Voltamos a publicar o capítulo 4 de Os Balões de Observação
na Guerra do Paraguai, de autoria do Tenente-Brigadeiro RR
Nelson Freire Lavenère-Wanderley, em edição do INCAER. O conteúdo completo poderá ser acessado no link ao final do texto.
Boa leitura.
Bom domingo!
As operações dos balões de observação
Os balões de observação operaram na
Guerra do Paraguai durante os meses de
junho, julho, agosto e setembro de 1867;
prestaram valioso serviço, mas as suas
operações foram grandemente prejudicadas pelas dificuldades de fabricação de
hidrogênio, em campanha.
1 - Os balões de observação
Os dados técnicos sobre os balões de
observação de que se tem conhecimento constam de um relato feito por um
correspondente de guerra, Sr. Manuel
A. de Mattos, e publicado no jornal “La
Esperanza” da cidade argentina Corrientes, em 14 de julho de 1867 (vide Anexo
II - link ao final do texto); de acordo com o referido artigo, os
balões de procedência norte-americana,
trazidos pelos aeronautas Allen, teriam,
respectivamente: o menor, 8,5 metros de
diâmetro e 17.000 pés cúbicos de gás e o
maior, 12,19 metros de diâmetro e 37.000
pés cúbicos de gás.
Usados como balões cativos, os balões
de observação tinham sua capacidade de
carga diminuída devido ao elevado peso
das cordas de amarração, que eram três
para diminuir as oscilações do balão
causadas pelo vento; nessas condições, o
balão menor podia levar, normalmente,
duas pessoas; o balão maior poderia levar
seis a oito pessoas.
Os balões norte-americanos eram confeccionados com tecido de algodão; depois de prontos, recebiam várias camadas
de verniz, para proteger a tela e para diminuir a fuga do gás.
Uma seção de balões de observação
compunha-se de um a dois balões do
equipamento necessário para a produção
de hidrogênio e para a manutenção e a
operação dos balões, de um aeronautachefe e do seu assistente e de trinta a cinquenta homens, chefiados por um oficial,
para sustentar as cordas de amarração
do balão, para as manobras de subida e
descida do balão e para os deslocamentos
do mesmo durante a ascensão; quando o
balão estava em ascensão estacionária, as
suas cordas podiam ser amarradas a ponto fixos, com estacas.
Uma vez o balão cheio, ele podia ser
levado para qualquer trecho da frente de
combate, onde se fizesse necessária a observação aérea.
Os suprimentos indispensáveis para
a fabricação de hidrogênio e, portanto,
para a operação dos balões eram: ácido
sulfúrico e limalha ou aparas de ferro, estas últimas produto da usinagem de peças de ferro, nas fábricas e nas oficinas; o
melhor rendimento na fabricação de hidrogênio era obtido com o uso da limalha
de ferro, por causa da maior superfície do
metal em contato com o ácido; na falta de
limalha de ferro, foram usados na Guerra
do Paraguai sucata de ferro, pregos etc.,
tudo já enferrujado, dificultando a reação
química e tornando extremamente demorada a produção da quantidade necessária
de hidrogênio, que não era pequena, dada
a cubagem dos balões.
Os geradores de hidrogênio, usados
pelo Professor Lowe na Guerra de Secessão tinham uma capacidade de produção
de 30.000 pés cúbicos em três horas, desde que se dispusesse de limalha de ferro
como matéria prima.
No fim de um certo número de dias,
com o balão cheio de hidrogênio, tornava-se necessário adicionar mais gás porque o balão ia, lentamente, se esvaziando,
dada a permeabilidade do seu invólucro.
Nas ocasiões de vento muito forte, era
necessário esvaziar o balão, com perda do
hidrogênio, sob risco de se perder o balão
no caso de arrebentarem as cordas, pela
força do vento agindo sobre a grande
superfície do balão, ou pelo risco de ser
dilacerado o tecido do balão.
Conforme o comprimento e o peso
das cordas de amarração e o grau de enchimento do balão, este podia subir a trezentos metros ou mais.
