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Voar é um desejo que começa em criança!

domingo, 15 de fevereiro de 2015

Especial de Domingo

Selecionamos do Aviões e Músicas a notícia sobre a merecida homenagem da Azul ao Comandante Severiano Lins, pioneiro da aviação comercial brasileira. Na sequência, compilamos, também do AeM, em duas partes, excelente conteúdo de Alexandre Conrado sobre o Junkers Trimotor, modelo que Severiano pilotou. Vale registrar que no Núcleo Infantojuvenil de Aviação - NINJA - as atividades com jovens dos 16 aos 17 anos - desde 2010 - são aplicadas através do Esquadrão Severiano Lins, já com enfoque profissionalizante. Confira em Detalhes do Projeto.
Boa leitura.
Bom domingo!

Azul batizará um de seus E-Jets em homenagem a Severiano Lins
Azul ” frevo pernambucano”
O comandante Severiano Lins foi um pioneiro da aviação comercial brasileira. O museu da TAM já havia feito o justo reconhecimento, e agora a Azul através de Gianfranco Betting mostra que ainda há esperanças na preservação da história da aviação no Brasil. 

"Com muita alegria informo que vamos batizar ainda este ano um de nossos novos Embraer com o nome: Cmte. Severiano Lins – Pioneiro da Aviação, principalmente nesta aeronave com as cores do “frevo” pernambucano! "
Um forte abraço 
Gianfranco Betting

O filho de Severiano, Fernando Chaves Lins, que luta constantemente para que os incríveis feitos de seu pai não sejam apagados da memória da aviação brasileira respondeu:

"Que grande notícia! Não pode imaginar a grande alegria de todas as famílias Lins, Chaves, Negromonte e Montenegro. Todos estaremos lá para festejar essa grande homenagem que a AZUL irá nos prestar."
Ao amigo Gianfranco o nosso imenso agradecimento
SAUDAÇÕES AERONÁUTICAS
Fernando Chaves Lins

Para conhecer mais o modelo de avião que o comandante Severiano voava, veja o conteúdo a seguir do Aviões e Músicas com a história do Junkers Trimotor, com texto de Alexandre Conrado, apresentado em duas partes:

