Boa leitura.
Bom domingo!
DISCIPLINA AERONÁUTICA:
COISA DO PASSADO OU DO FUTURO?
Por Christophe Brunelière
Quando iniciei minha formação de piloto militar, a disciplina aeronáutica era tratada em pé de igualdade com os regulamentos. Nos ensinavam como nos tornarmos melhores aviadores e como jamais deveríamos ‘pegar atalhos’. Nós éramos considerados como ‘profissionais’. Um dicionário define o profissional como sendo uma “pessoa qualificada, especialista (oposta ao amador)”.
Um “profissional” pode ser automaticamente um expert em disciplina aeronáutica? Ou a disciplina aeronáutica é uma qualidade adquirida com anos de experiência? Para responder a essas questões, nós devemos compreender os princípios mais fundamentais.
A disciplina aeronáutica deveria ser observada em seu conjunto. Ela compreende a própria disciplina, as atitudes, a competência, o autoconhecimento, o conhecimento da aeronave, o conhecimento do ambiente de voo, bem como dos riscos que o cercam. E compreende também a consciência da situação, e um julgamento seguro.
Os três princípios fundamentais são: a atitude, a competência e a disciplina. Quando os três são aplicados ao mesmo tempo, o piloto se torna mais seguro e mais eficaz.
As atitudes se apresentam de acordo com quatro níveis (Tony Kern):
Nível 1: a segurança (suficiente para voar protegido do perigo)
Nível 2: a eficácia (ser capaz de agir em um contexto particular e de maneira a poder se virar sozinho)
Nível 3: a eficiência (realizar um objetivo utilizando o mínimo de recursos possíveis)
Nível 4: a precisão e aperfeiçoamento permanentes.
Um piloto mediano da aviação geral atingirá provavelmente o nível 2. Para passar do nível 3, somente será possível por meio de uma formação suplementar.
A competência é mais fácil de adquirir. Logo de início, quanto mais se voa regularmente, mais a capacidade de voar aumenta. Uma competência pobre é um fator de risco tão elevado quanto uma pobre experiência. É o caso em que não se pode hesitar em pedir o auxílio de um instrutor após um longo período sem voar – você pode estar certo que uma hora de voo de ‘reciclagem’ te fará muito bem e reduzirá sensivelmente os riscos.
Geralmente, a maioria dos pilotos desportistas voa de forma ocasional, quando as condições meteorológicas são propícias. E a competência pessoal, enquanto sendo uma característica peculiar de cada um, se torna difícil de conceituar genericamente, seja do ponto de vista da regulamentação ou como resultado de estudos.
A disciplina em voo é o fundamento da disciplina aeronáutica. Uma boa disciplina aeronáutica não admite ‘brechas’ deliberadas nas regras, nos procedimentos e no bom senso. A infração à disciplina em voo constitui um fator essencial de numerosos acidentes causados por fatores humanos. A disciplina aeronáutica implica também uma maximização da consciência situacional, a fim de que o piloto esteja sempre pronto a dar uma resposta a acontecimentos inesperados. Uma estrutura sólida de disciplina aeronáutica conduz naturalmente a um julgamento seguro e a decisões corretas.
Na condição de pilotos, nós devemos estar prontos a encarar qualquer situação. Não esqueçamos que voar comporta riscos, e que nós devemos constantemente reduzir e gerenciar esses riscos a um nível minimamente aceitável. Cada um de nós tem ao alcance dos dedos os remédio para essa onda de acidentes e incidentes ocasionados por fatores humanos: o auto-aperfeiçoamento. Nós, na condição de pilotos, podemos agir na evolução da cultura aeronáutica. Pensemos e atuemos como pilotos “profissionais” cada vez que nos prepararmos para pegar os comandos, por mais simples que seja o avião!
Bons voos!
Christophe Brunelière foi piloto da Marinha Francesa, instrutor de aviação desportiva, e atualmente é instrutor e comandante em linha aérea, voando B747 e B777, totalizando cerca de 22.000 horas de voo. Também é praticante de voo a vela, especializado em Fatores Humanos.
Fonte: AEROMAGIA