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Voar é um desejo que começa em criança!

domingo, 26 de dezembro de 2021

Especial de Domingo

O texto de hoje, de Cesar Gomes, também vale como presente de Natal para todos os que valorizam a cultura aeronáutica, destacando as iniciativas da ReVoar para ajudar a preservar e colocar em condições de voo aeronaves clássicas e históricas no Brasil.
Boa leitura.
Bom domingo!

ReVoar restaurará avião T-6 da Esquadrilha da Fumaça pilotado pelo Coronel Braga
Uma aeronave do tipo T-Meia - que pertenceu à Esquadrilha da Fumaça sendo pilotada pelo Coronel Braga [Antônio Arthur Braga, 3/2/1932 - 8/12/2003] e incorporada ao acervo da Fundação Santos Dumont, após sua desativação na Força Aérea Brasileira (FAB) - será restaurada pela ReVoar (Associação de Restauro Aeronáutico). O avião Texan NA-T6, matrícula FAB 1390, após o término de seus serviços na FAB, em 1976, foi repassado para a Fundação Santos Dumont e, após o fim do Museu Aeronáutico no Ibirapuera, na capital paulista, ficou recolhido no Parque de Material Aeronáutico de São Paulo (PAMA-SP). Em novembro de 2021, o aparelho foi resgatado, transferido para a ReVoar e levado para um hangar na cidade de Socorro (SP), para o processo, sem prazo definido, de restauro, recertificação e testes para colocar a aeronave em condições de voo.

O 1390
O T-6D FAB1390 serviu à Força Aérea Brasileira. Foi utilizado em missões de treinamento, patrulha e demonstração aérea. Na Esquadrilha da Fumaça foi empregado em cerca de 1270 apresentações em 23 anos de serviço ativo. O FAB 1390 foi pilotado pelo Coronel Braga em 400 das suas mais de 800 apresentações na Fumaça, da qual chegou a ser comandante, e contribuiu para que ele obtivesse o título de recordista mundial de horas de voo em aviões T-6. O modelo North American T-Meia serviu como plataforma para formar gerações de aviadores da Força Aérea Brasileira (FAB), como aeronave de treinamento na Escola de Aeronáutica, antecessora da atual Academia da Força Aérea (AFA). De 1942 a 1945, a FAB recebeu dos EUA dezenas de aparelhos T6 inteiramente acabados. A partir de 1946, por meio do contrato AC-1179, dentro do programa Lend-Lease, o Brasil acertou a compra de 81 kits de AT-6D, dos quais 10 conjuntos pré-montados, 10 aeronaves parcialmente montadas e 61 conjuntos completos para montagem na Fábrica de Aviões de Lagoa Santa (MG). A partir de 1952, aeronaves T-6D equiparam a nascente Esquadrilha da Fumaça, o Esquadrão de Demonstração Aérea da FAB.

ReVoar
A ReVoar (Associação de Restauro Aeronáutico) tem como missão ajudar a restaurar, preservar e colocar em condições de voo aeronaves clássicas e históricas no Brasil. O T-6 FAB 1390 é o primeiro projeto da entidade, presidida pelo piloto Fernando Crescenti. Criada em novembro de 2021, por um grupo de entusiastas da aviação, a ReVoar pretende recuperar aeronaves antigas que possuam valor histórico e possibilitar o seu retorno aos céus. Assim, com fomento da atividade aeronáutica e reconstrução de aeronaves, busca resgatar a história e despertar o interesse de crianças e jovens pela aviação e ajudar a criar uma geração de pessoas que contribuam para a valorização e difusão da história da Aviação Brasileira. Para tanto, a Associação ReVoar trabalha para localizar, verificar e validar a documentação de aeronaves de interesse, pesquisar sua relevância histórica, reconstruí-las e colocá-las em condição de voo, com verificação das partes estruturais, do sistema motopropulsor e pintura, preservando no máximo possível as partes originais. 

Fundação Santos Dumont
Além do FAB 1390, a Fundação Santos Dumont (FSD) cedeu mais duas aeronaves para a ReVoar: um PT-19 e um Muniz M-7. A Fundação, criada em 1956, é detentora de um dos mais importantes acervos da história da aviação brasileira. Mantinha o Museu Aeronáutico no Parque Ibirapuera, até sua desativação para dar outros fins à área solicitada pelo município. Desde então, seu patrimônio histórico está armazenado em vários lugares. A FSD foi a primeira a ceder a posse de três aeronaves à Associação ReVoar: um T-6D (FAB 1390), um PT-19 3FG (FAB 0508) e um Muniz M7 (PP-TEN). O PT-19 modelo 3FG, matrícula FAB 0508, foi um dos primeiros treinadores da Escola de Aeronáutica, no Campo dos Afonsos (RJ), onde foi pilotado, em um voo solo, por Ozires Silva. Mais tarde, em 1969, o Tenente Coronel Ozires viria a ser um dos fundadores da Embraer e líder da equipe que projetou e construiu o avião Bandeirante, que deu origem à moderna indústria aeronáutica brasileira. O Muniz M-7, matrícula PP-TEN, foi a primeira aeronave construída em série no Brasil. Foi projeto do Major Antônio Guedes Muniz. O protótipo foi construído no Parque Central de Aeronáutica (Campo dos Afonsos) e os aparelhos seguintes foram construídos na Fábrica Brasileira de Aviões, na Ilha do Viana, RJ. Foram produzidas 28 aeronaves entre 1937 e 1941.

