Novamente publicamos um texto do Portal da FAB sobre Tereza de Marzo, que conquistou o primeiro brevê de uma brasileira no distante 8 de abril de 1922. Seus exemplos de coragem ecoam no tempo, valendo como estímulo e incentivo para as mulheres do século XXI.
Boa leitura.
Bom domingo!
Em 8 de abril de 1922, o primeiro brevê para uma brasileira
Quando a mulher se decide a preterir as funções domésticas pela atividade fora do lar, quase sempre consegue destacar-se, elevando-se além do nível de boa profissional. Mas, quando ela se dedica a uma atividade inusitada para a época, essa ascensão mais se acentua. E, então, vêm as perguntas:
– Quem foi a primeira brasileira a voar sozinha?
– Qual a primeira brasileira a ser brevetada?
E logo sobrevém a resposta: Tereza de Marzo!
Tereza de Marzo nasceu em 6 de agosto de 1903, na Praça da Sé, em São Paulo. Filha de industrial, muito cedo se apaixonou pela Aviação.
Tratava-se de uma aspiração surpreendente para a época, pois ainda predominavam aqueles ultrapassados princípios de que lugar de mulher era no lar. Poucas eram as que ousavam exercer profissão fora de casa. Ainda não haviam surgido os primeiros sinais da emancipação feminina.
Como é natural Tereza jamais poderia praticar a pilotagem sem contar com o apoio dos pais, a menos que assumisse a atitude drástica de sair de casa. O pai era radicalmente contrário à sua pretensão. Entretanto, ardilosamente, trabalhou para conquistar o apoio de sua mãe, sempre mais fácil de conseguir.
Vencida a resistência materna, abriu-se caminho para a aceitação paterna e, assim, pôde iniciar seu aprendizado com os Irmãos Robba. Quando estes emigraram para o interior do estado, ela encontrou Fritz Roesler, que era outro fanático pela Aviação, como ela.
Com apenas vinte e poucas horas de treinamento, em março de 1922, habilitou-se perante a Banca Examinadora do Aero Club Brasileiro, tendo sido aprovada com distinção no Aeródromo Brasil, campo de aviação existente no Jardim América, pilotando um Caudron, modelo G-3, de 120 HP, motor rotativo e extremamente barulhento. Estavam presentes os Irmãos Robba, Antonio Prado Júnior, o engenheiro da Prefeitura de São Paulo Domício Pacheco e Silva e o Instrutor Fritz Roesler. Tereza de Marzo tinha apenas 19 anos quando realizou a façanha. No dia 8 de abril de 1922, recebeu o brevê nº 76 de Piloto-Aviador da Fédération Aeronautique Internacionale.
Mas aconteceu o imprevisto; uma circunstância não imaginada, e que cortou uma carreira promissora.
Voando sob orientação de Fritz Roesler, acabaram por se casar, em 25 de setembro de 1926. Após o casamento, dedicada ao marido, dizia ela, quando lhe perguntavam:
“Depois que nos casamos, ele cortou-me as asas. Disse que bastava um aviador na família. Mas nem por isso perdi meu interesse pela Aviação.”
Muito grande deve ter sido a colaboração do casal na divulgação das alegrias da Aviação Civil, mesmo porque Tereza de Marzo aliava a sua habilidade de aviadora a um perfeito trabalho de publicitária. Num avulso existente no Museu Aeroespacial, lê-se:
“Depois de magnífico exame em que foi aprovada com distinção, por vários anos puderam paulistas e brasileiros ver nos céus de nossa terra a Condor dos Ares, que apregoava a todas as mulheres uma mensagem luminosa e sublime de valor e coragem. Inaugurou um novo capítulo na História brasileira. Ninguém jamais esquecerá o São Paulo, um minúsculo Caudron, incipiente como era a própria Aviação, tripulado por uma intrépida jovem que ainda hoje é o símbolo da mulher brasileira.”
Além das 329 horas e cinquenta e quatro minutos de voo anotadas em sua Caderneta , Tereza de Marzo realizou dezenas de horas não computadas. Antes de seu casamento com Fritz Hoesler, trabalhou com ele nos hangares, nas oficinas e em topografias aéreas, ganhando muita experiência na mecânica de motores a explosão de aviões e planadores. Vale lembrar que, em setembro de 1922, Tereza realizou um ousado reide aéreo São Paulo-Santos, como parte das comemorações do Centenário da Independência do Brasil.
Em 1976, recebeu do então Ministério da Aeronáutica a Medalha de Honra ao Mérito.
Em 1986, falecia Tereza de Marzo, uma mulher que tinha no sangue a liberdade de voar e que, aos dezessete anos, na Ladeira Dr. Falcão, onde morava, de frente para o Vale do Anhangabaú e Viaduto do Chá, olhando a tarde pela janela, ao avistar um avião, disse de estalo: “Vou voar também!”