Em agosto de 1709 o Padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão realizou no Paço Real de Lisboa experiências com um globo de papel que dentro trazia um foco ígneo. Este pequeno balão ergueu-se lentamente, indo cair, uma vez esgotada sua chama, no Terreiro do Paço. Confira a seguir uma síntese da fascinante história deste brasileiro considerado o inventor do “aeróstato a ar quente”.
Boa leitura.Bom domingo!
Bartolomeu de Gusmão
O Pai da Aerostação
Bartolomeu Lourenço de Gusmão nasceu em dezembro de 1685, na então Vila de Santos, litoral de São Paulo, batizado com o nome simplesmente de Bartolomeu Lourenço, no dia 19 daquele mês. Era o quarto filho de Francisco Lourenço Rodrigues e Maria Álvares. Só mais tarde adotaria o sobrenome Gusmão, em homenagem ao seu preceptor e protetor jesuíta Alexandre de Gusmão.
Rapaz brilhante, de ideias avançadas para sua época, logo se destacou. Fez os estudos primários em Santos, seguiu para o Seminário de Belém (Bahia) para completar o Curso de Humanidades, vindo a filiar-se na Companhia de Jesus, sob a orientação do grande amigo de seu pai e fundador daquele Seminário, o Padre Alexandre de Gusmão. Em 1705, com apenas 20 anos de idade, requereu à Câmara da Bahia o privilégio para o seu primeiro invento. Era um aparelho que fazia subir a água de um riacho até uma altura de cerca de 100 metros. A água não precisaria mais ser transportada morro acima nas costas de homens ou em lombo de animais.
É comum aos padres jesuítas viajar para outros países, conhecendo costumes, culturas diferentes, ampliando a visão de mundo. Assim, Bartolomeu foi à Bolívia, onde os espanhóis - que escravizavam os indígenas - ficavam surpresos com os templos incas por não terem escrita e, sim, muitas cortinas de cordinhas pelas paredes.
Bartolomeu aprendeu que as cordinhas Quipuas seriam a escrita; nós de vários tipos em espaços equivalentes a uma partitura musical, escrita fonética parecida com nosso código morse. O Império Inca, que Pizarro vence traindo o inca Atahualpa, tinha estradas, distribuía excedentes de colheitas em vilarejos distantes centenas de quilômetros em terreno montanhoso, usava as Lamas como animal de carga, mas nunca teve carroças; a roda era conhecida mas usada apenas em brinquedos de crianças. Um império gigantesco, unificado e funcionando com poucas estradas, sem rodas ou carroças, onde mensagens chegavam de um extremo a outro em velocidades superiores as dos europeus civilizados.
Daí, as questões:
Teriam os Incas conhecimentos de navegação aérea?
Bartolomeu de Gusmão teve contato com estas informações?
Posteriormente, entre 1708 e 1709, Bartolomeu de Gusmão embarcou para Lisboa, capital do Império de Portugal, onde aprofundaria seus estudos.
Alguns pesquisadores acreditam que uma bolha de sabão, elevando-se, após aproximar-se do ar quente, ao redor da chama de uma vela, foi o que ascendeu o intelecto de Gusmão para a diferença entre a densidade do ar. Um objeto mais leve que o ar poderia, então, voar.
Em 1709, anunciou à corte que apresentaria uma "Máquina de Voar". Em 19 de abril daquele ano, recebeu autorização do Rei D. João V para demonstrar seu invento perante a Casa Real.
Em 3 de agosto de 1709 foi realizada a primeira tentativa na Sala de Audiências do Palácio. No entanto, o pequeno balão de papel aquecido por uma chama incendiou-se antes ainda de alçar voo. Dois dias mais tarde, uma nova tentativa deu resultado: o balão subiu cerca de 20 palmos, para verdadeiro espanto dos presentes.
Assustados com a possibilidade de um incêndio, os criados do palácio se lançaram contra o engenho antes que este chegasse ao teto.
Três dias mais tarde, exatamente no dia 8 de agosto de 1709, foi feita a terceira experiência, agora no Pátio da Casa da Índia perante D. João V, a rainha D. Maria Anad e Habsburgo, o Núncio Cardeal Conti, o Infante D. Francisco de Portugal, o Marquês de Fonte, fidalgos e damas da Corte e outros personagens.
Desta vez, sucesso absoluto. O balão ergue-se lentamente, indo cair, uma vez esgotada sua chama, no Terreiro do Paço. Havia sido construído o primeiro engenho mais-leve-que-o-ar. O Rei ficou tão impressionado que concedeu a Bartolomeu o direito sobre toda e qualquer nave voadora desde então.
E para todos aqueles que ousassem interferir ou copiar-lhe as ideias, a pena seria a morte.
O invento chamou-se Passarola e tinha uma sofisticada engenharia, com até mesmo um avançado leme que permitia manobrar com os ventos, velas laterais ao balão, tubos de foles que conduzem o ar quente , duas asas laterais que a equilibram durante as manobras, espaço para dez a doze passageiros ou carga com peso equivalente, duas esferas magnetizadas que criam tensão entre dois imãs e o corpo folheado a ferro da gôndola.
A famosa Passarola foi uma forma habilidosa de proteger a sua verdadeira invenção: o balão de ar quente. Era tão extravagante que a Inquisição não lhe tocou. Entretanto, perseguiu-o mais tarde, provocando a sua fuga para Espanha.
A concepção e realização do aeróstato por Bartolomeu de Gusmão mostrou o passo gigantesco que representou a sua invenção, sendo considerado o Pai da Aerostação. Precedeu, assim, em 74 anos, os irmãos Montgolfier, que voaram em um balão de ar quente em 1783.
Bartolomeu de Gusmão foi uma figura singular que enxergava muito à frente de seu tempo, sofrendo as naturais e inevitáveis consequências dessa excepcionalidade.
Na Universidade de Coimbra realizou profundos estudos da Ciência Matemática, além das Ciências de Astronomia, Mecânica, Física, Química e Filologia, isto sem falar no exercício da Diplomacia e da Criptografia, atendendo designação de D. João V, tendo bacharelado-se e completado o Curso de Doutoramento da Faculdade de Canones, da Universidade de Coimbra.
Faleceu em 19 de novembro de 1724, em Toledo, na Espanha, sendo considerado pelos seus feitos a primeira e a mais bela página da Aeronáutica.
Os restos mortais do Padre Bartolomeu de Gusmão foram encaminhados pelo governo da Espanha ao Brasil, onde ficaram sob a guarda da Fundação Santos-Dumont durante algum tempo. Posteriormente estiveram sob os cuidados do Comando da Aeronáutica - IV Comando Aéreo Regional - e, em 24 de março de 2004, foram sepultados na cripta da Catedral da Sé de São Paulo.
Fontes: Wikipédia / Portal FAB / Detetive da História