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Voar é um desejo que começa em criança!

domingo, 28 de julho de 2019

Especial de Domingo

A homenagem a Santos Dumont com a presença do 14 bis na abertura das Olimpíadas, em 2016, no Rio de Janeiro, foi bastante oportuna. O aparelho, considerado pela Federação Aeronáutica Internacional como o primeiro avião aplicável, dada a característica de independência na decolagem e no pouso, é uma das máquinas extraordinárias criadas por este brasileiro tão querido. Dada a repercussão mundial dos Jogos Olímpicos, foi natural naquela ocasião a reação dos norte americanos em questionar pelas redes sociais a primazia do Wright Flyer, aeronave de asas fixas desenvolvida pelos irmãos Wright, anterior ao 14 bis, mas que só conseguia decolar com a ajuda de dispositivos de lançamento. Pensamos que não se trata de um debate justo, pois, uma análise menos apaixonada, revelará que outros nomes - de diversas nacionalidades - contribuíram para tornar real o desejo de voar. Polêmicas a parte, o conjunto da obra de Santos Dumont é magnífico, incluindo a dirigibilidade dos balões e o desenvolvimento do primeiro ultra leve do mundo, o Demoiselle, entre diversos feitos e qualidades notáveis. Com o destaque na abertura dos jogos, certamente, a curiosidade levou milhões de pessoas a pesquisar sobre Santos Dumont, cidadão genial e criativo que tanto elevou o nome do Brasil.
Nesta oportunidade, concluindo uma série de postagens ocorrida nos últimos dias, naquela que batizamos de Semana Santos Dumont, o Blog do Ninja volta a publicar texto e planos de aula para o ensino fundamental, selecionados em Nova Escola, contribuindo para estimular em crianças, jovens e adultos o estudo das ideias e realizações de Alberto Santos Dumont.
Boa leitura.
Bom domingo!

Voar: o sonho, o projeto e a realização de Santos Dumont
14 bis (ilustração de Martini)
Paris, 12 de novembro de 1906. Para os padrões da época, o tráfego aéreo na cidade - mais precisamente no Campo de Bagatelle - promete movimento. Duas geringonças, ambas mais pesadas do que o ar, recebem os últimos preparativos para a disputa de um cobiçado prêmio oferecido pelo Aeroclube da França. O brasileiro Alberto Santos Dumont (1873-1932) é o piloto e criador de uma dessas máquinas, o 14 Bis. Elegante, ele dá a vez ao colega francês Gabriel Voisin (1880-1973), que tentará a proeza a bordo do Blériot IV, projetado e construído por Louis Blériot (1872-1936). Apesar de competirem, o clima entre eles é amigável. As peripécias de "Santô", como era chamado o brasileiro, famoso por ter tornado os balões dirigíveis em 1901, atraíam bom número de aficionados e curiosos, além das comissões previamente convocadas para garantir credibilidade aos fatos. O desafio naquele dia: voar 100 metros em linha reta, em um avião capaz de decolar por meios próprios e pousar em segurança. Começa a prova. O Blériot IV faz barulho com seus dois potentes motores, acelera... e quase se desintegra. Ao avançar na "pista", bate em uma irregularidade e as duas hélices tocam o chão e se partem, comprometendo outras peças da estrutura. "Agora é com você, meu amigo", diz Voisin a Santô. O brasileiro é o centro das atenções, o que lhe serve de combustível extra. Ágil e franzino (apenas 50 quilos), escala a nacele (o cesto de vime, posto de comando do 14 Bis) e, com um movimento de braço, pede que os presentes abram caminho. Dá a partida, acelera... e na primeira tentativa fica 40 metros no ar. Em seguida, 60 metros e algumas peças danificadas no pouso. Após reparos, à tarde, alcança 82,6 metros (sempre a favor do vento). Na quarta oportunidade, o relógio marca 16h45, uma intuição: por que não decolar contra o vento? Em instantes, o 14 Bis levanta voo. Sobe 1 metro, 2, 3... Para evitar os observadores boquiabertos e na mira do avião, Santos Dumont comanda uma leve inclinação do leme para cima e alcança espantosos seis metros de altitude, passa sobre todos, evita um desastre e inicia uma curva sutil. Então desacelera (ninguém sabe se devido a um problema ou a um comando) e inicia a aterrissagem. Uma das asas toca o solo antes das rodas e sofre pequenas avarias. O piloto está bem, mas não pode pôr os pés no chão. A plateia em êxtase carrega nos ombros o autor do primeiro voo homologado da história, registrado nos anais da Federação Aeronáutica Internacional: 220 metros.

