Correio Aéreo
Maria Angélica de Moura Miranda*
Antônio com os netos Ivaldo e Luiz |
Desde criança conheço a história de um Caiçara que perdeu o braço na hélice de um avião. Esta semana fui na casa do seu Luiz Ribeiro, conhecer melhor o caso que aconteceu com seu Antônio Ferreira dos Santos, o seu avô.
Ele me contou que, antigamente, as correspondências eram levadas por tropeiros; depois passou a ser levada por um hidroavião que pousava no Canal, na Praia da Frente (São Sebastião - SP).
Luiz Ribeiro |
Esse hidroavião pousava e ficava com o motor ligado, aguardando o funcionário do correio que vinha de canoa, levar e trazer as correspondências do Litoral Norte Paulista.
Naquele dia, o funcionário que fazia o serviço não veio trabalhar e seu Antônio foi escalado para a missão. Seguiu de canoa até o hidroavião, mas o vento e a correnteza levaram a canoa na direção da hélice. Por instinto, seu Antônio levou o braço à cabeça, para se proteger; a hélice então cortou o braço, deixando-o pendurado.
No mesmo momento, o pessoal do hidroavião socorreu o ferido, enrolaram seu Antônio em toalhas e foram buscar alguém da família para acompanhá-lo. O avião não seguiria para Angra dos Reis, voltaria para Santos, fazendo o socorro do funcionário.
O Agnello Ribeiro dos Santos, filho mais velho do seu Antônio, seguiu viagem com eles e, chegando em Santos, o hidroavião pousou perto do Cais Comercial.
Ali, puseram o seu Antônio num táxi e seguiram para a Santa Casa de Santos. No caminho, porém, atropelaram uma criança e todos tiveram que comparecer à Delegacia.
O Delegado, observando o ferido todo ensanguentado, liberou o carro para concluir o trajeto. Na Santa Casa, o seu Antônio foi direto para a cirurgia; seu braço foi cortado logo abaixo do ombro esquerdo.
Quando se recuperou, voltou para São Sebastião na lancha que fazia o trajeto até o Rio de Janeiro, pois naquele tempo ainda não tinha a estrada SP 55, até Santos. Finalmente pude conhecer os detalhes dessa história, que não tenho com precisão a data, mas certamente foi antes do meu nascimento.
*A autora: Maria Angélica de Moura Miranda é escritora e jornalista, em São Sebastião (SP).
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