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Voar é um desejo que começa em criança!

domingo, 30 de junho de 2024

Especial de Domingo

No conteúdo de hoje, originalmente publicado em 25/11/22 no LinkedIn, uma bela reflexão do Professor Maurício Luis Marra.
Boa leitura.
Bom domingo!

O que as pessoas nos ensinam, mesmo tendo cruzado nossos caminhos rapidamente?
Erkki K. K. Bohm - História da Construção Aeronáuticano Brasil - Roberto Pereira de Andrade

Em minha vida, aprendi muito com todos aqueles que passaram pela minha história, cada um com sua importância, e por isso sou muito grato. Mas hoje acordei lembrando de duas pessoas específicas, que conheci entre o final dos anos 80 e início dos anos 90. São duas pequenas histórias.

Jean de La Farge (de Burc) nasceu em 1925, na França. Lá trabalhou com Henri Mignet, projetista e construtor aeronáutico, e inventor de um minúsculo avião chamado “Pou du Ciel” (Piolho ou Pulga do Céu). Em 1942, aos 17 anos, começou a pilotar essas pequenas máquinas sobre o Canal da Mancha, transportando documentos e autoridades, a serviço da Resistência Francesa.

Nos anos 50, migrou para Córdoba, na Argentina, cidade que contava com os melhores engenheiros aeronáuticos argentinos, bem como com alguns alemães e franceses que haviam saído de seus países após a II Guerra Mundial, entre eles Kurt Tank e Emile Dewoitine. Lá funcionava a Instituto Aerotécnico de Córdoba, onde foi desenvolvido, entre outros, o primeiro avião a jato da América Latina.

Em 1989, quando Jean já estava com 62 anos, eu o conheci, cheio de histórias, documentos e fotos desse período narrado acima. Em sua oficina, estava construindo uma versão aprimorada do “Pulga”. Veio a falecer em 2009, ainda respeitadíssimo na comunidade aeronáutica da cidade e do país.

Nossa segunda história fala de outra figura ligada à aviação, Marc William Niess, engenheiro pela Escola Politécnica, ingressou em 1941 na Companhia Aeronáutica Paulista(CAP), onde participou dos projetos do “Paulistinha” e do “Planalto”. Passou por outras empresas e teve alguns de seus projetos fabricados em pequena série, nos anos 50 e 60, até que, em 1963, fundou, com Gilberto Clark, a Clark-Niess Indústria Aeronáutica, instalada a partir de 1965 na cidade de Tatuí, SP.

Sempre dedicado aos seus projetos aeronáuticos (projetou mais de uma dezena de modelos), Niess desenvolveu, em 1977, anéis de fibra de vidro e carbono, que absorviam em grande parte a força de eventuais impactos das aeronaves com o solo, gerando maior proteção aos tripulantes. Tais “Anéis Elíticos de Sobrevivência de Niess” foram avaliados com sucesso por equipes da NASA e de fabricantes de automóveis.

O conheci fazendo uma pesquisa para o livro “História da Construção Aeronáutica no Brasil”, de Roberto Pereira de Andrade, no início dos anos 90, falando com um entusiasmo cativante sobre sua trajetória e projetos que desenvolvia naquele momento. Marc Niess veio a falecer em 2011. 

Compartilho essas passagens por alguns motivos e para propor, ao final, um pequeno exercício a cada um de nós.

1º motivo: Jean e Marc me ensinaram, mesmo que nos poucos e breves encontros, que nunca devemos desistir do que sonhamos e gostamos de fazer, mesmo que nossos sonhos tomem caminhos paralelos ao idealizado inicialmente.

2º motivo: Tudo que é bom pode ficar melhor. Não se canse de buscar a evolução.

3º motivo: Ter sonhos nos ajuda a sermos ativos e criativos por muitos anos. Para evoluir, a mente tem que se divertir.

4º motivo: Idade não é limitação. Ao contrário, carrega junto experiências que permitem ampliar horizontes e buscar novas soluções, para novos ou velhos problemas.

Isso posto, proponho um olhar diferente para nossos currículos. Neles, costumamos colocar as empresas que trabalhamos e por quanto tempo estivemos lá, mesmo que por todo esse período não tenhamos sido muito mais que números na visão dos gestores, principalmente daqueles temerosos em perder seu status para alguém de sua equipe.

Assim, que tal se olhássemos mais para as pessoas com quem convivemos em nossa trajetória profissional, resgatando o que aprendemos com elas e o quanto contribuíram para a atividade ou setor? Olhar nossos currículos não pelas pessoas jurídicas que estão lá, mas pelas pessoas físicas com quem convivemos nesse local.

Não proponho enviar esses “novos” currículos aos recrutadores, embora valha a sugestão de que ouçam mais as histórias de quem estão selecionando. Eu sei que isso toma tempo, mas falamos tanto em network, em humanizar as relações etc, e acabamos nos esquecendo daqueles que nos ajudaram a percorrer os caminhos profissionais, pelos conhecimentos e vivência compartilhados.

Organizações são feitas de pessoas, com histórias e sonhos que podem ser inspiradores, e é para elas que devemos olhar.

É só uma reflexão.

Fonte: LinkedIn

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