Os pais da aviação
Mais de cem anos depois, é tempo de homenagear esse brasileiro genial. Na escola, sua vida e obra rendem debates sobre a física do voo e o método científico e também sobre design. Diferentemente do que muitos pensam, Santos Dumont não foi, sozinho, o pai da aviação. A história seria outra se não existissem personagens como o brasileiro Bartolomeu Lourenço de Gusmão (1685-1724), inventor do balão de ar quente, o alemão Otto Lilienthal (1848-1896), o inglês Percy Pilcher (1866-1899), os americanos Samuel Langley (1834-1906) e os irmãos Orville (1871-1948) e Wilbur Wright (1867-1912), os franceses Clément Ader (1841-1926), Octave Chanute (1832-1910), Henry Farman (1874-1958), mais os já citados Voisin e Blériot, entre outros. Cada um a seu modo, uns mais idealistas, outros com inclinações bélicas ou de olho no retorno financeiro, todos foram importantes inventores e, como tal, devem ser considerados pais da aviação. Pesquisar esses nomes é uma tarefa estimulante e necessária. De todos esses pais, Santos Dumont é o principal. Ele reuniu em seus aparelhos, de forma precisa, adequada e simples, a essência de tudo o que se produziu no campo aeronáutico na frenética virada do século 19 para o 20. "Conseguia isso porque tinha a capacidade de fazer uma análise crítica dos inventos de seus contemporâneos e antecessores, de aprender com os erros e acrescentar detalhes geniais, que faziam toda a diferença", afirma Henrique Lins de Barros, pesquisador titular do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas do Ministério da Ciência e Tecnologia e autor de três livros sobre a vida e obra do inventor. A história do 14 Bis é prova dessa competência. Asas biplanas já haviam sido propostas por Chanute antes da virada do século. Dumont incorporou o conceito das células de Hargrave, pipas em formato de caixa criadas pelo australiano Lawrence Hargrave (1850-1915). Com isso, aumentou a resistência e a estabilidade. Para obter equilíbrio, optou por um diedro positivo acentuado (a inclinação das asas em forma de V), como já havia feito Lilienthal em seus planadores. O aileron, aba colocada na ponta das asas para evitar o giro longitudinal do avião, já havia sido empregado, ainda que sem sucesso, pelo neozelandês Richard Pearse (1877-1953). O motor a gasolina, então novidade, era um Antoinette de oito cilindros, que equipava lanchas e foi adaptado pelo fabricante, Léon Levavasseur (1863-1922), a pedido do brasileiro. Para ajustar esse mosaico, Santô brilhou na definição das medidas. A grandeza quase desproporcional das asas e a envergadura de 11,46 metros era o segredo da sustentação, que se completava com a escolha precisa do centro de gravidade, pouco atrás da posição do piloto.

Sucessão de acertos...
Além disso, Dumont era mestre na seleção de materiais. Com cana- da-índia, um tipo de bambu, ele armou a estrutura das células. Com freijó, madeira nobre da Amazônia, construiu o caixão central. Para os estais (tirantes que travavam o esqueleto do avião), empregou cordas de aço (de piano). Da experiência de balonista, tirou a ideia de entelar o avião com seda japonesa, impermeabilizada com cera de abelha e parafina, para reduzir o atrito. Uma roda de bicicleta, ao alcance da mão esquerda, comandava o leme horizontalmente. Um manete servia de acelerador. Duas rodas maiores eram o trem de pouso. Apesar do aparente improviso, o projeto era preciso. E de execução rápida: apenas três meses de trabalho até a conclusão, em 19 de julho de 1906. Antes da façanha de 12 de novembro, o 14 Bis já havia realizado voos mais curtos. Em 23 de outubro, Dumont reuniu imprensa, convidados e a sempre presente Comissão do Aeroclube da França. A todos, avisou que tentaria ganhar o Prêmio Archdeacon, de 3 mil francos, proposto pelo advogado em 1904, ao aviador que conseguisse completar 25 metros acima do solo num aparelho capaz de decolar por meios próprios em terreno plano. E voou 60 metros.

...e alguns erros também
Se acertou em muitos pontos, Santos Dumont errou em outros, que faziam do 14 Bis um projeto fadado ao abandono (o que se deu em abril de 1907, após uma queda que praticamente o desmontou). A decolagem estava resolvida com o leme à frente, mas o equilíbrio em voo era precário. A configuração canard (pato, em francês), com a asa atrás e o leme à frente, não foi uma boa escolha. "É como atirar uma flecha ao contrário", afirmava. Mas essa era a intuição coletiva da época. Para levantar voo, acreditava-se que o caminho era criar uma força para cima na parte frontal da aeronave. Era difícil imaginar, naquele tempo, a atual concepção: o leme fica na parte de trás e, ao ser inclinado para cima, provoca uma força para baixo. Como em uma gangorra, a frente do avião se ergue, aumentando o ângulo de ataque das asas. Ainda sem dominar esse conceito, mas certo de que o leme traseiro oferecia mais equilíbrio durante o voo, Dumont inverteu a configuração nos modelos seguintes. Porém, como o trem de pouso ficava muito à frente, não permitindo o efeito gangorra, os aviões (o 15 e o 17) não decolaram. De uma aposta entre amigos, sobre quem construiria o veículo mais veloz para deslizar na água, saiu o 18, um hidroplanador e, com ele, a solução para a decolagem. O 18 possuía asas e leme submersos. "Ao rebocá-lo com uma lancha num teste no rio Sena, Dumont deve ter notado que a inclinação causada pelo reboque fazia o aparelho 'levantar voo'", arrisca o pesquisador Henrique Lins. Nos modelos seguintes (19 e 20), batizados de Demoiselle (libélula ou senhorita, em francês), o inventor instalou asas inclinadas, que, na posição de decolagem, ofereciam o ataque necessário à subida. O 20 foi o primeiro avião produzido em série. O idealista e sonhador Dumont, herdeiro de uma enorme fortuna, jamais patenteou suas criações. O projeto do Demoiselle foi publicado em uma revista científica e oferecido a qualquer empresa que quisesse construí-lo. Apesar de não precisar trabalhar para se sustentar, produziu intensamente. Entre 1898 e 1908, desenhou 26 projetos, dos quais 23 foram construídos e testados. Conquistou os céus e o respeito de todos. Quando abandonou a carreira, passou a divulgar a importância da aviação como meio capaz de aproximar os povos e encurtar distâncias. Infelizmente, teve um fim prematuro. Já na década de 1910 o corpo acusava sinais de esclerose múltipla. Testemunhou a Primeira Guerra e, em conversas íntimas, expressava seu desgosto com o uso militar do avião. No auge de uma crise de depressão, suicidou-se num quarto de hotel no Guarujá, litoral paulista, em 23 de julho de 1932, aos 59 anos.

