Quadro “Além do Horizonte” do Coronel Pedro
Paulo Cantalice Estigarríbia
A origem da Aviação Militar no Exército Brasileiro tem como cenário os campos de batalha de
Humaitá e Curupaiti, na Guerra da Tríplice
Aliança. Ao Patrono do Exército, Luís Alves de Lima e
Silva, na época Marquês de Caxias, coube o pioneirismo
de empregar balões cativos em operações militares na
América do Sul.
Naquela região, nas cercanias de Humaitá e Curupaiti, o
terreno era plano e ausente de pontos elevados que servissem
para observação e coleta de informações sobre o inimigo e
como base para condução das batalhas. Naquele conflito,
os exércitos costumavam construir estruturas de madeira
que chegavam a quinze metros de altura, para observar, de
maneira precária, as linhas inimigas e obter informações das
posições e movimentos da tropa.
Para um chefe militar planejar uma ofensiva de grande
envergadura naquele terreno, o uso de um balão para
observação constituía um valioso trunfo. Com visão
inovadora, ao ser destacado para assumir o comando naquele
Teatro de Operações, mesmo antes de deixar o Rio de
Janeiro, o Marquês de Caxias solicitou a aquisição de um
balão. Em janeiro de 1867, o Ministro da Guerra, por meio
do consulado brasileiro em Nova Iorque (EUA), encomendou
a construção de dois balões e a aquisição de equipamento
para produção de hidrogênio. O negócio foi conduzido pelo
Professor Thadeus S. Lowe, que tinha sido aeronauta-chefe
do Exército do Potomac durante a Guerra de Secessão e que
indicou dois aeronautas norte-americanos para atuarem em
prol do Exército Brasileiro.
Os aeronautas e os balões chegaram a Tuiuti no final de
maio e, após a resolução de problemas de suprimento, em
24 de junho de 1867, deu-se o primeiro emprego militar de
balão na América Latina, com sua ascensão a 330 metros.
O primeiro aeronauta brasileiro em campanha foi o Capitão
Francisco Cesar da Silva Amaral, que subiu com o balão
no dia 12 de julho de 1867. Além dele, também cumpriram
missões aéreas naquele conflito os Capitães Conrado Jacob
de Niemeyer e Antonio de Sena Madureira e o Primeiro-
Tenente Manuel Peixoto Cursino do Amarante. Àqueles
militares coube a honra de escrever o primeiro capítulo da
história da Aeronáutica Militar Brasileira.
Ao todo, foram
efetuadas vinte ascensões com um único balão, que era
o menor dos dois, tendo em vista que as dificuldades de
suprimento impediram a produção do hidrogênio necessário
ao balão maior, que tinha mais que o dobro de volume.
As informações sobre a disposição do inimigo no terreno,
colhidas por meio da observação aérea foram fundamentais
para o Marquês de Caxias.
Após a Guerra, foi criado o Serviço de Aerostação Militar,
mas as atividades balonísticas foram incipientes até a virada
do século. Nesse período, o único fato considerado digno de
nota foi a Revolta da Armada, que teve início em setembro
de 1893, liderada por altos oficiais da Marinha de Guerra. O
Marechal Floriano Peixoto acolheu com simpatia a proposta
do Deputado Augusto Severo de construir um dirigível,
entrevendo a possibilidade de emprego do balão na luta
contra os revoltosos. Apesar de construído, ele não foi
utilizado para aquele fim.
No começo do Século XX, as potências militares
procuravam desenvolver balões e aviões para emprego
em operações militares. O Governo Brasileiro, com o
objetivo de manter-se a par da nova fronteira militar,
no ano de 1907, enviou à Europa o Tenente Juventino
Fernandes da Fonseca com a missão de aprofundar
os estudos em balonística, adquirir balões e material
para a constituição de núcleo de aerostação. Foram
adquiridos quatro balões franceses e, em 20 de
maio de 1908, no Realengo/Rio de Janeiro, com
a presença do Ministro da Guerra, Marechal
Hermes da Fonseca, foi realizada a primeira
ascensão de um desses balões em céus
brasileiros. O evento, que deveria ter sido um
momento de glória para o Tenente Juventino,
foi marcado pela tragédia, pois uma falha na
válvula de controle de gás provocou a queda
do balão, ocasionando nosso primeiro acidente
aéreo fatal, que vitimou o bravo oficial.
