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Voar é um desejo que começa em criança!

sexta-feira, 13 de junho de 2014

CLBI

Barreira do Inferno: mais de 500 atendimentos com o Bom Vizinho
Oficina de Foguetes atraiu atenção das crianças  S1 João Paulo



Na última terça-feira, a dona de casa Maria das Dores Andrade deixou as atividades domésticas de lado para levar seus dois netos para participar da Ação Comunitária “Bom Vizinho” do Centro de Lançamento da Barreira do Inferno (CLBI) no bairro Pium, de Parnamirim (RN). Durante todo o dia, os militares e os civis do Centro realizaram diversas atividades, como atendimentos médicos e odontológicos. Para Maria das Dores, aprender com os dentistas do CLBI as técnicas corretas de escovação bucal foi bastante válido: “às vezes a gente pensa que está fazendo corretamente, mas não está. A partir de agora, nem eu nem meus netos erramos mais”, comenta ela, que ganhou de brinde uma escova dental nova e uma aplicação de flúor para os netos. Segundo o Capitão Dentista Domício Rosendo da Silva Neto, a Ação é relevante por estreitar o relacionamento com a comunidade. “Ao longo da atividade, passamos informações importantes pra eles na área odontológica, como a ação da cárie nos dentes e as formas adequadas de higienização”, explica. Uma das atividade que atraiu grande interesse dos moradores foi a Oficina de Construção de Foguetes, na qual os “alunos” aprenderam a construir réplicas dos engenhos espaciais fazendo uso de garrafas PETs. Luiz Felipe da Silva, que tem 9 anos e cursa o 4º ano do ensino fundamental, achou diferente a experiência de participar da oficina. “Nunca imaginei que eu poderia confeccionar um foguete usando plástico e, ainda, que esses objetos voariam”, revela com entusiasmo o garoto. Ao longo do dia, foram mais de 500 atendimentos realizados na comunidade de Pium, que fica a cerca de 4 quilômetros do CLBI. Além das atividades odontológicas e de construção de foguetes, foram ofertados também atendimentos médicos, vacinação, dicas de nutrição, informações sobre segurança no trabalho e sobre as atividades de preservação ambiental do Projeto Tamar no Centro, além das apresentações culturais, esportivas e serviço de corte de cabelo. Para a professora Luciana Andrade, as dicas de nutrição justificaram a sua ida para a Ação do CLBI. “Foi a atividade que mais chamou a minha atenção. Acabei de comer um bolo feito com casca da banana. É impressionante como ele ficou saboroso e, ao mesmo tempo, nutritivo”, comenta Luciana, desejando que no futuro o Centro retorne à comunidade para mais ações sociais. De acordo com o Diretor do CLBI, Coronel Aviador Maurício de Lima Alcântara, a realização de atividades como essa Ação Comunitária é importante por aproximar a organização militar do bairro, além promover a qualidade de vida: “é um dia em que rompemos os muros do quartel e interagimos com a comunidade. Oferecemos diversos serviços de grande serventia e, desse modo, construímos laços de amizade com os moradores, além de motivar a juventude para seguir os valores e profissões da carreira militar”, finaliza.

Fonte: CLBI

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Segurança de Voo

Inscrições para o 7º Simpósio de Segurança de Voo
Estão abertas as inscrições para o 7º Simpósio de Segurança de Voo – SSV 2014. O Simpósio será realizado em São José dos Campos - SP pelo Instituto de Pesquisas e Ensaios em Voo (IPEV), no período de 5 a 7 de agosto de 2014. Tal evento reunirá organizações governamentais, de ensino, especialistas e empresas nacionais da área de aeronáutica e de defesa aeroespacial. O SSV tem como objetivos difundir os aspectos da segurança de voo na execução das atividades de pesquisa, desenvolvimento, certificação e qualificação de novos produtos aeronáuticos, além de estreitar o relacionamento entre órgãos governamentais, empresas e organizações da área aeronáutica e de defesa aeroespacial. A última edição do SSV, realizada em 2013, contou com um alto grau de interesse da platéia com relação às apresentações. Isso pôde ser verificado na Pesquisa de Satisfação aplicada durante o evento. De acordo com a pesquisa, 62,12% dos inscritos participaram de todas as palestras e 80% dos inscritos atenderam a quase 90% das palestras. Os interessados devem acessar a página http://www.ipev.cta.br/ssv, utilizando o atalho “Inscrição” no site. Para obter mais informações sobre o Simpósio, acesse a homepage ou curta nossa fanpage no Facebook: http://facebook.com/ssv.ipev. As vagas são limitadas.

Saiba mais: IPEV

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Tecnologia

PM mineira usa óculos de visão noturna em ações com helicóptero
A Polícia Militar de Minas Gerais tem um novo aliado no combate ao crime. São utilizados óculos com visão noturna nas ações com helicópteros. Foram comprados cinco exemplares importados dos Estados Unidos. O equipamento capta qualquer tipo de luz, o que amplia a visão 70 mil vezes no escuro. Os óculos são encaixados em capacetes e suas lentes são feitas com resíduos de fósforo.

terça-feira, 10 de junho de 2014

Copa do Mundo

Jatos executivos ocupam 83% dos horários de operação durante o Mundial
Cerca de mil jatos executivos devem circular pelos céus brasileiros durante a Copa do Mundo, segundo a Secretaria de Aviação Civil. Dos 108 mil slots (horários de operação reservados) para jatos executivos disponibilizados em 23 aeroportos brasileiros durante a Copa, 83% estão ocupados, ou 89.640 vagas de pouso e decolagem nos 45 dias de evento. Os jogos mais procurados foram os da abertura, em São Paulo, da final, no Rio de Janeiro, e das duas semi-finais. Para a final da Copa do Mundo, no Rio de Janeiro, a Associação Brasileira da Aviação Geral (Abag) espera 300 jatos, com base na quantidade de aviões verificada na Copa da África do Sul. Por questões de segurança e para possíveis situações de emergência, a Aeronáutica não permite que 100% dos slots disponibilizados sejam ocupados. As vagas foram distribuídas nos aeroportos coordenados pelo Centro de Gerenciamento da Navegação Aérea (CGNA) das cidades-sede e nos terminais menores, localizados próximo às capitais, que serão utilizados como garagem para essas aeronaves.

segunda-feira, 9 de junho de 2014

IX Encontro de Física do ITA

As inscrições estão abertas até o dia 23 de junho

O encontro acontecerá no período de 15 a 18 de Julho de 2014 em São José dos Campos, SP. Reunirá estudantes de graduação e de pós-graduação em Física, Matemática e Engenharia de diversas instituições do país com alunos e docentes do Programa de Pós-graduação em Física do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), estimulando, assim, o intercâmbio científico. Durante o evento, serão ministrados 3 mini-cursos e 4 seminários sobre as atividades de pesquisa desenvolvidas nos Laboratórios do Departamento de Física do ITA. Nesta edição do encontro serão abordados os temas: Fundamentos da Física Quântica, Relatividade e Eletromagnetismo, Álgebras e Grupos Quânticos, Física Nuclear e de Plasmas, Espectroscopia, Lasers e Óptica, Computação Avançada, Spintrônica e Nanotecnologia. Os estudantes de iniciação científica e de pós-graduação apresentarão seus trabalhos na forma de painel.
Estão programadas visitas aos laboratórios do ITA, do Instituto de Estudos Avançados (DCTA/IEAv), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (MCT/INPE), ao Memorial Aeroespacial Brasileiro (MAB) e às empresas MECTRON e Embraer. Para a realização das inscrições, até o dia 23 de junho, e demais informações do encontro, acesse: http://evfita.ita.br/

domingo, 8 de junho de 2014

Especial de Domingo

Da conceituada revista AERO Magazine selecionamos o conteúdo de hoje.
Boa leitura.
Bom domingo!

