Um dos fatos marcantes para o setor aeronáutico em 2013 foi a decisão do país de optar pelos caças suecos Saab Gripen NG para equipar a Força Aérea Brasileira. Passados 9 anos desta importante ação, relembramos a cobertura da notícia, com a seleção de conteúdo (2013) do portal G1.
Boa leitura.
Bom domingo!
Relembrando a escolha brasileira, em 2013, dos caças suecos Gripen
Depois de 15 anos de negociações, o governo brasileiro anunciou na quarta-feira (18/12/13) a compra de 36 caças supersônicos do modelo sueco Gripen, que farão parte da frota da Força Aérea Brasileira (FAB). De acordo com a Aeronáutica, o preço total da aquisição será de US$ 4,5 bilhões, a serem pagos até 2023.
Segundo o ministro da Defesa, Celso Amorim, que fez o anúncio, a decisão "foi objeto de estudos e ponderações muito cuidadosas". Outras duas empresas – a norte-americana Boeing e a francesa Dassault – disputavam com a Saab, fabricante do Gripen, o fornecimento dos caças ao Brasil.
"A escolha, que todos sabem, foi objeto de estudos e ponderação muito cuidadosa, levou em conta performance, transferência efetiva de tecnologia e custo, não só de aquisição, mas de manutenção. A escolha se baseou no melhor equilíbrio desses três fatores", afirmou o ministro da Defesa, Celso Amorim.
Segundo o ministro, a aquisição dos caças não terá "nenhuma implicação" no orçamento da União de 2013 nem no de 2014. Segundo ele, a etapa de discussão do contrato pode demorar entre 10 e 12 meses, e a transferência dos recursos para a empresa sueca só será feita após essa etapa. "[A negociação do contrato] é algo demorado. Implica garantias contratuais de que aquilo que foi ofertado efetivamente ocorrerá", justificou Amorim. Segundo a assessoria de imprensa da Aeronáutica, ainda será negociado no contrato quando será feito o primeiro pagamento.
O comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito, informou que os primeiros aviões chegarão 48 meses depois da assinatura do contrato, prevista para o final de 2014. Assim, o Brasil deverá começará a receber as aeronaves a partir de 2018. Segundo Saito, serão entregues 12 aviões por ano.
Saito disse que a transferência de tecnologia será completa e feita diretamente à Embraer, que participará da montagem das aeronaves. "Quando terminar o desenvolvimento, nós teremos propriedade intelectual desse avião, isto é, acesso a tudo", disse Saito. Segundo ele, a brasileira Embraer e a Saab vão atuar em conjunto na transferência de tecnologia e na produção do caça. Segundo ele, outras empresas poderão, posteriormente, participar do projeto.
'Vamos pechinchar'
O comandante da Aeronáutica informou que 80% da estrutura do avião será construída no Brasil. As asas, por exemplo, já estão sendo produzida por uma empresa de São José dos Campos e, segundo o comandante, já com padrão supersônico. Segundo ele, serão mais de 15 empresas envolvidas.
Saito esclareceu também que os US$ 4,5 bilhões equivalem a proposta feita pela empresa sueca, mas que, durante a negociação do contrato, o valor pode ser revisto. "Nós vamos pechinchar ao máximo".
Ele contou que a presidente Dilma Rousseff o informou da escolha somente na terça-feira (17). "Presidenta, muito obrigado. Eu acho que a Força Aérea e o Brasil ganharam muito com isso", ele relatou ter dito à Dilma quando recebeu a notícia. Ele contou que participa do processo de escolha dos caças desde 1995. "Estou muito feliz de ter perseguido esse objetivo", disse. Segundo ele, todas as empresas foram avisadas ao mesmo tempo da escolha.
Aviões 'à altura'
O ministro Celso Amorim disse que, com a decisão do governo, "em breve, teremos aviões à altura da necessidade de defesa do país". O ministro ressaltou – dentro do acordo de transferência de tecnologia – a abertura do código-fonte de armas, que, segundo ele, permitirá adicionar ao avião armamentos brasileiros.
De acordo com o brigadeiro Marcelo Damasceno, chefe da comunicação social da Aeronáutica, os caças Gripen “vão atender às necessidades operacionais da FAB pelos próximos 30 anos”.
