Pilotos do Brasil e do Chile, há tempos, celebram, reciprocamente, a independência dos dois países
Anualmente, no dia 18 de setembro, o Chile celebra suas “Festas Pátrias”, comemorando a criação da Primeira Junta de Governo Nacional, que marcou o início do processo de independência da Coroa Espanhola, no ano de 1810. Trata-se da festividade mais importante do Chile, que tem seu ápice no dia 18, mas se estende durante todo o mês de setembro. As “Festas Pátrias” são marcadas por diversos eventos ao redor do país, ressaltando as tradições do povo chileno, suas danças e seu folclore, destacando, principalmente, o patriotismo da população.
Como parte das comemorações ocorreu, no dia 19 de setembro de 2021, a Gran Parada Militar, um desfile militar realizado em honra às glórias do Exército Chileno que aconteceu no Parque O'Higgins, em Santiago, capital do Chile. O evento é amplamente divulgado e participam da cerimônia as Forças Armadas e demais instituições de segurança do país. Neste ano, a Gran Parada Militar contou com a participação de um militar brasileiro, o Major Aviador Bruno Belani Ribeiro, que pilotou uma das aeronaves T-35 Pillán que sobrevoaram a cerimônia. O sobrevoo contou com dez aeronaves T-35 em formação, contribuindo para abrilhantar ainda mais o evento.
Instrutor no Chile
As aeronaves T-35 Pillán são utilizadas para instrução de voo na Escola de Aviação Capitão Manuel Ávalos Prado, responsável pela formação dos Oficiais de carreira da Força Aérea Chilena. O Major Belani, atualmente, desempenha a função de instrutor de voo na referida escola, como parte de um intercâmbio de instrutores de voo entre o Brasil e o Chile. Segundo o Major Belani, o intercâmbio de instrutores de voo é de grande importância, visto que promove a troca de experiências e o aprimoramento das técnicas de instrução de voo de ambos os países, além de fortalecer os laços diplomáticos entre o Brasil e o Chile. “Para mim, foi uma honra ter sido convidado a participar da Gran Parada Militar do Chile e contar com a oportunidade de sobrevoar a cerimônia junto aos demais instrutores da Escola de Aviação, grandes amigos que fiz aqui”, frisou.
Há 99 anos, piloto do Chile fazia o primeiro pouso de avião em Ubatuba (SP), comemorando a Independência do Brasil
Da mesma forma que major da Força Aérea Brasileira Bruno Belani Ribeiro, voou no Chile, em 2021, para comemorar as “Festas Pátrias” daquele país, no ano de 1922, quando o Brasil celebrava o centenário de sua independência, um piloto chileno voou no Brasil para celebrar a festa nacional. Na mesma época da festividade chilena, o capitão Diego Aracena Aguilar, fez o reide Santiago – Rio de Janeiro, escalando em cidades do Chile, Argentina, Uruguai e Brasil. Naquela travessia protagonizou o que foi a primeira aterrissagem de uma aeronave na cidade de Ubatuba (SP), no dia 14 de setembro de 1922.
No dia 25 de setembro de 1922 - após ter realizado o que foi, no dia 14, o primeiro pouso de uma aeronave em Ubatuba (SP) - o capitão do Exército do Chile, Diego Aracena Aguilar, foi conduzido até a vertical da cidade - onde seu avião De Havilland Airco DH-9 ficou indisponível, devido avarias sofridas na aterrissagem. Nesse ponto, assumiu o comando do hidroavião Curtiss HS2L número 11 da Aviação Naval do Brasil, para terminar o reide aéreo Santiago – Rio de Janeiro.
A operação foi uma gentileza da Marinha do Brasil para que o piloto chileno concluísse de avião o que foi a primeira travessia aérea desde a capital do seu país até a então capital do Brasil. Sua missão era trazer uma carta do presidente Arturo Alessandri ao presidente brasileiro, Epitácio Pessoa, saudando a Nação, em comemoração ao centenário da independência.
O primeiro pouso em Ubatuba
Havia 11 dias desde que Diego Aracena e seu mecânico Arturo Seabrook protagonizaram o que foi o primeiro pouso de uma aeronave em Ubatuba (SP). No dia 14 de setembro de 1922 eles, que estavam desde 29 de agosto em rota, passando por localidades do Chile, Argentina, Uruguai e Brasil, faziam a última etapa do reide, de Santos para o Rio de Janeiro. Todavia as más condições meteorológicas reinantes no litoral fizeram com que Aracena procurasse uma alternativa, optando por aterrissar na orla da baía de Ubatuba. Ele pilotava o biplano DH-9 número 92, batizado de El Ferroviario, em referência à doação, pelos trabalhadores ferroviários, do aparelho para o Exército do Chile. Após efetuado o toque no solo, quando estava prestes a parar, o trem de pouso bateu em uma fenda no gramado, provocando avarias nas rodas e asas. Em consequência, sem condições de reparos em Ubatuba, por meio telegráfico o comandante comunicou o fato às autoridades e ao embaixador chileno e deixou a cidade com destino ao Rio de Janeiro, a bordo do navio contratorpedeiro “Amazonas” (CT-1) da Armada.
No entanto, os militares brasileiros insistiram para que Diego Aracena concluísse a inédita travessia voando, conforme o planejado.
Assim, recebeu instruções de pilotagem do hidroavião Curtiss número 11 da Aviação Naval e, no dia 25 de setembro de 1922, a aeronave conduzida pelo primeiro tenente aviador naval Victor de Carvalho e Silva e tendo como mecânico Laudelino Pedro Barbosa o trouxe até Ubatuba. Depois de ter lançado, às 12 horas, uma mensagem para as autoridades e o povo ubatubense, Aracena assumiu o comando do Curtiss e voou até o Rio, após uma escala de abastecimento na Ilha Grande, terminando a longa travessia, a fim de comemorar com os brasileiros o centenário da independência.
O DH-9 El Ferroviario ainda permaneceria em Ubatuba até o dia 6 de outubro de 1922, quando foi embarcado no contratoperdeiro “Alagoas” (CT-6) da Marinha do Brasil e levado ao Rio de Janeiro, para reparos e retorno ao Chile.
Comemoração do Centenário
A comemoração do Centenário do Primeiro Pouso de Avião em Ubatuba, em 14 de setembro de 2022, é uma ideia nascida entre entusiastas de aviação reunidos pelo Núcleo Infantojuvenil de Aviação – NINJA, no Espaço Cultural Aeronáutico de Ubatuba estabelecido no Colégio Dominique. No último 14 de setembro, os participantes de um evento chamado Café Voador dialogaram a respeito. Devido à envergadura da proposta, concluíram que a atividade de interesses cultural, turístico e histórico somente será viabilizada se houver engajamento da administração pública e de entidades privadas, notadamente dos setores cultural e turístico, haja vista demandas externas não comportadas pelas ações voluntárias dos colaboradores do NINJA. Desta forma, voluntários do Núcleo estão buscando os apoios para a eventual comemoração.
Fotos: Adidancia Chile, Acervo do NINJA e da Marinha do Brasil
Fontes: FAB e NINJA
Saiba mais: Livro “Sobre o Mar de Iperoig: a aviação em Ubatuba” e Blog do NINJA de 16/09/2021.
Clique aqui