ROLAND GARROS, um heroico pioneiro

O aviador que dá nome ao mais charmoso torneio de tênis do mundo cultivou amizade com Santos Dumont, pilotou sobre a baía de Guanabara e morreu como um ícone, em combate.


Ciclista, jogador de rúgbi, empreendedor, amigo de artistas, razoável intérprete de Chopin ao piano, pioneiro da aviação em três continentes, recordista de velocidade e altitude em voo, criador do caça monoposto, fugitivo de campo de prisioneiros e, finalmente, herói da França na Grande Guerra. No mais enxuto dos resumos, este foi Roland Garros, que viveu como ninguém e morreu um dia antes de completar 30 anos.

Como é de se supor, o homem que dá nome a um dos mais tradicionais torneios de tênis do mundo, o Aberto da França, veio de uma abastada família. Nascido em Saint-Denis, nas Ilhas Reunião, uma colônia francesa no Oceano Índico, em 6 de outubro de 1888, Roland Adrien Georges Garros teria tudo para levar uma vida pacata e financeiramente confortável, proporcionada pelo patrimônio acumulado pelo seu pai, Georges, um advogado comercial bem sucedido que atuava nas Reunião e que, poucos anos depois, levaria a família para Saigon, na Indochina Francesa. Sua mãe, Clara, ensinou o filho a ler e escrever ainda em casa. Em 1900, no auge da Belle Époque, que se encerraria logo depois, com o início da Grande Guerra (o termo Primeira Guerra Mundial seria adotado depois, com o início do segundo conflito mundial), o pequeno Roland é enviado para Paris para completar os estudos. A viagem de navio durou dois meses, cruzando o Oceano Índico e o Mar Mediterrâneo, via Suez até Marselha. Na capital francesa, no prestigiado Collège Stanislas de Paris, é acometido de pneumonia. Sua recuperação, longe dos pais, só com o apoio de estranhos, termina por forjar uma personalidade independente e sem temor dos riscos naquele garoto de 13 anos de idade. Esses traços, os recursos familiares e os contatos certos jogariam Garros, nos anos seguintes, na direção da aviação, a grande aventura tecnológica do início do século 20.
Para recuperar a saúde em um tempo sem antibióticos, dedica-se ao ciclismo nos anos seguintes. Era uma boa maneira de exercitar os pulmões e aproveitar o sol. Aluno sem brilho, para enganar o pai, adota o pseudônimo da Danlor (anagrama de Roland) para competir - e vencer - o circuito interescolar de ciclismo de 1906. Também vence um concurso de piano e um campeonato de futebol. Logo depois, matriculado na HEC Paris (a faculdade de Altos Estudos Comerciais), é apresentado ao rúgbi por um amigo. Também pratica tênis, mas só como lazer. Aos 20 anos, com o diploma na mão, o jovem Roland consegue um emprego na Automobiles Grégoire, onde começa a lidar com motores. Por fim, abre uma representação da empresa perto do Arco do Triunfo com ajuda do pai e a participação de um amigo. A placa na entrada indicava "Roland Garros Automobiles - Voiturettes de Sport".

A Grande Semana
O interesse pelos motores acaba por levar o jovem esportista ao encontro de seu destino. Em um final de semana de agosto de 1909 vai com o amigo e sócio Jacques Quellennec acompanhar La Grande Semaine d'Aviation de Champagne, perto de Reims. Não era um evento qualquer. Promovido pela República com apoio dos grandes produtores de champanhe, como a Veuve Clicquot, a Grande Semana de Aviação reuniu a nata da aviação. Até então o grande público acompanhava os primeiros aviadores mais pelos jornais do que ao vivo. Prêmios que somavam 167 mil francos seriam dados a quem batesse recordes de distância, velocidade, altitude e transporte de passageiros. Até o final de 1908, apenas sete pessoas haviam permanecido no ar por mais de um minuto. De acordo com o historiador Tom D. Crouch, em "Asas": "Em Reims, oito meses depois, 22 aviadores conduziram 25 aeroplanos para o ar para um total de mais de 120 decolagens, sendo que 67 resultaram em voos de mais de cinco quilômetros". O mundo havia mudado. Ao ver aquelas máquinas em ação, Garros anuncia: "Vou ser aviador". Os lucros da empresa permitem a compra do primeiro avião. É um dos Demoiselle construídos pelo brasileiro Santos Dumont. A escolha é óbvia. Enquanto o mais potente e moderno Blériot XI custava entre 30 mil e 40 mil francos, um Demoiselle, o primeiro ultraleve da história, saía pela relativa bagatela de sete mil francos. Santos Dumont e Garros se tornam amigos e trocam ideias sobre voo e pilotagem antes mesmo que o francês obtenha sua licença de piloto. Nem seria preciso. No ano seguinte, Garros é contratado para voar em Cholet, durante as festividades do aniversário da Revolução Francesa. Em 19 de julho, o Aéro-Club de France lhe concede o brevê de número 147. Garros tem 21 anos. A partir daí a vida do jovem piloto adquire um novo ritmo. Logo, o pequeno e elegante Demoiselle, de seda e bambu, torna-se pequeno e fraco demais. Novos modelos e motores são rapidamente desenvolvidos. Ainda com poucas horas de voo, conhece a milionária americana, madame Hart O. Berg, amiga e incentivadora dos irmãos Wright. Ela pretendia promover a aviação nos Estados Unidos. Entusiasmado com a ideia, mas equipado apenas com o Demoiselle, não consegue participar. Porém, ao encontrar o amigo franco-canadense John Moisant, entra para o Circo Moisant, que faria shows aéreos em todos os EUA. A partir daquele momento ele passaria a ganhar dinheiro para fazer o que mais gostava. O circo também faz apresentações no México e em Cuba. Com suas técnicas de voo aprimoradas e a bordo de um Blériot, Roland Garros volta à França em maio de 1911 para participar das corridas aéreas Paris-Madri, Paris-Roma e do Circuito Europeu. Apesar de suas habilidades aprimoradas, não consegue vencer nenhuma competição ou bater recordes, sendo apelidado jocosamente pela imprensa de o "Eterno Segundo". Os críticos não tardam por esperar. Ao conhecer o construtor Charles Voisin, ex-sócio de Louis Blériot, e a Baronesa de Laroche, a primeira aviadora da história, consegue o apoio financeiro necessário. Em 4 de setembro de 1911, bate o recorde mundial de altitude, atingindo 3.950 metros. Visionário, Garros afirma que a quebra de recordes não é só coisa de aventureiros, mas algo necessário para aperfeiçoar a aviação e torná-la mais segura. A notoriedade permite que reate as relações com o pai.

