Command, para entregar aeronaves Lend-Lease às forças britânicas envolvidas na Campanha do Deserto Ocidental. Com o conflito mundial, o corredor do Atlântico Sul foi expandido com rotas aéreas de conexão, usadas para transportar, desde os Estados Unidos, aeronaves, equipamentos e pessoal pelos continentes euro-asiático e africano. Também foi trajetória aérea alternativa para enviar aeronaves para a Grã-Bretanha, quando o tempo fechou a rota do Atlântico Norte. Este corredor se conectava com o do Caribe, que se iniciava em Miami e seguia até Atkinson.
Antiga base aeronaval da cidade Amapá
Como parte corredor aéreo do Atlântico Sul com aeródromos de apoio, nos tempos da Segunda Guerra Mundial, figura a extinta Base Aeronaval de Amapá, cidade localizada a 300 quilômetros da capital Macapá. O complexo foi construído pelo então Ministério da Aeronáutica, com edifícios para aquartelamento de militares da Força Aérea Brasileira e de tropas americanas. Em 2022, existem ruínas do que foi a base operacional. No local, conforme material de mídia na rede mundial de computadores, é possível avistar a pista de pouso (para a qual, em 2021, se cogitava possibilidade de reativação), maquinários antigos em estado de deterioração e estruturas diversas, do que seria um museu a céu aberto e necessita de intervenções de preservação e destinação cultural, para ser listado como atrativo turístico.
O sítio contém um raro equipamento: a Torre de Zepelin. No Brasil, apenas Recife possui outro dispositivo de atracação de balões dirigíveis Blimps, utilizados para patrulhamento do litoral, em busca dos submarinos nazistas U-boats, ameaça para navios militares e mercantes, durante a Segunda Guerra Mundial. Partiram da base Amapá os aviões que abateram, no litoral próximo, submarinos alemães, entre eles o U-590, em 9 de julho de 1943, e o U-662, em 21 de julho de 1943.
O Campo de Amapá, nas coordenadas (2°08'34,6" N / 050°47'47,2" O), foi inaugurado em 1941, no rio Amapá Grande, entre este e a cidade de Amapá, aproximadamente 600 milhas (965 Km) do Campo Atkinson, na Guiana Inglesa. Foi parada de reabastecimento da Pan American Airways. Tornou-se base aeronaval, durante a Segunda Guerra Mundial, como parada intermediária de reabastecimento e serviço para traslados na rota sul para Natal. A função do campo como base aeronaval terminou em maio de 1946.
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