Selecionamos do Centro de Documentação da Aeronáutica - CENDOC - o detalhamento do Projeto Acervo Santos-Dumont.
Confira a importância deste empreendimento que perpetua a fantástica história de nosso querido Pai da Aviação.
Boa leitura.
Bom domingo!
Projeto Acervo Santos-Dumont
CENDOC
Exposição Virtual
A exposição virtual do Acervo Santos-Dumont idealizada pelo Centro de Documentação e Histórico da Aeronáutica – CENDOC - apresenta imagens do acervo, cujas origens se dividem em documentos pessoais do Pai da Aviação, dentro do período de 1899 a 1903, no tempo em que esteve na França, e em outros documentos acrescentados pelo Exmo Sr. Tenente-Brigadeiro-do-Ar Nélson Freire Lavenère-Wanderley, Patrono do Correio Aéreo Nacional.
O exaustivo trabalho de compilação do arquivo realizado pelo Exmo Sr. Ten Brig Ar Lavenère-Wanderley durou três anos e todo o cuidado está estampado no tipo de suporte utilizado para fabricação dos álbuns: papel para compor as páginas internas, couro e tintas douradas para as lombadas. Todos eram materiais importados, comprados pessoalmente da Europa.
O Exmo Sr. Ten Brig Ar Lavenère-Wanderley, ao empreender o trabalho de reunião do arquivo, contribuiu para trazer um novo aporte sobre a vida de Santos-Dumont, e foi sujeito do ato político de recriar a história, permitindo que, hoje, a sociedade possa ter o direito de conhecer mais sobre aquele que foi, e sempre será, orgulho da Nação. Seu esforço de coleta e organização dos documentos encontra-se documentado nas primeiras páginas do volume 1, sob o título “Os recortes de jornais guardados por Alberto Santos-Dumont”.
A exposição objetiva destacar o significado da disponibilização do acervo doado ao CENDOC através da seleção de imagens dos documentos reunidos no volume 1, o contexto histórico vivido, seus feitos aeronáuticos, o sucesso de seus inventos na imprensa européia e norte-americana, suas raízes culturais, a descoberta da dirigibilidade dos balões, seus primeiros vôos, os acidentes sofridos, as investigações científicas na área da engenharia mecânica e sua imagem veiculada no mundo.
Essa não é a primeira "Home Page" criada sobre Santos-Dumont, mas o que a diferencia das demais é o que motivou a sua elaboração: mostrar o acervo pessoal de Santos-Dumont e informar sobre a doação de um acervo que há muito necessitava de uma divulgação à altura de sua importância. Essa doação possui um significado especial para o CENDOC, pois, além de pertencer ao Patrono da Aviação Brasileira, é o primeiro conjunto documental que não foi gerado pela própria Instituição, permitindo ao CENDOC cumprir sua missão: preservar para documentar.
A preservação do acervo envolve o desenvolvimento de métodos e procedimentos de conservação, restauração e descrição, cujo trabalho foi realizado através da parceira com o Museu de Astronomia e Ciências Afins - MAST. Dessa forma, não poderia faltar a informação sobre cada etapa do processo de conservação técnica e um histórico da doação do acervo, divulgando o trabalho de conservação empreendido para salvaguarda de fontes fotográficas, iconográficas e textuais doadas.
Esse acervo, doado ao Comando da Aeronáutica, e sob a custódia do CENDOC, está disponível na forma digital à toda comunidade como fonte de novos estudos e pesquisas. O processo de doação ocorre graças à ação de Sra. Sophia Helena Dodsworth Wanderley, sobrinha-neta de Santos-Dumont e viúva do Exmo Sr. Ten Brig Ar Lavenère-Wanderley. O Comando da Aeronáutica ganha, dessa forma, um importante patrimônio que consolidará sua memória cultural e que impulsionará sua própria história. A imagem grandiosa de Santos-Dumont atravessa gerações e a responsabilidade pela sua disseminação é de todos nós.
História do Acervo
O acervo pessoal de Alberto Santos-Dumont é, primordialmente, um conjunto de fontes relevantes para a história e o desenvolvimento científico nacional. Essa consciência permeou personalidades chaves para sua manutenção até os nossos dias: Sr. Jorge Toledo Dodsworth (casado com a sobrinha de Santos-Dumont, Sra. Sophia Dumont e pai da Sra. Sophia Helena), o Exmo Sr Ten Brig Ar Lavenère-Wanderley (casado com a sobrinha-neta de Santos-Dumont, Sra. Sophia Helena) e Sra. Sophia Helena Dodsworth Wanderley. Todos vinculados à história de Santos-Dumont por laços afetivos-familiares cumpriram com carinho, com extrema reverência e muita dignidade a tarefa de conservar os papéis. Porém, uma qualidade foi fundamental à família de Santos-Dumont: a tenacidade com a qual lutaram para não deixar o tempo esmarecer os papéis e a memória. Tenacidade que era própria de Santos-Dumont. É essa história que será contada a seguir.
