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domingo, 17 de setembro de 2023

Especial de Domingo

Mais uma publicação selecionada de "Vencendo o Azul", obra de João Alexandre Viégas.
Boa leitura.
Bom domingo!

A fantasia no lugar da ciência

Muitos projetos de aeronaves careciam de mínima base científica e, não obstante, seus autores envidavam esforços obstinados para demonstrar sua viabilidade e obter recursos para sua construção. Alguns conseguiram alguma repercussão na imprensa e a apreciação de seus trabalhos por comissões governamentais, criadas para julgar seus pedidos de financiamento. Em 1888, João Autto de Magalhães Castro concebeu um estranho engenho, cuja forma assemelhava-se a uma combinação de pássaro e peixe, denominado Sistema ornycthoide.

Relatório e desenho do aerostato denominado 21 de abril, datado de 15 de fevereiro de 1890.
Fonte: Arquivo nacional

Em 1890, o mineiro Leopoldo Silva solicitou patente do Aerostato 21 de abril. Nascido em 1849, agricultor da cidade de Cantagalo, no Rio de Janeiro, Silva apresentou um modelo de linhas singelas. Na verdade, seu maior interesse residia na possibilidade de exploração comercial da navegação aérea. Silva foi o primeiro brasileiro a pensar na organização de uma companhia de transporte aéreo. Para construir a “Sociedade Particular de Navegação Aérea”, ele tencionava emitir ações ao portador no valor de 100 mil réis cada, prometendo aumentar seu valor, caso fossem bem sucedidas as experiências que teria iniciado com o balão dirigível Cruzeiro do Sul, outra denominação para o mesmo aparelho objeto do pedido da patente de 1890. No ano seguinte, Silva solicitou e obteve patente de seu engenho na Alemanha, seguindo o costume, corrente entre os inventores brasileiros da época, de pedir privilégio de invenção em países estrangeiros. Mas tudo era imaginação. Em 1892, acometido de uma doença fulminante, Leopoldo Silva falecia.

Em 1890, Leopoldo Silva emitiu ações ao portador para captar recursos para a construção de seu dirigível Cruzeiro do Sul. Fonte: Museu Aeroespacial do Rio de Janeiro.

Nesse mesmo ano Miguel Velez apresenta outro projeto fantástico: o aerostato dirigível Trem Velez, que combinaria as características de um balão e de um trem. O engenho seria suspenso no ar por gás, contido em um envelope, como num balão, mas seria dirigido por trilhos suspensos no ar, como um trem.

Memorial descritivo de um sistema de navegação aérea de 20 de setembro de 1890.
Fonte: Arquivo Nacional

Em 1901, o alferes de infantaria do Exército, Paulino Júlio de Almeida Nuro, solicitou patente de um bizarro engenho denominado Volátil Bartholomeu de Gusmão, uma fantástica máquina em forma de pássaro.

Pedido de patente do bizarro engenho denominado Volátil Bartholomeu de Gusmão, uma combinação de dirigível com ornitópteros. Fonte: Arquivo Nacional – documento n.º 3.500.

Na passagem do século, continuavam a surgir projetos de dirigíveis. Em 1901, Carlos Rostaing Lisboa apresentou o projeto de um dirigível denominado Brasil. Nascido em 1880, Lisboa contava com apenas 21 anos quando depositou seu pedido de patente. Seguindo o exemplo de diversos inventores, solicitou e obteve patente em diversos países como a Alemanha e a Rússia.

Desenho explicativo do pedido de patente da aeronave Brasil, projetada por Carlos Lisboa, datado de 1902.
Fonte: Arquivo Nacional – documento n.º 3.252

Seguindo a praxe dos inventores, Carlos Lisboa patenteou seu projeto em diversos países. Esta é a patente russa do engenho denominado Brasil. Fonte: Museu Aeroespacial

Outro militar que concebeu aeronaves fantásticas foi o Tenente Sayão Lobato. Em fins de 1903, ele solicitou o privilégio de um estranho engenho: um dirigível cujo invólucro tinha a forma de um peixe, e a barca a de uma embarcação sobre rodas dotadas de complexas engrenagens.

Pedido de patente de 1903. Esse bizarro engenho foi imaginado pelo tenente Sayão Lobato. Fonte: Arquivo Nacional – documento n.º 5.830

Gastão Madeira foi um dos primeiros brasileiros a projetar aeronaves. Já em 1888, aos 19 anos de idade, iniciava seus estudos e observações sobre voo das aves. Madeira combatia a opção pelos aparelhos mais leves do que o ar, julgando que a solução da navegação aérea residiria em engenhos mais pesados do que o ar, a exemplo dos pássaros. Para ele a dedução das leis básicas da aerodinâmica só poderia ocorrer a partir da observação do voo dos pássaros, devendo-se fazer convergir os esforços para esse fim. Os aparelhos mais leves do que o ar estariam em desacordo com a natureza.

O dirigível concebido por Gastão Madeira em 1890.
Fonte: Arquivo Nacional

Por outro lado, o Capitão José da Luz, veterano da guerra do Paraguai, voou num balão esférico livre em 1906, em Recife.

Fonte: Vencendo o Azul

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