Saiba mais sobre a participação de pilotos brasileiros na Primeira Guerra Mundial.
Boa leitura.
Bom domingo!
Os aviadores brasileiros na Primeira Guerra Mundial
Pilotos brasileiros participaram da Primeira Guerra Mundial, conflito no período de 1914 a 1918. Em que pese o esquecimento e eventual desconhecimento do fato, forças militares do Brasil participaram, sim, de manobras relacionadas ao primeiro evento bélico de proporções mundiais. Menos de duas mil pessoas brasileiras participaram diretamente das operações, das quais quase duzentas perderam a vida nos navios e campos de batalha da Europa, a maioria vitimada pela pandemia chamada de "gripe espanhola”, causada pelo vírus Influenza A, do subtipo H1N1, e outros devido a acidentes durante treinamentos ou movimentações táticas e estratégicas. O contingente do Brasil era composto por um grupo de aviadores para treinamento e posterior atuação na Grã-Bretanha, Itália e Estados Unidos, uma Divisão Naval com a missão de patrulhar a costa ocidental da África, uma missão médica militar que implantou um hospital em Paris e um Grupamento de oficiais do Exército atuantes na França. Com essa participação o Brasil foi um dos países aliados à Tríplice Entente formada por França, Inglaterra e inicialmente Império Russo, em luta contra as Potências Centrais Alemanha e Império Austro-Húngaro, associadas ao Império Turco-Otomano e Bulgária.
Brasileiros na guerra
Em 1916 foi implantada a Escola de Aviação Naval, no Rio de Janeiro, e naquele mesmo ano formou sua primeira turma de pilotos, composta por quatro oficiais. No ano seguinte formaram-se novos aviadores, inclusive alguns do Exército. No decorrer da Guerra houve a Conferência Interaliada, durante a qual decidiu-se o envio de pilotos brasileiros para treinamento e atuação na Itália, Estados Unidos e Grã-Bretanha. Para o Serviço Aeronaval dos Estados Unidos seguiram os tenentes Mário Godinho e Fileto da Silva Santos e o suboficial Antônio Joaquim da Silva Júnior, os quais participaram do patrulhamento antissubmarino no Atlântico Norte.
Treinamento na Itália
No fim de 1918, um grupo de oficiais e praças da Marinha do Brasil foi para a Itália, para treinamento e adaptação em novos tipos de aeronaves. O time chefiado pelo capitão de corveta Protógenes Guimarães era integrado pelos tenentes Raul Bandeira, Ernani Ferreira de Souza, Fernando Victor Savaget, Jayme Americano Freire e Epaminondas Gomes dos Santos; pelos sargentos Arthur Cleveland Nunes, Antônio Tarcílio de Arruda Proença, Gelmirez Patrocínio Ferreira de Mello e Octávio Manoel Afonso; e pelos cabos Pedro Antônio Silva e José Cordeiro Guerra. Os pilotos e mantenedores da Aviação Naval do Brasil receberam, na Itália, instruções na Escola de Observadores Militares, em Centocelle. Em seguida, aprimoraram a pilotagem de aeronaves terrestres, na Escola de Aviação Militar do Exército Italiano, em Cerveteri. Mais tarde, treinaram em hidroaviões na Escola de Aviação Naval, em Taranto. De forma que os navais brasileiros se habilitaram para missões de patrulhamento antissubmarino e ataques com bombas e torpedos. Durante treinamento, o tenente Jayme Americano Freire sofreu um grave acidente, capotando uma aeronave, porém saiu sem ferimentos. Com o fim do conflito, os pilotos brasileiros destacados na Itália não chegaram a entrar em combate.
Treinamento com britânicos
DH6 Airco
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Outro grupo de aviadores brasileiros foi enviado para treinamento na Inglaterra. Era formado pelos oficiais da Marinha capitão-tenente Manuel Augusto Pereira de Vasconcellos, os primeiros-tenentes Virginius de Brito de Lamare, Fábio de Sá Earp, Belisário de Moura e Heitor Varady; e pelo primeiro-tenente Aliathar de Araújo Martins, do Exército Brasileiro. Todos brevetados pela Escola de Aviação Naval. Completando a equipe foram deslocados também três oficiais da Marinha, porém sem curso de pilotagem, para fazê-lo no destino, o primeiro-tenente Eugênio da Silva Possolo e os irmãos e segundos-tenentes Lauro de Araújo e Olavo de Araújo.