Junkers JU52/3M, um pouco de história (Parte 1)
Junkers Ju52/3M
Trimotor. Um tipo de avião que encanta não? Boeing 727, Douglas DC10/MD11, Trident e se bobear até o bizarro Britten-Norman Trislander. Mas quem iniciou toda magia dos trimotores foi um avião alemão, que não só foi o work-horse de muitas linhas aéreas (sobretudo as nascidas da Lufthansa: Cruzeiro, LAB, Avianca, entre outras) como também um mito da segunda guerra mundial. Este trimotor alemão, cujo apelido é Tante Ju (Tia Ju) ou Iron Annie, não tem um desempenho espetacular ou uma capacidade fora do comum, mas foi sim um avião confiável, robusto e cuja capacidade de paxs (17 pessoas) o fazia ser quase um “jumbo” em seu tempo. Na guerra atuou de forma brilhante, seja lançando pára-quedistas alemães na Operação Merkur ou evacuando tropas em Kurland. Até em filmes o Junkers JU52 se fez presente (Operação Valkíria com Tom Cruise). Sua carreira na aviação comercial foi bem longa e acredite existem Ju52 em condição de voo (2012). A Junkers era um fabricante alemão de aviões civis e militares, encabeçada pelo seu fundador e projetista Hugo Junkers. Em 1926 foi desenvolvido um monomotor com grande capacidade de passageiros, denominado Ju 52/1m. Seu resistente esqueleto metálico e uma fuselagem revestida por chapas de alumínio ondulado, reduziam o arrasto em voo. O primeiro avião, de c/n 4008 fez o primeiro voo em 3 de Setembro de 1930, equipado com um motor BMW L-88 de 800Hp, depois recebeu motorizações diferentes mas já levava 17 passageiros. O protótipo foi apresentado à Força Aérea Alemã em Novembro de 1930, recebendo autorização de produção no mês seguinte. O avião começou com uma produção de 12 aeronaves, mas apenas um avião foi finalizado, recebendo o prefixo D-1974. Os gerentes de marketing e venda da Junkers acordaram cedo para uma previsão mercadológica completamente errada e o Hugo Junkers determinou ao brilhante engenheiro Ernst Zindel liderar uma equipe capaz de criar um trimotor de grande capacidade de carga. Esta equipe viu no JU 52/1m a possibilidade de receber mais 2 motores e assim o protótipo 4008 recebeu 3 motores P&W Hornet de 550 Hp cada um, passando a se chamar Ju 52/3m. Este novo aparelho voou em 7 de Março de 1932 e já recebeu encomenda de 7 unidades por parte do Lloyd Aéreo Boliviano, e encomendas subsequentes por parte da AeroOY (atual Finnair), VASP, SINDICATO CONDOR (Cruzeiro do Sul), VARIG, FAMA (atual Aerolineas Argentinas), SABENA (Bélgica) e inúmeras empresas de vários países como Áustria, China, Colômbia, Dinamarca, Equador, França, Inglaterra, Grécia, Itália, Moçambique, Portugal, entre vários outros.
PP-CBR Junkers Ju52/3M da Cruzeiro
O avião foi adotado em larga escala e teria sua primeira atuação em guerra como transporte de tropas do Chaco entre Paraguai e Bolívia em 1932/1933. Ao final de 1932, a Lufthansa optou pela encomenda de 2 aviões para operar as rotas Berlim a Londres e Berlim a Roma e com o sucesso imediato do avião, este se tornou a espinha dorsal da flag-carrier germânica, se fazendo presente na frota com cerca de 230 aviões. Ainda em 1932, foi lançado o Ju 52/3m CE equipado com esquis ou boias para operação no ártico ou em rios, versão esta operada no Brasil inclusive.
Junkers Ju52/3M com flutuadores
Em 1935, o avião já se fazia presente com 150 unidades operacionais, sendo 100 deles na Lufthansa. No Brasil o avião chegou em 1933 pela SINDICATO CONDOR e em 1936 pela VASP. A CONDOR aplicou nomes indígenas em seus Ju 52/3m com prefixos PP-CAT, PP-CBB, PP-CAY, PP-CAX, etc. Este avião fez o CONDOR atuar desde o litoral Nordestino até a Amazônia. Pela VASP coube a uma dupla de JU 52/3m inaugurarem uma rota que se eternizou: São Paulo – Rio de Janeiro. A VASP usou o avião PP-SPD (batizado São Paulo) e PP-SPE (batizado Rio de Janeiro) para operar o trecho, um saindo de cada cidade, o voo durava 100 minutos para cada trecho. Em 1939 a VASP usava os Ju 52/3m para 3 frequências diárias na Ponte Aérea. Porém, ao redor de 1943, VASP e CONDOR tinham enormes dificuldades para operar esses aviões devido a escassez de peças em virtude da guerra. A VARIG por sua vez teve um único Ju 52/3m que se acidentou, colocando a empresa em apuros nesta ocasião, pois a perda total de aeronave e vidas complicou a vida da empresa gaúcha. Em 1950 já não haviam mais Ju52/3m operacionais no Brasil.
PP-SPE PP-CBR Junkers Ju52/3M da VASP
O JU52/3M teve papel imenso na Luftwaffe (Força Aérea Alemã); não vou aprofundar muito o tema, mas os motores foram reforçados para potência de 660Hp, recebeu suporte para bombas e metralhadoras. Atuou na Guerra Civil Espanhola, transportando 10.000 soldados marroquinos. No papel militar, a Força Aérea de Portugal e a Força Aérea Suíça operaram este avião por décadas, e os Suíços operaram o trimotor até 1981! No esforço da 2° Guerra, a Força Aérea Alemã chegou a adquirir 59 aviões da Lufthansa para reforçar a operação militar. Em Abril de 1940, simplesmente 571 Ju 52/3m atuaram na invasão da Noruega. Com perdas e mais perdas, o Ju52/3m chegou a ser fabricado na Espanha (CASA 352), França e Hungria (de onde saiu o último Junkers JU52/3m). Entre 1932 a 1944 foram produzidos 4.845 unidades desta aeronave, somando aí as versões civis e militares. Com o fim do teatro de guerra, a França continuou produzindo o avião com a designação de Amiot AAC.1; a CASA montou mais aviões e até na Irlanda foram reformados para serviço na BEA em 1946. Atualmente existem 4 Junkers Ju52/3m de fabricação alemã em perfeito estado de operação, sendo o mais famoso o “D-AQUI” fabricado em 1936 e em serviço ativo pela Lufthansa, 3 suíços (aqueles aposentados em 1981 pela Força Aérea Suíça) que operam para a empresa Ju-Air, além de 4 CASA 352L, de origem espanhola, que estão divididos entre a South African Airways (ZS-AFA), Força Aérea Confederada (EUA prefixo N352JU), o AZ+JU que opera na França em favor de Amicale Aéronautique de Cerny e um na Ju-Air, esta última é o “maior operador mundial” de Ju52 na atualidade. A maioria deles efetuam voos panorâmicos com muito conforto e segurança para seus passageiros. O “D-AQUI” da Lufthansa é um espetáculo a parte e detalharemos a história dele em um outro artigo com mais dados e algumas fotos. O MUSAL do Brasil recebeu um avião deste da FAP – Força Aérea Portuguesa e está em lento processo de restauração, para minha alegria e creio que de diversos amantes de aviação. E como era o Ju 52/3m em maiores detalhes? Por dentro sua cabine possuía espaço para alocar bagagens sobre os passageiros (o que são os bins hoje), janelas com excelente visibilidade, 18 assentos, sendo 1 de cada lado, com um descansa braço e possuía também escada própria para o embarque e desembarque dos paxs. Seu motores já citados neste artigo, chegaram ao ponto de possuir 830Hp (BMW 132T-2), o seu escapamento eram dutos anelares desde a nacele e posicionados de forma que a fuligem não fosse em direção a cabine/fuselagem e consequente interior da aeronave.