Durante o tempo em que esteve na França, Santos-Dumont contratou os serviços de empresas especializadas em reunir matérias de jornais; qualquer notícia, em qualquer jornal, sobre assuntos aeronáuticos era-lhe enviada, principalmente pelo Courrier de La Presse. A maioria destas matérias continha notícias sobre as atividades do próprio Santos-Dumont, principalmente nos anos de 1901 e 1902. Desta forma, reuniu uma imensa coleção de recortes de jornal, que trouxe consigo para o Brasil, guardando-os na Encantada, sua residência de Petrópolis, onde permaneceram após seu falecimento. Ao eclodir a Revolução Constitucionalista de 1932, a parte da família que residia em São Paulo, cidade que foi mais duramente atingida, receou uma invasão e extravio dos pertences pessoais que se encontravam na casa de Petrópolis, pois ela ficava desguarnecida de segurança. O Sr. Jorge Toledo Dodsworth, preocupado, trouxe os referidos pertences, e dentre eles, um baú de vime fechado com os “papéis” de Santos-Dumont, que foi depositado no porão da sua residência no Flamengo – RJ, e lá permaneceu por mais de 30 anos.
Com o falecimento do Dr. Jorge Toledo Dodsworth, sua viúva, a Sra. Sophia Dumont, sobrinha de Santos-Dumont, resolveu desfazer-se da residência. Nesta ocasião, em 1969, o baú foi reencontrado e deixado sob a guarda do Exmo Sr Ten Brig Ar Lavenère-Wanderley, casado com a filha do Sr. Jorge Toledo, Sra. Sophia Helena. O Brigadeiro, nos três anos subseqüentes, cuidou dos documentos, organizando-os em cinco volumes encadernados que juntos possuem em torno de 2200 unidades documentais, testemunhos da trajetória de Santos-Dumont durante os anos de 1899 a 1903. Os registros posteriores a essa data foram conseguidos e reunidos pelo Exmo Sr Ten Brig Ar Lavenère-Wanderley, enriquecendo o acervo.
O Exmo Sr Ten Brig Ar Lavenère-Wanderley encontrou o velho baú em péssimas condições e, como lembrava Sra. Sophia Helena, naquela época não existia, ainda, o Aterro do Flamengo e o mar ficava a poucos metros da casa, invadindo o porão, por algumas ocasiões. O baú se desmanchou ao ser aberto e os jornais estavam bastante úmidos, tanto que alguns jornais perderam-se definitivamente. O trabalho do Ten Brig Ar Lavenère-Wanderley foi de grande determinação: separava os jornais por lotes para recuperá-los. Em seguida, procedeu à organização, recortando cada artigo e colocando o cabeçalho apropriado, mantendo as referências do jornal de origem e permitindo a identificação completa de cada fonte.
A continuidade do arquivo se deu a partir de buscas junto à família de Santos-Dumont e às pessoas que, possivelmente, mantinham algum documento. Fato que pode ser comprovado por intermédio das cartas escritas pelo Exmo Sr Ten Brig Ar Lavenère-Wanderley aos amigos e familiares, e também na realização de um Concurso patrocinado por uma famosa empresa de reprografia para auxiliar o Exmo Sr Ten Brig Ar Lavenère-Wanderley na localização de outros documentos sobre Santos-Dumont.
Com o crescimento do acervo houve necessidade de dotar de alguma ordem os registros. Com poucos conhecimentos na arte de arquivar, mas com imensa vontade e cuidado o Exmo Sr Ten Brig Ar Lavenère-Wanderley passou a dedicar–se à organização documental. Para isso, foram utilizadas técnicas disponíveis e mais usuais na época, ou seja, a preparação de álbuns. A montagem desses volumes demandou trabalho intelectual, de classificação de temas e, dentro deles, em ordem cronológica, a colocação das legendas necessárias à compreensão dos fatos arrolados.
A Sra. Sophia Helena, como testemunha de toda a dedicação do Exmo Sr Ten Brig Ar Lavenère-Wanderley, após o falecimento do marido, manteve o mesmo entusiasmo pela preservação do acervo, consciente da responsabilidade de manter viva a história de Santos-Dumont através dos seus documentos.
