O emprego de aviões na Revolução Constitucionalista de 32 foi tema de simpósio no 5º BIL, em Lorena (SP)
A utilização de aeronaves durante o conflito da Revolução Constitucionalista de 1932, quando se opuseram em guerra civil forças paulistas e federais, foi uma das abordagens do I Simpósio de História Militar do Vale do Paraíba, que se encerra hoje, 09 de agosto de 2019, no 5º Batalhão de Infantaria Leve (BIL), o “Regimento Itororó”, em Lorena (SP).
Guerra aérea
Na programação do dia 7, o historiador Carlos Daróz explanou sobre o tema “A Guerra Aérea no Vale do Paraíba em 1932”. O palestrante, até enfocar as manobras aéreas do conflito, discorreu sobre as primeiras experiências de implantação da aviação no Brasil, citando a criação do Aeroclube do Brasil e da Escola Brasileira de Aviação e a formação dos primeiros militares como pilotos: o tenente da Marinha Jorge Henrique Moller (em 1911, na França) e o tenente Ricardo Kirk (em 1912, também na França), hoje patrono da Aviação do Exército. Continuou sua palestra tratando da ativação, em 1919, da Escola de Aviação Militar, no Campo dos Afonsos, no Rio de Janeiro, e da formação de pilotos no âmbito da Força Pública de São Paulo. Essas organizações formadoras de aeronavegantes e pessoal de manutenção proporcionaram os recursos operacionais para emprego do avião, tanto pelas forças paulistas, quanto pelas tropas federais, ao tempo em que o Estado de São Paulo clamava por uma Constituição, já que o presidente Getúlio Vargas suspendera a vigência da Carta Magna, após sua ascensão ao poder, com a Revolução de 1930.
Campos de pouso
Daróz explicou as atuações das aviações paulista e federal, principalmente no Vale do Paraíba, onde existiram campos de pouso implantados pelos constitucionalistas em Lorena (na localidade do Horto Florestal, antiga Sementeira e hoje denominada Floresta Nacional), em Guaratinguetá e Taubaté, enquanto as forças federais operavam no campo avançado construído em Resende, na antiga Fazenda Castelo, em terras onde atualmente fica a Academia Militar de Agulhas Negras (AMAN). Neste cenário foram verificadas operações aéreas, como o primeiro combate entre duas aeronaves militares nas Américas, ocorrido sobre Bananal (SP), o primeiro ataque aéreo noturno na América do Sul, realizado por aviões paulistas, com decolagem do Horto Florestal em Lorena, contra a base de operações federais em Resende. Além disso, os dois lados da contenda puderam empregar os meios aéreos como recurso de perturbação das tropas, ataque ao solo e reconhecimento da movimentação em terra na frente de batalha. Como consequência dessas operações, com a pacificação e fim do conflito, foi possível, uma reflexão acerca do emprego do avião como recurso tático e estratégico, redundando na introdução de doutrina e estudos nos cursos de capacitação na aviação militar.
Acervo histórico
No primeiro dia do simpósio, 6, o pesquisador e gestor de um acervo de itens históricos José Maria de Azevedo Paiva falou de fatos e equipamentos empregados na Revolução de 32, enfatizando a rapidez com que organizações paulistas, durante os praticamente três meses do conflito, conceberam, fabricaram ou montaram equipamentos de suporte e de combate, como um trem blindado, barco blindado, suportes para adaptação de canhões e metralhadoras e até o projeto e montagem de armamentos e munições. Materializando sua fala, José Maria, apresentou uma exposição mostrando aspectos militares históricos, por meio de cartazes, além de rica coleção de objetos da Revolução de 32.
Museu
A coleção de peças relacionadas à Revolução Constitucionalista é apenas uma parte do acervo conquistado pelo pesquisador, que inclui, ainda, material da Segunda Guerra Mundial e da Missão de Paz no Haiti, principalmente na parte relativa aos soldados do Vale do Paraíba. Os itens comporiam um museu, ideia acalentada por José Maria, enquanto aguarda, com as peças embaladas, manifestação de autoridades responsáveis pela cultura das cidades da região, que se dispusessem a prover espaço para montagem e exposição definitiva do acervo.
Monumento e expedição
O I Simpósio de História Militar do Vale do Paraíba seguiu ontem com solenidade noturna no pátio interno do 5º BIL, que passa a ser denominado de Pátio Major Novaes, e inauguração de um monumento em honra aos que lutaram na Revolução de 32, composto por um fuzil cravado numa rocha e recoberto por um capacete peculiar empregado pelos paulistas. O simpósio se encerra hoje, 9 de agosto de 2019, com uma expedição ao Túnel da Mantiqueira, em Cruzeiro (SP), local de passagem dos trens que ligavam Minas a São Paulo e palco de batalhas entre as forças antagônicas naquele movimento.