Brésil e recordes

EM 1912, GARROS, NO COMANDO DE UM BLÉRIOT XI, TORNOU-SE O PRIMEIRO AVIADOR A CRUZAR A BAÍA DA GUANABARA, TIRANDO FOTOS AÉREAS DO RIO E DE SEUS CARTÕES POSTAIS NATURAIS

O passo seguinte é desbravar a América do Sul, contratado pelo industrial Willis McCormick, que organiza uma turnê. Em 1912, no comando de um Blériot XI, Garros é o primeiro aviador a cruzar a baía da Guanabara, tirando fotos aéreas do Rio e das montanhas circundantes. Também é o primeiro a fazer o trajeto São Paulo-Santos, levando uma mala postal. Ao seu lado está o brasileiro Eduardo Chaves, um dos pioneiros da aviação no país. No Rio, após uma de suas apresentações, trava contato com o major Paiva Meira, da Comissão Militar do Brasil, e com o tenente Ricardo Kirk, o primeiro oficial aviador do exército brasileiro, treinado na École d'Aviation d'Etampes, na França. Com Meira e Kirk, Garros dedica uma semana de voos com os militares, levando muitos pela primeira vez aos céus. Após a turnê pela América do Sul, Garros vence os mais de mil quilômetros da Corrida de Anjou, em junho, sendo aclamado como o Campeão dos Campeões. Logo depois, vence em Viena e Houlgate, atingindo o recorde de altitude de 4.950 metros. Contratado como piloto de testes da Morane-Saulnier, decide ir para a Tunísia, onde as condições meteorológicas seriam mais favoráveis. Antes, na Provença, atinge a marca de 5.610 metros de altitude. Na Itália, é o primeiro homem a sobrevoar o vulcão Vesúvio, sendo aclamado em Roma. O fabricante de carros esportivos Ettore Bugatti batiza uma de suas criações de quatro rodas com seu nome. Só sete exemplares são construídos, um ainda resiste. A maior aventura vem em 13 de setembro de 1913, com a primeira travessia do Mediterrâneo, o primeiro voo intercontinental da história. A decolagem ocorre em Fréjus, às 5h47 da manhã. O Morane-Saulnier chega em Bizerta após 7 horas e 53 minutos de voo e 730 quilômetros com apenas cinco litros de combustível. Não é uma viagem fácil. O motor entra em pane por duas vezes, perto da Córsega e sobre a Sardenha. Com a façanha, Garros vira herói e celebridade, sendo aclamado em definitivo em toda a Europa. A travessia é façanha tecnológica. Quatro anos antes, Louis Blériot havia penado tanto quanto para cruzar os 36 quilômetros do Canal da Mancha. É a prova de que logo, com os devidos ajustes e avanços, voos comerciais poderão cruzar o mar.

O Pai do Caça
Quando a Primeira Guerra irrompe, em 28 de julho de 1914, Garros está na Alemanha, visitando fábricas de aviões como convidado de construtores locais. Diante do agravamento da crise, mas sem suspeitar que a guerra fosse começar, consegue sair da Alemanha dirigindo seu Bugatti Garros pouco antes do fechamento da fronteira. O piloto mais famoso da França estava com 25 anos e logo usaria farda pela primeira vez.
No início do conflito, por mais estranho que possa parecer, o avião de caça não existia. As aeronaves eram usadas para reconhecimento, direcionamento de artilharia, ataque ao solo e bombardeio. Construídos em lona e madeira, os frágeis biplanos e monoplanos eram alvos fáceis para o fogo de terra. Era extremamente difícil um piloto abater outro. Armas eram usadas de modo improvisado. Alguns levavam pistolas, rifles de caça e até ganchos e cordas. O primeiro abate ocorre em 5 de outubro de 1914, quando um sargento francês, Joseph Franz, improvisa uma metralhadora sobre o motor de seu Voisin. A vítima é um Taubegermânico. Porém, o feito é de difícil repetição. Logo os ingleses começam a usar metralhadoras leves Lewis em seus biplaces. O observador fazia o papel de artilheiro. É quando Roland Garros volta a se destacar. Com uma improvisação óbvia para os dias de hoje, o francês derruba pelo menos três aviões inimigos nos primeiros 18 dias de abril de 1915. Algumas estimativas apontam cinco abates. Garros havia inventado o caça ao instalar uma metralhadora Hotchkiss que disparava por entre as pás das hélices de seu Morane-Saulnier L.
Morane-Saulnier N equipado com metralhadora e as aletas defletoras de balas nas pás da hélice 

O dispositivo fez com que o modelo ganhasse o apelido de "parasol". Sua primeira vítima é um Albatroz alemão, em 1º de abril. Sem um mecanismo de sincronia, ele instala aletas de metal nas pás da hélice para desviar os tiros (nenhuma bala ricocheteou contra o piloto). Aquelas duas semanas mudariam a aviação de guerra. Porém, a sorte de Garros e da aviação francesa mudariam.

Flagelo Fokker
Em 19 de abril, seu Morane-Saulnier é atingido por fogo de terra e cai em chamas. O jornal inglês Flight publica: "a respeito do modo como Garros tinha se sacrificado pela França ao arremessar a si mesmo e à sua máquina diretamente contra uma aeronave alemã, envolvendo o inimigo e a si mesmo em uma tragédia inevitável". Pura propaganda. Capturado ileso atrás das linhas inimigas ao bombardear um trem, Garros é levado a um campo de prisioneiros. Seu aeroplano é desmontado e entregue ao projetista holandês Anthony Herman Gerard Fokker, que trabalhava para o Kaiser. Ele tinha a missão de adaptar o dispositivo de Garros. Fokker faz mais. Temeroso que um bala ricocheteada atingisse um piloto, elabora uma engrenagem com ajuda do soldador Reinhold Platz. É uma cópia de um dispositivo criado por Franz Schneider, da LVG, que sincronizava a rotação da hélice com os disparos. O dispositivo improvisado de Garros vira um produto industrial instalado no monoplano Fokker E "Eindecker" com a finalidade de matar franceses. A chegada dos primeiros Eindecker E.I, E.II e E.III ao Front Ocidental, em junho e julho de 1915, marca o início do Flagelo Fokker. É o período da supremacia alemã, que termina no início de 1916, com a chegada de biplanos Nieuport 11 e DH.2 aliados, com mais poder de fogo, agilidade e potência do que o Eindecker.
                                