A comunicação entre os aeronautas,
ou observadores aéreos, a bordo do balão em ascensão, e o pessoal em terra era
feita por meio de mensagens lastradas, de
sinais de semáfora com bandeirolas ou
outros sinais visuais ou por meio de telegrafia com fio; não há notícia, porém, de
que a telegrafia com fio tenha sido usada
nos balões de observação da Guerra do
Paraguai.
2 - As dificuldades na fabricação de
hidrogênio
|
Equipamento para a produção de hidrogênio. |
As dificuldades com a fabricação de
hidrogênio para o enchimento dos balões
limitaram grandemente a operação dos
balões de observação; a principal causa
foi a falta da limalha de ferro.
Os suprimentos para a fabricação de
hidrogênio, limalha de ferro e ácido sulfúrico deviam ter sido embarcados no Rio
de Janeiro, no mesmo vapor que trazia os
balões, o que não aconteceu.
Quando os balões chegaram em Passo
da Pátria, os aeronautas Allen tiveram de
lançar mão do ácido e da sucata de ferro, existentes em Corrientes, deixados
pelo aeronauta francês Doyen; a sucata era composta de pregos grandes e de
pedaços de ferro de 5,10 e 15 libras, inadequados para uma produção normal de
hidrogênio.
Assim mesmo, a primeira remessa desse ácido e desse ferro só chegou a Passo
da Pátria em 19 de junho, o que fez com
que a primeira subida do balão fosse feita em 24 de junho de 1867, mais de três
semanas após a chegada dos balões em
Tuiuti.
Depois das primeiras ascensões do balão pequeno, o único que se podia cogitar
de encher, dadas as dificuldades com a
produção de hidrogênio, voltou a faltar o
ferro em dimensões menores.
Esses problemas de suprimento eram
levados ao Marquês de Caxias que, já em
28 de junho de 1867 dizia, visivelmente
agastado, em carta ao Ministro da Guerra:
“Depois de ter escripto a V. Exª a 10
do corrente, chegaram o Jaguaribe e o
Leopoldina, conduzindo Tropa, e alguns
objectos de fardamento para o Exército; mas o General Aguiar ou o Arsenal,
de Guerra da Corte, esqueceu-se de me
mandar a limalha de ferro, que é indispensavel para a ascenção dos balões: e o
Americano, James Allen, que d’elles veiu
encarregado, diz serem lhe precisas nada
menos que dez mil libras da dita limalha,
para preparar o gaz necessario. Veja V.
Exª como hei-de eu poder, n’estas alturas
e em vesperas de marcha, satisfazer esta
exigencia:
O peior é - ver-me em tal aperto, quando - justamente me poderiam os balões
ser mais uteis, para os frequentes reconhecimentos, que são indispensáveis, do
terreno por onde vou marchar, que muito se presta a - occultar qualquer Força,
que possa o inimigo fazer passar para retaguarda da minha, quando com ella eu
tomar a direção de S. Solano.”
(Arquivo Nacional – “Coleção Caxias”)
Depois de ter chegado, da Corte, alguma quantidade de ferro e de ácido, houve
várias ascensões do balão; mas, a partir de
22 de julho faltaram novamente o ácido e o ferro; em 7 de agosto chegaram 28
vidros de ácido e grande quantidade de
zinco em folha; o zinco podia, também,
ser utilizado para produção de hidrogênio, mas com o grave inconveniente da
presença de arsênico o qual afetava a tela
dos balões; na falta de material melhor, ficou resolvido que seriam usadas as folhas
de zinco, mesmo que isso acarretasse um
desgaste mais rápido dos balões.
Em 17 de agosto chegou, em Passo
da Pátria, uma partida de ferro de tão má
qualidade que foi lançado mão do recurso de recolher, para a produção de hidrogênio, todos os aros velhos de ferro que
vinham envolvendo os fardos do feno
destinado à alimentação da cavalhada.
Nunca se conseguiu encher completamente o balão grande, mas, vencendo
todas as dificuldades, as ascensões continuaram a ser feitas com o balão menor
durante os meses de agosto e setembro
de 1867, enquanto os exércitos aliados, na
ofensiva, se deslocavam para o norte.
