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terça-feira, 29 de março de 2022

Aviação do Exército

Uma sondagem de aplicação da aviação ao Exército, anterior à implantação da EAvM
Depois das ascensões de balão para observação na Guerra da Tríplice Aliança (dezembro de 1864 a março de 1870), em apoio às tropas nacionais, demonstrou-se, no Brasil, em 1908, o emprego de balão como vetor militar, porém com o sacrifício da vida do tenente Juventino Fernandes da Fonseca, devido a um acidente na experiência de aeroestação. Em seguida, em 1910 e 1911, poucos anos depois do voo autônomo de Santos Dumont, com o 14 Bis, discutia-se o emprego de engenhos aéreos mais pesados que o ar por forças militares. Antes de 1919, quando efetivamente seria implantada a Escola de Aviação Militar (EAvM), o assunto da criação de uma esquadra aérea brasileira ocupava a atenção de estrategistas militares do início do século XX. Já em 1910, como noticiou o jornal A Imprensa, de 09 de dezembro de 1911, o Exército havia enviado o major Gregório de Paiva Meira à Europa, a fim de prospectar os mais adequados equipamentos aéreos a serem incorporados às forças militares brasileiras. 
O major lavrara um relatório “sem feição oficial”, com o título “Aeronáutica Militar”, apresentado ao General Vespasiano de Albuquerque, chefe do estado-maior do Exército, elencando as características de aeronaves disponíveis, para a aeronáutica militar. O relatório de Meira tinha por objetivo desprezar o “mais leve que o ar”, o balão dirigível, em favor do “mais pesado do que o ar”, o aeroplano. Alegava o relator que o balão dirigível “não é dirigível”. “O balão - argumentava Meira - tal qual vem sendo usado desde 1906, pelas suas próprias composição e forma, tende a ser desviado do seu caminho aéreo pelas diversas correntes de ar. Assim é que, ao mesmo tempo em que, auxiliado pela hélice, ele avança, tem lateralmente um movimento de balanço, cuja resultante é a mudança de direção e chegada a um ponto onde não devia ir ter. Ora, se ser dirigível é alcançar um ponto qualquer e não aquele que previamente se determinou, eu estou em erro; se, porém, a dirigibilidade consiste no contrário, o que é uma verdade, está justificada a minha afirmativa. Há ainda a dificuldade de subida do balão dirigível, que só a pode fazer, dadas certas qualidades atmosféricas; o preço, as despesas de conservação e, por cima de tudo, a facilidade de deterioração completa da coleção.”

Exercícios de aviação
O major Meira estabeleceu essas ideias, após ter presenciado exercícios de aviação do Exército francês, na Escola de Pau. Por esta mesma época esteve em Milão, assistindo ao “Corso Aéreo Internacional”, de 24 de setembro a 8 de outubro de 1910. Após isso, pensou na aplicação da aviação no Exército Brasileiro. Sobre a aplicação dos aeroplanos em exercícios militares, o oficial avaliava que, àquela altura, estavam na vanguarda o Exército francês, seguido dos contingentes italiano, japonês, inglês, belga, austríaco, russo e espanhol. Tendo visitado a exposição de aeroplanos no “Salon Du Grand Palais, em Paris”, em 1910, Meira avaliava que os mais importantes, sob o ponto de vista militar, eram os biplanos Voisin e H. Farman, os monoplanos Blériot, Antoinette, Henriot e Clément-Bayard, typo Santos Dumont, e o aeroplano Breguet. Identificavam este último como aeroplano, por ser um biplano que era uma resultante dos dois tipos de aviões, segundo seus planos de asas, com as vantagens de um e de outro. O major via nesses aparelhos muitos melhoramentos, como o Voisin, cuja estrutura de madeira foi completamente substituída por tubos de aço. Viu o Blériot como “triunfador” do salão de 1910 e a “Demoiseile Clément-Bayard”, do tipo Santos Dumont, minúsculo e ligeiríssimo, como o modelo que serviria muito aos exércitos, pois, em 30 minutos, estava pronto para subir e transportar sobre as asas um “ajudante de ordens”, com a velocidade formidável de 90 quilômetros por hora. Analisava, ainda, que o mais poderoso rival do Blériot era o Breguet, detentor de recorde de peso útil transportado, tendo levado cinco pessoas. Dizia o major Meira ao jornal: “A meu ver, é um aeroplano de guerra de primeira ordem e, creio eu, é por isso que a sua adoção nos diversos exércitos é um fato”. Relatava, também, que os exércitos destacados haviam adotado o biplano Voisin, os monoplanos Blériot e Antoinette e o aeroplano Breguet. Perguntado quais serviços poderiam prestar os aeroplanos num caso de guerra, respondeu: “Os mesmos que os dos italianos estão prestando na campanha de Trípoli”. Quais sejam: conhecer diariamente as marchas do exército inimigo; saber com facilidade a situação de qualquer das suas unidades; conhecer o exato número e composição desse mesmo exército; poder fotografar as posições e fortificações; atirar bombas sobre paióis, depósitos e reservas; e, ser um fácil condutor, rápido e seguro, das ordens do comando.

Instrução e aquisição de aviões
Na explanação ao General Vespasiano, Meira disse entender que o Ministério da Guerra deveria enviar quatro ou seis segundos-tenentes ou aspirantes a oficial para a Escola de Pau e com eles dois mecânicos, pelo menos, para que se especializassem nos motores dos aeroplanos. Quanto ao material para compor uma frota adequada, dizia ser preciso encomendar 5 biplanos Voisin, 5 monoplanos Blériot e 2 aeroplanos Breguet, todos com motor Gnone. Como reserva haveria a necessidade de aquisição do dobro dos aparelhos, perfazendo uma encomenda de 24 itens. Imaginava que, durante o curso dos pilotos e mecânicos, de março a maio de 1912, as aeronaves pudessem ser solicitadas e construídas. 

Serviço ao país
Ao entrevistador Meira afirmou que não pretendia glórias, apenas prestar um serviço ao país, serviço esse já adotado em todos os exércitos bem organizados. E complementava: “Julgo que devemos reivindicar para o nome pátrio o que, de fato, nos pertence, desde os feitos históricos de Bartholomeu de Gusmão, Júlio Cezar e Augusto Severo até Santos Dumont”. Com essa manifestação em relatório do major Paiva Meira, despertava-se o debate acerca de criação do Serviço de Aviação Militar, em 29 de janeiro de 1919, estabelecendo a Escola de Aviação Militar (EAvM), inaugurada no dia 10 de julho daquele ano.

Texto: Cesar Gomes, para o blog do Núcleo Infantojuvenil de Aviação

Referência: Como o Brasil vai constituir sua esquadra aérea. Em A Imprensa, Rio de Janeiro, 09 dez 1911.

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