História do T-6
A produção da aeronave T-6 Texan começou em 1936, quando a Marinha dos Estados Unidos encomendou 40 unidades à North American Aviation, sob a denominação de NA-16. Mais tarde a Força Aérea do Exército dos Estados Unidos, que também passou a operar o modelo, mudou a designação para AT-6 e, no início da Segunda Guerra Mundial, já dispunha de mais de duas mil unidades. Entre 1942 e 1945, a FAB recebeu dos EUA dezenas de aparelhos T6 prontos. Deste lote pode ser o de matrícula FAB1339 do acervo do Museu Matarazzo, em Bebedouro (SP). À época da Segunda Grande Guerra, estabeleceu-se o Lend-Lease, programa assinado em 11 de março de 1941, pelo qual os Estados Unidos forneceram por empréstimo, às nações aliadas, armas e outros suprimentos, entre 1941 e 1945. O Brasil tornou-se aliado dos Estados Unidos durante a guerra e o pacote Lend-Lease para o país foi o mais amplo da América Latina, considerando seu status internacional e seus ativos materiais para a causa aliada. Então, a North American Aircraft (NAA) e o governo americano acordaram, no ano de 1942, em prover o Brasil, por meio do contrato AC-1179, com 81 kits de AT-6D, cujo projeto era denominado na fábrica de “NA-119”. O lote consistiu de 10 conjuntos pré-montados, 10 aeronaves parcialmente montadas e 61 conjuntos completos para montagem na Fábrica de Aviões de Lagoa Santa (MG). A finalização desses T-6 começou em 1944, mas os aviões começaram a voar somente a partir de 1946, devido lentidão no processo. Em três anos a NAA havia conseguido entregar apenas 19 unidades. Em 1947, o Ministério da Aeronáutica propôs a rescisão do contrato e a intervenção na Fábrica de Aviões de Lagoa Santa, que ocorreu em 1º de outubro de 1949. Retomada a produção do contrato AC-1179, os 62 aparelhos restantes foram montados e entregues até junho de 1951. A North American Aircraft, em 1942, reservou aos 81 aviões do lote brasileiro seus números de série (Manufacture Serial Numbers) 119-40086 a 119-40166. As 19 primeiras aeronaves (SN 119-40086 a 40104) receberam as matrículas FAB-1376 a FAB-1394 (Jesus, 2015). Para as demais 62 aeronaves, à medida que foram sendo finalizadas, lhes foram outorgadas as matrículas FAB-1531 a FAB-1592 (Jesus, 2015 & Hagedon, 2009). Essas aeronaves AT-6D ganharam a designação “de fábrica” não usual como T-6 1LS, com o sufixo indicando Lagoa Santa, local das instalações de montagem no Brasil. Em 1960, a FAB receberia seus últimos 20 aviões T-6, fabricados nos Estados Unidos. Aeronaves desse tipo serviram à FAB até o ano de 1976. Um exemplar em especial, matrícula FAB-1262, batizado de Celacanto, permaneceu na ativa até o final dos anos 1980 e início dos 90, antes de seguir para o MUSAL (Museu Aeroespacial), servindo à Divisão de Ensaios em Voo do DCTA – Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial, em São José dos Campos (SP). Todavia, o 1262 não era do lote do contrato AC-1179. Com a desincorporação dos T-6 da Força Aérea Brasileira, os aparelhos remanescentes transformaram-se em monumentos ou foram alocados para acervos de museus. Alguns em condições de voo foram leiloados, na segunda metade dos anos 1970, e arrematados por civis no Brasil, recebendo as matrículas PT-KQX, PT-KRC, PT-KRD, PT-KSX, PT-KSZ, PT-KUX, PT-KVD, PT-KVE, PT-KVF, PT-KVG, PT-LDO, PT-LDQ e PT-TRB. Este último pertenceu ao Coronel Braga, após sua saída da ativa na FAB e é preservado na Academia da Força Aérea, nas instalações da Esquadrilha da Fumaça.

Texto: Cesar Gomes, para o Blog do NINJA.

Fontes consultadas:
ARAÚJO, Daniel. North American T-6. Disponível em www.autoentusiastas.com.br (Clique aqui); 

BLOG do NINJA. A Fábrica de Lagoa Santa. Edição de 27/09/2020. (Clique aqui); 

HAGEDON, Dan. North American’s T-6: a definitive history of the world’s most famous trainer. Nort Branch, MN: Specialty Press, 2009;

HISTÓRIA DA FORÇA Aérea Brasileira – North-American T-6. Disponível em www.rudnei.cunha.nom.br . Acesso em 20 nov. 2018;

JESUS, Solange Galante de. Nas Asas do Líder: biografia oficial do coronel Braga. Porto Alegre: EdiPUCRS, 2015;

KASSEB, Paulo. O Lend-Lease e os T-6 do contrato AC-1179. Comunicação oral, out. 2018;

MATOS, Mark de. Histórias de Caçadores – Celacanto. Disponível em www.abra-pc.com.br . Acesso em 11 nov. 2018.

Siga a restauração no instagram: @revoar.restauro

Saiba mais: www.revoar.org

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