Temível no início da Grande Guerra, o Fokker Eindecker recebeu um dispositivo de disparo de tiro aperfeiçoado

A invenção de Garros torna os pilotos de ambos os lados heróis. Enquanto exércitos inteiros ficavam imobilizados nas trincheiras enlameadas, vitimados pelo canhoneio, gás venenoso, franco-atiradores e doenças, nos céus os aviadores se enfrentavam com aparente galhardia. E se voltassem inteiros, podiam terminar o dia com um banho e uma refeição quente. Acostumados a celebrar as façanhas de seus pilotos de competição e exibição, os franceses faziam o mesmo durante a guerra. Algo que Garros, prisioneiro, só voltaria a usufruir depois de 15 de fevereiro de 1918, quando foge disfarçado de oficial alemão junto com o tenente Anselme Marchal.

Legião de Honra
De volta à aviação, ainda que debilitado pelo tempo de cativeiro, Garros esconde que está com a visão comprometida. Ele passa a usar óculos para voar nos novos Spad XIII. Nomeado cavaleiro da Legião de Honra, diz que foi abatido por sua própria culpa e se recusa a servir nos gabinetes. O presidente Poincaré ordena que ele passe por um novo treinamento e que só volte após se recuperar. Em Paris, durante um ataque aéreo, se recusa a procurar abrigo por estar muito ocupado vendo a amiga Isadora Duncan dançar para ele em plena Place de La Concorde. Sua atitude enfurece os superiores, mas ganha aplausos do público. Os anos na prisão permitem que dezenas de outros pilotos superem Garros. O primeiro ás é Adolphe Pégoud, que derruba seis alemães antes de morrer, ainda em agosto de 1915. Garros quer lutar, mesmo sabendo que atingir a marca dos maiores ases, Manfred von Richthofen, o Barão Vermelho, com 80 abates, ou o francês René Fonk, com 75, seria impossível. Em 5 de outubro de 1918, o Spad XIII de Garros é atingido por fogo de terra após abater um Fokker D.VII sobre a Bélgica. Em chamas, o Spad se espatifa no solo em Saint-Morel, nas Ardenas. O corpo do herói da França é enterrado próximo dali, em Vouziers. No dia seguinte, Roland Garros faria 30 anos e a guerra acabaria em 40 dias. 

OS PÁSSAROS DO FRANCÊS

MORANE-SAULNIER G
Versão com flutuadores participou do Troféu Schneider, em abril de 1913. Naquele ano, Garros bateu um recorde de velocidade (127,7 km/h) e altitude (2.100 m).

BLÉRIOT XI
Recordista de velocidade sucessivas vezes, empregando um destes Garros ficou em segundo lugar no Circuito Europa de 1911. A disputa foi vencida por Andre Beaumont em um aparelho idêntico. Em 1912, em uma versão adaptada, Garros bateu dois recordes de altitude, atingindo 5.000 metros.

DEMOISELLE 20
Foi o primeiro modelo que Garros adquiriu.

SPAD S.XIII


MORANE-SAULNIER TIPO L "PARASOL"


O TEMPLO DO SAIBRO
A homenagem do clube Stade Français, que concebeu o principal torneio de tênis da França, ao seu mais ilustre sócio, Roland Garros. (Por Arnaldo Grizzo, editor da revista Tênis, especial para AERO Magazine)

O torneio de tênis Les Internationaux de France, ou Roland Garros, como é mais conhecido, tem suas origens em 1891, quando era disputado apenas por franceses no clube Stade Français, do qual Roland Garros era membro. Não se tem notícia, contudo, de que o aviador tenha participado de alguma competição de tênis. Talvez rúgbi, já que esse era um dos esportes principais do Stade Français, criado em 1883.
Só em 1925 o campeonato de tênis se tornou verdadeiramente "internationaux", aceitando a participação de jogadores estrangeiros e tornando-se, assim, um dos quatro grandes eventos mundiais, juntamente com o Australian Open, Wimbledon e US Open. Três anos depois o nome Roland Garros ficaria ligado ao torneio. Em 1927, a equipe francesa - que ficou conhecida como "Os Mosqueteiros" - conseguiu um feito histórico ao derrotar o time norte-americano (dentro dos Estados Unidos) e conquistar a Copa Davis (campeonato entre nações) pela primeira vez. Na época, o vencedor defendia seu título em casa, portanto, os franceses queriam fazer bonito e construir um estádio para jogar no ano seguinte.  Depois de uma disputa da federação francesa de tênis com a prefeitura de Paris, o Stade Français resolveu ceder um terreno perto de Porte d'Auteuil, em frente ao Bois de Boulogne, com a condição de que o local levasse o nome de seu mais famoso sócio, Roland Garros, morto 10 anos antes de o estádio - com capacidade para 10 mil pessoas - ficar pronto. Os franceses venceram a Copa Davis por seis vezes lá e o Les Internationaux de France também passou a ser disputado no local. Roland Garros é considerado o mais charmoso dos quatro Grand Slams e o único disputado em piso de saibro. Mesmo sendo o último a ter aceito a participação de jogadores estrangeiros, foi o primeiro a aceitar tenistas profissionais, em 1968. Em 1997, ele ficaria conhecido do público brasileiro após a conquista de Gustavo Kuerten, o primeiro tenista nacional (homem) a vencer um Grand Slam - fato que se repetiria em 2000 e 2001. 

Fonte: AERO Magazine

sábado, 7 de junho de 2014

IEAv

IEAv promove a Semana de Ciência e Tecnologia
O Instituto de Estudos Avançados (IEAv), vinculado ao Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), vai realizar, entre os dias 4 e 8 de agosto, a sua Semana de Ciência e Tecnologia. O evento vai dar origem ao III Simpósio de Ciência e Tecnologia (SCTI) e ao XIV Workshop Anual de Pesquisa e Desenvolvimento (WAI). O SCTI tem como objetivo divulgar os trabalhos de Iniciação Científica, Iniciação Tecnológica, Pós-graduação e demais pesquisas de cunho científico desenvolvidos no instituto. O evento busca, também, servir como instrumento de treinamento dos alunos-colaboradores na confecção e apresentação de artigos científicos. O SCTI compõe ainda a avaliação dos trabalhos do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) e do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (PIBITI) do IEAv, tanto interna quanto externamente. Durante o Simpósio, haverá apresentações orais e de pôsteres. O Workshop Anual de Pesquisa e Desenvolvimento do IEAv (WAI), por sua vez, possui dois objetivos principais: o primeiro, de caráter técnico, consiste na apresentação de trabalhos realizados no IEAv por meios de pôsteres e impressos, com o intuito de divulgar as atividades do instituto tanto interna como externamente; o segundo, de caráter institucional, busca a formação de um fórum de discussões em torno de um tema de importância para o instituto no momento.

Mais informações: www.ieav.cta.br

Fonte: ACS/DCTA Texto: Ten. Bittencourt

sexta-feira, 6 de junho de 2014

FAB na COPA

Conheça as ações da FAB durante a Copa
Na edição de junho, o programa FAB TV mostra as ações do Comando da Aeronáutica durante a Copa de 2014. Duas equipes de jornalismo fizeram um giro pelo Brasil para mostrar quais serão as atribuições dos militares da FAB em diferentes áreas, do controle do tráfego aéreo à defesa aeroespacial.

