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Voar é um desejo que começa em criança!

quarta-feira, 17 de julho de 2024

Sentando a Pua!

Confira mais um texto selecionado do excelente Sentando a Pua!, que preserva e divulga a História da Aviação Militar Brasileira na Segunda Guerra Mundial. 


Histórias dos Veteranos




Mestre João Paulo

Escrito por Ademir Scardino Guimarães

Caro amigo Luis Gabriel, Na página sobre a "MISSÃO" do site, você escreve, no início: “O site tem como missão principal manter viva a história da Força Aérea Brasileira durante a Segunda Guerra Mundial,...” e, no último parágrafo: "Contamos com a participação dos veteranos vivos, dos parentes e amigos daqueles que partiram, e de todos aqueles que quiserem contribuir para manter viva a lembrança dos feitos destes verdadeiros heróis.", assim, eu, como sou um dos parentes e também amigo (Como não ser???) daqueles heróis que defenderam o nosso Brasil durante a guerra, alguns com o preço da própria vida, gostaria que você também fizesse alusão àqueles que, mesmo ficando no Brasil, tiveram alguma participação, direta ou indireta, na defesa do nosso País. Em meu modesto pensamento, acho que também foram e são, pois alguns ainda estão vivos, dignos de merecer o nosso penhorado apreço.

Eu gostaria de relatar um desses casos que envolveram os que aqui permaneceram, pois, como eu disse, acima, eu sou parente (filho) de um homem (Comandante José Fernandes Guimarães) que de certa forma foi envolvido (por ter sido atacado por um safado nazista — ler “Driblando os Submarinos) na Segunda Guerra, e, também, sou afilhado de outro que teve maior, digamos, participação, porque na sua profissão, a qual conhecia como poucos, dava apoio direto no que ele mesmo chamava de “Quartel da Aeronáutica”, aqui em Belém, Pará, para onde sempre era chamado pelo Coronel Olarico Barata (VIVAAAA!!! Ainda me lembro do seu nome!!!), para que ele (o meu padrinho tão querido por mim, que ainda era bem criança) fundisse, em alumínio, as pás das hélices dos “Catalinas” e de uns outros aviões menores (que eu chamava de “teco-teco”), baseados no aeroporto de Val-de-Cães, aqui em Belém.

Meu padrinho, que se chamava João Paulo de Souza, falecido em 14/04/1954, era Mestre Fundidor. Lecionava “Fundição de Metais” no antigo “Instituto Lauro Sodré” (cujo prédio hoje se localiza o Tribunal de Justiça do Estado do Pará, bem ao lado do também hoje não mais existente prédio do Quartel da Aeronáutica, à esquina das avenidas Almirante Barroso e Pedro Álvares Cabral, em Belém). Era um colégio em regime de internato e semi-internato, e formava Técnicos Industriais (mais ou menos o que fazem hoje os chamados CEFET, atual IFPA, aqui no Pará).

Os aviões “Catalina” estavam sempre em missão, voando em patrulha constante ao longo do litoral paraense até ao Oiapoque, no Amapá, e quando precisavam, por algum motivo que até hoje desconheço, substituir a hélice, o Coronel Olarico mandava um “Jeep” da Aeronáutica buscar o meu padrinho em casa, para que ele fundisse uma nova hélice para o avião. Hoje sei que a tecnologia para a fundição de hélices de avião exige um considerável aparato tecnológico, o que naquele tempo de guerra era “perfeitamente dispensado” pelos conhecimentos e, certamente, alguns recursos que meu padrinho poderia dispor.

Eu lembro que certa vez ele me levou lá no Quartel, para ver a oficina onde se faziam de tudo para manter os “Catalina” sempre no ar. Fiquei maravilhado! A oficina era num galpão grande, onde trabalhavam muitas pessoas, civis e militares. Era lá que o meu padrinho fazia a fundição do alumínio, aproveitado de outras hélices e de algumas outras peças menores, que ele mesmo selecionava. Acho que as hélices “made in Belém” ficavam ótimas, sem “bolhas” de ar no interior da peça, e nem mesmo ficavam desbalanceadas, provocando vibração no avião, visto que o Coronel Olarico constantemente convocava o Mestre João Paulo, de quem já era um bom amigo, para mais serviços.

Este é um pequeno exemplo daqueles que não foram ao palco de operações da Itália, mas nem por isso deixaram de contribuir na defesa da Pátria. Outros exemplos, certamente, existem, nós é que não os conhecemos.

Um abraço do amigo, Ademir Scardino Guimarães.



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