A última ascensão do balão de observação foi feita em 25 de setembro de 1867;
tendo o balão perdido, mais uma vez, gás
e a força ascensional, estando novamente
esgotados os estoques de ácido e de ferro
e em face das condições mais difíceis para
o emprego do balão, numa guerra de movimento, o Marquês de Caxias deu ordem
para que o balão fosse recolhido à base de
operações em Tuiuti.
Lá ficaram os balões até o mês de
dezembro; no dia 7 do referido mês, os
aeronautas Allen tiveram ordem para embarcarem, juntamente com os balões, no
vapor “Alice” que partia no dia seguinte,
e irem se apresentar, na Corte, no Ministério da Guerra.
3 - As principais operações dos exércitos
aliados nos meses de julho, agosto
e setembro de 1867
Depois de uma longa estabilização da
frente, face às fortificações de Curupaiti
e Humaitá, os exércitos aliados, sob o comando do Marquês de Caxias, iniciaram
uma ofensiva, em 22 de julho de 1867,
executando a famosa “marcha de flanco”.
Executando um amplo movimento
desbordante, os exércitos aliados se deslocaram ao longo das margens norte e sul
do Estero Bellaco, enquanto a 1ª Divisão
de Cavalaria, sob o comando do Brigadeiro José Luís Mena Barreto, foi lançada em
exploração para o norte, na direção geral
de S. Solano e Vila do Pilar.
As forças do Exército Brasileiro marcharam pela margem sul do Estero Bellaco, tendo a vanguarda transposto o passo
de Tio Domingos no dia 24 de julho.
No dia 25 de julho o grosso das forças,
com o qual marchava o Marquês de Caxias, cerrou sobre a posição da vanguarda;
nos dias 25 e 26 não houve deslocamentos de maior importância.
No dia 28 de julho foi retomado o movimento, já agora na direção oeste, tendo
a vanguarda se aproximado da povoação
de Tuiu-Cuê; no dia 29 esta localidade foi
ocupada, enquanto a vanguarda repeliu o
inimigo que se achava no Passo das Canoas, mais para oeste.
Em 31 de julho o Marquês de Caxias instalou o seu Quartel General em Tuiu-Cuê.
Em 3 de agosto a cavalaria aliada se
apossou de S. Solano tendo, em seguida,
cortado em dez pontos a linha telegráfica
que ligava Assunção a Humaitá.
Em 15 de agosto a Esquadra Brasileira forçou a Passagem de Curupaiti, no rio
Paraguai.
Em 20 de setembro de 1867 foi tomada a Vila do Pilar, na margem esquerda
do rio Paraguai, ao norte das posições
fortificadas do inimigo.
4 - As ascensões realizadas pelo balão
de observação antes do início da
“marcha de flanco”
Apesar de todas as dificuldades com a
aquisição, o transporte para o Teatro de
Operações e com o enchimento dos balões de observação, após a sua chegada,
ainda foi possível realizar 12 ascensões,
durante o mês que antecedeu o início da
ofensiva planejada pelo Marquês de Caxias, justamente na fase em que o comandante em chefe necessitava ativar a busca
de informações sobre as posições e atividades inimigas e sobre o terreno a ser
percorrido.
Como já dissemos, todas as ascensões foram feitas com o balão menor, de
17.000 pés cúbicos, dada a impossibilidade da obtenção do hidrogênio para encher o balão maior.
A 1ª ascensão foi realizada no dia 24
de junho de 1867, tendo o balão sido deslocado, depois de cheio, três quilômetros
para aproximá-lo da frente, na região de
Tuiuti; subiu como observador aéreo o
Major Engenheiro R. A. Chodasiewicz,
polonês a serviço do exército argentino,
que realizou um reconhecimento das posições inimigas e do terreno.
O balão de observação operou durante
os meses de inverno, com ventos fortes frequentemente varrendo as planuras do
chaco paraguaio.
No dia 3 de julho, estando o balão
cheio, não foi possível realizar a ascensão
devido às más condições atmosféricas; no
dia 4 de julho, durante a noite, foi providenciado o esvaziamento do balão porque a forte ventania estava ameaçando a
integridade do balão; no dia 6 de julho,
apesar de estar o balão novamente cheio,
não pôde ser realizada a ascensão devido
ao mau tempo.