Mais de 100 anos e ainda voa
Se restava dúvida sobre o suposto pioneirismo dos irmãos Wright, que afirmavam ter voado antes de Santos Dumont, em 1903, com o Flyer, a questão foi esclarecida há alguns anos. Em uma cerimônia promovida pelo ex-presidente americano George W. Bush na Carolina do Norte, para celebrar o centenário (deles), uma réplica do Flyer alçaria voo na presença de convidados ilustres. Motor acionado, o aeroplano acelerou, deslizou na plataforma de lançamento... e atolou na lama, alguns metros à frente. Um ano antes, o empresário e piloto goiano Alan Calassa, fã de Santos Dumont, iniciou um ambicioso projeto: criar uma réplica perfeita do 14 Bis. Ou melhor, quatro. A primeira foi doada ao Musée de L'Air, na França, em 2005. A segunda percorreu as capitais brasileiras numa mostra itinerante. A terceira está nos Estados Unidos, para a EAA Air Venture Oshkosh, mais famosa exposição anual de aeronáutica do mundo. A quarta réplica, de treinamento (sim, todas voam), fica no hangar de Calassa, no aeroporto de Caldas Novas, a 180 quilômetros de Goiânia.

ALBERTO SANTOS DUMONT
O criador do 14 Bis nasceu em 20 de julho de 1873, no sítio Cabangu, então distrito de João Gomes, em Barbacena (MG). Hoje, a cidade se chama Santos Dumont. Morreu em 23 de julho de 1932, no Hotel de La Plage, no Guarujá (SP).

AO INFINITO E ALÉM
A imagem que abre esta matéria é um belo trabalho artístico do ilustrador Martini para mostrar como os esboços do avião se transformaram, de fato, numa fabulosa máquina de voar. A ilustração foi feita em cima de uma foto histórica: a do primeiro voo do 14 Bis, realizado em 23 de outubro de 1906, no Campo de Bagatelle, em Paris.

Marca Duradoura

O nome e a imagem de Santos Dumont se espalharam pelo mundo de diversas formas. No Brasil, é tema até hoje de uma série de selos comemorativos dos Correios.

No início do século 20, os feitos do inventor ilustraram as estampas que impulsionavam as vendas do sabonete Eucalol.

Em 1973, ano do centenário de seu nascimento, a imagem clássica, com o chapéu de abas caídas, foi gravada em placas de licenciamento de veículos.

Pioneiro do design

Um estilista em Paris
Santos Dumont criava o próprio figurino. E ditava moda — logo onde — em Paris. Suas marcas registradas de elegância eram o chapéu tipo panamá com a aba caída, os colarinhos altos, os ternos risca-de-giz e os sapatos com saltos levemente aumentados, para disfarçar sua baixa estatura.

Para ganhar espaço em sua pequena casa construída em Petrópolis, inventou o meio-degrau, que obriga a pessoa a usar sempre o mesmo pé para iniciar a subida. Na escada externa, é o direito. Na interna, o esquerdo.

Ao seu amigo Louis Cartier, Dumont contou como era difícil olhar o relógio (de bolso, até então) durante os voos. E sugeriu ao joalheiro a criação de um modelo de pulso. A moda pegou.

Um balde com furos no fundo, alimentado por duas fontes de água — uma delas quente, aquecida a álcool. Acionando duas alavancas, Santos Dumont obtinha a mistura certa para um banho confortável.

Construir um hangar para abrigar os imensos dirigíveis do final do século 19 até que era fácil. Mas abrir e fechar suas portas era um problema. Não para Santos Dumont, que inventou essas enormes portas de correr.

