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Voar é um desejo que começa em criança!

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Especial de Domingo

Nossos Ninja's gostam de estudar, pesquisar e têm, naturalmente, as suas preferências de linguagem. Uma das fontes mais visitadas é o blog Aviões e Músicas, editado pelo Lito, que é supervisor em manutenção de aeronaves, com 26 anos de experiência. Lito já trabalhou nos Electras da Ponte Aérea, além de toda a frota da Varig e Transbrasil. Atualmente trabalha em uma empresa aérea americana no aeroporto Internacional de São Paulo/GRU. Iniciou seu Blog em outubro de 2004 com assuntos gerais, mas somente a partir de 2008 passou a focar nos temas de aviação e músicas, conquistando prêmios. Assim, ilustrando a preferência dos integrantes do Núcleo Infantojuvenil de Aviação - NINJA, selecionamos do Aviões e Músicas o conteúdo a seguir. 
Boa leitura.
Bom domingo!

Não senhores, raios não destroem motores de avião
De fato, raios não explodem aviões (a menos que você seja um roteirista de cinema). Foram divulgados dois vídeos de um suposto Airbus A321 da Turkish Airlines prefixo TC-JRI com um motor em chamas após ter sido atingido por um raio. Eis um dos textos:
A Turkish Airlines flight suffered an engine fire due to lightning strike during its descend to İzmir Adnan Menderes Airport (LTBJ)
Traduzindo: Um voo da Turkish incendiou um motor ao ser atingido por um raio na sua descida para o Aeroporto Ìzmir [...].
Este é o vídeo de espectadores no solo: Uau! Realmente parece um motor em chamas não é? Mas por que saem bolotas de fogo e não uma chama constante? Isto para mim parece mais um surge de compressor (stall de compressor) e não fogo. Vocês já viram um fusca, dentro de um túnel, na reduzida fazendo aqueles pipocos e soltando fogo pelo escapamento? Então, sem querer comparar um motor de fusca com um motor a jato, mas o sintoma é bem parecido ao de um surge: pipocos e chamas, com uma dimensão bem maior obviamente.

Surge de Compressor em um FA T50 

Até este momento eu estava apenas especulando sobre o vídeo acima, até que achei em outro site o vídeo filmado pelos passageiros e aí tudo se clareou. Confira, clicando aqui.

Essas “faíscas” se parecem com aquelas fagulhas que se soltam de um disco de esmeril não é? Ou seja, algo típico de um metal atritando em outro. Raios, quando atingem aviões, sempre o fazem pelas extremidades (tanto a entrada quanto a saída do raio), ou seja, os pontos comuns de danos são o radome, as pontas das asas, pontas dos estabilizadores horizontais e verticais. Desconheço literatura sobre raios atingindo motores ou capotas. O mais provável que deve ter acontecido neste voo foi um “surge de compressor” durante a decolagem (ou pouso – lembrando-se sempre que quem analisa e sabe a verdade são os órgãos de investigação, estou apenas especulando com base técnica para evitar o erro de acreditarem que raios podem inflamar motores). O “surge” causou as “bolotas” de fogo. A severidade do “surge”, ou até mesmo uma falha de uma blade ou ingestão de objeto estranho causaram um travamento ou “roçamento” das pontas das aletas das turbinas na carcaça, causando as fagulhas. Sim, claro que é assustador para os passageiros, mas do ponto de vista técnico nem é tão complicado…bem, isso porque eu não sou roteirista de Hollywood. Claro que é muito mais legal noticiar que um raio parte um avião em 3, causa impacto, mas quer realmente saber o que um raio faz quando atinge um avião? O link abaixo é de um vídeo que, numa dose de muita sorte, mostra o momento que um Jumbo 747 é atingido por um raio na decolagem.
Mas o que acontece no avião quando ele é atingido desta maneira? Bem, geralmente não acontece nada de significativo, tirando o susto que a tripulação e os passageiros passam. Os equipamentos e a estrutura da aeronave raramente são afetados de uma maneira que possa comprometer a segurança do voo. A aeronave simplesmente se transforma em um fio que conduz a eletricidade. Todas as partes de um avião são “aterradas” (ligadas umas as outras através de um cabo condutor) justamente para conduzir a eletricidade uniformemente através de tudo. Mas e daí, o que tem a ver o raio com todas as partes “coladas” umas nas outras? Bem, aí entra um pouco de física. Simplificando, quando uma corrente elétrica atravessa um corpo metálico, a corrente passa somente na parte externa deste corpo. Pense em um cabo elétrico bem grosso e oco, passando milhares de volts nele, agora coloque um ratinho andando dentro deste tubo oco e saiba que a corrente não vai atingi-lo, pois passa somente por fora do tubo (grosso modo). Esse é o princípio da Gaiola de Faraday. Pois bem, depois de saber disso, perceba que o lugar mais seguro para estar em uma tempestade de raios é justamente dentro de um avião…ou de seu carro. Porém, apesar dessa segurança toda, as vezes podem ocorrer cancelamentos de voos após um “lightning strike”, caso seja encontrado pela manutenção danos além do permitido pelo manual de manutenção. Quando um piloto reporta que seu avião foi atingido por um raio, nós da manutenção fazemos uma inspeção específica afim de encontrar possíveis danos causados em determinadas áreas (geralmente as extremidades que é por onde o raio tende a “escapar” e a fuselagem como um todo). O que encontramos geralmente são alguns rebites atingidos, descarregadores de estática danificados, pintura “em forma de flocos”, etc. Para ter uma idéia do que pode ser encontrado pela manutenção, eis uma imagem de um dano na fuselagem de um avião por raio:


O circulo amarelo a direita mostra uma “cabeça” de rebite (aproximadamente 70mm de diâmetro) quase derretida pelo calor gerado pelo raio e outros três pontos na “pele” da fuselagem. Esses danos são bem comuns em caso de raios e não impedem que a aeronave continue a voar sem problemas até que possa parar para fazer os reparos (geralmente controlado pelo número de horas voadas). Porém, caso a manutenção encontre mais do que “X” cabeças de rebite atingidas em uma fileira de “Y” rebites (quem define isso é o manual do fabricante), então o reparo tem que ser feito antes do próximo voo com passageiros. É sempre muito ruim para o pessoal da manutenção ter que cancelar um voo por um problema tão “simples” (e os passageiros nem sempre entendem um cancelamento), mas nós somos responsáveis pela segurança de todos que vão embarcar, e jamais “liberamos” um avião para voo fora dos limites do Manual de Manutenção. Um sono tranquilo depois de ter feito o trabalho bem feito e com segurança vale todas as reclamações que serão feitas depois pelos passageiros. Se você quiser realmente se aprofundar no estudo dos efeitos de raios em aviões eu sugiro este link: http://www.sae.org/aeromag/features/aircraftlightning/ 

Texto: Lito