Doação do Acervo
Há uma trajetória que todos os documentos históricos possuem e que é pouco visível para a grande parte dos usuários dos arquivos. Na maioria das vezes, essa história traduz a força e a perseverança de seus custodiadores em ver reconhecida a importância das fontes históricas que carregam, e agrega valores incalculáveis aos documentos. Não foi diferente com o acervo Santos-Dumont. Da intenção de doar até a chegada do acervo para conservação e, agora, a sua disponibilização final, foi um intenso labor em prol da sua preservação.
Após o falecimento do Exmo Sr Ten Brig Ar Lavenère-Wanderley a guarda da documentação passou a ser de responsabilidade de sua viúva, Sra. Sophia Helena. Durante vários anos, esse acervo só foi consultado sob os olhares de sua proprietária, não sendo permitida a saída dos mesmos de sua residência. Com o passar dos anos foi crescendo a vontade de ver o acervo vencer as barreiras impostas pela custódia familiar e ganhar o "status" que só sua institucionalização poderia fornecer: preservação, ferramentas de pesquisa, infra-estrutura de manutenção e guarda.
Dentre as expectativas da família de Santos-Dumont para a garantia de plena disseminação das informações históricas, técnicas e biográficas, a Aeronáutica correspondia em vários pontos: preexistência da forte ligação com a história de vida do Exmo Sr Ten Brig Ar Lavenère-Wanderley e o fato do CENDOC ser o Órgão Central de Documentação do COMAER e ter-se comprometido em divulgar o acervo segundo as exigências da Sra. Sophia Helena. Foram doados documentos reunidos em cinco volumes, porém, junto com eles chegavam a esperança da família e as responsabilidades do CENDOC junto à comunidade de pesquisadores e a toda sociedade brasileira, a quem o legado do Pai da Aviação é destinado.
Logo o CENDOC iniciaria contatos com várias outras instituições para aplicação de métodos de recuperação e conservação de acervos históricos, pois ainda não possuía um laboratório próprio. Foram realizadas, também, visitas técnicas à residência da Sra. Sophia Helena, com diversos especialistas para analisar o acervo. Dentre todas as instituições consultadas, o Museu de Astronomia e Ciências Afins - MAST mostrou grande interesse em participar do projeto, principalmente pela representatividade do nome de Santos-Dumont, vinculado de forma definitiva ao avanço da Ciência e da Tecnologia.
A participação do MAST, através do Acordo de Cooperação Técnica, representou a definitiva garantia do tratamento do acervo. Junto com o Laboratório de Papel - LAPEL do MAST, o CENDOC pôde agregar qualidade ao trabalho e respeitabilidade às decisões tomadas. O acervo passa pela análise do seu estado de conservação em todas as unidades documentais e um detalhado diagnóstico foi empreendido pelo MAST, que determinou os métodos de conservação utilizados. Durante o período do diagnóstico os volumes continuavam com a Sra. Sophia Helena, que autorizava somente a saída de um volume de cada vez, para que neles fossem feitos testes e estudos de laboratório. Isto acontecia porque perdurava um especial apego aos volumes, na medida em que eles simbolizavam a proximidade com sua própria história, reproduzindo a mesma relação que o Exmo Sr Ten Brig Ar Lavenère-Wanderley manteve com os documentos e a história de Santos-Dumont.
Em agosto de 2004, em conformidade ao Acordo de Cooperação Técnica, foi iniciada a conservação do acervo. A assinatura do Termo de Compromisso foi firmada marcando a definitiva saída dos cinco volumes, pela primeira vez, da residência para as mesas de trabalho. Foi um dia emocionante para todos os presentes. Com entendimento das partes, o Termo de Doação estaria vinculado ao final do inventário dos bens, onde foram juntados alguns outros documentos avulsos, e a entrega dos cd, onde os volumes encadernados, na sua forma original, estariam gravados, página por página. Em virtude do falecimento da Sra. Sophia Helena, em 16 de outubro de 2004, foram reformuladas as cláusulas do Termo de Doação para a assinatura dos seus herdeiros, transcorrida em 26 de janeiro de 2005.
A exigência principal para a concretização da doação do acervo pela Sra. Sophia Helena baseou-se na preservação e ampla divulgação do Acervo de Santos-Dumont. Esta iniciativa merece de toda a sociedade o louvor e em especial da Força Aérea Brasileira, na qual a Sra. Sophia Helena depositou sua confiança.
Tratamento do Acervo
Diagnóstico
O diagnóstico apresenta uma avaliação da situação na qual se encontra o acervo Santos-Dumont, objeto de investigação no período de dezembro de 2003 e agosto de 2004, realizado pelo Laboratório de Conservação e Restauração de Papel – LAPEL, do MAST.
Para efetivação do diagnóstico, foi confeccionada uma ficha que reúne informações sobre a identificação do documento, os danos por ele apresentados, a intervenção sugerida, a classificação quanto ao estado de conservação, dentre outras.