Plano de aula
Ideias simples e práticas
Santos Dumont idealizou uma série de objetos, todos em busca de soluções práticas para problemas do cotidiano: um motor para produzir eletricidade a vento, um arco-e-flecha gigante para lançar coletes salva-vidas ao mar, um mecanismo para colocar petiscos adiante de cães de corrida e um aparelho para ajudar esquiadores cansados a subir montanhas. No Brasil, ele construiu uma pequena casa em Petrópolis (RJ).
Sem paredes internas, tem os ambientes separados por três planos: pequena oficina mecânica, uma câmara escura para fotografias, sala de estar/jantar e biblioteca, banheiro com chuveiro e, acima dele, um escritório/dormitório, com mesa que se transforma em cama.
A professora de Artes Vera Barros, de São Paulo, sugere contar aos alunos sobre esse outro lado de Santos Dumont e explorar dois temas ligados ao design.
Fale sobre a chamada Casa Básica (Basic House) do espanhol Martin Ruiz. Feita de poliéster metalizado, infla com o calor. Reversível e dobrável, pode ser guardada no bolso e só pesa 200 gramas. E converse sobre o conceito less is more (menos é mais), proposto pelo arquiteto alemão Mies van der Rohe (1886-1969), que buscava simplicidade, economia de meios e síntese de idéias. 
Por fim, lance duas questões: como percebemos os objetos que usamos no dia-a-dia? Que características os designers agregaram a eles para termos, ao mesmo tempo, prazer estético, conforto e segurança?

A física do voo

Bicicleta com asas
Com o manete acoplado ao manche, Santos Dumont comandava a aceleração e o movimento vertical do leme. Girando a roda, controlava o movimento horizontal do 14 Bis, que tinha outras duas rodas de bicicleta no trem de pouso.

Da água para o ar
O Antoinette V8 equipava lanchas, mas por encomenda de Dumont foi adaptado para funcionar com injeção de combustível diretamente nos cilindros. Com isso, aumentava a potência para 50 cavalos. 
Foto: Divulgação

Aileron para sempre
Usados até hoje, os ailerons, estabilizadores na ponta das asas, controlam o giro do avião. No primeiro voo, não equipavam o 14 Bis. Preso a eles por cabos de aço, Dumont inclinava o corpo lateralmente para movimentá-los.
Foto: Carlos Costa

Como num balão
Herança do Santos Dumont balonista, a cesta de vime, o cockpit do 14 Bis, é a única peça que restou do original. Hoje ela está exposta no Museu Aeroespacial do Rio de Janeiro, na capital fluminense. 
Foto: Tadel Fessel

Desenho de pipa
A construção celular do 14 Bis é inspirada nas células de Hargrave, grandes caixas quadradas e vazadas. Uma delas é o engenhoso leme desenhado por Dumont, que reunia numa só peça os controles horizontal e vertical da aeronave.
Foto: Carlos Costa

V de voador
Com asas inclinadas em forma de V, Dumont sabia que a estabilidade era maior. No Flyer, dos irmãos Wright, o ângulo era inverso. Faça um aviãozinho de papel e veja qual das opções é melhor.
Foto: Carlos Costa

Plano de aula
Vamos brincar de aviãozinho
Brincar de aviãozinho, desta vez, não vai ser motivo para repreender os alunos. A sugestão das professoras Glória Queiroz, do Instituto de Física da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, e Solange Cardozo, da rede pública carioca, é usar o brinquedo para apresentar conceitos da física do voo. A atividade, no Ensino Fundamental, pode se estender por até seis etapas, conforme a série. Aqui, você conhece as quatro primeiras, indicadas até a 4ª série.
Distribua uma folha em branco para cada aluno e peça que todos respondam: o que é voar? Em seguida, proponha a construção, nessa mesma folha, de algo capaz de voar. Leve algumas das frases para o quadro e confronte-as com a definição do dicionário. Apresente uma foto de Santos Dumont e pergunte o que sabem sobre ele. Leia um texto (esta reportagem ou, nas séries iniciais, livros infantis) sobre a história da aviação e do inventor. Em seguida, organize um concurso de lançamentos com as seguintes categorias de avaliação: distância percorrida, altura alcançada e suavidade do pouso. Para não centralizar a decisão, crie uma comissão responsável por julgar os voos. Por que alguns modelos tiveram mais sucesso do que outros? Divida a classe em grupos e proponha que eles tentem melhorar o desempenho.
Serão comuns formatos assimétricos ou com as asas inclinadas para baixo, impedindo a ação equilibrada das forças de sustentação. Nesse caso, sugira inverter a inclinação. Um avião com bom desempenho, visto por trás, tem a forma da letra Y. Outros vão dar cambalhotas. Nesse caso, as asas não estão no lugar certo em relação ao centro de gravidade. Os conceitos físicos, nesse momento, não precisam ser aprofundados. O melhor é que as crianças tentem alterar o equilíbrio do avião prendendo a ele pequenos pesos (clipes, por exemplo).
As mudanças podem ser observadas pendurando o planador por um fio. Reorganize as ideias com novas questões: que coisas, objetos e seres vivos voam?
Por que voam? Muitas respostas, apesar de incompletas do ponto de vista científico, vão demonstrar que conceitos imprescindíveis à explicação do voo já estão presentes. Já será possível, entretanto, colocar um pouco de ordem na casa e diferenciar o voo do avião de outros (animais, foguetes, pipas, helicópteros).

