Augusto Pagliacci Jr. |
Franco Ferreira |
Ubatuba, pouco depois do raiar-do-Sol. Inspecionei a pista e vi o Paulistinha pousando do mar para a terra. Uma rápida olhada para a biruta confirmou: Ele estava errado. Afastei-me e fiz o circuito correto, na altitude certa e com as curvas previstas completamente definidas para ser visto pela outra aeronave. Na reta final, dei de cara - ainda que muito longe – com o aviador que pousava com vento de cauda. Recolhi tudo e mantive minha altitude para no
circuito, agora a esperança que ele me visse muito acima dele e no circuito
correto. Qual nada! O aviador (assim mesmo, em caixa baixa) não olhava para
nada fora de seu avião. No terceiro circuito, recolhi tudo e continuei a descer,
agora em alta velocidade, com energia acumulada. Quando cruzei com ele,
bangornou a asa na faca enquanto eu fazia um tráfego muito curto, quase em
cima da pista e pousava. Ele levou mais de dez minutos para chegar no pátio.
“- A sua intenção é me matar?”
Foi a pergunta maldosa.
Foi a pergunta maldosa.
“Eu estava treinando pouso com vento de cauda.”
“-Mostra seu Manual de Treinamento,
quero conhecer esta manobra!” que, evidentemente, não existe!
Havia algo diferente naquele menino.
Não era indisciplina, era adestramento!
Havia algo diferente naquele menino.
Não era indisciplina, era adestramento!
Muito bem, meu filho, escreva mil vezes: “Não devo pousar na pista
oposta” e me entrega amanhã, aqui, às 08:00. Se preferir não fazer, te mando
de volta para a escolinha!
Poucos minutos antes das oito, enquanto eu aguardava na casinha da
Sala de Tráfego, um italianão de dois metros de altura e cento e trinta quilos
de peso aproou minha posição. Parou alguns metros distante e, militarmente,
disse quem era e a quê vinha. Disse que o filho não tinha conseguido acabar o
castigo em tempo, mas que faltava muito pouco. O filho viria, disse, releve-o,
pediu. Não demorou muito apareceu Augusto Pagliacci Jr., de olheiras fundas,
ao lado de Valéria que trazia um caderno na mão.
Contei as folhas. Estava escrito mil vezes que ele não devia pousar na
pista errada.
Augustinho persiste na atividade tendo alcançado muitas láureas na sua carreira de AVIADOR (em caixa alta). Tem dois filhos e dois netos. A vó Valéria não deixa de estampar um sorriso, sempre. Augustão, o pai, já foi encontrar-se com seus companheiros Bersaglieri; Dona Alba, o sustento de tudo, ainda está entre nós!
Fonte: Gustavo Adolfo Franco Ferreira
Venturas, Aventuras e Desventuras - Tomo III - Curtas; boas e más
Comentários (em 2017):
Marcos Antonio Chaves
Cel Franco Ferreira , minha admiração!
Augusto Pagliacci Jr
Franco Ferreira GA, bem assim e até hoje agradeço aquele momento, por ter sido vc oficial Coronel da FAB não outro oficial sem o mesmo modo de pensar e de enxergar os fatos! Obrigado AMIGO!!! Boa semana.
Octavio Antonio
Se bem conheço Franco Ferreira quando Capitão e Ten Av, essa atitude pedagógica sempre foi o seu forte!!! Parabéns!!!
Joanir Dos Santos Costa
Belas reminiscências!
Franco Ferreira:
Ao relembrar esta passagem (velha de mais de 40 anos) saúdo o meu AMIGO Augustinho pelo sucesso alcançado na sua profícua vida de Aviador. Curvo-me à sua pessoa com a admiração que a muitos alcança.