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Voar é um desejo que começa em criança!

domingo, 19 de maio de 2013

Especial de Domingo

Um programa de inclusão de portadores de deficiência física é adotado, desde 1982, pelo ICEA – Instituto de Controle do Espaço Aéreo – de forma a empregá-los como digitadores de dados climatológicos ou operadores de simuladores dos cursos e treinamentos de capacitação de controladores de tráfego aéreo. Com o Programa de Simulação de Controle de Tráfego Aéreo – "Prosima" – aplicado pelo ICEA para treinamento de controladores de várias partes do país, com vistas nos próximos eventos internacionais, aumentou a visibilidade da atuação dos “pilotos de simulação” do ICEA. Este é tema de reportagem da Aerovisão – A revista da Força Aérea Brasileira, número 236, de maio/junho/julho 2013, com texto de Gabrielli Siqueira Dala Vechia e fotos de Lucas Marco. 
A matéria é reproduzida pelo NINJA a seguir. 
Boa leitura. 
Bom domingo! 

A COPA DE TODOS 
A movimentação de aeronaves é intensa. Uma delas para na pista sem avisar e em seguida pega fogo. De olho na imagem de 180 graus, controladores de tráfego aéreo têm segundos para evitar uma tragédia. Ao mesmo tempo em que acionam os bombeiros, por meio de um botão, eles têm de cuidar para que outras aeronaves em procedimento de pouso abortem a aterrissagem de repente. A “comandante” da aeronave, que, repentinamente, testa a capacidade de resposta imediata dos controladores é Débora dos Santos Ribeiro, que da estação de trabalho dela, no Instituto de Controle do Espaço Aéreo (ICEA), em São José dos Campos (SP), acompanha e avalia atentamente a reação dos colegas. “Por meio de um clique, simulo várias situações críticas, de um incêndio na pista a um animal invadindo a área operacional”, explica Débora, que treina e capacita controladores. Ela é um dos trinta profissionais com deficiência física que trabalham no ICEA, vinte dos quais estão envolvidos diretamente no treinamento de controladores de tráfego aéreo que se preparam para atuar em Andes eventos sediados pelo Brasil nos próximos anos, a começar pela Copa das Confederações, em unho de 2013. Os outros dez atuam na digitalização de um banco de dados com informações climatológicas de todo o país, referente ao período de 1947 a 1990. Débora nasceu com fraqueza neuromuscular, deficiência equiparada à tetraplegia, e atua, há três anos, no treinamento de controladores de tráfego aéreo. 

O projeto de inclusão chamado de Eficiência nasceu muito antes de o país ser cotado a receber eventos internacionais: data de 1982, quando alguns militares da FAB, em visita às instalações de organizações de outros países, para capacitação em proteção ao voo, observaram que pessoas com deficiência faziam parte do mundo da navegação aérea e quiseram repetir o feito no Brasil. “Na época, o ICA se chamava IPV, Instituto de Proteção ao Voo, e percebeu-se que era o local ideal para colocar em prática a ideia”, diz a Tenente-Coronel Rosa Miranda, chefe da Subdiretoria de Ensino do ICEA. Responsável há nove anos pelo contrato que mantém o projeto, o Capitão Nelson Barbosa Filho explica que a contratação se dá por meio de processo licitatório, em que concorrem três organizações que empregam pessoas com deficiência. A que melhor atende às exigências do ICEA se torna responsável por fornecer a mão de obra. Atualmente, quem presta o serviço ao Instituto é a Associação Amigos Metroviários dos Excepcionais (AME), de São Paulo. Segundo ele, o projeto pode aumentar o número de vagas para atende às demandas em virtude da preparação para os grandes eventos esportivos no país. Os Laboratórios de Simulação (LabSim) do ICEA funcionam em três turnos desde 2012, para treinar mais de 900 especialistas em um programa de capacitação intensiva.
Para que o projeto de inclusão seja efetivo, o ICEA, além de contratar a organização, também se responsabiliza pela qualificação. Tanto aqueles que trabalham na pilotagem, simulando situações para testar os controladores de tráfego aéreo, quanto os que trabalham na digitação de dados climatológicos, passam por cursos ministrados pelo próprio ICEA. No período, eles aprendem inglês, fraseologias usadas na comunicação entre pilotos e controladores, meteorologia, funcionamento de radares, noções de navegação e conhecem, em detalhes, seu software de trabalho. Aqueles que trabalham no simulador de torre de controle utilizam um software distinto daquele empregado no caso de controle de aproximação com radar. Débora, que trabalha no Simulador de Torre 3D, executa a sequência de situações preparadas para um grupo de controladores que acompanham o que se passa na pista de pouso e decolagem. Já Edson Wander Barbosa trabalha no setor que capacita controladores de tráfego aéreo a monitorarem as aeronaves em um controle de aproximação - que cuida de subidas e descidas - ou em um centro de controle de área - que cuida dos voos em rota - com emprego de radares. Edson é um dos mais antigos: desde 2001 acompanha a evolução e o crescimento do projeto que visa oferecer opções de inserção no mercado de trabalho a pessoas que, como ele, têm alguma restrição física. Segundo ele, nos últimos anos o leque de opções inclusivas de emprego tem aumentado, porém, muitas vezes, o tipo de deficiência e limitado. “Tem muita empresa que contrata uma pessoa que não tem um pedacinho do dedo e diz que está fazendo inclusão, mas quando aparece um cadeirante, como eu, coloca vários impedimentos. Especialmente por causa das acomodações do prédio, dos banheiros. Aqui no ICEA não temos esse problema, eu tenho acesso a todos os lugares do Instituto, até ao quiosque”, afirma.