Quer saber mais?
BIBLIOGRAFIA
Conexão Wright-Santos Dumont, Salvador Nogueira, 380 págs, Ed. Record
Santô e os Pais da Aviação, Spacca, 168 págs., Ed. Cia. das Letras
Santos Dumont e a Invenção do Voo, Henrique Lins de Barros, 190 págs., Ed. Jorge Zahar
Santos Dumont O Homem Voa!, Henrique Lins de Barros, 63 págs., Ed. Contraponto
Santos Dumont, Um Herói Brasileiro, Antonio Sodré, 240 págs, Ed. Arindiuva
CINEMA
Santos Dumont O Homem Pode Voar, documentário de Nelson Hoineff

Fonte: Nova Escola

sábado, 27 de julho de 2019

Direto de Oshkosh

Imagens de ontem, 26 de julho, da Oshkosh AirVenture 2019

Saiba mais: www.eaa.org

Semana Santos Dumont

Santos Dumont (20/7/1873 - 23/7/1932), nosso admirável Pai da Aviação, sempre guiou a si mesmo na conquista do conhecimento. No texto de Alexandre Medeiros, que voltamos a publicar, veremos como ele trilhou os primeiros passos de seus estudos técnicos. O presente artigo está baseado em parte do primeiro capítulo do livro Santos Dumont e a Física do Cotidiano, do mesmo autor (Editora Livraria da Física, São Paulo, 2006).

Santos Dumont e seu professor de física
O próprio Santos Dumont relata em suas memórias que o seu pai, um engenheiro que havia estudado na França, na École Centrale des Art et Métiers, conhecendo a sua paixão pelas questões técnicas e científicas, recomendou que ele fosse para Paris onde deveria procurar um especialista em Física, Química, mecânica e eletricidade. Segundo relata Santos Dumont, o seu pai aconselhou-o ainda a estudar aquelas matérias e ter sempre em mente que o futuro do mundo estava na mecânica. Analisando este trecho das memórias de Santos Dumont e tendo em mente que a mecânica e a eletricidade são partes integrantes do que denominamos de Física, somos tentados a achar o seu discurso um tanto redundante ou até mesmo equivocado. Entretanto, o verdadeiro significado presente nas palavras do velho Henrique Dumont deve ser interpretado como uma sugestão para que o jovem Alberto concentrasse os seus esforços nas mais recentes aplicações da mecânica e da eletricidade, ou seja, nos campos da engenharia mecânica e da nascente engenharia elétrica. Além disso, o velho Henrique, conhecendo bem o espírito indômito porém introvertido de seu filho, que dificilmente se adequaria a qualquer rigidez curricular, reforçou a recomendação dada ainda na primeira viagem a Paris para que ele procurasse um bom professor particular como alternativa ao tradicional ensino formal universitário. Santos Dumont iniciou os seus estudos mais avançados em Paris na primavera de 1892 e logo em seguida, já em agosto daquele mesmo ano, receberia a terrível notícia do falecimento de seu pai no Brasil. Após a morte de Henrique Dumont, Alberto frequentou livremente, sem qualquer compromisso formal, durante cinco anos, de 1892 a 1897, as aulas que lhe interessavam nos cursos de engenharia na Sorbonne e também no College de France. Este é um detalhe muito importante de sua formação intelectual, destacado por Gérard Hartmann, mas praticamente ignorado por muitos dos seus biógrafos. No ano seguinte, de 1893, com 21 anos de idade, Santos Dumont passou um tempo na Inglaterra, durante o qual frequentou, novamente como um aluno ouvinte, provavelmente aulas de navegação no Merchant Venturers’ Technical College da cidade de Bristol , onde alguns de seus primos eram estudantes regulares. Ele se interessou por aquela instituição, que daria origem à Universidade de Bristol, também provavelmente devido à sua forte reputação na área da engenharia, especialmente na área de navegação. Não existem, contudo, registros escritos oficiais daquele seu período naquela instituição, pois um bombardeio ocorrido na Segunda Guerra Mundial destruiu uma parte relevante dos arquivos da instituição. Como destaca Henrique Lins Barros, temos, entretanto, o relato de um colega seu daquela época, o brasileiro Agenor Barbosa. Segundo ele, Santos Dumont era um aluno pouco aplicado, ou melhor, nada estudioso para as ‘teorias’, mas de admirável talento prático e mecânico e, desde aí, revelando-se, em tudo, um gênio inventivo.


