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Voar é um desejo que começa em criança!

domingo, 3 de março de 2019

Especial de Domingo

Neste 2019, ano do sesquicentenário do ubatubense Gastão Madeira, patrono do NINJA, nosso blog segue destacando o brilho de outros pioneiros brasileiros, semeadores de pensamentos que muito contribuíram para o avanço da ciência aeronáutica. Com esta intenção, publicamos hoje conteúdo sobre o paraense Júlio Cézar Ribeiro de Souza.
Boa leitura.
Bom domingo!

Júlio Cézar Ribeiro de Souza

Júlio Cézar Ribeiro de Souza é o autor da primeira tentativa de desenvolver um projeto de um dirigível no Brasil.

Nascido em 13 de junho de 1843, na Vila São José do Acará, província do Pará, Júlio Cesar matriculou-se aos 19 anos de idade, em 1862, na Escola Militar da Praia Vermelha, no Rio de Janeiro.

Em 1875, iniciou seus estudos aeronáuticos, impressionado com o voo planado das grandes aves aquáticas da Amazônia.

Interessado por dirigíveis, mas sem recursos, o inventor tomou certo dia o vapor costeiro, “silenciando o seu destino, e duas semanas mais tarde desembarcava no Cais Pharoux, sem rufor de tambor e sem conhecer pessoa alguma na populosa capital do Império, trazendo apenas no bolso uma carta de recomendação para o senador Candido Mendes".

Numa manhã de fevereiro de 1881, o Barão de Tefé, diretor geral da Repartição de Hidrografia, oficial da Marinha e homem de grande reputação cientifica na Corte, recebeu uma inesperada visita do senador Candido Mendes, acompanhado "por um cavalheiro de mediana estatura, barbicha preta bigode caído, rosto encovado, tez macilenta, cabelos lisos em certa desordem, enfim, um tipo provinciano".
Júlio Cézar Ribeiro de Souza
Candido Mendes pede que Teffé patrocine Júlio Cesar no círculo do Instituto Politécnico. Teffé deteve-se então na leitura das 86 páginas manuscritas da memória sobre navegação aérea redigida pelo inventor e, bem impressionado com os argumentos alinhavados por este, resolveu mergulhar na bibliografia aeronáutica publicada na Europa.

Depois de cerca de um mês de leituras, Teffé estava convencido de que estava diante de um trabalho significativo e, dessa forma, conseguiu que o Instituto Politécnico se reunisse para apreciar uma exposição de Júlio Cesar sobre seu sistema de navegação aérea.

O Instituto Politécnico do Rio de Janeiro congregava engenheiros e cientistas, professores e políticos, funcionando como uma academia. Seu campo de interesse era muito abrangente, contando com diversas comissões técnicas, como as de metalurgia, máquinas, arquitetura naval, obras hidráulicas, estradas de ferro, estradas de rodagem e outras.

O Instituto representava uma referência técnica da época, e congregava os grandes nomes da engenharia do país. manifestando-se sobre assuntos tão diversos quanto a seca do Nordeste, o problema do saneamento básico do Rio de Janeiro ou a resistência de tijolos fabricados no país.

Júlio Cézar apresentou sua "Memória sobre navegação aérea" ao Instituto Politécnico em março de 1881. Nela, o inventor paraense se situava entre os partidários dos aparelhos mais leves do que o ar.
Manuscrito de Júlio Cézar Ribeiro de Souza
contendo estudos aeronáuticos próprios.
Ele acreditava que um aparelho mais pesado do que o ar somente seria viável quando o peso do motor pudesse ser reduzido radicalmente em relação ao empuxo.

O tempo confirmou plenamente essa opinião: vinte e cinco anos mais tarde, Santos Dumont fez voar um aparelho mais pesado do que o ar graças precisamente à evolução do motor a explosão.

O Instituto Politécnico aprovou então uma moção manifestando ao Governo Imperial a conveniência de auxiliar o inventor. Graças a ela o inventor conseguiu uma doação de 20 contos de réis da Assembléia Provincial do Pará.

Com esse dinheiro, seguiu para Paris, onde encomendou seu primeiro balão à Casa Lachambre, batizando-o com o nome de sua esposa: Vitória.
Desenho explicativo do pedido de patente do dirigível Vitória,
de Júlio César Ribeiro de Sousa, datado de 1881
Em 8 de novembro do mesmo ano, Lachambre lavrou uma ata, atestando o primeiro voo do dirigível Vitória. Teria cinco metros de comprimento, a forma de um dirigível, dispondo de leme de direção mas sem propulsores. Tratava-se de um balão com certa dirigibilidade.

Em 12 de novembro, Júlio Cesar teria realizado uma nova experiência,mas apenas oito dias mais tarde voltou ao Pará, sem recursos, mas decidido a realizar uma ascensão em seu estado natal.

Logo depois, em dezembro, ele tentou realizar um voo no Pará, mas sem sucesso: por falta de recursos para trazer as asas e o leme de direção de seu balão, havia deixado-os na França, além de elementos necessários para a produção de hidrogênio.

Em março do ano seguinte, Júlio Cesar voltou ao Rio de Janeiro, para uma nova tentativa de ascensão, fracassada pelos mesmos motivos daquelas realizadas no Pará.

Ainda assim o Barão de Teffé conseguiu do Parlamento uma verba de 40 contos de réis para custear a construção de um segundo balão. Com o apoio renovado do Instituto Politécnico, o inventor seguiu para Paris pela segunda vez, onde construiu o balão Santa Maria de Belém.

No entanto, tão logo o balão ficou pronto,o inventor voltou para Belém do Pará, onde improvisou baterias para a produção de hidrogênio. O resultado se revelaria desastroso: em 12 de julho de 1884 a explosão de uma das baterias inutilizaria o balão.
Apesar de tudo, Júlio César conseguiu a aprovação pela Assembléia Provincial de um novo auxílio de 20 contos de réis, para custear a realização de uma terceira e última experiência em Paris, onde teria voado o dirigível denominado Cruzeiro,em 1886.

Logo depois o inventor voltou ao Pará, falecendo em 14 de outubro de 1887, na mais completa penúria, destino comum de muitos inventores brasileiros do século XIX.

Obs.: Complementando o conteúdo do vídeo acima, a Lei nº 12.228, de 13.4.2010, denominou o principal aeroporto de Belém como "Aeroporto Internacional de Belém / Val-de-Cans / Júlio Cézar Ribeiro".

Fontes: Vencendo o Azul e YouTube