Segundo ele, as aeronaves ajudarão na defesa aérea do Brasil e serão capazes de promover ataques no solo e no mar. “Ele [o Gripen] permitirá à FAB enfrentar ameaças em qualquer ponto do território nacional com carga plena de armas. O conjunto de conhecimentos e capacitação tecnológicos contribuirá para que a indústria nacional se capacite para a produção de caças de última geração em médio e longo prazo”, disse Damasceno.
Em entrevista ao Jornal da Globo, em 2009, o presidente-executivo da Saab, Äke Svensson, explicou porque, para ele, o Gripen é o melhor caça para o Brasil. "Na comparação com os concorrentes, é o mais barato, tem o armamento mais completo, os sistema de controle, detecção e combate mais avançados e – o que só ele faz – pousa até num pedaço de estrada qualquer, de 500 metros, se for preciso", disse.
Estados Unidos
Celso Amorim afirmou que o governo brasileiro tentará, na negociação do contrato final, obter da Suécia o máximo de transferência de conhecimento tecnológico. “Há uma disposição efetiva de transferir essa tecnologia”, afirmou.
Amorim foi questionado sobre o fato de a turbina do avião Gripen ser produzida nos Estados Unidos. Como o contrato é feito com a Suécia, essa parte da tecnologia de produção do avião não passaria ao Brasil. O ministro destacou que a turbina é “importante”, mas não é o “coração” da aeronave.
“Sabemos que a turbina é norte-americana, mas não é tão sensível em matéria de conhecimento como outras partes do avião. [...] Embora seja uma parte importante, não é do ponto de vista tecnológico o coração do avião”, afirmou.
De acordo com o ministro, o fato de o Brasil ter optado por um contrato com a Suécia não prejudica as relações comerciais com os Estados Unidos. “Temos uma boa relação com os Estados Unidos. Diariamente compramos partes para outros aviões. Não há nenhum temor.”
A disputa
A notícia de que a compra seria anunciada na tarde desta quarta (18), foi dada pela presidente Dilma Rousseff em discurso durante almoço com oficiais das Forças Armadas no Clube Naval da Marinha, em Brasília.
Três países disputavam a venda das aeronaves ao Brasil – Estados Unidos, com caças de modelo F-18 Super Hornet, da norte-americana Boeing; Suécia, com o Gripen, da empresa Saab; e França, com os jatos Rafale, da companhia Dassault.
Na semana passada, o presidente da França, François Hollande, chegou a conversar com a presidente Dilma Rousseff sobre o andamento das negociações, em visita de Estado que fez ao Brasil.
O presidente da empresa francesa Dassault compôs a comitiva de Hollande. No entanto, segundo fontes do governo, o preço das aeronaves francesas foi considerado elevado.
Já as negociações com os Estados Unidos ficaram estremecidas após as notícias de que o governo norte-americano teria espionado comunicações da presidente Dilma Rousseff, ministros e assessores. Dilma chegou a cancelar uma visita de Estado que faria a Washington, em setembro deste ano, após as denúncias.
A notícia dos atos de espionagem foi divulgada pelo jornalista Glenn Greenwald com base em documentos vazados por Edward Snowden, ex-agente da NSA, agência norte-americana de inteligência.
O programa
Iniciado em 1998 no governo Fernando Henrique Cardoso, o projeto FX previa a compra de 12 supersônicos com a transferência de tecnologia do fabricante para a Força Aérea Brasileira (FAB), que culminaria em um total de 120 unidades fabricadas no Brasil.
Devia ser assinado até 2004, quando terminava a validade das propostas. Mas a decisão foi adiada para o governo Luiz Inácio Lula da Silva, que, no lugar do FX, lançou o programa FX-2.
O projeto de compra e transferência de tecnologia chamado FX-2 foi lançado em 2008. O custo estimado no mercado é de até US$ 6,5 bilhões. Os novos aviões substituirão os Mirage, cuja aposentadoria está prevista para o próximo dia 31.
Em 2009, Brasil e França chegaram a anunciar a compra dos caças Rafale, da francesa Dassault. Depois, o governo brasileiro voltou atrás.
O programa FX-2 prevê a compra de 36 aeronaves de combate, domínio do sistema de armas, parcerias com empresas brasileiras, acordos de cooperação técnico-operacional e a transferência de tecnologia para que o Brasil ganhe condições de produzir pelo menos parte do avião no país.
Fonte: G1 (dezembro/2013)