O seu guia principal nos seus estudos acadêmicos não foi, entretanto, nenhum dos professores a cujas aulas tenha ele eventualmente assistido na Sorbonne, no College de France e nem mesmo no Merchant Venturers’ Technical College de Bristol. Naqueles locais, Santos Dumont nunca seguiu currículos regulares, nem jamais estudou de um modo mais formal. Na verdade, o grande orientador dos seus estudos foi ele mesmo, com a sua liberdade indômita e o seu desejo incontido de guiar o próprio destino, de buscar os seus próprios caminhos. Durante aqueles cinco anos formativos, ele não apenas estudou, mas também fez algumas viagens, não apenas à Inglaterra. Tudo isso fazia parte de sua auto-educação. Há relatos na literatura, por exemplo, sua escalada ao Monte Branco, o ponto mais alto da Europa e que muito o teria deslumbrado. O seu amor pelas alturas ultrapassava agora em muito a simples subida da torre Eiffel realizada ainda em sua primeira viagem a Paris. Naqueles seus anos de estudos, ele não ia muito a festas e bebia pouco, mas já começava a frequentar a animada noite parisiense, embora sem o mesmo destaque em relação ao que obteria anos depois, após os seus arriscados vôos de balão. Para relaxar, ele recorria também aos novos carros adquiridos. Deixou de lado o seu Peugeot e comprou um novo e mais potente De Dion e também um triciclo Dion-Button com motor de dois tempos. Ele tinha mais automóveis que qualquer outra pessoa em Paris, mas aquelas suas caras engenhocas quebravam frequentemente. O lado bom dessa deficiência primitiva dos seus automóveis é que aquilo obrigava-o a tornar-se cada vez mais íntimo dos segredos da máquina a explosão.

Ele fez novamente outras tentativas de voar em um balão esférico com os demonstradores de feiras, mas todas elas sem o esperado sucesso, pois aqueles indivíduos exigiam-lhe quantias absurdas e exageravam nos perigos da aventura. Santos Dumont chegou a comentar em seus escritos que era como se eles quisessem guardar os segredos da aerostação apenas para si mesmos. Assim, entre algumas viagens, noitadas e passeios de automó- veis, ele seguia a sua vida de dedicação aos estudos em Paris naqueles anos de 1892 a 1897. Desde o início desse seu período formativo em Paris, Santos Dumont seguiu à risca o conselho de seu pai e conseguiu um bom professor particular, não propriamente para guiá-lo, mas sim para auxiliar nos seus estudos individuais. Ele conta que logo conseguiu como tutor um antigo professor universitário francês, de origem espanhola, chamado Garcia e que veio a lhe ensinar praticamente tudo o que sabia sobre a Ciência. O próprio Santos Dumont contanos, em seu livro O Que Eu Ví; O Que Nós Veremos, que estudou com o professor Garcia por muitos anos e que de fato não apenas estudou, mas que também viajou bastante naqueles anos formativos do seu conhecimento científico. Não se sabe ao certo quem era esse tal professor Garcia, onde ele havia lecionado nem mesmo qual era o seu primeiro nome. Tudo o que se sabe, de fato, a respeito deste misterioso personagem, é que ele parece ter sido realmente a única pessoa a ter lecionado determinados conteúdos de Física de forma regular a Santos Dumont, ainda que de um modo bastante informal e bem adequado à personalidade do seu abastado, inteligente e caprichoso aluno. Mas, afinal, como foram os tais estudos de Santos Dumont com esse tal professor Garcia, entre 1892 e 1897? Quase todas as suas biografias omitem este seu importante período formativo, justamente o período no qual Santos Dumont estudou uma série de coisas que lhe interessavam, dentre elas a Fí- sica. Como saber, portanto, como teria sido esta sua formação? Paul Hoffman descreve este período da vida de Santos Dumont como uma fase na qual ele teria mergulhado intensamente nos estudos, chegando a tornar-se um autêntico “rato de biblioteca”. Não sabemos até que ponto uma tal inferência é de fato verdadeira, mas ela parece bastante factível, apesar das diversões já assinaladas, se levarmos em conta os seus interesses muito claros nos conhecimentos que desejava adquirir. Não se deve, entretanto, inferir de uma tal afirmação que ele tenha seguido alguma coisa semelhante a um rígido programa de estudos traçado pelo tal professor Garcia, a quem ele parecia muito estimar. O verdadeiro programa de estudos de Santos Dumont foi estabelecido por ele mesmo, certamente com a ajuda de Garcia, mas jamais comandado por este.

