Passados 100 anos do primeiro pouso de uma aeronave em Ubatuba (SP), ainda há oportunidade para abordar fatos decorrentes daquele feito, ocorridos alguns dias depois. Como o sobrevoo da cidade, em 25 de setembro de 1922, por um avião da Marinha do Brasil. A operação foi para que o comandante daquele significativo acontecimento pudesse concluir a primeira travessia aérea desde a capital do Chile, Santiago, até o Rio de Janeiro, então capital brasileira. O evento celebrou o Centenário da Independência do Brasil.
Boa leitura.
Bom domingo !
Há 100 anos, Diego Aracena sobrevoava Ubatuba, com a Aviação Naval, para concluir o reide Santiago do Chile - Rio
No dia 25 de setembro de 1922, há exatos 100 anos, o piloto chileno, Capitão Diego Aracena Aguilar, ao meio dia, assumiu o comando do hidroavião número 11 da Aviação da Marinha do Brasil, exatamente na vertical de Ubatuba (SP), e rumou para o Rio de Janeiro, para concluir, como planejado, o primeiro reide aéreo Santiago do Chile – Rio.
O número 11 da Aviação Naval era um Curtiss HS-2L e o seu emprego por Aracena foi uma gentileza da Marinha do Brasil, para que o oficial do Exército do Chile pudesse terminar a sua jornada, após ter protagonizado, no dia 14 de setembro de 1922, o primeiro pouso de um avião em Ubatuba, porém com danos na célula do seu aparelho original.
O monomotor biplano De Havilland Airco DH9 atingiu, no momento da corrida de desaceleração, uma fenda oculta na vegetação rasteira na praia do Itaguá, escolhida como local de aterrissagem alternativa. Ele optara pela localidade, já que condições meteorológicas impediram a sua navegação direta, desde Santos à então capital brasileira, Rio de Janeiro.
O capitão Diego Aracena, após o pouso em 14 de setembro de 1922, permaneceu hospedado por dois dias em Ubatuba, de onde, por telegrafia da Estação na rua do Telégrafo (atual rua Conceição), avisou às autoridades a interrupção de sua viagem e solicitou remoção por via marítima. Assim, no dia 16, ancorou em Ubatuba o contratorpedeiro CT-1 Amazonas da Marinha do Brasil, que o levou para o Rio, onde entregou uma carta do presidente chileno Arturo Alessandri Palma ao presidente do Brasil, Epitácio Pessoa, felicitando o povo brasileiro pelo Centenário da Independência.
A carta
Dizia a carta:
Arturo Alessandri, Presidente da República do Chile, a Sua Excelência o Presidente da República dos Estados Unidos do Brasil [Epitácio Pessoa]
Grande e Bom Amigo:
Resolvi fazer chegar às mãos de Vossa Excelência, por meio de um de nossos mais esforçados navegantes aéreos, as saudações cordiais e afetuosas do Governo do Povo do Chile, que se associa, nestes momentos solenes, de todo coração para a memória do Centenário Comemorativo da Liberdade do grande povo irmão.
O aviador chileno portador desta mensagem representa um símbolo que manifesta como que se não existissem dificuldades, nem obstáculos invencíveis para os chilenos, quando se trata de confraternizar com o povo brasileiro e de revigorar os vínculos tradicionais e inalteráveis de afeto e amizade que nos tem unido estreitamente no passado e que marcam, da mesma forma, nossa marcha para o futuro.
Faço votos muito sinceros pela prosperidade e grandeza dos Estados Unidos do Brasil e pela felicidade e ventura pessoal de Vossa Excelência.
Escrita e assinada em Santiago, no Palácio de La Moneda, selada com o Selo das Armas da República, conduzida pelo ministro de Estado no Departamento de Relações Exteriores, a 26 de agosto de 1922.
Assinado: Arturo Alessandri
Treinamento na Marinha do Brasil
Tendo o avião de Aracena permanecido em Ubatuba, oficiais da Marinha do Brasil o incentivaram a concluir em voo a sua missão. Desta forma, instrutores da Aviação Naval o treinaram para pilotar um hidroavião do tipo Curtiss HS-2L. No dia 25 de setembro, os brasileiros Tenente Victor de Carvalho e Silva e o Sargento mecânico Laudelino Pedro Barbosa e mais o Capitão chileno Diego Aracena rumaram para um sobrevoo de Ubatuba. Aracena, às 12 horas, lançou uma mensagem de saudação ao povo do lugar e assumiu o comando do número 11 e aproou o Rio de Janeiro. Fez uma parada técnica em Baptista das Neves, na Ilha Grande, para reabastecimento de gasolina. Às 15h56 já estava próximo ao Pão de Açúcar e, às 16h10, aterrissou em frente à rampa dos hangares da Aviação Naval, encerrando, portanto, o reide aéreo Santiago - Rio.
O mesmo Curtiss HS-2L número 11 da Aviação Naval foi protagonista de outro importante fato na história da aeronáutica no Brasil. No dia 15 de agosto de 1919, havia feito a travessia Ilha das Enxadas - Ilha Grande, inaugurando o Correio Aéreo da Esquadra, precursor do Correio Aéreo Naval.
Alguns dias depois, no dia 06 de outubro de 1922, o avião DH9 de Aracena, batizado de El Ferroviario, seria embarcado, em Ubatuba, no convés do contratorpedeiro CT-6 Alagoas, da Armada Brasileira, e transportado ao Rio de Janeiro, para reparos e retorno ao Chile.
O reide
Pela primeira vez um avião aterrissaria em Ubatuba, em decorrência da pioneira travessia aérea Santiago - Rio de Janeiro, numa ação diplomática, em comemoração ao centenário da independência do Brasil.
O reide começara no dia 29 de agosto de 1922, passando por cidades do Chile, Argentina, Uruguai e Brasil. Inicialmente a grande viagem contava com dois aviões, mas um deles ficou retido por motivos técnicos em Castellanos, na Argentina. Tendo entrado no espaço nacional com pousos em Pelotas, Porto Alegre, Torres, Florianópolis e Santos, o capitão Aracena voava, no dia 14 de setembro de 1922, sua última etapa para o Rio de Janeiro, quando condições meteorológicas adversas determinaram a procura de um local alternativo de pouso e a opção foi Ubatuba, naquela época com cerca de 10 mil habitantes. Na corrida de desaceleração no gramado da orla da praia do Itaguá, o DH-9 atingiu uma fenda no solo e teve danos nas rodas e asas, embora os tripulantes tenham saído ilesos.
Saiba mais: Livro “Sobre o Mar de Iperoig: a aviação em Ubatuba” e
Blog do NINJA de 14/09/2022 (
Clique aqui) e de 16/09/2021 (
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