O crescente desenvolvimento dos aviões
alimentou interesse pelo uso militar do
espaço aéreo. Esse interesse persistiu entre as
autoridades militares brasileiras, o que suscitou a
iniciativa de um grupo de aeronautas estrangeiros,
liderados pelo italiano Felice Gino, de propor a
criação de uma escola para formação de pilotos
militares. O acordo entre o Ministério da Guerra e esse grupo
permitiu que, em 1913, fosse criada a Escola Brasileira de
Aviação, com a construção de oito hangares no Campo dos
Afonsos, no Rio de Janeiro, e aquisição dos primeiros aviões
do Exército, fabricados na Itália. No ano seguinte, iníciou suas
atividades, com a formação de pilotos da Marinha do Brasil e
do Exército Brasileiro. Com as dificuldades surgidas na época,
e com o início da I Guerra Mundial, a Escola Brasileira de
Aviação foi desativada.
No alvorecer da aviação, alguns jovens passaram a se
entusiasmar pelo voo naquelas precárias aeronaves, entre
os quais um jovem tenente do Exército Brasileiro chamado
Ricardo Kirk, que, mais tarde, foi o primeiro a obter o brevê
internacional, tornando-se fundamental para a Aviação Militar.
Escola de Aviação no Campo dos Afonsos/ Rio de Janeiro
A nova página da história da Aviação no Exército Brasileiro
viria a ser escrita somente após o final da I Guerra Mundial,
quando reabriu sua Escola de Aviação Militar, no Campo dos
Afonsos/Rio de Janeiro, inaugurada em 10 de julho de 1919.
A frota da escola era composta por aviões franceses usados
na I Guerra Mundial. No ano seguinte, graduou-se a primeira
turma de pilotos aviadores militares.
Em 1927, a Aviação Militar passou
por uma fase de reorganização e
desenvolvimento, criando-se a
Arma de Aviação do Exército e
a Diretoria de Aviação Militar.
Com aviões novos e a vinda
da Missão Militar Francesa
de Aviação, foi dado um
grande impulso para a
Escola de Aviação Militar e, consequentemente, para
a nova Arma. A primeira unidade aérea da Aviação
Militar foi criada, em maio de 1931, no Campo dos
Afonsos/Rio de Janeiro, e denominada Grupo Misto
de Aviação. Essa unidade teve atuação destacada no
combate aos revolucionários paulistas, na Revolução
de 1932, contribuindo assim para o adestramento e
amadurecimento da Aviação. A partir daí, iniciou-se
uma nova fase de crescimento: o desdobramento pelo
território nacional, com a criação de outras unidades.
Após o início da II Guerra Mundial, os ensinamentos
colhidos com a derrota da Polônia, em 1939, e da
França, em 1940, deixaram evidentes a importância
do domínio estratégico do espaço aéreo na estratégia
militar e do poder aéreo para a segurança nacional.
Por esse motivo, o Governo Brasileiro passou a
considerar a aglutinação do poder aéreo do país, na
época composto pela Aviação Naval, pertencente à
Marinha do Brasil, e pela Aviação Militar, do Exército
Brasileiro. A reunião dos meios aéreos, materiais e
humanos foi efetivada em 20 de janeiro de 1941, com
a criação do Ministério da Aeronáutica, atribuindo à
Força Aérea Brasileira a exclusividade da realização
de estudos, serviços ou trabalhos relativos à atividade
aérea nacional. Foram extintos o Corpo de Aviação
da Marinha e a Aviação Militar, encerrando-se, assim,
a fase inicial da Aviação no Exército.
Fonte: Revista Verde Oliva • Nº 216 • Abr/Maio/Jun 2012