Peter Wykeham, outro importante biógrafo, conjectura com muita sensatez que mercê das características muito peculiares da personalidade de Santos Dumont e dos seus interesses específicos de estudo, Garcia deve ter sido não propriamente um guia, mas sim um conselheiro seguro, alguém em que ele podia confiar e com quem podia tirar as suas dúvidas sobre os assuntos estudados. Ele, de início, deve ter tentado outros professores, como conjectura Wykeham, mas não deveria ser tarefa fácil para mestres aposentados enfrentar uma entrevista com um jovem estrangeiro pequenino e dono de si mesmo, plenamente consciente de suas possibilidades. Garcia parece ter sido um achado feliz, um mestre, possivelmente aposentado, de Ciências e engenharia e que teria tido uma atitude positiva em relação a Santos Dumont - sempre receoso do ridículo - e diante de quem Alberto não se sentia constrangido em revelar os seus anseios aeronáuticos. Garcia visitava-o, provavelmente, todos os dias e trazia consigo algumas sugestões interessantes das muitas opções de estudo em Paris, de cursos que valeriam a pena serem seguidos ou de palestras que mereceriam ser assistidas. Ele deveria auxiliar Santos Dumont, sobretudo, a ter uma atitude de avaliação crítica em face das muitas possibilidades de acesso ao conhecimento disponíveis naquela grande cidade. Garcia dava-lhe aulas particulares sobre conteúdos específicos, discutia com ele as coisas interessantes que houvesse visto em alguma palestra ou aula que tivesse presenciado recentemente em alguma Universidade, alguma questão interessante aparecida nos livros que ele lia com frequência e, além disso, tirava as suas dúvidas, quando necessário. O professor Garcia dava-lhe, sem dúvida, uma ajuda inestimável, mas não era jamais um verdadeiro guia. Ele não conduzia, verdadeiramente, o processo educativo de Santos Dumont; essa era uma tarefa que cabia ao próprio Dumont fazê-lo, sob a sua própria conta e risco. Não era, assim, um relacionamento propriamente entre um mestre e o seu discípulo. A influência exercida era útil, mas controlada pelo próprio Santos Dumont. O resultado prático era que apesar da sua educação ser ampla e entusiasticamente conduzida, ela era também caracterizada por uma certa superficialidade. Pode-se conjecturar que a sua educação científica poderia ter sido bem mais sólida, se não houvesse sido ele mesmo o próprio guia de todo o seu processo educativo; se não fosse ele mesmo que estivesse sempre no comando das direções a seguir. Mas isto seria praticamente impossível, pois Alberto aprendia sempre pelos seus próprios métodos de estudo. Com a fortuna que possuía e que não parava de crescer em face das boas aplicações que ele havia feito em ações na bolsa de valores, o admirável mesmo é que ele tenha de fato estudado! E a admiração maior é pelo fato dele ter perseverado em seu objetivo de construir a sua auto-educação.

Em seu tempo, ainda não existiam, obviamente, cursos de engenharia aeronáutica. Deste modo, ele jamais poderia ter se formado em um curso universitário desta natureza. E outros títulos seriam para ele não mais do que um simples ornamento dispensável. Também por isso, Santos Dumont optou, mais uma vez, pela sua liberdade, por não seguir nenhum curso universitário. Ele não se formou em engenharia aeronáutica, ele se fez a si próprio um engenheiro aeronáutico, um pioneiro autodidata que daria passos importantes para a inauguração de uma nova era nas conquistas tecnológicas aeronáuticas da humanidade. Mas, afinal, como podemos saber o que Santos Dumont aprendeu de Física e quanto esse conhecimento influenciou em sua trajetória seguinte de conquistas tecnológicas? Que conteúdos de Física eram esses não se sabe ao certo, mas uma análise cuidadosa dos trabalhos e das aventuras de Santos Dumont, assim como dos seus escritos sobre os mesmos, pode conduzir-nos a inferirmos os seus possíveis conhecimentos nesta área. Cremos que com um tal esforço analítico podemos desvendar muito do que, de fato, Santos Dumont estudou e aprendeu e que tipo de potencial interpretativo da Natureza um tal conhecimento lhe propiciou. Do mesmo modo, também, podemos reconhecer as possíveis deficiências e limitações deste seu conhecimento.

Além disso, em um tal percurso, podemos ser levados a analisar uma série de fenômenos do cotidiano à luz das leis da Física em situações diversas ensejadas por Santos Dumont e, desta forma, refletirmos, aprendermos e ensinarmos uma série de conteúdos interessantes e úteis na compreensão do universo que nos cerca. Este, entretanto, é um desafio que transcende a extensão deste presente artigo e que nos remete necessariamente para estudos mais específicos que contemplem um tal tema.

Texto: Alexandre Medeiros

sexta-feira, 26 de julho de 2019

Direto de Oshkosh


Imagens de ontem na Oshkosh AirVenture 2019


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Semana Santos Dumont

Do blog de Luiz Pagano, A Maravilhosa Vida de Santos=Dumont, selecionamos o conteúdo que hoje voltamos a publicar.

O Dirigível Santos=Dumont Número 9
A mais elegante maquina voadora
Sem duvida nenhuma o dirigível de numero 9, também chamado de “La Balladeuse” (a carruagem) foi o invento de voo individual mais elegante. Santos=Dumont conduzia seus experimentos com muito estilo, tendências dandy, neo vitorianas, steam-punks, etc., faziam dele um artista-cientista. A seguir coloco algumas publicações francesas e americanas de seus feitos quando pilotava seu dirigível Nº 9 pelas ruas de paris.

New York Herald 24 de junho de 1903 (Vocês perceberão que no texto a localização do hangar de Santos=Dumont fica em St. James, quando na verdade, sua verdadeira localização era em St Cloude. Coloquei a matéria em sua integra, e sugiro que os erros sejam ignorados). 


"M. Santos-Dumont vai em seu número 9 para breakfast na Champs-Elysees. Faz viagem de manhã cedo partindo do hangar em Neuilly até à sua residência.

UMA EXPERIÊNCIA SATISFATÓRIA
Construiu plataforma de chegada em sua varanda para uso em ocasiões futuras

M. Santos-Dumont ontem fez uma viagem logo cedo aparecendo no Santos-Dumont Nº 9 a partir da nacela de seu balão em St. James e de lá para a sua residência, no n º 114 da Avenida Chaps-Elysees, onde tomou café da manhã com alguns amigos e depois voltou para o "ponto de partida". 

