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quarta-feira, 6 de novembro de 2024

Ponte Aérea Rio - São Paulo


ENCANTAMENTO


Maria Angélica de Moura Miranda*

A Ponte Aérea Rio-São Paulo começou em 1959, naquela época os caiçaras do Litoral Norte, observavam atentos as luzes do avião que vinha do mar e seguia para a montanha.

Certa vez, seu Nelson Santos, Manecão e outros sebastianenses saíram para uma caçada. Foram de madrugada para a estrada da Enseada, que hoje é usada para chegar na estação intermediária da Petrobras, em Rio Pardo.

Entraram pela mata e, depois de algum tempo, seu Nelson percebeu que estava perdido. Como era um atleta, jogava bola, nadava e fazia pesca submarina, resolveu que continuaria andando até sair na praia. 

Depois de um tempo o pessoal que o acompanhava na caçada percebeu que ele estava perdido, chamaram, deram tiro pra cima, e nada de seu Nelson dar sinal.

Voltaram para o Centro de São Sebastião preocupados, tinham que reunir um grupo maior para fazer as buscas, ninguém tinha coragem de falar para a dona Wilma, eles eram recém-casados.

Seu Nelson seguia na mata, acendia uma fogueira, comia alguma coisa e continuava a caminhada que já durava um dia e parte da noite. Até que em certo momento ao parar para descansar, viu o avião da Ponte Aérea Rio-São Paulo e percebeu que estava caminhando na direção errada, seguia para dentro da mata em vez de seguir para o mar.

Com essa referência mudou o rumo da caminhada e foi sair na Praia de Camburi, há 54 km de onde entrou na mata, eu não disse que era um atleta?

Desceu na estrada São Sebastião/Santos, pediu socorro para o motorista do primeiro ônibus que passou, parou em Boiçucanga onde foi socorrido, comeu, descansou e voltou para o Centro da cidade.

Até hoje, apesar das luzes, a passagem desse avião desperta encantamento, principalmente se for um dia de sol, ele deixa um rastro de nuvens no céu e tem sido inspiração para poetas. O Domingos Santos, de Ubatuba, e o Felipe Riela, de São Sebastião, já escreveram sobre ele. Vejam os versos!

Ver o que não existe
(de Domingos Santos)

Tem dias que consigo ver
a ponte aérea Rio-São Paulo,
mas tem que ser em dias azuis,
com umidade suficiente nos ares
para o motor dos aviões deixar
um rabicho de vapor para trás.
Tem dias que consigo ver
uma coisa que não existe.

Hoje
(de Felipe Riela)

Ao fim da tarde,
debruçado na janela do escritório
vi um avião rasgando o céu.
Disse para mim mesmo
que era um disco voador,
só pra me alegrar mais.
Quantas camadas do véu?

Publicação: originalmente por O Guaruçá (www.ubaweb.com), em 09/04/2019.

*A autora: Maria Angélica de Moura Miranda é escritora e jornalista em São Sebastião (SP). É pesquisadora de literatura do Litoral Norte Paulista.

NR: O que é a Ponte Aérea
A Ponte Aérea Rio-São Paulo foi originalmente um acordo firmado em 5 de julho de 1959, pelas empresas Varig, Cruzeiro do Sul e VASP, ligando os aeroportos Santos Dumont e Congonhas. A partir de 1975 e até 1992, o serviço, embora com o resultado dividido entre as companhias, era operado exclusivamente com os aviões Lockheed Electra II e tripulantes da Varig. Os Electra se transformaram na imagem representativa da Ponte Aérea.
Em 2024, a rota é operada de maneira independente pelas empresas LATAM, Gol e Azul, com mais de 120 voos diários partindo das duas cidades, em média a cada 15 minutos, entre 6h10 até por volta das 21h30.

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