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quarta-feira, 29 de setembro de 2021

Asas Rotativas

Carga de trabalho do piloto de helicóptero em emergência é tema de artigo de brasileiros publicado por revista britânica
Um estudo realizado por um grupo de pesquisadores do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), localizado em São José dos Campos (SP), por meio do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e do Instituto de Pesquisas e Ensaios em Voo (IPEV), em parceria com o Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE), teve seu artigo científico publicado na revista britânica Scientific Reports, do grupo Nature, publicação que divulga artigos de pesquisadores nas áreas das ciências naturais, medicina e engenharia. O trabalho intitulado, “Quantitative assessment of pilot-endured workloads during helicopter flying emergencies: an analysis of physiological parameters during an autorotation” - que em português pode ser traduzido como "Avaliação quantitativa das cargas de trabalho suportadas pelo piloto durante emergências de voo de helicóptero: uma análise dos parâmetros fisiológicos durante uma autorrotação" - foi conduzido pelo doutorando do ITA e Gerente Técnico da Divisão de Projetos do DCTA, Coronel Aviador José Ricardo Silva Scarpari e pelo doutorando do Instituto do Cérebro do HIAE, Mauricio Watanabe Ribeiro.

Reações fisiológicas
O objetivo da pesquisa foi analisar as reações mecânicas e fisiológicas de um grupo de pilotos durante a autorrotação, manobra utilizada para realizar o pouso seguro do helicóptero, quando há uma falha no motor. “A ideia era a de conhecer as respostas fisiológicas dos pilotos frente à uma grande ameaça, uma emergência real, causada pela falha do motor do helicóptero, com o piloto sendo surpreendido pela emergência, numa técnica que impôs aos pilotos uma tarefa de alta carga de trabalho e concentração, mascarando e impedindo qualquer previsão ou preparação para falha do motor”, explicou o Coronel Scarpari. Para isso, realizou-se a mensuração dos resultados obtidos por meio dos sensores que avaliaram o tempo de reação, o nível de estresse, os movimentos dos olhos dos pilotos, o nível de suor, a frequência cardíaca e respiratória e, ainda, as alterações emocionais e comportamentais durante a manobra. Tudo realizado num helicóptero AS-350 Esquilo, da Força Aérea Brasileira (FAB), quando onze pilotos com diferentes níveis de experiência e treinamento foram submetidos a voos em condições de emergência simulada, de modo inesperado, sendo todas as suas reações coletadas durante a manobra e correlacionadas com o movimento dos comandos de voo, com opinião subjetiva do piloto, com suas respostas fisiológicas e com o próprio resultado obtido na manobra Segundo a Professora e Pesquisadora do HIAE, Elisa Harumi Kozasa, o estudo explora a viabilidade de realizarmos medidas fisiológicas em condições críticas em um grupo de pilotos de elite da Aeronáutica. "Quando pesquisamos, por exemplo, a resposta de estresse, isto geralmente ocorre em condições controladas de laboratório e não em ambientes realísticos/ecológicos como tivemos a oportunidade de realizar”, contou.

Fator humano
O foco do estudo está em provar que o fator humano tem grande influência durante a performance, uma vez que o desempenho do piloto, o treinamento, o nível de atenção, os alarmes, as condições atmosféricas, a luminosidade e demais fatores influenciam numa emergência, comenta o Professor Roberto Gil Annes da Silva do ITA, um dos orientadores da pesquisa. De acordo com o Coronel Scarpari, as normas e referências bibliográficas sobre o tema são essencialmente subjetivas, negligenciando a influência do fator humano durante uma emergência. "Na prática o sistema pode, por exemplo, ser usado no processo de seleção de aviadores para ingresso na Academia da Força Aérea (AFA), ajudando a identificar os padrões almejados, bem como, para avaliação de desempenho para progressão operacional de pilotos, analisando aqueles que apresentam um comportamento fisiológico ou psicomotor compatível para ser instrutor de voo”, conclui o Coronel Scarpari. Segundo o Professor Donizeti de Andrade, um dos orientadores, o reconhecimento inerente à publicação da pesquisa pela Nature agrega valor inestimável ao trabalho desenvolvido. "O trabalho torna-se uma referência obrigatória para os profissionais da Aviação – seja para aqueles que se envolvem com pesquisa, engenharia aplicada ou operações –, no Brasil e em outros países. Um spin-off natural está na influência que seus resultados passam a ter junto aos órgãos de Certificação Aeronáutica com imagem de marca mundial (em particular a Federal Aviation Administration, FAA e a European Union Aviation Safety Agency, EASA): esses contam agora com apoio científico para adequar seus requisitos e orientações associados à operação de autorrotação”, afirmou.

Resumo do trabalho
Os procedimentos a serem realizados após a falha repentina do motor de um helicóptero monomotor impõem uma alta carga de trabalho aos pilotos. A manobra para recuperar o controle da aeronave e pouso seguro é chamada de autorrotação. Os limites de segurança para realizar essa manobra são baseados no diagrama de altura x velocidade da aeronave, também conhecido como "Curva do Homem Morto". Os pilotos de teste de voo costumam usar métodos subjetivos para avaliar a dificuldade de conduzir manobras nas proximidades dessa curva. Realizamos uma extensa campanha de testes de voo para verificar a viabilidade de estabelecer parâmetros fisiológicos quantitativos para melhor avaliar a carga de trabalho suportada pelos pilotos nessas condições de pilotagem. Onze pilotos foram totalmente equipados com sensores e tiveram suas reações fisiológicas coletadas durante as manobras de autorotação. Nossas análises sugeriram que as medidas fisiológicas (frequência cardíaca e atividade eletrodérmica) podem ser registradas com sucesso e úteis para capturar os efeitos que mais demandam esforço durante as manobras. Além disso, os deslocamentos dos controles de voo do helicóptero também foram registrados, bem como as respostas subjetivas dos pilotos avaliadas pela escala Handling Qualities Rate. Nossos resultados revelaram que o grau de carga de trabalho cognitivo estava associado ao perfil de voo do helicóptero no que se refere ao diagrama Altura-Velocidade e que a intensidade do esforço apresentou correlação com respostas fisiológicas mensuráveis. O registro do deslocamento dos controles de voo e a quantificação das respostas subjetivas do piloto mostram-se como candidatos naturais e eficazes para avaliar a intensidade da carga de trabalho cognitiva em tais manobras. 

Íntegra do trabalho: Clique aqui 

Fonte: FAB

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