De acordo com o diagnóstico, é possível perceber que cerca de dois terços dos documentos encontram-se em condições de serem utilizados e consultados após o tratamento de conservação, demandando, além da higienização e do acondicionamento, algum tipo de reforço.
Os resultados da avaliação deste acervo apresentam dados não só da qualificação do seu estado de conservação, mas também da sua tipificação e quantificação.
Segue abaixo um quadro sumário quantitativo dos documentos por espécie documental e volume correspondente:
Tipo
|
Vol. I
|
Vol. II
|
Vol. III
|
Vol. IV
|
Vol. V
|
Total
|
Textual
|
19
|
40
|
22
|
29
|
105
|
215
|
Recorte
|
273
|
226
|
318
|
31
|
260
|
1108
|
Fotocópia
|
23
|
20
|
28
|
177
|
165
|
413
|
Fotografia
|
94
|
26
|
33
|
154
|
17
|
324
|
Capa Capítulo
|
8
|
1
|
4
|
9
|
9
|
31
|
Outros
|
7
|
35
|
37
|
25
|
10
|
114
|
Total por Volume
|
424
|
348
|
442
|
425
|
566
|
2205
|
Conservação
Etapas do Tratamento de Conservação:
As ações de conservação, conforme previsto no Acordo de Cooperação, são: desmonte, higienização, planificação, reforços no acondicionamento e levantamento do acervo.
Desmonte - O desmonte dos documentos consiste na distribuição dos mesmos à equipe de auxiliares, com sua respectiva ficha diagnóstico, para referência e controle do trabalho. São elaborados vários instrumentos para exercício deste trabalho, a realização da descrição e acompanhamento dos documentos.
Higienização - Tem como objetivo a limpeza a seco da superfície de cada documento. Consiste na remoção de partículas de pó, resíduos, elementos metálicos, fitas adesivas envelhecidas e demais sujidades que estejam na superfície do documento ou aderidas a ele, e que possam provocar danos. As técnicas serão aplicadas de acordo com o estado de conservação de cada documento, sua técnica de produção (materiais constitutivos), tipo de documento, solubilidade de tintas, localização e características dos danos encontrados.
Reforço - Tem como objetivo a manutenção física do documento por meio da colocação de um reforço numa área fragilizada por dobras, vincos, rasgos ou perda de suporte. As técnicas serão aplicadas de acordo com o estado de conservação de cada documento.
Acondicionamento - Ao serem desmontados, os documentos passam pelo tratamento indicado na ficha diagnóstico. São acondicionados segundo seu tipo e formato, conforme orientação pré-definida e individualizada para documento textual e mapa, documento fotográfico, recorte de jornal, fotocópia, gravura e documentos especiais. Para confecção de caixas, envelopes e "folders", utiliza-se de materiais com PH controlado.
A padronização do formato das embalagens tem por objetivo atender ao critério de conservação para documentos sobrepostos, isto é, em sistema de acondicionamento horizontal. Este procedimento padroniza os tamanhos e evita que a sobreposição de documentos de diferentes formatos possa causar um desnível no conjunto. Contribui, ainda, para agilizar a confecção das novas montagens e o corte de invólucros.
Descrição
A descrição implicou na codificação dos documentos, na elaboração de um questionário para identificação de cada unidade documental e na construção de um banco de dados informatizado.
Através do formulário de identificação, foram levantados os assuntos, as datas, as fontes de produção, as referências completas, os tipos de documentos, ressaltando a existência de anexos e registrando as legendas grafadas nos suportes originais.
A base de dados Santos-Dumont, por sua vez, reproduz os mesmos campos do formulário adotado, disponibilizando as informações para a construção de inventários, índices e outros instrumentos de pesquisa.
Tais dados permitem visualizar uma relação entre os registros documentais, tanto da acumulação ou ato de colecionar, como também da relação entre os eventos arrolados. A etapa demandou a colocação de um código único (sem duplicação) para cada registro.
Digitalização
Tem como objetivo preservar os documentos originais e disseminar a informação, através da substituição do suporte dos documentos, tornando assim o acervo disponível para consulta por vários meios, como CD, internet, filmes, etc, e preservar o documento original do manuseio.
A digitalização consiste na reprodução dos documentos por meio fotográfico, utilizando-se de máquina fotográfica digital. Esta atividade foi dividida em duas etapas: a primeira é a digitalização de cada página dos cinco volumes para preservar sua organização original; na segunda etapa será digitalizado cada documento individualmente, após concluído o seu tratamento de conservação, para facilitar a divulgação e restringir o acesso aos documentos originais.
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