A 2ª ascensão do balão foi realizada
no dia 8 de julho, no local do estacionamento do balão em Tuiuti, tendo o balão
permanecido 50 minutos a uma altura de
760 pés; o observador aéreo foi o Major
Chodasiewicz, que realizou novos reconhecimentos das posições inimigas e do
terreno; a 3ª ascensão do balão foi realizada no mesmo dia e com a mesma finalidade, tendo o balão sido levado para
o acampamento da lª Divisão comandada
pelo General Argôlo; durante a 3ª ascensão, que durou mais de uma hora e meia a
uma altura de 860 pés, o balão foi deslocado, paralelamente à frente, até o flanco
direito aliado, onde desceu; os observadores da 3ª ascensão foram o Major Chodasiewicz e o Tenente paraguaio Cespedes,
vaqueano conhecedor da região; durante
essa ascensão a artilharia paraguaia atirou
na direção do balão.
Durante os dias 9, 10 e 11 de julho
as ascensões não puderam ser realizadas
devido à intensidade do vento e ao mau
tempo.
O dia 12 de julho de 1867 foi um dia
de grande atividade do balão: durante esse
dia foram realizadas a 4ª, a 5ª, a 6ª e a 7ª ascensões. A 4ª ascensão foi realizada no
centro do dispositivo aliado, tendo durado
45 minutos e tendo o balão atingido a
altura de 350 pés; foram observadores o
Major Chodasiewicz e o Capitão brasileiro
de Estado-Maior Francisco Cezar da
Silva Amaral; o balão, depois de cheio,
foi deslocado quatro quilômetros para
se aproximar da frente, onde realizou
novos reconhecimentos. A 5ª ascensão,
que durou mais de uma hora e atingiu a
altura de 400 pés, foi iniciada no centro
das posições aliadas, tendo o balão sido
rebocado numa extensão de quatro
quilômetros, paralelamente à frente, na
direção do flanco leste dos aliados; foram
observadores o Major Chodasiewicz e
o Tenente Cespedes. A 6ª ascensão, no
flanco leste, durou 45 minutos e atingiu
a altura de 620 pés; foram observadores
o Major Chodasiewicz e o Capitão Silva
Amaral.
A 7ª ascensão, também no flanco leste, teve como observador o Major Chodasiewicz, tendo o balão sido deslocado
mais 2 quilômetros para leste.
No dia 13 de julho foi realizada a 8ª ascensão, no centro das linhas aliadas, com
duração de 50 minutos; o Capitão Silva
Amaral e o 1º Tenente brasileiro Manoel Peixoto Cursino do Amarante fizeram
reconhecimentos das posições aliadas e
do terreno; ainda no dia 13 de julho foi
realizada a 9ª ascensão, no mesmo local,
tendo trabalhado como observadores o
Tenente Cursino do Amarante e o Tenente Cespedes.
Depois das primeiras ascensões do balão, os paraguaios passaram a lançar mão
do recurso de, cada vez que subia o balão, acender fogueiras, numa tentativa de
ocultarem as suas fortificações com a fumaça; é interessante transcrever aqui um trecho, que trata do assunto, da obra de L.
Schneider: “A guerra da Tríplice Aliança
contra o Govêrno da República do Paraguay” - edição de 1876:
“A primeira ascensão effectuou-se em
principios de junho, sendo o balão preso
por meio de cordas de 600 pés de comprimento. Os soldados que seguravam
estas cordas tinham ordem de dirigir a
machina dentro dos entrincheiramentos
de uma extremidade para outra, O aeronauta, acompanhado de um official do estado maior, determinava os movimentos
dos soldados por meio de bandeirolas,
de modo que o aerostato se conservava
sempre fóra do alcance dos tiros Paraguayos, que, apesar de todos os esforços,
nelle não puderam acertar. Por fim, deixaram de fazer pontaria contra o balão e
dirigiram o fogo contra as cordas. Houve
alguns ferimentos, mas tambem estavam
soldados de reserva para que esse sucesso
não transtornasse a direção da machina
aérea. Nada conseguindo por meio dos tiros, lançaram mão os Paraguayos de outro
expediente, ainda assim não proveitoso:
quando o balão subia ao ar, faziam muita fumaça diante dos entrincheiramentos,
queimando palha secca, mas nem por isso
impediram que se reconhecesse o numero de seus 106 canhões e 3 morteiros e o
terreno interior até o Passo Pucú. Comtudo os exploradores não chegaram á altura
necessaria para recoahecerem aquella porção de territorio que era de maior interesse. Quando pela primeira vez appareceo
o aerostato assustaram-se muito os rudes
Paraguayos, principalmente porque ficando elle durante algum tempo encuberto
aos olhares por uma nuvem, suppuzeram
que os aeronautas tinham a faculdade de occultal-o quando quizessem. Por fim
habituaram-se e perderam o medo desde
o momento em que se convenceram que
de cima não era possivel bombardear suas
linhas.”