Junkers JU52/3M, um pouco de história (Parte 2)
Conforme prometido, vamos falar do mais famoso JUNKERS JU52/3m em operação, um exemplar da Lufthansa. Isso mesmo, a Lufthansa possui um Junkers Ju 52/3m ainda em operação, o número de série dele é 5489, foi construído em 1936 e batizado de Fritz Simon e suas marcas de nacionalidade eram D-AQUI, tendo sido entregue em 6 de Abril de 1936. Logo depois foi vendido para DNL – Det Norske Luftfartsselskap da Noruega recebendo o prefixo LN-DAH e batizado de Falken em 1 de Junho de 1936. Durante a Guerra, o Exército Alemão confiscou o avião em 9 de Abril de 1940 e o retornou a Alemanha como D-AQUI, quando foi batizado desta vez como Kurt Wintgens em 23 de Setembro e 1940. Ao final do teatro de guerra, os aliados devolveram o avião para a Força Aérea Norueguesa em 28 de Maio de 1945 e lá os antigos proprietários o registraram para DNL de novo como LN-KAF, batizado de Askeladden e operou em rotas na costa norueguesa de 1948 até 1956. Vale dizer que este avião como frota da DNL passou a ser um dos primeiros da histórica da SAS. Ficou parado em Oslo até 1957, quando foi vendido para empresa equatoriana “TRANSPORTES AÉREOS ORIENTALES DEL ECUADOR”, recebendo o batismo de Amazonas e prefixo de HC-ABS. Antes de ser levado para o Equador foi convertido para ter trens de pouso, pois ele tinha flutuadores desde a sua construção. Para ir cumprir a sua missão pela TAO, foi enviado de navio em conteiners de madeira até ser entregue no aeroporto de Salinas e foi montado durante o verão de 1957 por um antigo piloto da Lufthansa.
1969 - Junkers JU52/3M Estocado no Ecuador
Na TAO serviu os céus do país sul-americano de 1957 até 1963, quando parou em Quito e ficou armazenado até 1969. Neste ano, um ex-piloto da Força Aérea Americana, Lester F.Weaver, adquiriu o avião por modestos 5.000 dólares e partiu para os EUA, classificando-o como “EXPERIMENTAL” e registrado com o prefixo N130LW. Trocaria novamente de mãos em 1974 quando a Cannon Aircraft pagou 36.000 dólares pelo avião e o reparou. No final do ano, o escritor americano Martin Caidin comprou o avião por 52.500 dólares (irônico um JU52 por 52 mil) e o batizou de Iron Annie. Trocou o prefixo de N130LW para N52JU, e o usou em shows aéreos. O JU52 ficava baseado no aeroporto de Gainesville, Florida, até que em Dezembro de 1984, como um presente de Natal, a LUFTHANSA adquiriu o avião e o levou voando para Hamburgo, saindo dos EUA para Groelândia, Islândia, Escócia e Inglaterra em um traslado de 8000km.
JU52 ao lado de um Airbus A380
Na Lufthansa, ficou parado para retornar às operações somente após uma grandiosa reforma, o prefixo oficial do avião era D-CDLH, porém em acordo com autoridades, foi incluso na pintura do avião o prefixo decorativo D-AQUI pintado nas asas e na fuselagem, e batizado como Tempelhof (inclusive, quando do fechamento deste aeroporto, foi o último avião a decolar de lá). Em 1986, no seu 50° aniversário, o D-AQUI voltou a voar “comercialmente” na Alemanha sob as cores de sua primeira operadora, a Lufthansa. Ele faz voos panorâmicos, uma excelente opção de lazer (que posso dizer é um grande sonho a ser realizado) que pode ser verificada no site http://www.lufthansa-ju52.de/en/
Lufthansa D-AQUI Junkers 52/3M
O D-AQUI leva 16 passageiros com 4 tripulantes, seus motores são 3 Pratt&Whitney PW1340, decola geralmente com 65 kts e voa a 103 nós em média, alcançando 513 milhas de autonomia em tempo de 4 horas e 20 minutos. Decola com 500 metros e pousa até em 350 metros. Sem dúvidas uma ótima e histórica experiência para quem for a Europa, pois voará em um avião que tem seu nome gravado em qualquer “calçada da fama” da aviação comercial e que operou aqui no Brasil sob cores de 3 flag-carriers e não menos importante, criou a ponte aérea São Paulo-Rio.
Junkers JU52 em voo panorâmico - Alster

Texto/Junkers: Alexandre Conrado


Saiba mais: blog do NINJA de 10 de maio de 2010