Fonte: Força Aérea Brasileira

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Aeronaves

Honduras pretende comprar A-29 da Embraer
Os governos do Brasil e de Honduras estão discutindo um contrato de fornecimento de ao menos quatro aeronaves militares A-29 Super Tucano, mais a revitalização de nove T-27 Tucano, comprados em 1984, e de um esquadrão completo de cinco caças F-5E, supersônicos americanos fornecidos nos anos 80. A aviação hondurenha quer a frota renovada para expandir as ações de controle do espaço nas fronteiras contra voos clandestinos do tráfico de drogas, contrabando de armas, a circulação irregular de pessoas e de mercadorias, componentes eletrônicos principalmente. Para validar o programa de policiamento do ar, o presidente Juan Orlando Marques sancionou a Lei de Exclusão Aérea, equivalente local à Lei do Abate brasileira. A regra determina que aeronaves em atitude hostil ou suspeita de ato ilícito – por exemplo, sem plano de voo, não identificada, adotando comportamento evasivo, ou não reagindo à abordagem de interceptadores – serão obrigadas a pousar sob condição controlada. Essa coação, em situação limite, pode chegar ao abate do invasor.

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Copa do Mundo

Força Aérea divulga estrutura do tráfego aéreo na Copa
Cerca de 12,7 mil militares, 77 aeronaves e apoio logístico sólido formam a estrutura responsável por garantir a fluidez do tráfego e a segurança do espaço aéreo do Brasil durante a Copa do Mundo. Com um esquema especial que inclui delimitação de áreas de restrição nas proximidades dos 12 estádios e policiamento aéreo, a Força Aérea Brasileira (FAB) está preparada para o Mundial. O contingente foi dividido em grupos de funções variadas: defesas aérea e antiaérea, segurança e defesa, recepção de autoridades, apoio logístico das bases aéreas e centro de operações militares. Uma atuação integrada já posta em prática em eventos como a Copa das Confederações, que teve jogos em seis cidades, e a Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro (RJ), em 2013. “Foi com essa mesma sincronia que os órgãos envolvidos desenvolveram um plano econômico e eficiente para a Copa do Mundo, mantendo a soberania nacional e a segurança dos voos durante 24 horas”, afirmou o comandante do Comando de Defesa Aeroespacial Brasileiro (Comdabra), major-brigadeiro do ar Antonio Carlos Egito do Amaral, em depoimento à revista Aerovisão, da FAB. O plano é semelhante ao das ocasiões anteriores. São três zonas de exclusão aérea nas cidades dos jogos: a área “branca”, reservada, que começa a cerca de 100 km dos estádios; a “amarela”, restrita (12,6 km); e a “vermelha”, proibida (7,2 km). O período de ativação dependerá da importância das partidas. Helicópteros, caças, aviões-radar e reabastecedores voarão durante as horas de exclusão.

Defesa marítima e fluvial
Não é apenas o espaço aéreo que estará mais protegido durante a Copa do Mundo. Ações de defesa de área marítima e fluvial, a cargo da Marinha, também englobam o planejamento das Forças Armadas para o evento. Atividades de patrulha e de inspeção naval serão intensificadas para garantir a segurança contra ameaças vindas do mar e do uso indevido das vias fluviais. O controle e a segurança do tráfego marítimo e fluvial, a salvaguarda da população e a prevenção e o combate da poluição hídrica serão fortalecidos. Vinte navios e 60 embarcações de pequeno porte atuarão especificamente durante a Copa.

Orçamento
Para assegurar a execução do planejamento Ministério da Defesa, o governo federal investiu, desde 2012, R$ 709 milhões na modernização e no preparo do aparato militar da Marinha, do Exército e da Aeronáutica. Parte desses recursos foi investida na aquisição de novos equipamentos e tecnologias, que ficarão como legado para as Forças Armadas utilizarem em novos eventos. A preparação para atuar na matriz de segurança da Copa do Mundo de 2014 começou há pelo menos quatro anos. Observadores militares foram enviados às Olimpíadas de Londres, em 2012, e à Copa do Mundo de 2010, na África do Sul, por exemplo.

Interceptação
É uma sequência de ações conduzidas com o objetivo de retirar uma aeronave suspeita de uma área de restrição aérea. Funciona mais ou menos assim: a presença da aeronave suspeita é detectada por um radar; a aeronave interceptadora é acionada e se aproxima da interceptada, se identifica e emite instruções de modo que a interceptada desvie sua rota ou pouse em um aeródromo próximo indicado. A interceptadora inclusive acompanha a interceptada até que ela se retire.

Fonte: FAB e www.brasil.gov.br

terça-feira, 3 de junho de 2014

Aeroportos

No RN, voos internacionais permanecem no Augusto Severo até dia 04
Os voos internacionais que chegam e partem de Natal serão operados no Aeroporto Augusto Severo, em Parnamirim, até que o novo aeroporto do Rio Grande do Norte, em São Gonçalo do Amarante, que começou a funcionar no dia 31 de maio de 2014, regularize a alfândega. O novo aeroporto começou a operar apenas com pousos e decolagens de voos domésticos. Segundo a Receita Federal, por conta do trâmite de um relatório com o resultado da inspeção no aeroporto construído para a Copa, ele só estaria liberado para receber voos internacionais no dia 4 de junho de 2014. Na prática, o alfandegamento é a autorização por parte da Receita Federal para que o terminal possa embarcar ou desembarcar viajantes e mercadorias procedentes do exterior ou a ele destinados.

segunda-feira, 2 de junho de 2014

Indústria Aeronáutica

Santa Catarina realiza seminário internacional de aviação
Palhoça é a cidade do Estado de Santa Catarina pioneira no setor aeronáutico, que tem ganhado destaque internacional. Para fomentar o mercado e tornar a Grande Florianópolis referência no setor, o Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) promoveu, no dia 29 de maio de 2014, o Seminário Internacional de Aviação, em Palhoça, trazendo representantes de três instituições importantes dos Estados Unidos e Canadá. Há proposta de uma empresa chinesa para a instalação de uma fábrica e montagem de helicópteros na cidade. É a primeira vez que o seminário foi realizado no Estado. A ideia surgiu após a visita da comissão da Fiesc (Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina), em 2013, na Sun ‘n Fun, a segunda maior feira do mundo de aviação, conforme o diretor do Senai em Palhoça, Marcos Hollerweger. Desde então, Hollerweger e o Comitê de Desenvolvimento da Indústria Aeronáutica da Fiesc buscam estreitar relações com as entidades internacionais do ramo para trazer novas tecnologias e aprimorar a atuação do Senai, que hoje conta com 22 cursos ligados à aviação em Palhoça, três deles de montagem e manutenção de aeronaves homologados pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil). São atendidos 180 alunos. Entre as instituições participantes do evento estão a Superior Air Parts, fabricante de motores para aviões, e a École Nationale D’Aérotechnique, universidade canadense. Entre os temas estão combustíveis para aviação, projetos de aeronaves desenvolvidos pelo software Catia e procedimentos de manutenção de aeronaves.
 

domingo, 1 de junho de 2014

Especial de Domingo

Do excelente acervo do INCAER - Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica, reproduzimos conteúdo sobre o Padre Bartolomeu de Gusmão, brasileiro precursor da aeronáutica, escrito pelo Cel Av R1 Manuel Bezerra Barreto Reale.
Uma magnífica história que sempre revisitamos com os integrantes do Núcleo Infantojuvenil de Aviação.
Boa leitura.
Bom domingo!

Padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão
O Sacerdote que sonhava voar


Na coleção de vultos que se destacam na História Universal das Ciências e das glórias nacionais, um nome assume um primacial relevo: Bartolomeu Lourenço de Gusmão. Bartolomeu viveu numa época em que as novas idéias eram muito incompreendidas e o mundo estava mergulhado nas trevas da Inquisição. Seria Bartolomeu de Gusmão, como é mais conhecido, somente um sacerdote ou um inventor? Hoje temos certeza de que foi muito mais que isso. Foi, antes de tudo, um visionário, um homem que, apesar de todas as pressões sofridas, foi um transgressor dos limites de seu tempo, indo muito mais além da imaginação dominante na época. Dedicado aos estudos, tanto o de natureza humana quanto o das necessidades físicas do momento, foi um sonhador. Via nos céus, ao mesmo tempo, a liberdade da sua imaginação visionária e aquela do homem que, despegado de suas raízes terrenas, poderia ascender, por meio de um engenho, ao firmamento, para vislumbrar o horizonte infinito. Possuidor de uma vasta cultura para o ambiente que reinava em Portugal na época era também poliglota, pois como fala Diogo Barbosa Machado: “Foi versado nas línguas principais, sabendo com pureza a Latina, falando com promptidão a Francesa, e a Italiana, e tinha grande inteligência da Grega, e Hebraica”. Incompreendido no seu tempo, ele foi acusado várias vezes de feiticeiro por alguns e satirizado por poetaços de valor duvidoso. Nesse mar de incompreensão, de crendices e de ignorância viveu até ao fim de seus dias Assim, por intermédio dessa sintética visão de sua vida poderemos exaltar e engrandecer os feitos desse brasileiro, pouco conhecido por nós, e apadrinhado pelos portugueses, como o homem que vislumbrou os ares como um meio de navegação e de observação da Terra e que deu aos homens o “insite” do domínio do ar.

Sua Infância
Bartolomeu nasceu na Vila de Santos, em dia ignoto do ano de 1685, tendo sido batizado numa Igreja Paroquial numa segunda-feira, 19 de dezembro de 1685. Como naquela época havia uma profundíssima fé, era comum que os recém-nascidos fossem logo batizados. Portanto, ele deve ter nascido, porventura, nesse mesmo dia, ou na véspera, ou, quando muito, na semana anterior, permanecendo até hoje essa indefinição. Nasceu num prédio que existiu na antiga Rua Santo Antonio, hoje Rua do Comércio, sendo o quarto de 12 filhos de Francisco Lourenço ou Francisco Lourenço Rodrigues, cirurgião-mor do presídio da então Vila de Santos, e de Dona Maria Álvares. Possuidor de profundas raízes brasileiras, conforme revela Pedro Taques, em sua “Nobiliarchia Paulistana”, descendia, por linha materna, de uma tetravó paulista, sendo também paulistas sua mãe, a avó, a bisavó e a trisavó, e, quanto à linha paterna, não se alcançou mais de duas gerações radicadas no Brasil. Torna-se, assim, o primeiro filho das terras do Novo Mundo cujo nome é cercado do mais alto realce, e inserido nas tábuas da História das Ciências. Muito se discutiu sobre o verdadeiro nome do Padre voador, pois ele utilizou e assinou várias vezes com nomes diferentes, embora todos convergissem para o utilizado nos últimos anos de sua vida. Bartolomeu assim se subscrevia: o nome de batismo Bertholameu Lourenço, com que assina os “Autos de Greve et Morisus”, conservados no Arquivo da Cúria Metropolitana de São Paulo; em seguida, o de Bartolomeu Lourenço, como está na sua famosa “Petição”; e, provavelmente, nos últimos anos de sua existência, em homenagem ao seu amigo e protetor Alexandre de Gusmão, aditou o nome de Gusmão. Pouco se sabe sobre a infância de Bartolomeu. Provavelmente cursou as primeiras letras na própria Capitania de São Vicente, no Colégio São Miguel, então o único estabelecimento educacional da região. Prosseguiu seus estudos na Capitania da Bahia, ingressando no Seminário de Belém, em Cachoeira, uma pequena povoação no Recôncavo Baiano, encravada no Vale do Rio Paraguaçu, onde seu profícuo espírito de inventor teria aflorado. No Seminário demonstrou raro talento para o estudo das Ciências e suas aplicações. Como manifestação de seu espírito ativo de transformar suas idéias em aplicações práticas, atua com rara inteligência numa deficiência que o Seminário sofria com a escassez de água para o serviço interno e para a alimentação. O Seminário, construído sobre um monte, ressentia-se de ter água para o seu consumo, tanto na alimentação como para os afazeres domésticos, tornando a comunidade totalmente dependente. Bartolomeu estudou o assunto e por meio de um cano e maquinismo fez subir ao convento a água de um brejo que ficava abaixo do nível do seminário 460 palmos, aproximadamente 101,20 metros. Ao término do curso no Seminário de Belém, em 1699, Bartolomeu retornou a Salvador, capital do Brasil à época, e ingressou na Companhia de Jesus, de onde saiu antes de se formar jesuíta, em 1701.

A Primeira Saída do Brasil
Viajou para Lisboa, onde chegou já famoso por sua memória extraordinária, ficando hospedado na casa do 3º Marquês de Fontes, que se impressionara com os dotes intelectuais do jovem. Contava ele então apenas 16 anos. Desde cedo evidenciou seu raro talento, uma cultura incontestável e uma portentosa capacidade de memorização. Nessa sua primeira ida a Portugal causou formidável impressão nos meios culturais lusitanos, por seu vasto leque de conhecimentos, e por sua personalidade, assim explicitada por Diogo Barbosa Machado, patriarca da bibliografia portuguesa:

“Sendo tão douto em várias ciências, nunca se lhe descobriu o menor sinal de vanglória; antes, sem afetação, era tão modesto no semblante como afável no gênio, parecendo muitas vezes a quem não o conhecia que não era depósito de tantos tesouros científicos.” 