Durante os dias 15, 16, 17 e 18 de julho
o balão não foi utilizado, devido a fortes
ventanias.
Durante o dia 19 o balão cheio foi deslocado quatro quilômetros na direção do
flanco direito dos aliados mas, devido aos
fortes ventos iniciados, teve que ser trazido de volta ao seu local de estacionamento, em Tuiuti.
Aproximava-se o início da ofensiva e
o comando em chefe anciava por novos
reconhecimentos, tanto do inimigo como
do terreno a ser percorrido na “marcha
de flanco”.
No dia 20 de julho foi finalmente realizada a 10ª ascensão, no centro do dispositivo aliado, com duração de 47 minutos;
foram observadores aéreos dois oficiais
brasileiros: o Capitão de Engenheiros
Conrado Jacob de Niemeyer e o Capitão
de Estado-Maior Antônio de Sena Madureira. No mesmo dia foi realizada, no
flanco direito, a 11ª ascensão, com duração de 50 minutos, tendo o balão atingido
a altura de 550 pés; foram observadores
aéreos o Major Chodasiewicz e o Capitão
Silva Amaral.
Na véspera do início da marcha dos
exércitos aliados, no dia 21 de julho, foi
realizada a 12ª ascensão, no centro da linha de frente, para reconhecimento das
fortificações inimigas na frente da Divisão Argolo; subiram, como observadores, os Capitães Silva Amaral e Conrado
Niemeyer.
5 - As ascensões realizadas pelo balão
de observação durante a “marcha de
flanco”
|
O balão de observação frente a Humaitá
(“James Allen’s Scrapbook” - Biblioteca do
Congresso Washington). |
No primeiro dia da “marcha de flanco”, dia 22 de julho de 1867, o balão foi
levado para a região onde estacionou a
vanguarda das forças brasileiras, a qual
se tinha deslocado pela margem sul do
Estero Bellaco; para isso foi necessário
deslocar o balão a uma distância de 10 a
12 quilômetros do campo de estacionamento do balão em Tuiuti.
Uma vez iniciada a guerra de movimento, as dificuldades, naturalmente, aumentaram; isto porque as manobras com
o balão passaram a ser feitas em terreno
desconhecido, porque o pessoal que operava o balão passou a dormir ao relento
e porque não havia possibilidades de recompletar, diariamente, o hidrogênio do
balão que ia, aos poucos, perdendo a sua
força ascensional.
A 13ª e a 14ª ascensões foram realizadas no fim da primeira jornada da “marcha de flanco”, na região da vanguarda;
subiram, como observadores, o Capitão
Conrado Niemeyer e dois oficiais engenheiros cujos nomes não ficaram registrados.
No dia 23 de julho o balão teve que
ser esvaziado, devido ao risco de incêndio
e explosão decorrente das queimadas em
torno do local em que se achava o balão.
Em face da falta de ácido e de ferro
para a produção de hidrogênio, que se
fazia sentir desde o dia 22 de julho, os
aeronautas Allen receberam ordem, no
dia 25 de julho, para levarem o balão de
volta para Tuiuti, onde passaram os dias 27, 28 e 29 de julho fazendo uma revisão
do material e procedendo a novo envernizamento dos balões.
Somente no dia 7 de agosto foi que
chegaram a Tuiuti o ácido sulfúrico e uma
grande quantidade de zinco.