Acidente com brasileiro
Sopwith Camel
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Coincidindo com a chegada dos brasileiros, em 01 de abril de 1918, foi criada a RAF – Real Força Aérea, a primeira força aérea do mundo, independente da administração da Marinha e do Exército, fruto da união do RNAS – Royal Naval Air Service e do RFC – Royal Flying Corps do exército britânico. Assim, os brasileiros receberam instruções na 206 Training Depot Station (TDS), em Eastbourne, inicialmente no hidroavião Curtiss H-2. Depois passaram para aeronaves terrestres, como o Airco DH6, Avro 504, Sopwith Pup e Camel. Nesta fase, houve três acidentes e uma baixa entre os brasileiros. Durante um treinamento de voo de esquadrilha, reunindo três aeronaves com pilotos ingleses e três com os brasileiros Possolo, Varady e De Lamare, um Sopwith Camel, pilotado pelo tenente da RAF R. H. Sandres colidiu com a cauda do avião de Possolo. Em consequência, os dois aparelhos se precipitaram ao solo, matando os dois pilotos.
Duas semanas depois da perda do piloto brasileiro, os tenentes Varady, De Lamare e Sá Earp foram para a 209 TDS na Base Aérea de Calshot, na baía de Southampton, próximo a Lee-on-Solent. Nessa localidade Sá Earp e Varady contraíram a “gripe espanhola” e permaneceram internados até o fim da guerra. Os demais pilotos brasileiros concluíram os treinamentos e foram designados para a Base Cattwater, perto de Plymouth, e incorporados aos esquadrões 237 e 238 da RAF, unidades pertencentes à 10ª Força de Defesa Costeira, atuando em esquadrilhas mistas, juntamente com pilotos britânicos e norte-americanos. Faziam patrulhamento antissubmarino no Canal da Mancha, com aviões Felixtowe F.5, Short 184 e Short 240. Em três meses, a 10ª Força localizou 42 submarinos inimigos e eliminou três. Os pilotos brasileiros, mesmo após o fim da Guerra, continuaram patrulhando os mares britânicos, antes de retornarem ao Brasil em março de 1919.
Pós-guerra
Conforme conta Carlos Daróz, no seu livro “O Brasil na Primeira Guerra Mundial”, no qual é baseada esta matéria, vários participantes do conflito atingiram postos hierárquicos significativos em suas carreiras na Marinha e no Exército ou, mais tarde, na Força Aérea Brasileira (FAB), que seria criada em 1941, com a união das aviações Naval e Militar. No entanto, o único aviador do Exército a participar da Primeira Guerra, atuando na Inglaterra, o tenente Aliathar de Araújo Martins, faleceu em acidente aéreo, em agosto de 1920,nas imediações de Criciúma (SC), quando tentou estabelecer um recorde aeronáutico - o que seria o primeiro voo entre Rio e Buenos Aires - em companhia do capitão inglês John William Pinder, ás da RAF. Entre os aviadores da Marinha, Lauro e Olavo de Araújo permaneceram na Armada e atingiram o almirantado; Heitor Varady e Fábio de Sá Earp foram para a FAB e chegaram a major-brigadeiro; Virginius de Lamare, como contra-almirante, ainda em 1937, defendeu a ideia de criação da FAB, força para a qual foi transferido em 1941. A experiência do Brasil em lutar como aliado da Tríplice Entente resultou, entre outras medidas, na contratação de duas missões militares francesas, para modernização de seu Exército, incluindo a implantação da Escola de Aviação Militar, em 1919. E a Marinha optou por uma missão aeronaval norte-americana, para sua atualização, incluindo a criação dos cursos de Mecânico Naval de Aviação e Marinheiro Especialista em Aviação, além de manter o seu curso de Piloto-Aviador, reforçando a estrutura da Aviação Naval.
Saiba mais: Livro “O Brasil na Primeira Guerra Mundial: a longa travessia”, de Carlos Daróz, Editora Contexto, 2017.
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