Em 1702, Bartolomeu retornou ao Brasil, dando início ao processo de sua ordenação sacerdotal. Mais tarde, quando deixou o noviçado, ele pediu patente à Câmara da Bahia para o seu aparelho de anos atrás, o “invento para fazer subir água a toda a distância e altura que se quiser levar”. A Câmara concedeu o privilégio em 12 de dezembro de 1705. Em seguida, solicitou que o mesmo fosse estendido a todo o Estado do Brasil, o que foi concedido em 18 de novembro de 1706. Após esse processo, em 23 de março de 1707, ao requerimento foi dado despacho favorável pelo Rei D. João V. Foi essa a primeira patente de invenção outorgada a um brasileiro. A constatação da prodigiosa memória de Bartolomeu de Gusmão encontra-se num opúsculo inédito do Padre João Baptista de Castro, datado de 1766, e faz parte do Cod. CXII 12-14 da Biblioteca Pública de Évora: 

“Aprendendo eu filosofia no ano de 1715 com o rev. pe. Filippe Neri, da Congregação do Oratório, i fazer na casa da aula ao dr. Bartholomeu Lourenço de Gusmão, chamado o Voador, notáveis ostentações de memória local que pareciam exceder as forças humanas. Abria-se um livro de folha que ele nunca tinha lido; punha-se a ler duas ou quatro páginas de uma só vez, e as tornava a repetir fielmente; o que mais admirava era também repeti-las de baixo para cima. Foi um homem de grande esfera e que mereceu grandes aplausos nesta corte, mas malogrado.”

A Segunda Saída do Brasil e a Famosa “Petição”
Bartolomeu retorna a Portugal no fim de 1708 ou em 1709, data ainda imprecisa. Há relatos que afirmam sua matricula na Faculdade de Cânones da Universidade de Coimbra em dezembro de 1708. Como seu objetivo e sua pesquisa estavam voltados para a confecção do aeróstato, interrompe seus estudos e falta à última matrícula. Nesse ínterim concluiu seus estudos sobre sua grande invenção, que iria marcar essa época incontestavelmente e mostraria ao mundo a utilização do ar para benefício da Humanidade. Dirige a D. João V uma famosa petição, tendo Freire de Carvalho como primeiro a transcrever e que tem diversos apógrafos com variantes solicitando o privilégio para sua investigação, nos termos que se segue:

“Senhor. Diz o licenciado Bartholomeu Lourenço, que elle tem descoberto hum instrumento para andar pello ar, da mesma Sorte que pella terra, e pello mar, e com muito mais brevidade, fazendo se muitas Vezes duzentas, e mais legoas por dia no qual instrumento se poderão levar os avizos de mais importancia aos exercitos, e as terras muito remotas, quasi no mesmo tempo em que se resolverem, em que enteressa a Vossa Magestade muito mais do que nenhum dos outros Principes, pella Mayor distancia dos Seus dominios, evitandosse desta Sorte, os disgovernos das Conquistas, que procedam em grande parte de chegar muito mais tarde as noticias dellas a Vossa Magestade. Além do que poderá Vossa Magestade mandar vir o precioso dellas, muito mais brevemente e mais Seguro poderão os homens de negocio passar letra, e Cabedaes com a mesma brevidade, e todas as praças Citiadas poderão ser Socorridas, tanto de Gente, como de munições, e viveres a todo tempo e retirarem se dellas, todas as pessoas que quizerem. Sem que o inimigo o possa impedir; Discubrir se hão as Regiões que ficarão mais vizinhas aos Pollos do Mundo, sendo da Nação Portuguesa a gloria deste descobrimento que tantas vezes tem intentado inutilmente os estrangeiros; Saber se hão as Verdadeiras Longitudes de todo o Mundo, que por estarem erradas nos Mapas causão muitos Naufragios; Além de infinitas Conviniências que mostrará o tempo, e outras que por si são Notorias, que todas merecem a Real atenção de Vossa Magestade, porque deste invento tão Util Se podem Seguir Muytas discórdias, e facilitandosse e muito mais na confiança de Se poder passar Logo a outro Reyno, estando reduzido o dito Vso a huma só pessoa, a quem se mandem a todo o tempo as ordens que forem Convinientes, a Respeito do dito transporte, e prohibindosse a todas as mais, sob graves penas e he bem se Remunere ao Supplicante um invento de tanta importancia. Pede a Vossa Magestade Seja Servido Conceder ao Supplicante o privilegio de que pondo por obra o dito inventivo, nenhuma pessoa de qualquer qualidade possa Usar delle em nenhum tempo neste Reyno, e Suas Conquistas com quais quer pretextos, Sem licença do Supplicante ou de seus Herdeiros Sob pena de perdimento de todos seus bens (...).”

Como despacho à Resolução, segue o texto:

“Como parecer à Mesa: e além das penas, acrescento a de morte aos transgressores e para com mais vontade o Supplicante se aplicar ao novo instrumento, obrando os effeitos, que relata, lhe faço mercê da primeira Dignidade, que vagar em minhas Collegiadas de Barcelos, ou Santare, e de Lente de Prima de Mathematica na Minha Universidade de Coimbra, com seiscentos mil réis de renda, que crio de novo em vista do Supplicante somente. Lisboa, 17 de abril de 1709. Com rubrica de Sua Magestade.

As Experiências com Balões
Com o deferimento da sua Petição de Privilégio, e sempre protegido por D. João V, que reconhecia seu invulgar talento, resolve Bartolomeu realizar e tornar público seus experimentos. A leitura de documentos da época nos conduz a uma pequena síntese de que Bartolomeu construiu um aeróstato sem cubagem para criar força ascensional capaz de elevar um homem a luz do princípio de Arquimedes. Comprovadamente realizou quatro experimentos:

– Em 3 de agosto de 1709, quis fazer exame ou experiência, do invento de voar – para isso foi à casa que fica debaixo das embaixadas, na Sala de Audiências – que não surtiu efeito, sem que o balão se elevasse;

– Em 5 de agosto de 1709, na Sala das Embaixadas, com um meio globo de madeira delgado, e dentro trazia um globo de papel grosso, mantendo-lhe no fundo uma tigela com fogo material; o qual subiu 20 palmos e como o fogo ia bem aceso, começou a arder o papel subindo, sendo destruído pelos criados da Casa Real, receosos da propagação de um incêndio, assistindo a tudo Sua Majestade com toda a Casa Real e várias pessoas;

– Em 8 de agosto de 1709, no pátio da Casa da Índia diante de Sua Majestade e com muita fidalguia seu balão subiu suavemente à altura da sala das embaixadas e, do mesmo modo, desceu suavemente, caindo no Terreiro do Paço;

– Em 3 de outubro de 1709, no pátio da Casa da Índia, com o instrumento de voar que tendo, subido a bastante altura, desceu em seguida sem problema.