Ele afirmou que estava desejoso já há alguns dias de fazer tal viagem sobre a cidade, porem não estava seguro de assumir o risco de passar com o pequeno balão dirigível por cima das casas com tão pequena quantidade de um lastro a bordo.

No seu Nº 9 no entanto, ele poderia transportar uma maior quantidade de lastro, desta forma, ele decidiu fazer a viagem naquele balão.

O tempo na segunda-feira havia melhorado muito; estava com toda a aparência de que poderia ser perfeito, então M. Santos-Dumont deu ordens a seus trabalhadores para manterem-se em prontidão para a manhã de ontem, pois partiriam aproximadamente as sete ou as oito horas. 

A noite de segunda-feira tornou-se muito bela e como a condição o compelia, M. Santos-Dumont não conseguiu mais dormir.

Não, ele decidiu se levantar ainda mais cedo do que pretendia.

Eram três horas quando ele se levantou, rumou imediatamente para o galpão do balão, chegando lá exatamente.às quatro horas.

O vento estava soprando na direção contrária ao que ele desejava viajar e não havia luz o suficiente, ele achou que isso não impediria de forma alguma o programa do Nº 9.

Seus trabalhadores estavam todos dormindo quando ele chegou no galpão, pois eles não o esperavam até pelo menos três horas mais tarde.

M. Santos-Dumont acordou-os, e eles começaram a trabalhar imediatamente na preparação, que foi terminada por volta das seis horas .

Tudo pronto.

Os automóveis nos quais os trabalhadores estavam por seguir o balão, já estavam a postos, e tudo estava pronto para o início .

M. Santos-Dumont subiu na barquinha, e o n º 9 navegou pelo o ar, o vento, muito fraco, e até mostrava sinal de maior abrandamento.

Havia uma névoa fina no ar, que foi considerada um sinal de bom augúrio, o tempo continuaria estável.

Antes de mais nada, manobrou o balão em todas as direções para testar os aparatos de direcionamento e, em seguida segui em curva para a Avenida du Bois du Boulogne.

M. Santos-Dumont diz nunca ter visto essa avenida tão deserta.

Nenhuma pessoa estava à vista e não havia outro veículo além dos dois automóveis de seus trabalhadores.

A tentação de continuar a viagem foi muito grande, e M. Santos-Dumont decidiu realizá-la.

Chegou sem dificuldade ao Arc de Triomphe, seu guide-rope arrastava-se ao longo da estrada, logo que não havia perigo de impedir o tráfego, em tal condição.

Ao redor do Arco.

Ele conduziu seu balão em volta do grande arco monumental, contornando bem rente, para testar o mecanismo do leme, e logo em seguida começou sua jornada ao longo da avenida du Champs Elysées, a mesma solidão prevalecia nas ruas como na avenue du Bois, mesmo sendo já quase sete horas.

Clique na imagem acima para ver os controles de direcionamento do Dirigível Santos=Dumont Nº 9

Quando se aproximou de sua residência as ruas começaram a apresentar uma aparência mais viva . 

Operários estavam seguindo para começar seu dia de trabalho, entregadores de jornais iam de casa em casa, e os aguadeiros da cidade começavam a molhar as avenidas.

Ao chegar na porta oposta da sua casa, reconheceu alguns amigos, os quais saudou.

Em seguida, o balão começou a descer e, finalmente, alinhou-se exatamente à porta de entrada.

Os trabalhadores que o seguiam seguraram seu guide-rope.


Sua plataforma de desembarque.

M. Santos-Dumont explicou, mais tarde, que ele não teria mais a necessidade dos serviços de seus trabalhadores para auxiliá-lo no desembarque em sua residência, uma vez que ele já havia construído uma plataforma de desembarque em conexão com sua varanda, só seria necessário chamar um ajudante.

Ele não fez isso ontem de manhã porque não lhes tinha dado aviso prévio de sua intenção.

Esta plataforma de desembarque é um dispositivo excelente, construída de acordo com M. Santos-Dumont a partir dos planos fornecidos em um livro que descreve o futuro da aeronáutica, escrito por um autor Inglês.

Neste volume um sistema completo de balonismo é descrito, e traz todos os detalhes sobre a maneira correta de como aterrissar em casas quando seremos capazes de manobrar um balão.

Clique na imagem acima para ver como Santos=Dumont fazia subir e descer o Santos=Dumont Nº 9  

No início da viagem de regresso, o vento, aumentou consideravelmente em força, o balão foi então conduzido ao longo da avenida por meio do guide-rope.

M. Santos-Dumont não quis a principio adotar esta precaução, mas cedeu aos conselhos de seus assistentes que o alertavam para o perigo.

Uma vez no Bois, no entanto, o guide-rope foi solto, e M. Santos-Dumont continuou sua viagem, contando com os aparatos de direcionamento, e em tempo hábil, após uma experiência bem sucedida, ele chegou ao seu hangar em-St. James.

M. Santos-Dumont está tão satisfeito com sua experiência que ele pretende em breve fazer mais testes do mesmo tipo.”

Dirigível Numero 9 na comemoração de 14 de Julho de 1903 em Long Champ