Em 12 de agosto chegou a ordem para
que fosse procedido o enchimento do balão e para que ele fosse levado para TuiuCuê, onde o Marquês de Caxias tinha instalado o seu Quartel General.
Em 14 de agosto foi iniciado o deslocamento do balão, partindo de Tuiuti;
depois de percorridos 10 quilômetros, foi
necessário parar devido aos fortes ventos
que ameaçavam arrebatar o balão; depois
que o vento amainou ainda foram percorridos, nesse dia, mais 10 quilômetros.
No dia 15 de agosto foi realizada a 15ª
ascensão, já na região de Tuiu-Cuê, onde
o balão tinha chegado às sete e meia da
manhã; esta ascensão foi muito útil para
reconhecer as posições inimigas e o terreno, em frente das novas linhas atingidas
pelos exércitos aliados; foram observadores o Capitão Silva Amaral e o Tenente
Cespedes.
A partir da 15ª ascensão, a numeração
atribuída às ascensões deixa de ser exata
porque no principal documento de referência, o relatório do aeronauta James Allen, datado de 31 de dezembro de 1867 e
encaminhado ao Ministro da Guerra (vide
Anexo III), são usadas expressões indefinidas, como “muitas ascensões” e “as
ascensões”, referindo-se a um determinado dia em que o balão foi empregado;
em cada um desses casos considerou-se
como tendo havido um mínimo de duas
ascensões.
No dia 16 de agosto foram realizadas
em Tuiu-Cuê, pelo menos, duas ascensões, que seriam a l6ª e a 17ª; foram observadores o Major Chodasiewicz, o Capitão Silva Amaral e um oficial cujo nome
não ficou registrado.
No dia 17 de agosto o balão foi levado
para as posições aliadas a oeste de TuiuCuê e lá foram realizadas, pelo menos,
duas outras ascensões, que seriam a 18ª
e a 19ª; foram observadores o Major
Chodasiewicz e o Capitão Silva Amaral.
No dia 19 de agosto deixou de ser realizada a ascensão devido aos fortes ventos.
No dia 21 de agosto foi observado que
o balão tinha perdido força ascensional
devido à fuga do gás; o balão foi esvaziado e conduzido para Tuiuti, para novo
enchimento; lá ficou aguardando o ácido
e o ferro necessários, esgotados desde o
dia 12 de agosto.
No dia 16 de setembro foi recebida ordem para encher o balão e levá-lo para
a linha de frente; no dia 17 de setembro
chegou em Passo da Pátria algum ácido e
uma pequena quantidade de ferro de tão
má qualidade que foi julgado preferível
lançar mão do recurso de recolher, como
matéria-prima, os aros de ferro que envolviam os fardos de feno (alimento da
cavalhada).
Tendo se conseguido, finalmente, encher o balão, este é deslocado no dia 24
de setembro para Tuiu-Cuê.
No dia 25 de setembro de 1867 foi realizada a 20ª e última ascensão do balão,
no flanco direito das posições aliadas, a
5 quilômetros de Tuiu-Cuê e próximo às formidáveis fortificações de Humaitá; a
ascensão durou 45 minutos e foram observadores o Capitão Silva Amaral e dois
oficiais cujos nomes não ficaram registrados.
Depois dessa ascensão, tendo o balão
perdido, novamente, a força ascensional,
foi esvaziado e conduzido, definitivamente, para o acampamento de Tuiuti.
Em várias das vinte ou mais ascensões
realizadas, o aeronauta James Allen subiu
no balão, juntamente com os observadores; nas outras ascensões ficava no solo,
superintendendo as manobras de subida,
deslocamento e descida do balão.
Pela descrição das ascensões realizadas,
verificamos que o balão de observação
prestou importantes serviços na busca de
informações sobre o inimigo e o terreno.
As deficiências de ordem logística, relacionadas com o suprimento de ácido
sulfúrico e limalha de ferro, para a produção de hidrogênio, impediram a utilização
do balão maior, o de 37.000 pés cúbicos,
e diminuíram, de muito, o rendimento
operacional do balão menor.
Fonte: INCAER