A “Passarola”


Os princípios físicos utilizados por Gusmão eram verdadeiros e o são até hoje. O ar, quando aquecido, perde densidade e torna-se mais leve do que o ar ambiente e tem como consequência dessa diferença de temperatura e densidade, sua elevação. Essa primazia de utilizar o ar quente nos balões para erguer um objeto às alturas é de Bartolomeu. Com a divulgação da sua “Petição”, aceita pelo Rei em 17 de abril de 1709, a qual notificava a cessão da patente de um “instrumento para se andar pelo ar”, que mais tarde seria conhecido por aeróstato ou balão, muito reboliço causou nos meios acadêmicos e no seio da população de Lisboa. Essa divulgação pública se ramificou em vários reinos europeus, que geraram uma divulgação maior com publicações contendo estampas fantasiosas que retratavam o invento como uma barca com um formato parecido com um pássaro que ficou conhecido vulgarmente como “Passarola”. As primeiras ilustrações da “Passarola” são de autoria do primogênito do 3º Marquês de Fontes, D. Joaquim Francisco de Sá Almeida e Menezes, com a conivência de Bartolomeu, pois o mesmo era seu aluno. Esperava, dessa maneira, melhor proteger o segredo confiado à sua guarda e, ainda, ludibriar os bisbilhoteiros. Atualmente, temos conhecimento de que a forma dos balões, utilizadas por Bartolomeu, nunca ficou bem determinada, sendo que a série de documentos e estampas apócrifos divulgados por seus adversários (inclusive por ele), muito contribuíram para a confusão e perfeita concepção do modelo. Como visto acima, é bem provável que Bartolomeu tenha divulgado a estampa da “Passarola” e outras falsas informações para camuflar suas observações, como fazia regularmente.

A Morte de Bartolomeu de Gusmão
Foi mergulhado num ambiente repleto de detratores, de superstições e ignorância, onde o Santo Ofício dominava por completo a consciência do Rei, que resultou a sua perseguição pelo Tribunal de Inquisição. Ciente de que seria declarado culpado em processo de calúnia e intrigas movido por seus opositores, e sua prisão decretada em 26 de setembro de 1724, antecipou-se a esse evento e fugiu com seu jovem irmão, João de Santa Maria, religioso carmelita de 24 anos. A intenção de Bartolomeu era refugiar-se em Paris, seguindo viagem via Madri. Sua saúde nesse período estava muito abalada e, quando se encontrava na cidade de Toledo, não resistiu e, debilitado, interrompeu sua viagem, vindo a falecer no Hospital de Misericórdia. Era dia 19 de novembro de 1724, uma data que não devemos esquecer. Bartolomeu retirava-se para sempre desse viver terreno, esse brasileiro notabilíssimo, que dera ao Brasil e a Portugal a primazia, na História, de serem os precursores da busca pelo domínio do ar e da Navegação Aérea. O momento em que Bartolomeu alçou seu voo mais alto e se despegou desse mundo está registrado na transcrição da Certidão de Óbito desse ilustre homem da Ciência, precioso documento que o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro recebeu em doação, acompanhando um certificado de Francisco Adolpho Varnhagen, encarregado de negócios do Brasil em Madri, e copiado por Dom Joaquim Martinez, cura colado da Igreja Paroquial de Santa Leocádia e São Romão, na cidade de Toledo, que o extraiu das folhas 115 do livro dos falecidos, que começou no ano de 1705 e terminou no ano de 1739.

O Reconhecimento


Bartolomeu deixou para seus pósteros, por meio de sua visão imaginativa de sonhador, o exemplo de persistência, de singular modéstia, de amável singeleza e candura d’alma, que de tal sorte acanhado, não parecia um guardião de tantos conhecimentos e saber. Dizia o Visconde de São Leopoldo que Gusmão nunca fez alarde dos seus profundos conhecimentos de humanidades, porém o seu saber era admirado por todos os seus contemporâneos. Para marcar o feito desse homem ilustre, a cidade e o povo de Santos homenageiam Bartolomeu de Gusmão com um monumento na Praça Rui Barbosa, que teve a pedra fundamental lançada em 12 de julho de 1922, na presença de convidados de honra, como a dos aviadores portugueses, Gago Coutinho e Sacadura Cabral. Criado pelo escultor italiano Lorenzo Massa, o monumento foi inaugurado em 7 de setembro de 1922, em meio às festas oficiais pelo Centenário da Independência do Brasil. Não podemos esquecer a magnitude de sua inteligência e do seu espírito inventor, que por seus diversificados estudos pôde-se destacar nos vários ramos da inteligência humana, como podemos citar a seguir: Na História, foi proeminente membro ativo da Academia Real de História Portuguesa. Preparando a resposta a um trabalho do conceituado Geógrafo Guilherme de Lisle, por incumbência do Governo português pôde destacar-se no campo da Geografia. Sua atuação destacada na célebre “Questão da Casa de Aveiro” pode demonstrar seus conhecimentos jurídicos. Compondo vários sermões, dissertações e versos, demonstrou seus dotes na área da Literatura. Nos estudos da Matemática, em toda sua extensão, excedeu ao conhecimento dos estudiosos do seu tempo em Portugal. Inventou mecanismos de elevar água, de aumentar o rendimento dos moinhos hidráulicos e engenhos de açúcar, além de outros, e enveredou pelo campo da Mecânica com imenso ardor e destaque. Culminando com o estudo dos balões, tornou-se precursor na Ciência Aerostática. Ainda foi muito além, atuando também nos campos da Diplomacia e da Criptografia, por designação de D. João V. Enfim, podemos afirmar, sem sombra de dúvida e com imenso orgulho, que Bartolomeu de Gusmão foi um visionário no seu tempo; foi um sonhador que procurou transformar seus sonhos em realidade e tornar-se o primeiro homem que vislumbrou nos céus o domínio do ar para a conquista da terra, portanto, com justa razão, o precursor da Aeronáutica no mundo. Por tudo que esse brasileiro nato realizou, fez-se credor e digno do título que o coloca numa posição de destaque no contexto da História Universal, reconhecido mundialmente e inserido na História da Aeronáutica brasileira como Patrono do Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica (INCAER). E como homenagem a esse brasileiro que sonhava voar, terminamos com esse lindo soneto de Olavo Bilac em sua homenagem:

O Voador

“Padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão, inventor do aeróstato,
Morreu miseravelmente num convento, em Toledo, sem
Ter quem lhe velasse a agonia.”

Em Toledo. Lá fora, a vida tumultua
E canta. A multidão em festa se atropela...
E o pobre, que o suor da agonia enregela,
Cuida o seu nome ouvir na aclamação da rua.

Agoniza o Voador. Piedosamente, a lua
Vem velar-lhe a agonia através da janela.
A Febre, o Sonho, a Glória enchem a escura cela,
E entre as névoas da morte uma visão flutua:

“Voar! varrer o céu com asas poderosas,
Sobre as nuvens! correr o mar das nebulosas,
Os continentes de ouro, o fogo da amplidão!...”

E o pranto do luar cai sobre o catre imundo...
E em farrapos, sozinho, arqueja moribundo
Padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão.

Fonte: INCAER

Texto: Cel Av R1 Manuel Bezerra Barreto Reale
Chefe da Divisão de Estudos e Pesquisa do Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica